Pedro
Cordeiro é hoje o autor de serviço do Expresso Curto e abre com a pergunta
sobre se “Portugal terá sido melhor a confinar do que a desconfinar?”
Evidentemente que a resposta só pode ser sim, principalmente para a região da
grande Lisboa e arredores.
A malta nova e farreira já está farta do
confinamento e das disposições recomendadas pela DGS, pelo governo e outros organismos
interessados em nos livrar da ameaça do covid-19. Afinal o covid-19 mata mais
os velhos e quase nem toca seriamente nos mais jovens e esses querem que os velhos se
lixem – apesar de estarem a usufruir daquilo que os mais velhos construíram, país
livre, democrático, civilizado culto e o mais justo possível. As pisadas de
tais construtores não têm sido seguidas pelos mais novos e o resultado da
deriva está à vista do país em que sobrevivemos. Tal já era assim anunciado
aquando da então badalada “geração rasca”. Piorou. A inutilidade desta
constatação fica aqui exposta para consolo dos que concordam e insensibilidade
dos que discordam. Afinal isto é só uma opinião e constatação dos que mais
viveram e sobreviveram ao fartar vilanagem de imensos políticos, imensos médios
e grandes empresários e/ou funcionários, pagos por todos nós, que se “orientaram”
mais que o suficiente para na atualidade serem grandes senhores e senhoras – à descarada
ou mais comedidos nas suas vidas de mel. À custa de tanta trapaça, assim
aconteceu e acontece, agregado que já está ao ADN de tantos.
Basta
de constatações que tantos vêem mas são ignoradas ou enquadradas em promessas
falsas de resoluções de políticos que mesmo apesar de serem honestos lhes falta
a coragem para enveredar pelo caminho justo para todos e não só para alguns.
Acima de tudo a responsabilidade da continuidade do “deixa andar”, do “em terra
de cegos quem tem olho é rei”, “para morrer que morram os meus pais e avós que
são mais velhos” – e pesam no orçamento (apesar de tantos dos mais novos
continuarem nas festanças à conta de magras reformas dos mais velhos, que "cravam"…)
Bom
dia e um queijo. Expresso Curto a seguir. Manso. Como mansos e endrominados se
querem os povos… O conveniente ripanço da paz podre e alienante.
FS | PG
Um
passito para trás
Pedro
Cordeiro | Expresso
Bom
dia!
Portugal
terá sido melhor a confinar do que a desconfinar? Tinham-nos dito que o
aligeiramento das medidas restritivas contra a covid-19 podia andar para trás
caso a situação pandémica se agravasse. Ora, embora o planalto tenda a
manter-se e o número de mortos diários seja baixo há vários dias, o certo é que
a região de Lisboa e Vale do Tejo tem representado uma percentagem muito alta
dos novos contágios a nível nacional (ontem era de 63%, mas já andou acima dos 90%). E o
desconfinamento andou mesmo para trás. As dificuldades, aliás, não passaram
despercebidas a títulos da imprensa mundial como “Le Monde” ou o “Politico.eu”.
Vigoram desde a meia-noite medidas de contenção na área metropolitana da capital: prolongamento do estado de calamidade em 15 freguesias, sobretudo nos concelhos de Amadora, Odivelas e Loures (que, com Lisboa e Sintra, somam mais de metade dos novos casos); proibição de ajuntamentos de mais de dez pessoas, com multas até 350 euros (os casos de Lagos e Carcavelos aí estão a mostrar o preço da irresponsabilidade); obrigação de fechar às 20h para lojas e cafés (que não restaurantes); reforço da vigilância e fiscalização pelas forças de segurança, nomeadamente nos centros comerciais. Com os jovens a liderar as contaminações, o fim das aulas (sem que nada se saiba sobre o regresso às mesmas, céus!), será preciso assustá-los?
É fácil intuir que o recuo terá impacto económico. A Associação Portuguesa de Centros Comerciais já afirmou que estes “são um aliado no combate eficaz à propagação do novo coronavírus” e “cumprem todas as regras de segurança sanitária decorrentes da lei, as recomendações da Direção-Geral da Saúde e as melhores práticas promovidas pela indústria a nível global”. Os lojistas estão preocupados e pedem uma “justa repartição de sacrifícios” entre si e os proprietários dos centros comerciais. Já agora, fique a saber que o ritmo de crescimento do desemprego abrandou em maio, embora haja mais 103 mil pessoas sem trabalho do que há um ano. Henrique Raposo alerta para uma inaceitável caça ao infetado no ambiente laboral, que a edição semanal do Expresso abordou. A propósito, lembra o “Público”, a partir de hoje quem perdeu rendimentos pode entregar a declaração respetiva, nomeadamente para evitar cortes de água, luz e gás.
Falar de economia em Portugal é falar de turismo, seja cá dentro ou lá fora. Num momento em que vários governos europeus mantêm fronteiras encerradas a viajantes oriundos do nosso país — decisão que o Presidente da República associa a uma guerra por conquistar turistas —, especialistas contactados pelo Expresso consideram que pode estar em causa um excesso de honestidade (sim, admito que o conceito seja difícil de digerir). O primeiro-ministro não entende e frisa que alguns dos que nos fecham a porta fazem muito menos testes. A oposição, com quem Marcelo Rebelo de Sousa encetou ontem reuniões, pede clareza no discurso político sobre a pandemia. Já em Fátima, onde surgiu um foco de infeção, a palavra de ordem é testar. E para as bandas da Intersindical, o importante é não desmobilizar.
Neste clima de regresso às restrições e fronteiras fechadas, a escolha de Lisboa para a fase final da Liga dos Campeões soa quase contraditória. As altas figuras da nação celebraram o facto numa cerimónia “de estadão” em que o autor destas linhas farejou parolice e durante a qual António Costa festejou um “prémio merecido” aos profissionais de saúde. Que estes heróis da pandemia merecem prémios ninguém duvida. Talvez remuneração e condições de trabalho lhes digam algo mais que a festa da bola. E se a excitação das autoridades passa pelo turismo e por projetar uma imagem de porto seguro, Daniel Oliveira aponta os riscos da publicidade negativa.
Olhando para o mundo mais vasto, há mais de nove milhões de casos de covid-19 no planeta, como mostra o excelente trabalho da equipa de infografia do Expresso. A Organização Mundial de Saúde assinalou um triste recorde de novos casos. O globo vai aprendendo, mais devagar do que o desejável, a viver esta nova realidade, sendo certo que a pressa não favorece o rigor. No Brasil, que passou o milhão de casos e conta mais de 50 mil mortos, a pandemia ameaça culturas de forma irreversível. Na Arábia Saudita o hajj, peregrinação anual de muçulmanos a Meca, vai ser muito diferente e vazio. O Reino Unido quer reabrir a cultura em julho. Espanha tenta perceber o que correu mal na proteção aos lares de terceira idade. E todos continuam à procura de uma vacina, que a Universidade de Oxford não crê ser alcançável antes do outono. Todas as notícias sobre a pandemia estão em permanente atualização aqui.
Vigoram desde a meia-noite medidas de contenção na área metropolitana da capital: prolongamento do estado de calamidade em 15 freguesias, sobretudo nos concelhos de Amadora, Odivelas e Loures (que, com Lisboa e Sintra, somam mais de metade dos novos casos); proibição de ajuntamentos de mais de dez pessoas, com multas até 350 euros (os casos de Lagos e Carcavelos aí estão a mostrar o preço da irresponsabilidade); obrigação de fechar às 20h para lojas e cafés (que não restaurantes); reforço da vigilância e fiscalização pelas forças de segurança, nomeadamente nos centros comerciais. Com os jovens a liderar as contaminações, o fim das aulas (sem que nada se saiba sobre o regresso às mesmas, céus!), será preciso assustá-los?
É fácil intuir que o recuo terá impacto económico. A Associação Portuguesa de Centros Comerciais já afirmou que estes “são um aliado no combate eficaz à propagação do novo coronavírus” e “cumprem todas as regras de segurança sanitária decorrentes da lei, as recomendações da Direção-Geral da Saúde e as melhores práticas promovidas pela indústria a nível global”. Os lojistas estão preocupados e pedem uma “justa repartição de sacrifícios” entre si e os proprietários dos centros comerciais. Já agora, fique a saber que o ritmo de crescimento do desemprego abrandou em maio, embora haja mais 103 mil pessoas sem trabalho do que há um ano. Henrique Raposo alerta para uma inaceitável caça ao infetado no ambiente laboral, que a edição semanal do Expresso abordou. A propósito, lembra o “Público”, a partir de hoje quem perdeu rendimentos pode entregar a declaração respetiva, nomeadamente para evitar cortes de água, luz e gás.
Falar de economia em Portugal é falar de turismo, seja cá dentro ou lá fora. Num momento em que vários governos europeus mantêm fronteiras encerradas a viajantes oriundos do nosso país — decisão que o Presidente da República associa a uma guerra por conquistar turistas —, especialistas contactados pelo Expresso consideram que pode estar em causa um excesso de honestidade (sim, admito que o conceito seja difícil de digerir). O primeiro-ministro não entende e frisa que alguns dos que nos fecham a porta fazem muito menos testes. A oposição, com quem Marcelo Rebelo de Sousa encetou ontem reuniões, pede clareza no discurso político sobre a pandemia. Já em Fátima, onde surgiu um foco de infeção, a palavra de ordem é testar. E para as bandas da Intersindical, o importante é não desmobilizar.
Neste clima de regresso às restrições e fronteiras fechadas, a escolha de Lisboa para a fase final da Liga dos Campeões soa quase contraditória. As altas figuras da nação celebraram o facto numa cerimónia “de estadão” em que o autor destas linhas farejou parolice e durante a qual António Costa festejou um “prémio merecido” aos profissionais de saúde. Que estes heróis da pandemia merecem prémios ninguém duvida. Talvez remuneração e condições de trabalho lhes digam algo mais que a festa da bola. E se a excitação das autoridades passa pelo turismo e por projetar uma imagem de porto seguro, Daniel Oliveira aponta os riscos da publicidade negativa.
Olhando para o mundo mais vasto, há mais de nove milhões de casos de covid-19 no planeta, como mostra o excelente trabalho da equipa de infografia do Expresso. A Organização Mundial de Saúde assinalou um triste recorde de novos casos. O globo vai aprendendo, mais devagar do que o desejável, a viver esta nova realidade, sendo certo que a pressa não favorece o rigor. No Brasil, que passou o milhão de casos e conta mais de 50 mil mortos, a pandemia ameaça culturas de forma irreversível. Na Arábia Saudita o hajj, peregrinação anual de muçulmanos a Meca, vai ser muito diferente e vazio. O Reino Unido quer reabrir a cultura em julho. Espanha tenta perceber o que correu mal na proteção aos lares de terceira idade. E todos continuam à procura de uma vacina, que a Universidade de Oxford não crê ser alcançável antes do outono. Todas as notícias sobre a pandemia estão em permanente atualização aqui.
Outras
notícias de cá...
EM
ALTA Comecemos com uma notícia boa: a Bolsa de Lisboa abriu esta
terça-feira a subir.
EM CHOQUE A defesa dos administradores da EDP António Mexia e Manso Neto, suspensos de funções e suspeitos de corrupção, desdobra-se em ataques ao Ministério Público.
MANHOSO Noutro processo emblemático, que envolve um antigo primeiro-ministro, o melhor amigo e alegado benemérito de José Sócrates diz que o Ministério Público lhe propôs um acordo.
ÚLTIMA CHANCE O presidente da Câmara de Castelo Branco tenta evitar no Tribunal Constitucional a perda de mandato que lhe foi decretada.
LEI AD ARGENTARIUS Permitam-me recomendar este artigo de Luís Aguiar-Conraria sobre a nomeação de Mário Centeno para governador do Banco de Portugal e a lei que procura travá-la.
PORTUGUÊS NA CEE E ainda este texto de Margarita Correia, de quem fui aluno há mais de 20 anos na Universidade de Lisboa, sobre a nossa língua e a União Europeia.
BOLA DE VOLTA Hoje regressa a Liga, com Porto e Benfica a disputar o título até à última.
FLAGELO SILENCIOSO Com o país impressionado pela morte do ator Pedro Lima, é bom saber mais sobre o que conduz alguém à falta de esperança.
EM CHOQUE A defesa dos administradores da EDP António Mexia e Manso Neto, suspensos de funções e suspeitos de corrupção, desdobra-se em ataques ao Ministério Público.
MANHOSO Noutro processo emblemático, que envolve um antigo primeiro-ministro, o melhor amigo e alegado benemérito de José Sócrates diz que o Ministério Público lhe propôs um acordo.
ÚLTIMA CHANCE O presidente da Câmara de Castelo Branco tenta evitar no Tribunal Constitucional a perda de mandato que lhe foi decretada.
LEI AD ARGENTARIUS Permitam-me recomendar este artigo de Luís Aguiar-Conraria sobre a nomeação de Mário Centeno para governador do Banco de Portugal e a lei que procura travá-la.
PORTUGUÊS NA CEE E ainda este texto de Margarita Correia, de quem fui aluno há mais de 20 anos na Universidade de Lisboa, sobre a nossa língua e a União Europeia.
BOLA DE VOLTA Hoje regressa a Liga, com Porto e Benfica a disputar o título até à última.
FLAGELO SILENCIOSO Com o país impressionado pela morte do ator Pedro Lima, é bom saber mais sobre o que conduz alguém à falta de esperança.
...e
de lá
SAIR
E JÁ Faz hoje quatro anos que o Reino Unido votou pela saída da União
Europeia. O Brexit aconteceu a 31 de janeiro passado e agora dura até 31 de
dezembro um período de transição em que se esperava que fosse alcançado um
acordo entre as duas partes acerca da sua relação bilateral futura. O prazo já
era curto e o coronavírus veio dificultar tudo. Que sucederá dentro de meio ano? Haverá hipótese de acordo? E que riscos, se não for possível? Caso sirva de consolo a Boris Johnson,
o Japão parece interessado em estreitar laços comerciais com os britânicos.
NEM SEQUER ENTRAR Donald Trump dificulta a obtenção de vistos para estrangeiros trabalharem nos Estados Unidos. A decisão merece a reprovação de grandes empresas, mas na mente do Presidente parecem estar os réditos eleitorais, pois há eleições dentro de quatro meses e meio e a renovação do mandato não está assegurada. Ainda vamos ouvir muita discussão sobre o próprio método de votação, acreditem. Também no campo da imigração, “The New York Times” lança uma grave acusação ao chefe de Estado e de Governo.
IMPÉRIO DO NÃO HÁ MEIO Um conselheiro da Casa Branca enterrou o acordo comercial EUA-China. Outros esforçam-se por assegurar que não é bem assim. Olhemos então para a potencial nova Guerra Fria entre Washington e Pequim.
A
GRANDE MAÇÃ Não é Nova Iorque, para onde iria já se me deixassem, mas a
Apple. Que ontem anunciou novidades sobre o sistema operativo e
as várias engenhocas que vai tornando omnipresentes na nossa vida.
BATMAN MORREU, VIVA BATMAN Morreu aos 80 anos o cineasta Joel Schumacher, que nos anos 90 realizou da saga do homem-morcego. Coisas da vida, passados 28 anos o ator que fazia de Batman nesse virar de século, Michael Keaton, admite retomar o papel. Ele que, claro, já foi Birdman, num filme admirável sobre heróis passados.
MADUREZ O ainda-mas-será-que-já-não Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, declara-se disposto a conversar com Donald Trump.
BATMAN MORREU, VIVA BATMAN Morreu aos 80 anos o cineasta Joel Schumacher, que nos anos 90 realizou da saga do homem-morcego. Coisas da vida, passados 28 anos o ator que fazia de Batman nesse virar de século, Michael Keaton, admite retomar o papel. Ele que, claro, já foi Birdman, num filme admirável sobre heróis passados.
MADUREZ O ainda-mas-será-que-já-não Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, declara-se disposto a conversar com Donald Trump.
Frases
“A
Europa tem de se reindustrializar, e é já”, defendeu o Presidente da República
ao encerrar a conferência anual da COTEC. Na opinião de Marcelo Rebelo de
Sousa, a pandemia ensina que a Europa não pode depender de “mendigar” bens
essenciais à China.
“O
racismo que impede as pessoas de respirarem na América é o mesmo que faz com
que se afoguem no Mediterrâneo”, alerta a médica Lokas Cruz numa entrevista ao “Público”.
“Não houve a contenção dessas cadeias de transmissão”, reconheceu o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, referindo-se na TVI ao aumento de casos de covid-19 na região da capital.
“Eu e outras mães afro-americanas lidamos com este trauma diariamente. Os nossos filhos estão a ser atacados. Os nossos filhos estão a ser caçados. Os nossos filhos estão a ser mortos”, escreve na revista “Newsweek” Gwen Carr, cujo filho Eric Garner foi estrangulado até à morte pela políciaem Nova Iorque , a propósito do homicídio de George
Floyd.
“Não houve a contenção dessas cadeias de transmissão”, reconheceu o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, referindo-se na TVI ao aumento de casos de covid-19 na região da capital.
“Eu e outras mães afro-americanas lidamos com este trauma diariamente. Os nossos filhos estão a ser atacados. Os nossos filhos estão a ser caçados. Os nossos filhos estão a ser mortos”, escreve na revista “Newsweek” Gwen Carr, cujo filho Eric Garner foi estrangulado até à morte pela polícia
O
que ando a ler
A
8 de fevereiro de 2003, yours truly vivia há menos de um mês em
Madrid, onde frequentava mestrado em jornalismo. Era sábado e fora visitar Aranjuez,
nos arredores, quando a ETA chegou: a ETA matara a sua 786.ª vítima desde a
morte do ditador Francisco Franco. Joseba Pagazaurtundua, agente policial, foi
assassinado a tiro em
Andoain. Eram os tempos do Plano Ibarretxe, nome de um
governante basco que queria criar um estado-livre associado a Espanha como
primeiro passo para a independência (falhou, como falharam mais tarde os
nacionalistas catalães com uma estratégia menos gradual). Eram os tempos da Lei
de Partidos, que cortou o financiamento ao partido Batasuna (braço político da
organização terrorista basca) e contribuiu para o fim da sua atividade
criminosa, a par do endurecimento da ação policial e da cooperação judicial
entre Espanha e França. A condenação geral do terrorismo no mundo após o 11 de
Setembro também ajudou.
O assunto era delicadíssimo em todo o país. Desconfortável. Epidérmico. Recordo a emoção da fornada de mestrandos de que fazia parte (o curso era da Universidade Autónoma de Madrid, com as aulas a decorrer integralmente na redação do diário “El País”) quando nos foi disponibilizada, antes da estreia, uma cópia do documentário “La pelota vasca: la piel contra la piedra”, no qual o realizador Julio Medem reuniu testemunhos de dezenas de pessoas envolvidas ou afetadas pelo conflito no Pais Basco. O rol de entrevistados ia de independentistas como Arnaldo Otegi, líder do Batasuna e condenados por enaltecimento do terrorismo (mas em última análise crucial para o fim da ação armada da ETA) a vítimas de atentados, como o político socialista Eduardo Madina, a quem uma bomba terrorista arrancou uma perna. Foi um filme polémico, em que alguns viram uma humanização dos terroristas. Não achei nada disso e fartei-me de aprender.
Anos mais tarde passei por Andoain, numa de várias visitas ao País Basco. Recordo em particular uma caminhada pelo centro da cidade à noite, em que nos vimos subitamente no meio de uma homenagem a presos etarras, na praça principal. Senti revolta por ver endeusar gente como a que matara Pagazaurtundua, sentimento igual ao que sempre me geraram as relativizações (mormente à esquerda) do terrorismo da ETA por ter tido génese antifranquista. Senti medo, não me custa admiti-lo, como dias antes sentira ao ouvir explodir um qualquer artefacto da kale borroka (violência de rua) em Vitoria, capital da comunidade autónoma basca. Ao mesmo tempo tive a noção de que me faltava perceber muito sobre Euskadi, lacuna que se mantém após muitos livros e artigos lidos, muitas conversas tidas e várias viagens àquela terra deslumbrante, umas em trabalho e outras em lazer.
Foi, pois, com entusiasmo que me atirei às mais de 600 páginas do celebrado “Patria”, de Fernando Aramburu. O romance conta a história paralela de duas famílias, um dia amigas. No dia em que a ETA anuncia que deixa as armas, Bittori volta à aldeia onde viveu até à morte do marido, Txato, vítima dos terroristas encapuçados. É lá que o casal Miren e Joxian vive com a filha doente Arantxa; é de lá que partem por vezes para percorrer centenas de quilómetros e visitar o filho Joxe Mari, presoem El
Puerto de Santa María, na Andaluzia. Ainda não terminei mas
já posso, sem riscos, recomendar a leitura desta obra apaixonante, que me
trouxe a exata sensação de há 17 anos em Andoain. Que , aliás,
a HBO vai
levar à televisão em
breve. Mas vão por mim: leiam primeiro o livro.
Servido o curto, vão daqui votos de boa semana, de bom verão. Até breve, siga-nos aqui.
O assunto era delicadíssimo em todo o país. Desconfortável. Epidérmico. Recordo a emoção da fornada de mestrandos de que fazia parte (o curso era da Universidade Autónoma de Madrid, com as aulas a decorrer integralmente na redação do diário “El País”) quando nos foi disponibilizada, antes da estreia, uma cópia do documentário “La pelota vasca: la piel contra la piedra”, no qual o realizador Julio Medem reuniu testemunhos de dezenas de pessoas envolvidas ou afetadas pelo conflito no Pais Basco. O rol de entrevistados ia de independentistas como Arnaldo Otegi, líder do Batasuna e condenados por enaltecimento do terrorismo (mas em última análise crucial para o fim da ação armada da ETA) a vítimas de atentados, como o político socialista Eduardo Madina, a quem uma bomba terrorista arrancou uma perna. Foi um filme polémico, em que alguns viram uma humanização dos terroristas. Não achei nada disso e fartei-me de aprender.
Anos mais tarde passei por Andoain, numa de várias visitas ao País Basco. Recordo em particular uma caminhada pelo centro da cidade à noite, em que nos vimos subitamente no meio de uma homenagem a presos etarras, na praça principal. Senti revolta por ver endeusar gente como a que matara Pagazaurtundua, sentimento igual ao que sempre me geraram as relativizações (mormente à esquerda) do terrorismo da ETA por ter tido génese antifranquista. Senti medo, não me custa admiti-lo, como dias antes sentira ao ouvir explodir um qualquer artefacto da kale borroka (violência de rua) em Vitoria, capital da comunidade autónoma basca. Ao mesmo tempo tive a noção de que me faltava perceber muito sobre Euskadi, lacuna que se mantém após muitos livros e artigos lidos, muitas conversas tidas e várias viagens àquela terra deslumbrante, umas em trabalho e outras em lazer.
Foi, pois, com entusiasmo que me atirei às mais de 600 páginas do celebrado “Patria”, de Fernando Aramburu. O romance conta a história paralela de duas famílias, um dia amigas. No dia em que a ETA anuncia que deixa as armas, Bittori volta à aldeia onde viveu até à morte do marido, Txato, vítima dos terroristas encapuçados. É lá que o casal Miren e Joxian vive com a filha doente Arantxa; é de lá que partem por vezes para percorrer centenas de quilómetros e visitar o filho Joxe Mari, preso
Servido o curto, vão daqui votos de boa semana, de bom verão. Até breve, siga-nos aqui.
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o Expresso Curto a um/a amigo/a
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