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e publicado em português do Brasil
“Bolsonaro
‘paz e amor’, do diálogo e de um suposto governo de centro-direita é uma
contrafação, uma ópera-bufa, um mito, inventado por setores da mídia. O
diálogo, entendimento, conciliação ou seja o que for que esteja sendo
engendrado entre o Palácio do Planalto e os chefes das duas casas do Congresso
Nacional poderá levar a qualquer coisa, menos à estabilidade, à solução da
crise do país e à defesa da democracia”
José
Reinaldo Carvalho, de Brasília | Correio do Brasil | opinião
O
inquilino do Palácio da Alvorada voltou à carga no sábado , fazendo da área
externa da residência oficial cenário de pantomimas e patriotadas, com içamento
do Pavilhão Nacional e o canto do Hino por um coro desafinado e desenxabido.
Foi mais um episódio da simbologia neofascista que passou a fazer parte da
rotina presidencial.
Novamente,
Bolsonaro demonstrou a essência da linha governamental de gestão da pandemia,
em boa hora catalogada com a palavra certa por um eminente membro da Alta
Corte: “genocídio”. E como exibição de que na “rentrée” segue beligerante,
atacou de novo os governadores, não se importando com o fato de que alguns
deles nem adversários são e foram constrangidos a executar políticas
irresponsáveis de abandono do distanciamento social. Inopinadamente, alguns
passaram a defender a reabertura das atividades econômicas e o retorno ao
“normal”. Não suportaram o caos provocado por Bolsonaro, a pressão da crise
econômica e social, confrontados com o desamparo causado pela ruinosa conduta
do governo federal. Por óbvio, somente com ações coordenadas e a
responsabilidade compartilhada, seria possível assegurar a proteção
socioeconômica em situação de quarentena prolongada.
A
cena de sábado foi um recado político a desmentir os incautos e iludidos de que
Bolsonaro estaria iniciando uma fase de diálogo com as forças democráticas,
mudando de tom e transformando o caráter do seu governo e de sua própria
personalidade. Segundo a lenda, largamente difundida nas últimas três semanas,
estaria propenso ao entendimento nacional e até revelando um outro perfil, em
substituição ao tosco, truculento mensageiro da morte, chefe de governo
neofascista e de extrema direita. Não descartamos que entre os principais
atores no palco da vida política, passe a prevalecer uma postura, que aliás
nunca deixou de existir, de conciliação e entendimento com Bolsonaro. O
fracasso está à vista, esta é a sorte de toda vã ilusão.
Bolsonaro
não mudou nem vai mudar
Bolsonaro
não mudou nem vai mudar. Ele é o polo irradiador e continuador da atual crise
política e tragédia nacional.
Uma
crise continuada, ligada a fatos de seis anos atrás. Está registrado na
história: no dia seguinte à eleição de 2014, o PSDB, secundado automaticamente
pelo DEM, PMDB, outros partidos do “centrão”, pelo oligopólio dos meios de
comunicação, setores do Judiciário e do Ministério Público, forças armadas,
polícias e lideranças de centro-esquerda dissidentes da frente progressista que
governava o país, decidiram assestar o golpe contra a democracia. Que resultou
nisto que aí está.
Os
fatos são conhecidos. Destituíram a presidente Dilma em 2016, condenaram e
encarceraram o presidente Lula em 2018, inabilitando-o a concorrer nas eleições
presidenciais do mesmo ano. Hoje está demonstrado o que então se intuía: foi um
golpe manipulado também de fora, nos Estados Unidos.
O
governo que emergiu das urnas na sequência deste golpe continuado tem uma
natureza imutável. É neofascista e de extrema direita. Ataca a democracia, os
direitos civis, os direitos humanos, as instituições do precário estado
constitucional de direito, os direitos do povo, as conquistas dos
trabalhadores, com a reforma da previdência e os seguidos retrocessos na
legislação laboral, os valores culturais e civilizacionais. É um governo
submisso ao imperialismo, agressor dos países progressistas da região,
particularmente a vizinha Venezuela. Governo militarizado, de explícita
simbiose com as forças armadas e polícias. Um dos papéis preponderantes para
sua instalação foi desempenhado pelo ex-comandante da força terrestre. Pelo Twitter,
deu o sinal para o golpe contra Dilma e a prisão de Lula. Governo fora da lei,
de notórias ligações com as milícias.
Centro-direita
é uma contrafação
Bolsonaro
“paz e amor”, do diálogo e de um suposto governo de centro-direita é uma
contrafação, uma ópera-bufa, um mito, inventado por setores da mídia. O
diálogo, entendimento, conciliação ou seja o que for que esteja sendo
engendrado entre o Palácio do Planalto e os chefes das duas casas do Congresso
Nacional poderá levar a qualquer coisa, menos à estabilidade, à solução da crise
do país, ao respeito às liberdades democráticas e à mudança do caráter do
governo e do seu titular. São manobras ligadas ao acirramento recente dos
ataques à Constituição, aos Poderes legislativo e judiciário. Resultaram também
do medo pânico do clã presidencial em face das investigações que atingem filhos
e amigos. E do perigo de criminalização internacional, com o espectro de sua
condenação por delito contra a humanidade pela gestão genocida da pandemia.
Enquanto
isso, o Brasil vive uma crise multidimensional, agravada pelo alinhamento
pró-estadunidense adotado pelo governo de extrema direita: crise política,
econômica, social, sanitária e ambiental. Na circunstância atual, a crise
sanitária enfeixa as principais contradições. E as espelha. Nesse quadro, a
luta pela vida e pela proteção dos direitos do povo entrelaça-se com a luta
pela democracia e em defesa da soberania nacional ameaçada.
A
mudança de rumo do país só ocorrerá a partir do fim deste governo. É uma
questão de salvação nacional interromper sua continuidade, seja pelo
impeachment ou pela cassação da chapa eleita em 2018, o que deveria obviamente
ser sequenciado pela antecipação das eleições presidenciais.
Fora
Bolsonaro, democracia, proteção aos direitos sociais e defesa da soberania são
bandeiras que podem unir amplas setores políticos e sociais democráticos,
patrióticos e progressistas. Partidos, organizações dos movimentos sociais,
personalidades.
Setores
de direita que fazem oposição a Bolsonaro por seus interesses próprios e não
por convicções democráticas e patrióticas, recusam-se a dar encaminhamento
legislativo ao impeachment. É conveniente a esses setores a polarização da vida
política entre eles próprios e a extrema direita. E que a solução da crise
política, sob seu estrito controle, seja a resultante dessa divisão.
Governo
Bolsonaro
Dois
fatores são decisivos para as forças progressistas alcançarem êxito na luta
para pôr fim ao governo Bolsonaro: a unidade entre as correntes democráticas,
patrióticas e populares e a mobilização do povo. A superação da fragmentação e
da divisão entre as forças progressistas e de esquerda é condição sine qua
non para a conquista desse êxito.
A
ampla unidade entre as forças democráticas é a condição indispensável para
formar uma maioria política democrática no país. Uma unidade não apenas
partidária. Envolve um conjunto imenso e variado de organizações sociais e
personalidades democráticas e patrióticas. Trata-se de um processo objetivo,
que não tem (nem está no horizonte que tenha) expressão orgânica nem eleitoral.
O
esforço de unidade inclui múltiplos embates em situações objetivas, nas quais
se realizam ações pontuais convergentes entre todas as forças de oposição.
José
Reinaldo Carvalho, é membro do Comitê Central e da Comissão Política Nacional
do PCdoB, responsável pela Solidariedade Internacional.
As
opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio
do Brasil
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