Rui Sá* | Jornal de Notícias |
opinião
Vivi durante anos em frente à
Escola Secundária Rodrigues de Freitas, no Porto, onde estudei. Desde muito
cedo militante das organizações das juventudes comunistas, vi como o liceu, nos
anos de 1978 e 79, se transformou, tal como o António Nobre e o Garcia de Orta,
no palco das atividades neonazis no ensino secundário do Porto.
Nesse período, vi gente a
desfilar fazendo a saudação nazi, a gritar "Quem manda? Salazar, Salazar,
Salazar!". Gente que perseguia e agredia estudantes comunistas, como
aconteceu, em frente a minha casa, a João Fernandes (hoje, um dos vultos da
cultura portuguesa, diretor do Instituto Moreira Salles, no Brasil). Soube o
que era ter de ir para a escola (na altura, a Infante D. Henrique) escondido no
banco traseiro de um carro, ou sair sempre em paragens diferentes do autocarro
para não me conhecerem hábitos e minimizar hipóteses de espera.
Na altura, estes neonazis,
organizados no chamado MIRN, de Kaúlza da Arriaga, colocavam a ferro e fogo a
cidade, com assaltos a diversas sedes de forças de esquerda.
Nos finais de 1979, essa gente
integrou-se na chamada juventude da AD-Aliança Democrática, coligação do PSD,
do CDS e do PPM, onde prosseguiu a sua atividade. Passando a ser a tropa de
choque, com um rasto de violência que se prolongou pelos anos de governação da
AD (1979 a
1983).
Tenho, na minha posse, um
comunicado das juventudes comunistas que, em 1979, elencava o nome de vários
neonazis que "atuavam" no Porto. Vejo lá o nome de gente conhecida,
com protagonismo no PSD, no CDS e na economia. Gente que, tal como eu, é hoje
cinquentenária. Gente que alardeia, de novo, as suas convicções juvenis. No
Chega, ou defendendo alianças com o mesmo! Porque andaram sempre por aí...
*Engenheiro
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