segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Portugal | Eles andaram sempre por aí


Rui Sá* | Jornal de Notícias | opinião

Vivi durante anos em frente à Escola Secundária Rodrigues de Freitas, no Porto, onde estudei. Desde muito cedo militante das organizações das juventudes comunistas, vi como o liceu, nos anos de 1978 e 79, se transformou, tal como o António Nobre e o Garcia de Orta, no palco das atividades neonazis no ensino secundário do Porto.

Nesse período, vi gente a desfilar fazendo a saudação nazi, a gritar "Quem manda? Salazar, Salazar, Salazar!". Gente que perseguia e agredia estudantes comunistas, como aconteceu, em frente a minha casa, a João Fernandes (hoje, um dos vultos da cultura portuguesa, diretor do Instituto Moreira Salles, no Brasil). Soube o que era ter de ir para a escola (na altura, a Infante D. Henrique) escondido no banco traseiro de um carro, ou sair sempre em paragens diferentes do autocarro para não me conhecerem hábitos e minimizar hipóteses de espera.

Na altura, estes neonazis, organizados no chamado MIRN, de Kaúlza da Arriaga, colocavam a ferro e fogo a cidade, com assaltos a diversas sedes de forças de esquerda.

Nos finais de 1979, essa gente integrou-se na chamada juventude da AD-Aliança Democrática, coligação do PSD, do CDS e do PPM, onde prosseguiu a sua atividade. Passando a ser a tropa de choque, com um rasto de violência que se prolongou pelos anos de governação da AD (1979 a 1983).

Tenho, na minha posse, um comunicado das juventudes comunistas que, em 1979, elencava o nome de vários neonazis que "atuavam" no Porto. Vejo lá o nome de gente conhecida, com protagonismo no PSD, no CDS e na economia. Gente que, tal como eu, é hoje cinquentenária. Gente que alardeia, de novo, as suas convicções juvenis. No Chega, ou defendendo alianças com o mesmo! Porque andaram sempre por aí...

*Engenheiro

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