#Publicado em português do Brasil
Patrick Martin | WSWS
A Convenção Nacional do Partido
Republicano, que começou ontem à noite, deve ser considerada um sério alerta
para a classe trabalhadora. Esse evento tem um caráter abertamente fascista.
Ela está colocando em evidência as forças mais reacionárias da vida estadunidense:
racistas, antissemitas, anticomunistas ferozes e militaristas.
Tal é o caráter apodrecido do
sistema político oficial, em que as escórias da humanidade são televisionadas
por horas em horário nobre e são tratadas seriamente como uma parte legítima da
vida pública. Essas forças têm uma perspectiva muito real de consolidar sua
posição à frente do mais poderoso estado imperialista do planeta.
Tiradas contra o socialismo e
apelos abertos ao racismo e à xenofobia são vomitados através das ondas de rádio
com pouca ou nenhuma oposição por parte dos meios de comunicação. Pelo
contrário, uma rede de televisão, a Fox, dedica-se inteiramente à
disseminação de tais pontos de vista, enquanto as outras oferecem pouco mais do
que correções sem entusiasmo, como se um programa de propaganda fascista de
quatro dias exigisse apenas um pouco de verificação de fatos.
A noite de abertura da convenção
confirma o perigo contra o qual o WSWS e o Partido Socialista pela Igualdade
têm constantemente alertado: Donald Trump e o Partido Republicano estão
procurando estabelecer um movimento autoritário e personalista, uma forma
estadunidense de fascismo, que esmagaria os opositores através do uso da força
bruta.
Trump não possuí uma perspectiva
puramente eleitoral. Seu discurso na convenção foi em si mesmo uma demonstração
disso, já que teve como objetivo principal impulsionar a histeria
antissocialista em sua base de direita e justificar a ação preventiva da
polícia e das forças militares, bem como das forças paramilitares de ultradireita.
Em relação à campanha eleitoral,
Trump não espera convencer a maioria da população estadunidense a apoiá-lo. Ele
não ganhou no voto popular em 2016, e é o primeiro presidente dos EUA a passar
um mandato inteiro sem nunca ter tido o apoio, em uma única pesquisa de
opinião, da maioria da população do país.
Trump pretende criar um ambiente
no qual haja incerteza suficiente sobre o resultado da eleição – seja alegando
fraude maciça, sabotagem direta do voto por correspondência ou se esforçando
para interromper a votação presencial através da mobilização da polícia,
xerifes e agentes de imigração nas urnas – que possa levá-lo a reivindicar a
manutenção do poder.
Nenhum democrata respondeu à
declaração de Trump, feita na semana passada, de que o resultado da eleição
pode ser desconhecido durante semanas ou mesmo meses após o encerramento da
votação em 3 de novembro. Isso só demonstra a impotência e a falta de seriedade
do Partido Democrata.
Não é que haja um amplo apoio na
população dos EUA aos pontos de vista fascistas de Trump. Muito pelo contrário,
a tendência é para a esquerda, particularmente entre os trabalhadores e a
juventude. Mas há um sentimento generalizado e completamente justificado de que
o Partido Democrata não é uma alternativa e não oferece nada aos trabalhadores.
Milhões de trabalhadores rejeitam
a grande mentira da convenção do Partido Republicano – a alegação de que Trump
mobilizou uma resposta eficaz à pandemia do novo coronavírus que infectou quase
seis milhões de pessoas nos EUA e matou mais de 180.000. Os Estados Unidos têm
4% da população mundial, mas 25% dos casos de COVID-19 e 23% das mortes pela
doença. Em sua resposta incapaz, corrupta e insensível à pandemia, a
administração Trump e a classe dominante dos EUA têm demonstrado o completo
fracasso do capitalismo estadunidense.
O perigo enfrentado pelos
trabalhadores não vem da força inerente ao campo de Trump, mas do peso morto do
Partido Democrata, que procura suprimir a oposição real de baixo ao aspirante a
Mussolini na Casa Branca – as greves e paralisações de professores,
trabalhadores da indústria automotiva e de centros de armazenamento e
distribuição desencadeadas pela pandemia e os enormes protestos populares
inéditos contra a violência policial e o racismo.
Ao invés de dizer o que está
acontecendo – que Trump está se movendo para estabelecer um regime autoritário
– e apelar para o povo dos EUA contra ele, os democratas procuram cortejar
frações do próprio Partido Republicano: antigos governadores, senadores e
agentes da inteligência militar foram enviados à convenção que nomeou Joe Biden
e Kamala Harris.
Ao mesmo tempo, eles procuram
dividir a classe trabalhadora segundo linhas raciais, continuamente contrapondo
raça a classe e culpando os brancos como um todo pela discriminação racial e
pela violência que são produto do capitalismo e do estado capitalista. Esta
ênfase na identidade racial (e de gênero) realmente dá a Trump e a ultradireita
uma abertura para fazer um apelo aos trabalhadores brancos que enfrentam a
destruição de seus empregos e padrões de vida sob o impacto da pandemia do
coronavírus e o colapso econômico que ela desencadeou.
Trump ganhou as eleições
presidenciais em 2016 porque o Partido Democrata fez questão de demonstrar sua
hostilidade à classe trabalhadora, particularmente no Meio -Oeste industrial, o
ponto focal da destruição de empregos e salários durante os oito anos da
administração Obama-Biden.
O voto democrata colapsou não
apenas em áreas rurais e de pequenas cidades da classe trabalhadora, mas em cidades
como Milwaukee, Detroit e Filadélfia, fazendo com que Trump ganhasse nos
estados de Wisconsin, Michigan e Pensilvânia e chegasse à Casa Branca.
Com a nomeação direitista de
Biden-Harris, o Partido Democrata está concorrendo às eleições de 2020 com a mesma
estratégia de 2016, não fazendo nenhum apelo à classe trabalhadora e procurando
consolidar ainda mais sua posição como o partido preferido de Wall Street e do
aparato de inteligência militar.
Em sua primeira entrevista
conjunta desde a convenção, Joe Biden e Kamala Harris apareceram na ABC
News na noite de sexta-feira. Durante quase uma hora, eles não fizeram
nenhuma menção à pobreza, fome, falta de moradia ou ao corte do subsídio de
desemprego federal suplementar de 600 dólares por semana do qual cerca de 28
milhões de trabalhadores, demitidos por causa da pandemia do coronavírus,
dependiam para sua sobrevivência.
Ignorando o sofrimento econômico
que une milhões de trabalhadores de todas as raças e gêneros, os democratas
agem como se não houvesse uma crise grave, em um país onde quase 200.000
morreram vítimas da pandemia e 28 milhões estão desempregados. Trump tem um
programa – a supressão forçada das contradições sociais através de métodos
fascistas. Os democratas não têm nenhum programa, exceto para alegar que os
horrores do capitalismo seriam mais toleráveis se fossem provocados por uma
escolha mais “diversificada” de governantes.
O Partido Socialista pela
Igualdade leva a sério a luta contra Trump e o fascismo. Por isso mesmo, nos
opomos e rejeitamos totalmente a política do Partido Democrata e de todos os
seus defensores políticos, desde os defensores liberais da política de identidade,
passando pelos sindicatos corruptos até os ex-radicais da pseudoesquerda. Trump
não pode ser combatido sem um programa socialista que mobilize a classe
trabalhadora, potencialmente a força mais poderosa da sociedade, em uma base de
classe.
Trump aponta constantemente para
o aumento dos índices Dow Jones Industrial Average, S&P500 e NASDAQ. Neste
sentido, ele está sendo honesto: ele tem governado o país segundo o interesse
de Wall Street. Os democratas representam a mesma base social, mas procuram esconder
esse fato da classe trabalhadora, mesmo quando o dinheiro dos grandes bancos e
da bolsa de valores inunda os cofres da campanha de Biden.
O papel essencial do Partido
Democrata é o de estrangular a oposição social contra o capitalismo. Todos eles
são a favor da oposição a Trump, desde que isso não colida com os interesses
sociais de Wall Street. Mas o crescente movimento da classe trabalhadora em
oposição ao capitalismo fornece a única base possível para uma verdadeira luta
contra Trump e a oligarquia financeira da qual ele é o representante mais
corrupto e reacionário.
*Patrick Martin | WSWS
Publicado originalmente em 25 de
agosto de 2020
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