terça-feira, 15 de setembro de 2020

Portugal | Bastonários lamentam "atropelo constitucional" e "decisões erradas" na Saúde


41 anos do SNS

No dia em que se assinalam os 41 anos da criação do Serviço Nacional de Saúde, os bastonários da Ordem dos Médicos, da Ordem dos Enfermeiros e da Ordem dos Farmacêuticos destacam as "decisões erradas" na gestão da rede, durante a pandemia.

"Hoje é um dia de festa. Mas, desta vez, a celebração é diferente. Os 41 anos do SNS, com o País mergulhado na pandemia, são um momento de especial preocupação", escrevem num artigo conjunto publicado esta terça-feira no jornal "Público", em que lembram as "forças e oportunidades (...) adormecidas", que continuam a aguardar "pela iniciativa e coragem dos responsáveis políticos".

"Conquistámos o SNS, orgulhamo-nos dele, reconhecemos unanimemente a sua razão de ser, mas estamos a deixá-lo definhar, orçamento a orçamento, inverno atrás de inverno, não honrando a história das mulheres e dos homens que o construíram e dos profissionais de saúde que o fazem todos os dia", consideram os bastonários Miguel Guimarães, Ana Rita Cavaco e Ana Paula Martins.

No artigo de opinião, os autores lamentam que o SNS tenha sido convertido numa "máquina de guerra" e que, focado no combate à pandemia, se tenha afastado "da sua obrigação constitucional de oferecer cobertura universal a todos os portugueses", deixando "para trás milhões de consultas presenciais e episódios de urgência, outros milhões de exames complementares de diagnóstico e terapêutica, muitos milhares de cirurgias e tratamentos oncológicos..."

"Estamos agora, com grande dificuldade, a correr atrás do prejuízo. Isto quer dizer que, por decisão política, houve cidadãos que foram indevidamente secundarizados ou esquecidos, e que outros lhes terão passado à frente quando deviam ser tratados com igual prioridade", acrescentam. E salientam que, tendo a mortalidade global aumentado 10% nos meses da pandemia e não sendo o novo vírus a causa da grande maioria dos óbitos, há que "medir com rigor os efeitos daquele atropelo constitucional e assumir que houve decisões erradas". "Sem isso não podemos corrigir nada a tempo de uma segunda vaga ou de outros desafios futuros."

Mais do que elogios ou agradecimentos, "o que não abdicamos pelos nossos doentes são condições de trabalho que permitam continuar a salvar vidas e a servir com dignidade", pode ler-se. Por dever e imperativo ético, continuaremos a colaborar e a contribuir para um serviço público mais eficiente e mais justo, apesar de exangue, e para um sistema de saúde inclusivo e integrado, que trate os portugueses como estes merecem.

Jornal de Notícias

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