Curto e nem por isso grosso, sem ser fino, com um caldo de instabilidade transmissora de coceiras e expetativas cavernosas, mais para o escuro que outro tom. Portugal, afinal.
Barros assina o Expresso Curto de
hoje e refere rosas e espinhos. Rosas até quase final de 2019 e invasão imparável
de espinhos a partir dos primeiros meses de
Esta conversa descambou muito naturalmente para a realidade. Desculpem qualquer coisinha. Chamem a PIDE e apresentem reclamação nas páginas amarelas…
Do Curto tem mais matéria de interesse. Abordagens do recente passado e imediato futuro. Não só política, não só economia. Também cultura, também lamirés sobre política do desporto. Cada cor seu paladar num puxão da brasa à sua sardinha. Humano é.
Consuma o Curto. Sempre será muito melhor que ficar especado/a a olhar para uma parede vazia de pontos a observar, a não ser de alguma esporádica cagadela de mosca com diarreia. Acontece.
Bom dia. Bom almoço. Lembre-se que já existem imensos portugueses que não almoçam (nem jantam), nem uma sandoxa. É a realidade a revisitar-nos. Assim vai ser o inferno para mais que muitos. Tudo com a supervisão do partido rosa. Verdade que se fosse laranja ou azul ia dar no mesmo ou ainda pior. Olhe para trás no tempo e veja se não é certa a afirmação. Coisas do inferno. Porque será que os masoquistas tanto gostam de ser maltratados? É o povo unido, no inferno. Juntinhos e quentinhos, como as castanhas assadas...
O Curto, já a seguir se clicar. Atreva-se.
MM | PG
João Pedro Barros | Expresso
Bom dia,
Façamos um exercício de memória: lembra-se de onde estava a 1 de janeiro
de 2020? Se o Governo fosse uma pessoa não hesitaria em dizer que estava
num belo passeio na praia, mesmo que encasacado e com medo de uma traiçoeira
onda externa. Reforçado em eleições (ainda que sem maioria), de tal forma
confiante que prescindia de um acordo à esquerda, com a economia a crescer e
até com o primeiro excedente orçamental da democracia portuguesa à vista
(confirmado em março, já em plena pnademia). Por muito que a oposição
apresentasse críticas, é inegável que o panorama era desanuviado. Prova disso é
que, em fevereiro, o grande tema político era a legalização da morte
medicamente assistida (vulgo eutanásia). Alguém se lembra hoje deste tema?
(Na verdade sim, voltamos a isto mais abaixo.)
Todos sabemos o que surgiu depois e como a pandemia tem dominado as nossas
vidas: para o Governo socialista projeta-se agora um caminho de espinhos,
para não fizer de pedras. A que agora incomoda mais no sapato tem o nome de
Orçamento do Estado (OE) e vai custar muitos milhões de euros em medidas, de
forma a satisfazer (ao que tudo indica) os parceiros de esquerda e abrir
caminho para a aprovação do documento.
O Conselho de Ministros aprovou
ontem a proposta de OE para 2021 na generalidade, mas há "alguns
temas por fechar". Vai haver um Conselho de Ministros extraordinário para
limar os detalhes mas o que é certo é que o orçamento será entregue na
próxima segunda-feira na Assembleia da República. A proposta é votada na
generalidade a 28 de outubro e a votação final global está agendada para 26 de
novembro.
Os próximos dias prometem negociações, negociações e mais negociações. O
Governo tenta mostrar “tranquilidade”: há um exercício "de
aproximação", diz a ministra Mariana Vieira da Silva, o deputado João
Paulo Correia fala em “avanços”. "Está
tudo do lado de lá", ou seja, do lado do Bloco de Esquerda e do PCP,
disse ao Expresso uma fonte da equipa de António Costa, que assegura que foram
enviados não só os artigos da proposta de lei do orçamento mas também propostas
de alterações ao Código do Trabalho.
Em causa estarão, entre outras medidas, uma nova prestação social, o aumento do
salário mínimo nacional, dos funcionários públicos e das pensões (no valor de 10
euros, garante o “Público”), bem como alterações na legislação laboral . O
Bloco promete não ceder por pouco e está ainda insatisfeito com os
compromissos do Governo; o PCP, pela voz de Jerónimo de Sousa, diz que as
coisas estão assim-assim: há prioridades que já foram “acolhidas" e outras
que nem por isso. Mera encenação? Talvez, mas apostar num final feliz
ainda traz algum risco. Ah, e depois a luta por mais uns pozinhos aqui e ali
promete continuar no Parlamento, medida a medida, em sede de especialidade.
Se no orçamento o caminho é estreito, no que toca à pandemia há um plano
inclinado: ontem foi o segundo
dia com mais casos em Portugal (1.278), 20 dias depois de António
Costa ter
previsto que o limiar do milhar seria ultrapassado – o que dificulta
a quebra de cadeias de transmissão. No mundo, bateu-se o recorde
de casos num só dia - 338.779 em 24 horas. Há todo um percurso íngreme pela
frente para o Executivo, para o país e para o mundo, até que a luz de uma
vacina brilhe por entre as nuvens carregadas de uma crise económica e social.
O
Governo vai avaliar na próxima semana a necessidade de mais medidas,
anunciou Mariana Vieira da Silva, a meio da reunião do Conselho de Ministros.
Nem pensar em novo confinamento , já repetiu Costa cerca de 324 vezes, mas
"a disponibilidade de revisão das medidas é total". Mais logo, pela
hora de almoço, teremos novo instantâneo do momento atual, sendo que mais
preocupante do que os infetados será a evolução do número de internados. Em
enfermaria o saldo foi de mais 100 pessoas nos últimos três dias, estando
agora em 801 internados (ao nível do início de maio). O Serviço nacional de
Saúde estará à prova e os hospitais de Loures e da Amadora já
sentem "uma pressão muito grande".
OUTRAS NOTÍCIAS
Debate virtual, polémica real – Os dois debates ainda por realizar entre
Trump e Biden foram o tema do dia de ontem na campanha presidencial dos EUA.
Primeiro, a comissão que os organiza anunciou
um formato virtual para o próximo evento, com os candidatos em locais
distintos, já que o atual Presidente estará infetado. Trump recusou e a ideia
passou a ser adiar
os debates uma semana, para os dias 22 e 29 de outubro. Mas, entretanto, o
médico oficial diz que o Presidente
pode ter alta no sábado, sem especificar se teve um resultado negativo no
teste à covid-19 – por isso, Trump quer debater com
Biden já esta quinta-feira, como previsto. O ponto de situação da campanha
foi feito em
mais um Ao Vivo na Redação e para saber ainda mais sobre o que se
passou ontem siga
Pela Estrada Fora.
Ainda Trump – A empresa de biotecnologia Regeneron, proprietária do
medicamento com que o Presidente dos EUA foi tratado à covid-19, solicitou
uma autorização para disponibilizar a terapia a toda a população, que Trump
já prometeu que será gratuita. No entanto, ao Expresso, Jaime Nina, professor e
infecciologista do Hospital Egas Moniz, tem muitas reservas: o medicamento “pode
dar para tratar um Presidente mas não milhões de pessoas”. E há ainda uma
contradição: o chefe de Estado tinha condenado anteriormente a técnica com
tecido fetal usada no tratamento, conta
o “Público” via “The
New York Times”.
Emergência em Madrid – O Governo
espanhol reúne-se hoje de forma extraordinária para decretar o estado de
emergência em Madrid, onde o novo coronavírus não tem parado de crescer.
Ontem, o Tribunal de Justiça de Madrid rejeitou as medidas de restrição de
movimentos impostas pelo Governo, deixando
os madrilenos sem saber bem o que fazer. Em França, Paris
está vazia e triste.
Não era bem esse mas também pode ser – O líder do PSD, Rui Rio, defendeu
ontem que Vítor
Caldeira deveria ter continuado na presidência do Tribunal de Contas, mas
acabou por concordar com a nomeação de José Tavares, uma pessoa
"disponível, equilibrada e sensata". Noutro campo, os
sociais-democratas vão
debater nas próximas semanas a posição face à petição para a
realização de uma consulta popular sobre a eutanásia.
Velhas contas, Novo Banco – O grupo parlamentar do PS vai avançar hoje com
uma proposta
de auditoria ao Novo Banco, a realizar por uma comissão que vai incluir
Tribunal de Contas, Inspeção Geral de Finanças e Banco de Portugal. O trabalho
pode demorar mais de um ano a ver a luz do dia. Entretanto, o Novo Banco vendeu
mais um ativo – a GNB Seguros – e garante que a reestruturação
e limpeza de balanço fica completa este ano. E, quanto às verbas que devem
vir do Fundo de Resolução para capitalizar a instituição em 2021, o "Jornal Económico" diz que já há quatro bancos (Caixa,
Millennium bcp, Santander e BPI) dispostos a emprestar entre 250 milhões e 400
milhões de euros, retirando assim o encardo do Orçamento do Estado.
Desacordo europeu – Ainda não há acordo quanto aos fundos europeus do
próximo quadro comunitário, para 2021-2027, o chamado Portugal 2030, sucessor
do Portugal 2020, que está a pouco mais de dois meses de terminar. O Parlamento
Europeu quer mais dinheiro para programas como o Erasmus +, mas o Conselho (ou
seja, os 27 Estados membros) não quer abrir os cordões à bolsa.
Época Nobel – A poeta Louise Glück venceu
o Prémio Nobel da Literatura. A propósito, sabe qual é a única
categoria em que os EUA não são dominadores? A
resposta está em mais um 2:59. Daqui a pouco, por volta das 10h, será
anunciado o Nobel da Paz (e Trump,
sempre ele, é oficialmente candidato).
Chicotada – É a primeira da
época de um treinador na Liga portuguesa: Tiago Mendes demitiu-se do cargo no Vitória de Guimarães,
os responsáveis do clube dizem ter ficado surpreendidos com a decisão.
FRASES
“O meu sucessor tem de ser preparado para me suceder. Isto precisa de
continuidade.”
Luís Filipe Vieira, à
SIC, a falar do clube a que preside, o Benfica, que tem eleições marcadas
para 30 de outubro. Há pelo menos mais um candidato anunciado (João Noronha
Lopes) e outros três (Bruno Costa Carvalho, Rui Gomes da Silva e Francisco
Benítez) que já anunciaram essa intenção
“A violência doméstica é o mais grave problema de segurança e criminalidade
Daniel Oliveira, no seu espaço
de opinião no Expresso
O QUE ANDO A LER
Há uma “anomalia” na lista de clubes campeões europeus de futebol: trata-se do
bicampeão Nottingham Forest (1979 e 80), o único emblema da lista a ter mais
títulos europeus do que nacionais (apenas um, em 1978/79). Indiscutivelmente, a
grande figura por trás deste feito é Brian Clough (1935-2004), que transformou
um clube de segunda divisão em rei da Europa em apenas dois anos. Muitos
chamam-lhe o melhor treinador que a seleção inglesa nunca teve.
É impossível ler histórias sobre Clough e não ficar fascinado com a
personalidade do treinador (e ex-jogador, com uma muito respeitável carreira
como avançado nos anos 50 e 60). Por isso, quando numa visita a uma loja
solidária em Londres vi à venda, por uma libra, “Provided You Don't Kiss
Me: 20 Years with Brian Clough” (em tradução livre, algo como “Desde que
não me dês um beijo: 20 anos com Brian Clough”), não hesitei.
Como tantos outros, o livro (em edição inglesa, da Harper Perennial) ficou a
marinar na estante até que uma qualquer notícia sobre Clough me levou a
procurá-lo (e depois a lê-lo num ápice). Trata-se do relato de Duncan Hamilton,
um jornalista que acompanhou durante 20 anos o dia a dia do Nottingham Forest,
desde os anos gloriosos até à decadência do treinador. Tomado pelo alcoolismo,
terminou a carreira em 1993 de uma maneira cruel: 16 anos depois, o Forest
voltava à Segunda Divisão inglesa.
O livro começa com um Hamilton de 18 anos a ter o seu primeiro contacto com
Clough: uma entrevista previamente combinada de que o treinador já nem se
lembrava e que começou com um chorrilho de perguntas... do entrevistado! “Tens
20 minutos e já perdeste dois”, atirou, enquanto punha os pés na secretária do
seu gabinete no City Ground e se recostava na cadeira.
A relação teve altos e baixos: Clough é considerado um pioneiro dos mind games
e não é por acaso que as comparações com Mourinho eram frequentes quando o
português chegou a Inglaterra como campeão europeu pelo FC Porto e disse
que era especial. O técnico usava Hamilton para passar as mensagens que lhe
interessavam mas também era capaz de o banir do estádio durante semanas se não
gostasse de uma crónica de jogo que assinasse.
Clough adorava ser protagonista: um dos mais memoráveis momentos da história da
televisão inglesa é o debate
que protagonizou com Don Revie, o treinador que substituiu no Leeds United
– por apenas 44 dias – e cujo estilo de jogo desprezava. “Se Deus quisesse que
jogássemos futebol nas nuvens, teria posto lá relva”, disse um dia sobre o
célebre kick and rush (jogo direto, feito de passes longos) que ainda era a regra
nos anos 1970 e 80.
Outra das suas frases mais célebres tem a ver com a maneira como discutia com
os jogadores sobre divergências: “Falamos sobre isso durante 20 minutos e
no final decidimos que eu tenho razão”. Apesar de ferozmente disciplinador,
Clough lia a mente dos jogadores como ninguém, fazia jogos psicológicos e não
perdia uma oportunidade para o que agora se chama team building: Hamilton
recorda pelo menos duas ocasiões em que levou a equipa a um clube de strip, uma
delas na véspera de uma semifinal europeia com o Ajax. Um mês depois, um golo
de John Robertson valeu a segunda “orelhuda”, frente ao Hamburgo (1-0),
O QUE ANDO
Ao que parece, PJ Harvey anda a rever o seu fundo de catálogo e, tal como fez
em 1993 com “Rid of Me”, publicou as demos (versões provisórias das canções,
para depois serem trabalhadas em estúdio) de “Dry” (1992) e “To Bring You My
Love”, de 1995.
Centro-me neste último disco. As canções estão bastante próximas da versão
final – depois são limadas pela produção de Flood e John Parish –, mas, para um
fã, é um exercício delicioso reparar nas pequenas subtilezas: os retoques
nas métricas, um sublinhado diferente numa palavra, a percussão retrabalhada,
algumas subtilezas nas teclas.
Mais importante ainda, a reedição fez-me redescobrir a dimensão de um disco que
já não ouvia há anos. PJ Harvey atira-nos para cima um camião TIR: um álbum
negro e cru, inspirado nos blues, carregado de raiva e sexualidade, mas também
de desejo e fragilidade (como na impressionante e acústica "C'mon
Billy"). Terá sido como atirar um balde de tinta preta para um universo
pop-rock então ainda dominado pelo mais leve e colorido universo do britpop.
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