sexta-feira, 9 de outubro de 2020

O oásis do governo PS já foi. O inferno avança na Lusitânia e no mundo

Curto e nem por isso grosso, sem ser fino, com um caldo de instabilidade transmissora de coceiras e expetativas cavernosas, mais para o escuro que outro tom. Portugal, afinal.

Barros assina o Expresso Curto de hoje e refere rosas e espinhos. Rosas até quase final de 2019 e invasão imparável de espinhos a partir dos primeiros meses de 2020. A realidade num jardim florido que causa dores espinhosas que ainda agora só são o começo. Vem aí o inferno e o governo sabe isso. Sabe também que está impreparado para o caos que aí vem. Avolumam-se as injustiças sociais, as dificuldades impostas aos cidadãos, as mortes dos mais idosos por simples incompetência ou por cumprir um plano que livre a Segurança Social dos velhos e doentes que representam grandes encargos no OE. Menos exames médicos, menos consultas, menos medicamentos, menos internamentos, menos subsídios disto e daquilo, milhões poupados em reformas que não se têm de pagar… Nesse aspeto o futuro vai ficar risonho. As teorias de conspiração encontram aí mesmo a sua sustentação… E Hitler regressou para cobrar a aniquilação dos mais fracos, dos “dispensáveis”? O nazismo avança? Que diga quem sabe. O que vimos é fascistas e nazis e gozarem de pleno direito na qualidade de deputados. Mascarados, é certo, só deixando ver as vestes reais e terríveis muito levemente, a coberto dos laivos de democracia que afinal combatem a todo o transe, como sempre o fizeram, encostando-se alegadamente ao neoliberalismo que representa o átrio de entrada do regime fascista, nazi.

Esta conversa descambou muito naturalmente para a realidade. Desculpem qualquer coisinha. Chamem a PIDE e apresentem reclamação nas páginas amarelas…

Do Curto tem mais matéria de interesse. Abordagens do recente passado e imediato futuro. Não só política, não só economia. Também cultura, também lamirés sobre política do desporto. Cada cor seu paladar num puxão da brasa à sua sardinha. Humano é.

Consuma o Curto. Sempre será muito melhor que ficar especado/a a olhar para uma parede vazia de pontos a observar, a não ser de alguma esporádica cagadela de mosca com diarreia. Acontece.

Bom dia. Bom almoço. Lembre-se que já existem imensos portugueses que não almoçam (nem jantam), nem uma sandoxa. É a realidade a revisitar-nos. Assim vai ser o inferno para mais que muitos. Tudo com a supervisão do partido rosa. Verdade que se fosse laranja ou azul ia dar no mesmo ou ainda pior. Olhe para trás no tempo e veja se não é certa a afirmação. Coisas do inferno. Porque será que os masoquistas tanto gostam de ser maltratados? É o povo unido, no inferno. Juntinhos e quentinhos, como as castanhas assadas...

O Curto, já a seguir se clicar. Atreva-se.

MM | PG


Em janeiro tudo eram rosas, agora o Governo está rodeado de espinhos

João Pedro Barros | Expresso

Bom dia,

Façamos um exercício de memória: lembra-se de onde estava a 1 de janeiro de 2020? Se o Governo fosse uma pessoa não hesitaria em dizer que estava num belo passeio na praia, mesmo que encasacado e com medo de uma traiçoeira onda externa. Reforçado em eleições (ainda que sem maioria), de tal forma confiante que prescindia de um acordo à esquerda, com a economia a crescer e até com o primeiro excedente orçamental da democracia portuguesa à vista (confirmado em março, já em plena pnademia). Por muito que a oposição apresentasse críticas, é inegável que o panorama era desanuviado. Prova disso é que, em fevereiro, o grande tema político era a legalização da morte medicamente assistida (vulgo eutanásia). Alguém se lembra hoje deste tema? (Na verdade sim, voltamos a isto mais abaixo.)

Todos sabemos o que surgiu depois e como a pandemia tem dominado as nossas vidas: para o Governo socialista projeta-se agora um caminho de espinhos, para não fizer de pedras. A que agora incomoda mais no sapato tem o nome de Orçamento do Estado (OE) e vai custar muitos milhões de euros em medidas, de forma a satisfazer (ao que tudo indica) os parceiros de esquerda e abrir caminho para a aprovação do documento.

O Conselho de Ministros aprovou ontem a proposta de OE para 2021 na generalidade, mas há "alguns temas por fechar". Vai haver um Conselho de Ministros extraordinário para limar os detalhes mas o que é certo é que o orçamento será entregue na próxima segunda-feira na Assembleia da República. A proposta é votada na generalidade a 28 de outubro e a votação final global está agendada para 26 de novembro.

Os próximos dias prometem negociações, negociações e mais negociações. O Governo tenta mostrar “tranquilidade”: há um exercício "de aproximação", diz a ministra Mariana Vieira da Silva, o deputado João Paulo Correia fala em “avanços”. "Está tudo do lado de lá", ou seja, do lado do Bloco de Esquerda e do PCP, disse ao Expresso uma fonte da equipa de António Costa, que assegura que foram enviados não só os artigos da proposta de lei do orçamento mas também propostas de alterações ao Código do Trabalho.

Em causa estarão, entre outras medidas, uma nova prestação social, o aumento do salário mínimo nacional, dos funcionários públicos e das pensões (no valor de 10 euros, garante o “Público”), bem como alterações na legislação laboral . O Bloco promete não ceder por pouco e está ainda insatisfeito com os compromissos do Governo; o PCP, pela voz de Jerónimo de Sousa, diz que as coisas estão assim-assim: há prioridades que já foram “acolhidas" e outras que nem por isso. Mera encenação? Talvez, mas apostar num final feliz ainda traz algum risco. Ah, e depois a luta por mais uns pozinhos aqui e ali promete continuar no Parlamento, medida a medida, em sede de especialidade.

Se no orçamento o caminho é estreito, no que toca à pandemia há um plano inclinado: ontem foi o segundo dia com mais casos em Portugal (1.278), 20 dias depois de António Costa ter previsto que o limiar do milhar seria ultrapassado – o que dificulta a quebra de cadeias de transmissão. No mundo, bateu-se o recorde de casos num só dia - 338.779 em 24 horas. Há todo um percurso íngreme pela frente para o Executivo, para o país e para o mundo, até que a luz de uma vacina brilhe por entre as nuvens carregadas de uma crise económica e social.

O Governo vai avaliar na próxima semana a necessidade de mais medidas, anunciou Mariana Vieira da Silva, a meio da reunião do Conselho de Ministros. Nem pensar em novo confinamento , já repetiu Costa cerca de 324 vezes, mas "a disponibilidade de revisão das medidas é total". Mais logo, pela hora de almoço, teremos novo instantâneo do momento atual, sendo que mais preocupante do que os infetados será a evolução do número de internados. Em enfermaria o saldo foi de mais 100 pessoas nos últimos três dias, estando agora em 801 internados (ao nível do início de maio). O Serviço nacional de Saúde estará à prova e os hospitais de Loures e da Amadora já sentem "uma pressão muito grande".

OUTRAS NOTÍCIAS

Debate virtual, polémica real – Os dois debates ainda por realizar entre Trump e Biden foram o tema do dia de ontem na campanha presidencial dos EUA. Primeiro, a comissão que os organiza anunciou um formato virtual para o próximo evento, com os candidatos em locais distintos, já que o atual Presidente estará infetado. Trump recusou e a ideia passou a ser adiar os debates uma semana, para os dias 22 e 29 de outubro. Mas, entretanto, o médico oficial diz que o Presidente pode ter alta no sábado, sem especificar se teve um resultado negativo no teste à covid-19 – por isso, Trump quer debater com Biden já esta quinta-feira, como previsto. O ponto de situação da campanha foi feito em mais um Ao Vivo na Redação e para saber ainda mais sobre o que se passou ontem siga Pela Estrada Fora.

Ainda Trump – A empresa de biotecnologia Regeneron, proprietária do medicamento com que o Presidente dos EUA foi tratado à covid-19, solicitou uma autorização para disponibilizar a terapia a toda a população, que Trump já prometeu que será gratuita. No entanto, ao Expresso, Jaime Nina, professor e infecciologista do Hospital Egas Moniz, tem muitas reservas: o medicamento “pode dar para tratar um Presidente mas não milhões de pessoas”. E há ainda uma contradição: o chefe de Estado tinha condenado anteriormente a técnica com tecido fetal usada no tratamento, conta o “Público” via “The New York Times”.

Emergência em Madrid – O Governo espanhol reúne-se hoje de forma extraordinária para decretar o estado de emergência em Madrid, onde o novo coronavírus não tem parado de crescer. Ontem, o Tribunal de Justiça de Madrid rejeitou as medidas de restrição de movimentos impostas pelo Governo, deixando os madrilenos sem saber bem o que fazer. Em França, Paris está vazia e triste.

Não era bem esse mas também pode ser – O líder do PSD, Rui Rio, defendeu ontem que Vítor Caldeira deveria ter continuado na presidência do Tribunal de Contas, mas acabou por concordar com a nomeação de José Tavares, uma pessoa "disponível, equilibrada e sensata". Noutro campo, os sociais-democratas vão debater nas próximas semanas a posição face à petição para a realização de uma consulta popular sobre a eutanásia.

Velhas contas, Novo Banco – O grupo parlamentar do PS vai avançar hoje com uma proposta de auditoria ao Novo Banco, a realizar por uma comissão que vai incluir Tribunal de Contas, Inspeção Geral de Finanças e Banco de Portugal. O trabalho pode demorar mais de um ano a ver a luz do dia. Entretanto, o Novo Banco vendeu mais um ativo – a GNB Seguros – e garante que a reestruturação e limpeza de balanço fica completa este ano. E, quanto às verbas que devem vir do Fundo de Resolução para capitalizar a instituição em 2021, o "Jornal Económico" diz que já há quatro bancos (Caixa, Millennium bcp, Santander e BPI) dispostos a emprestar entre 250 milhões e 400 milhões de euros, retirando assim o encardo do Orçamento do Estado.

Desacordo europeu – Ainda não há acordo quanto aos fundos europeus do próximo quadro comunitário, para 2021-2027, o chamado Portugal 2030, sucessor do Portugal 2020, que está a pouco mais de dois meses de terminar. O Parlamento Europeu quer mais dinheiro para programas como o Erasmus +, mas o Conselho (ou seja, os 27 Estados membros) não quer abrir os cordões à bolsa.

Época Nobel – A poeta Louise Glück venceu o Prémio Nobel da Literatura. A propósito, sabe qual é a única categoria em que os EUA não são dominadores? A resposta está em mais um 2:59. Daqui a pouco, por volta das 10h, será anunciado o Nobel da Paz (e Trump, sempre ele, é oficialmente candidato).

Chicotada – É a primeira da época de um treinador na Liga portuguesa: Tiago Mendes demitiu-se do cargo no Vitória de Guimarães, os responsáveis do clube dizem ter ficado surpreendidos com a decisão.

FRASES

“O meu sucessor tem de ser preparado para me suceder. Isto precisa de continuidade.”
Luís Filipe Vieira, à SIC, a falar do clube a que preside, o Benfica, que tem eleições marcadas para 30 de outubro. Há pelo menos mais um candidato anunciado (João Noronha Lopes) e outros três (Bruno Costa Carvalho, Rui Gomes da Silva e Francisco Benítez) que já anunciaram essa intenção

“A violência doméstica é o mais grave problema de segurança e criminalidade em Portugal. Diz muito da direita portuguesa o facto de dedicar tanta atenção à criminalidade num país seguro e dar tão pouca atenção à criminalidade violenta mais comum.”
Daniel Oliveira, no seu espaço de opinião no Expresso

O QUE ANDO A LER

Há uma “anomalia” na lista de clubes campeões europeus de futebol: trata-se do bicampeão Nottingham Forest (1979 e 80), o único emblema da lista a ter mais títulos europeus do que nacionais (apenas um, em 1978/79). Indiscutivelmente, a grande figura por trás deste feito é Brian Clough (1935-2004), que transformou um clube de segunda divisão em rei da Europa em apenas dois anos. Muitos chamam-lhe o melhor treinador que a seleção inglesa nunca teve.

É impossível ler histórias sobre Clough e não ficar fascinado com a personalidade do treinador (e ex-jogador, com uma muito respeitável carreira como avançado nos anos 50 e 60). Por isso, quando numa visita a uma loja solidária em Londres vi à venda, por uma libra, “Provided You Don't Kiss Me: 20 Years with Brian Clough” (em tradução livre, algo como “Desde que não me dês um beijo: 20 anos com Brian Clough”), não hesitei.

Como tantos outros, o livro (em edição inglesa, da Harper Perennial) ficou a marinar na estante até que uma qualquer notícia sobre Clough me levou a procurá-lo (e depois a lê-lo num ápice). Trata-se do relato de Duncan Hamilton, um jornalista que acompanhou durante 20 anos o dia a dia do Nottingham Forest, desde os anos gloriosos até à decadência do treinador. Tomado pelo alcoolismo, terminou a carreira em 1993 de uma maneira cruel: 16 anos depois, o Forest voltava à Segunda Divisão inglesa.

O livro começa com um Hamilton de 18 anos a ter o seu primeiro contacto com Clough: uma entrevista previamente combinada de que o treinador já nem se lembrava e que começou com um chorrilho de perguntas... do entrevistado! “Tens 20 minutos e já perdeste dois”, atirou, enquanto punha os pés na secretária do seu gabinete no City Ground e se recostava na cadeira.

A relação teve altos e baixos: Clough é considerado um pioneiro dos mind games e não é por acaso que as comparações com Mourinho eram frequentes quando o português chegou a Inglaterra como campeão europeu pelo FC Porto e disse que era especial. O técnico usava Hamilton para passar as mensagens que lhe interessavam mas também era capaz de o banir do estádio durante semanas se não gostasse de uma crónica de jogo que assinasse.

Clough adorava ser protagonista: um dos mais memoráveis momentos da história da televisão inglesa é o debate que protagonizou com Don Revie, o treinador que substituiu no Leeds United – por apenas 44 dias – e cujo estilo de jogo desprezava. “Se Deus quisesse que jogássemos futebol nas nuvens, teria posto lá relva”, disse um dia sobre o célebre kick and rush (jogo direto, feito de passes longos) que ainda era a regra nos anos 1970 e 80.

Outra das suas frases mais célebres tem a ver com a maneira como discutia com os jogadores sobre divergências: “Falamos sobre isso durante 20 minutos e no final decidimos que eu tenho razão”. Apesar de ferozmente disciplinador, Clough lia a mente dos jogadores como ninguém, fazia jogos psicológicos e não perdia uma oportunidade para o que agora se chama team building: Hamilton recorda pelo menos duas ocasiões em que levou a equipa a um clube de strip, uma delas na véspera de uma semifinal europeia com o Ajax. Um mês depois, um golo de John Robertson valeu a segunda “orelhuda”, frente ao Hamburgo (1-0), em Madrid.

O QUE ANDO
A OUVIR

Ao que parece, PJ Harvey anda a rever o seu fundo de catálogo e, tal como fez em 1993 com “Rid of Me”, publicou as demos (versões provisórias das canções, para depois serem trabalhadas em estúdio) de “Dry” (1992) e “To Bring You My Love”, de 1995.

Centro-me neste último disco. As canções estão bastante próximas da versão final – depois são limadas pela produção de Flood e John Parish –, mas, para um fã, é um exercício delicioso reparar nas pequenas subtilezas: os retoques nas métricas, um sublinhado diferente numa palavra, a percussão retrabalhada, algumas subtilezas nas teclas.

Mais importante ainda, a reedição fez-me redescobrir a dimensão de um disco que já não ouvia há anos. PJ Harvey atira-nos para cima um camião TIR: um álbum negro e cru, inspirado nos blues, carregado de raiva e sexualidade, mas também de desejo e fragilidade (como na impressionante e acústica "C'mon Billy"). Terá sido como atirar um balde de tinta preta para um universo pop-rock então ainda dominado pelo mais leve e colorido universo do britpop.

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