“Não me peçam calma porque estou
cansado dos vossos pedidos. Até quando continuarão a dizer que eu sou igual
àqueles que me querem matar?”
Texto exclusivo de Mamadou Ba
para o Expresso. “Até quando me vão acusar de ser responsável pelo racismo de
que sou vítima? Até quando continuarão a dizer que sou igual àqueles que me
violentam e me querem matar? Até quando continuarão a pedir-me para esperar
enquanto se vai matando ou ameaçando matar uma parte de mim? Até quando? (...)
A única decência que espero dos que insistem em negar ou relativizar o racismo
é que tenham a inteligência e a coragem de matar o racismo antes que ele nos
mate”
ATÉ QUANDO?
“If we must die, O let us nobly
die,
So that our precious blood may not be shed
In vain; then even the monsters we defy
Shall be constrained to honor us though dead!”
So that our precious blood may not be shed
In vain; then even the monsters we defy
Shall be constrained to honor us though dead!”
Claude Mckay
Nos últimos anos houve milhares
de queixas por discriminação racial junto do órgão competente, a Comissão para
a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, sem contar com as centenas de
casos de racismo que motivaram queixas nos tribunais. Algumas dezenas destes
casos suscitaram mesmo um enorme debate público no país. Vou lembrar apenas
alguns dos que suscitaram discussão pública.
Em fevereiro de 2015, dezenas de
agentes policiais torturaram seis cidadãos negros na esquadra de Alfragide e,
enquanto agrediam e torturavam, os agentes proferiam insultos racistas contra
as vítimas.
Em fevereiro de 2107, a comunidade cigana
de Santo Aleixo da Restauração, no concelho de Moura, foi alvo de ameaças de
morte pintadas em paredes da povoação, com suásticas desenhadas nas paredes,
ataques incendiários que não pouparam casas, animais, viaturas automóveis e até
o edifício da igreja onde as famílias realizavam o culto religioso. À moda dos
pogroms nazis.
No mesmo mês de fevereiro de
2017, estalou também a polémica sobre a segregação escolar com a existência de
uma escola de Famalicão em que os alunos eram todos de etnia cigana.
Em julho de 2017, o presidente da
junta de Freguesia de Cabeça Gorda, no concelho de Beja, recusou o enterro e o
velório na casa mortuária de um membro da comunidade cigana.