domingo, 28 de março de 2021

Portugal | Um sorvedouro chamado Novo Banco

Inês Cardoso* Jornal de Notícias | opinião

Os números, contados em milhões, são simples para perceber o sorvedouro em que se converteu o antigo BES. O Novo Banco já custou ao Fundo de Resolução 7876 milhões de euros, 4900 milhões da capitalização inicial e o restante ao abrigo do mecanismo de capital contingente (com injeções anuais, desde 2017).

Desta última parcela, 2130 milhões provêm de empréstimos do Tesouro, já que, como o fundo não tem dinheiro suficiente, todos os anos pede dinheiro ao Estado. Agora o banco pede mais 598 milhões de euros, para fazer face aos prejuízos de 2020.

Não há demagogia nas críticas ao incrível total de milhões gastos para salvar o banco, ou à decisão de se fazerem novas entregas ao Fundo de Resolução antes de serem conhecidos os resultados da auditoria às contas do ano passado. Há a consciência do peso, para os contribuintes, de uma fatura difícil de compreender, mesmo à luz do tão repetido mantra da estabilidade do sistema financeiro.

Se é verdade que o Estado não pode deixar de honrar os compromissos e cumprir o contrato estabelecido na venda à Lone Star, exige-se transparência nas contas e a justificação para cada cêntimo. No meio de uma crise gigantesca, em que tantos portugueses aguardam apoios sociais ou se viram excluídos deles, avaliar devidamente o valor a transferir pelas Finanças é um imperativo ético.

É um bom sinal que o primeiro-ministro comece, antes ainda de se conhecer a avaliação do Fundo de Resolução, por considerar "manifestamente" excessivo o valor pedido pelo Novo Banco. Um bom sinal e o reconhecimento da relevância do debate nacional que o tema suscita. É cada vez mais reduzida a paciência dos portugueses e a exigência de travões às ajudas à Banca.

No final, será certo que acabaremos por pagar a conta. Mas ao menos que cada parcela seja passada a pente fino e o impacto nas contas públicas minimizado. É o mínimo que se exige a um Governo que continua tão cuidadoso com o equilíbrio e o défice quando se trata de investir noutros setores.

*Diretora JN

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