sexta-feira, 7 de maio de 2021

IPOR: Macau está a fazer “investimento notável” no ensino da língua portuguesa

O diretor do Instituto Português do Oriente (IPOR) defendeu hoje em declarações à agência Lusa que as autoridades de Macau estão a fazer um “investimento notável” no ensino da língua portuguesa.

“Acho que por parte da Direção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude [DSEDJ] está a ser feito um investimento que acho notável. E se olharmos especificamente para o trabalho do Centro de Difusão de Línguas [CDL] da DSEJ, acho que esse trabalho está a ser desenvolvido não só em quantidade, mas também em qualidade”, sustentou Joaquim Coelho Ramos, na véspera de ser assinalado o Dia Mundial da Língua Portuguesa.

“Não só o ensino da língua portuguesa em escolas oficiais e particulares do ensino não superior tem vindo a crescer, mas também em qualidade, e tem sido colocada à disposição das escolas atividades complementares que ajudam este processo de ensino de aprendizagem”, sublinhou.

A justificação pode estar no papel que Pequim atribuiu ao antigo território administrado por Portugal até 1999, para se assumir como plataforma para a cooperação comercial entre a China e os países lusófonos e como base de formação de quadros qualificados bilingues em chinês e português.

O diretor do IPOR salientou que “isso pode estar ligado ao desenvolvimento da visão da língua portuguesa como língua global e do interesse que existe, prático, do trabalho, através da língua portuguesa, de colaboração, cooperação com os países que a têm como língua oficial”.

O interesse tem-se traduzido no acréscimo de solicitações junto do IPOR, acrescentou Joaquim Coelho Ramos: “Também notamos algumas instituições que vêm pedindo ao IPOR cursos de formação em língua portuguesa para os seus funcionários, com a intenção de melhor servir a população que fala português, mas também com a intenção de fazerem investimentos exteriores”.

Ou seja, concluiu, “quer numa dimensão lúdica, quer numa dimensão pedagógica, quer numa dimensão pragmática ligada à economia, (…) há um desenvolvimento muito sério e muito bem feito, estrategicamente bem orientado para a língua portuguesa aqui [em Macau]”.

No último ano letivo, o curso de português realizado pelas escolas públicas subordinadas à DSEDJ contabilizava um total de 136 turmas, com 2.409 estudantes, e 27 turmas de atividades extracurriculares, com 429 alunos participantes, segundo dados oficiais.

Também em 2019/2020, um total de 43 escolas particulares lecionaram o curso de português, que envolveu 5.591 alunos. Desde 2007 que a mesma entidade encarregou a Escola Portuguesa de Macau de promover o curso intensivo de língua portuguesa, em horário após as aulas, para estudantes, com a DSEDJ a proporcionar ainda, gratuitamente, às escolas primárias e secundárias, uma plataforma de leitura ‘online’ de português.

Isto além da atribuição de bolsas extraordinárias dedicada a formar quadros qualificados em cursos nas áreas de língua portuguesa ou tradução chinês-português, bem como para apoiar licenciaturas em Portugal frequentadas por residentes de Macau.

Ainda no último ano, segundo a DSEDJ, 4.598 residentes foram subsidiados para participarem em cursos de português.

Instituições como o Instituto Politécnico de Macau têm desenvolvido parcerias com universidades de países lusófonos na formação de docentes, intercâmbio de alunos e cooperação nos cursos de pós-graduação.

Em declarações à Lusa, no final de 2020, o novo coordenador do Centro Internacional Português de Formação do IPM, Joaquim Ramos de Carvalho, assumiu a existência de um caderno de encargos para responder a crescentes exigências que vão da integração na China à criação de redes sino-lusófonas e de cooperação internacional.

No final de 2019, números enviados à Lusa pelo Governo de Macau indicavam que o ensino do português tinha crescido em Macau, nas escolas, em alunos e professores, nos últimos 20 anos sob administração chinesa.

Os mesmos números apontavam para um aumento dos estudantes locais em cursos lecionados em português no ensino superior e para um crescimento dos alunos em mobilidade em Portugal.

O Dia Mundial da Língua Portuguesa comemora-se esta quarta-feira, e pela segunda vez, em formato híbrido, presencial e ‘online’, e a programação inclui mais de 150 atividades em 44 países de todos os continentes, além de uma cerimónia oficial a partir de Lisboa.

Em Macau, e depois de promover oficinas e a produção de vídeos pelos formandos, o IPOR organiza esta quarta-feira a entrega de uma coleção de livros em língua portuguesa para enriquecer os acervos das bibliotecas das escolas do ensino não-superior que ensinam o português.

A Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de Macau (UM) e a Biblioteca da UM coorganizam uma exposição de traduções chinesas de obras de autores portugueses até 18 de maio como parte das atividades para celebrar o Dia Mundial da Língua Portuguesa. No mesmo dia, a cerimónia integra o lançamento do livro e um recital de poesia portuguesa pelos estudantes do Departamento de Português.

O português é falado por mais de 260 milhões de pessoas nos cinco continentes, estimando-se que, em 2050, esse número cresça para quase 400 milhões e, em 2100, para mais de 500 milhões, segundo estimativas das Nações Unidas.

Globalmente, 3,7% da população mundial fala português, que é língua oficial dos nove países membros da Comunidade dos Países (CPLP) e em Macau.

Em conjunto, as economias lusófonas valem cerca de 2.700 milhões de euros, o que faria deste grupo a sexta maior economia do mundo, se se tratasse de um país, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Os países de língua portuguesa representam 3,6% da riqueza mundial.

O português é também língua oficial ou de trabalho de cerca de 20 organizações internacionais.

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