# Publicado em português do Brasil
Pepe Escobar [*]
Nakba, 15/Maio/2021. Os
historiadores do futuro assinalarão o dia em que a "democracia
liberal" ocidental emitiu uma proclamação bem descritiva: Bombardeámos gabinetes de imprensa e destruímos a "liberdade de
imprensa" num campo de concentração ao ar livre ao mesmo tempo em que
proibíamos manifestações pacíficas sob estado de sítio no coração da Europa.
E se se revoltar, nós o cancelamos.
Gaza encontra-se com Paris. O
bombardeamento da torre al-Jalaa – um edifício eminentemente residencial que
também abrigou os escritórios da al-Jazeera e da AP, entre outros – pela
"única democracia no Médio Oriente" – está directamente ligado à
ordem verboten executada pelo Ministério do Interior de Macron.
Para todos os efeitos práticos, Paris apoiou as provocações da potência
ocupante de Jerusalém Oriental; a invasão da mesquita de al-Aqsa – efectuada
com gás lacrimogéneo e granadas atordoantes; gangs de sionistas racistas que
assediam e gritam "morte aos árabes"; colonos armados a agredirem
famílias palestinas ameaçadas de expulsão das suas casas
As multidões em Paris não foram
intimidadas. Desde Barbès até a Répúblique, elas marcharam nas ruas – o seu
brado de guerra foi Israel assassin, Macron complice. Elas
instintivamente entendiam que Le Petit Roi – um reles empregado do Rothschild –
havia acabado de destroçar o legado histórico da nação que cunhou a Déclaration
Universelle des Droits de L'Homme.
A máscara da "democracia liberal" continuou a cair reiteradamente –
com a Big Tech imperial a cancelar obedientemente as vozes dos palestinos e
dos defensores da Palestina em massa, em conjunto com um kabuki diplomático que
só podia enganar aqueles já com morte cerebral.
A 16 de Maio, o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês Wang Yi presidiu a um debate
do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) através de vídeo que
foi bloqueado por Washington, incessantemente, ao longo de toda a semana. A
China preside CSNU durante o mês de Maio.
O CSNU não conseguiu sequer chegar a acordo sobre uma mera declaração conjunta.
Mais uma vez porque o CSNU foi bloqueado – covardemente – pelo Império do Caos.
Coube a Hua Liming, antigo embaixador chinês no Irão, por tudo em pratos limpos
numa única frase:
"Os EUA não querem dar à China o crédito da mediação do conflito
Palestina-Israel, especialmente no momento em que a China é a presidente do
CSNU.
O habitual procedimento imperial é "conversar", "ofertas que não
podem recusar" em estilo mafioso, com ambos os lados por baixo da mesa –
como a combinação por trás do Crash Test Dummy [NT] ,
um sionista declarado que num terrível tweet da Casa Branca confessou
"reafirmar" o seu "forte apoio ao direito de Israel a
defender-se".
Liming enfatizou, correctamente, "esta é a razão chave pela qual qualquer
solução ou cessar-fogo entre Israel e Gaza ou outras forças na região seria
temporário".
Todo o Sul Global é incessantemente bombardeado pela retórica imperial dos
"direitos humanos" – desde o vigarista condenado Navalny até falsos
relatórios sobre o Xinjiang. Mas quando há uma catástrofe real de direitos
humanos desencadeada pelo bombardeamento em tapete do colonizador aliado do colonialista,
destacou Liming, "a hipocrisia e a duplicidade de padrões dos EUA são mais
uma vez revelados".
Amos Yadlin é o antigo chefe da Direcção de Informações Militares da Israel
Defense Force (IDF) e também antigo adido militar israelense nos EUA.
Numa reunião com sionistas sul-africanos, ele admitiu o óbvio: a carnificina
sionistas contra Gaza pode ser travada pelo Crash Test Dummy – o qual acontece
ser, quem mais, um fantoche sionista.
Yadlin afirmou que a administração do Crash Test Dummy, ou mais exactamente do
grupo por trás dele, estava a ficar "impaciente" e "não ficaria
surpreendido se isto tudo parasse em 48 horas". E mais uma vez ele
reforçou o óbvio: "Quando os egípcios pedem a Israel para parar, Israel
não quer parar. Mas se os americanos pedirem a Israel para parar, Israel terá
de ouvir".
A marca registada do Império é a dupla linguagem no que se refere à
"comunidade internacional" – que em teoria abrange a ONU. A barragem
de propaganda 24 horas por dia que a acompanha aplica-se apenas à variada
tripulação de parceiros no crime, apaniguados, lacaios, caniches e vassalos, a
ignorar imperialmente e/ou mijar nas cabeças de mais de 80% do planeta.
Confrontado com a realidade do Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Iémen,
Ucrânia e outros, a "ordem internacional baseada em regras" nem
sequer se qualifica como uma piada para retardados.
Assim, da próxima vez que vires algum espécime de sub-zoológico a utilizar o
argumento de Máxima Estupidez "Israel tem o direito de se defender"
Máxima Estupidez, a única resposta possível é desencadear factos como mísseis.
Todo ser sensível com consciência sabe que a Palestina enfrentar um projecto
colonialista racista que se vangloria de um projecto armado contra o povo e com
várias bombas nucleares, especializado na prática do terrorismo de Estado.
Gaza, no entanto, é um caso particularmente aterrador. População: quase 2
milhões de pessoas. Uma das áreas mais densamente povoadas do planeta. Um campo
de concentração ao ar livre de facto, onde não menos de 50% são crianças, uma
em cada dez crianças atrofiadas em grande parte devido à escassez de alimentos
provocada pelo bloqueio israelense. O plano militar israelense oficial consiste
em permitir apenas alimentos suficientes para que toda a população mal
sobreviva. 50% da população depende da ajuda alimentar.
Não menos de 70% das famílias são refugiados, os quais foram etnicamente
saneadas do que é agora o sul de Israel: há aproximadamente 1,46 milhão de
refugiados numa população de 1,9 milhão.
Gaza tem oito campos de refugiados – alguns a serem bombardeados enquanto
falamos. Nunca esquecer que Israel dominou Gaza directamente de
Há apenas 22 centros de saúde, 16 gabinetes de serviços sociais e 11 centros de
distribuição alimentar, a servirem aproximadamente 1 milhão de pessoas. Nenhum
aeroporto ou porto: ambos destruídos por Israel. A taxa de desemprego é de 50%
– a mais alta de todo o planeta. Água tratada está disponível para apenas 5% da
população.
Mas há a Resistência. Elijah Magnier mostrou como eles já furaram a aura pré-fabricada de
invulnerabilidade e de "prestígio" de Israel – e só há um caminho a
seguir, pois a velocidade, precisão, alcance e potência dos foguetes e mísseis
só podem melhorar.
Em paralelo, num sábio movimento estratégico, o Hamas e a Jihad islâmico
deixaram claro que preferem que o Hezbollah não fique directamente envolvido –
por agora, permitindo portanto que todo o Sul Global se centre na carnificina
perpetrada contra Gaza.
"Uma paisagem de ferro e desolação"
Sociologie de Jerusalem, de Sylvaine Bulle, é um livro curto mas bastante esclarecedor que mostra como a batalha por Jerusalém Oriental é tão imperativa para o futuro da Palestina quanto a tragédia em Gaza.
Bulle centra-se no "racismo interno" em Israel ligado directamente à
hegemonia das "elites" sionistas de extrema-direita. Uma consequência
chave tem sido a "periferização" e marginalização de Jerusalém
Oriental, atirada para uma situação de "dependência forçada" da
Jerusalém Ocidental ocidentalizada.
Bulle mostra como Jerusalém Leste só existe como "uma paisagem de ferro e
desolução", através de uma justaposição de zonas ultra-densas e totalmente
abandonadas. Os palestinos que vivem nestas áreas não são encarados ou
respeitados como cidadãos.
Ficou muito pior depois de 2004 e
da construção da Muralha – a qual impediu a mobilidade diária dos palestinos
que viviam nos territórios ocupados e dos palestinos
Os palestinos
Quanto aos esquerdistas laicos israelenses, eles foram
"neutralizados" e não têm poder político, pois foram incapazes de
integrar as massas trabalhadoras, as quais por sua vez foram completamente
capturadas por extremistas religiosos endurecidos.
A conclusão de Bulle, expressa com demasiada diplomacia (afinal, isto é a
França), é inevitável: o Estado de Israel é cada vez mais judeu e cada vez
menos democrático, um regime sionista de facto. Ela acredita que poderá ser
possível reconstruir a ligação entre a identidade nacional judaica e a
democracia, incluindo os direitos das minorias palestinas.
Lamento, mas isso não irá acontecer, como a tragédia actual, que começou
A Via Dolorosa continua – como todos nós observamos com horror. Imagine os
níveis ocidentais de histeria inter-galáctica se a Rússia ou a China
bombardeassem, disparassem projécteis e mísseis e matassem crianças em zonas
residenciais. Não admira que o Império do Caos – e das Mentiras, pose como uma
"democracia liberal" enquanto permite o projecto sionista assassino,
esteja firmemente a flertar com o caixote do lixo da História.
17/Maio/2021
[NT] Crash Test Dummy: Boneco articulado utilizado em ensaios de desastres automobilísticos (as capacidades mentais de Biden estão diminuídas).[*] Autor de Raging Twenties . Pode ser seguido no VK e no Telegram .
O original encontra-se em thesaker.is/the-mask-of-liberal-democracy-falls-with-a-bang/
Este artigo encontra-se em https://resistir.info/
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