# Publicado em português do Brasil
Outras Palavras segue esforço para pensar reconstrução do país. Sugerimos: não pode haver acordo por cima, sem mudanças reais, após derrota do fascismo. Em debate: Renda Básica, Reforma Tributária e ressignificação da Assistência Social
Antonio Martins* | Outras Palavras
O presidente Jair Bolsonaro está queimando de forma acelerada, desde o 7 de setembro, o capital político que lhe restava. A ameaça fascista que seu governo representa nunca esteve tão enfraquecida e próxima do naufrágio. Avançou muito rapidamente, por outro lado, a articulação do grande arco conservador – poder econômico-financeiro, establishment político, mídia e Judiciário – para salvar da derrocada, e manter vivo, o programa neoliberal que acompanha o bolsonarismo desde o início, ainda que o presidente afunde. Este movimento duplo pode ser visto, ao mesmo tempo, com alívio e inquietação. Mas para ir além do que ele oferece – a mera volta ao “velho normal” – é preciso recompor um horizonte político de esquerda. A partir da próxima segunda-feira (13/9), Outras Palavras voltará a contribuir com esta reconstrução. O projeto Resgate, que busca desenvolver ideias-força para a superação do neoliberalismo, realizará nove novos diálogos. Estarão em debate a Renda Básica, a Reforma Tributária e a ressignificação da Assistência Social. A agenda já está disponível.
A prova de que o risco de um “autogolpe” fascistizante (ao estilo da “tomada do Capitólio”) foi real são seus fios desencapados, que ainda crepitam. Os bloqueios nas rodovias de 16 estados, feitos por “caminhoneiros” ligados ao agronegócio, que agora o presidente tenta desmobilizar, por saber que o ato tem suas digitais. Os poucos seguidores do ex-capitão que permaneceram acampados em Brasília e, para tentar iludir a própria frustração, “comunicam” nas redes sociais que se decretou estado de sítio. Os vídeos em que o foragido Zé Trovão dirige-se diretamente a Bolsonaro e lhe indaga, entre decepcionado e lastimoso, por que não cumpriu sua parte na trama.
Os porquês do malogro operacional do “autogolpe” emergirão aos poucos (circulam hipóteses plausíveis, como a de Fernando Horta). Mas, ainda que tivesse sido exitosa no primeiro momento, a aventura não se consolidaria. As multidões que o bolsonarismo ainda consegue mover são um fenômeno político a ser examinado em profundidade – mas, com certeza, insuficientes para assaltar o poder e controlá-lo. E não é só porque os chefes das forças armadas faltaram ao “capitão” (ausentando-se inclusive do palanque em Brasília), nem porque as polícias militares deixaram de acudir em seu socorro (é emblemático que o governador João Doria estivesse no Comando de Operações da PM de São Paulo – o Copom – no momento em que pronunciou-se pela primeira vez em favor do impeachment de Bolsonaro, no 7 de setembro).
Ocorre que há outra história do 7
de setembro a ser contada no futuro. Por algum motivo, um conjunto de atores
políticos do campo das elites reposicionou-se em oposição a Bolsonaro quase