quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

A NOVA CEPA FASCISTA, NAZI E NEOCOLONIAL, “EM CASCATA”

Martinho Júnior, Luanda

Com o fim do Pacto de Varsóvia, a reunificação alemã e a implosão da União Soviética dando origem ao período de devassa neoliberal protagonizado pelo regime que teve Boris Yeltsin à cabeça, o “hegemon” unipolar engrenou o plano de expansão desde o norte do Atlântico na direcção leste, em função não só da ossatura “ultramarina” do Pentágono, mas sobretudo dos êxitos que obteve na formatação das oligarquias e elites europeias por via da gestação e afirmação da própria União Europeia.

As “democracias representativas” estavam neutralizadas nesse sentido, a ponto de ser possível que sensibilidades neofascistas e neonazis pudessem fermentar nos seus próprios sistemas, por que na profundidade eram processos fundamentalistas que subsistiam em função do “diktat” de domínio inteligente, militar e dos interesses do “hegemon” unipolar exclusivista sob um rótulo social-democrata de tanta conveniência!

Enquanto a Federação Russa se consumia na confusão do regime de Boris Yeltsin praticamente durante toda a década de 90 do século XX, para o século XXI os interesses do “hegemon” lançaram o plano global da formatação das oligarquias e elites nacionais, moldando-as aos seus projectos de domínio a longo prazo e ali, onde a institucionalização dos processos foi entendida como não podendo corresponder à moldagem em jeito de cenoura das “democracias representativas”, ao semear o choque e a terapia neoliberal deu passos largos para a introdução do caos, do terrorismo e dos processos intestinos que tinham tudo a ver com o refinamento local dos etno-nacionalismos, onde era mais fácil vitalizar as “redes stay behind” prontas finalmente a eclodir em novas cepas!

Esse fluxo incluiu além dos etno-nacionalismos de ocasião, os aspectos religiosos mais fundamentalistas recolhidos da conjuntura do “Le Cercle” em toda a linha da Opus Dei, inclusive em Angola!

Na Europa a decisão do alargamento a leste, de forma sincronizada, quer da União Europeia, quer da NATO, implicou na pressa na formatação das oligarquias e elites nacionais desenterradas do passado fiável aos interesses dominantes do “hegemon” e essa é a razão principal das “redes stay behind” repescadas a partir dos substractos mais feudais, mais fundamentalistas, mais retrógrados, mais “nazificados” das sociedades!... 

O “hegemon” unipolar teve que ir beber ao fascismo, aos nazis e a tudo que tivesse a ver com neocolonialismo para criar sob sua feição o ambiente antropológico, sociopolítico e psicológico da União Europeia e da NATO, mas também das disseminadas forças do Pentágono, qualquer que seja o seu comando regional, alimentando no caso europeu, a sua vocação de expansão a leste, que aliás foi tendo e continuará a ter muitos testes (no Afeganistão antes, como na inspiração do AUKUS agora)!

É esse o fenómeno bárbaro do significado da ocupação militar da Europa desde a IIª Guerra Mundial e no âmbito da IIIª Guerra Mundial não declarada contra o Sul Global, a resistência ao seu exclusivismo e, por fim contra a emergência multilateral com expressão maior na parceria solidária da República Popular da China com a Federação Russa!

Essa é também uma das razões que concorrem para o “apartheid” que está a ser multiplicado na Ucrânia, na Europa e um pouco por todo o mundo, com, quantas vezes, novos muros a surgirem como cogumelos, sob os mais variados pretextos!

O caso da Ucrânia é o fechar da abóbada desse templo no espaço da dita “Europa Ocidental”, como se fosse o movimento duma nova cruzada, algo que se acelerou interligando-se à saída da União Europeia do governo de Sua Majestade Britânica, por via do “Brexit”, pois a cultura anglo-saxónica para o “hegemon” faz todo o sentido preservar e não misturar, salvaguardando-a duma incisiva iniciativa dessa natureza, separando o que é da monarquia congenitamente bancária (as casas da aristocracia financeira mundial) da vassalagem republicana dos plebeus na profundidade continental a leste!

Todas as frescas oligarquias e elites nacionais paridas em função do solavanco dado pelo “hegemon” unipolar no início do século XXI, não só na Europa, mas também por tabela por todo o Sul Global e particularmente na tão vulnerabilizada África, dada a rapidez neoliberal necessária para um processo dessa natureza republicana, correm o risco de não estarem suficientemente consolidadas, muito menos estáveis, mesmo que para tal hajam artifícios que abram caminho a martelo, como as duas “revoluções coloridas”, a laranja e a da Praça Maidan, que ocorreram em 2004/5 e 2014 na Ucrânia!

Por isso o exemplo da Ucrânia é de reter até por causa dos acontecimentos correntes: as duas “revoluções coloridas” propiciaram a formatação duma elite nacional dócil (fantoche) e “russofóbica”, a partir das “redes stay behind” vinculadas a Bandera (e à parte mais polaca da Ucrânia), tendo por essa via o nazismo sido inculcado na superestrutura ideológica do poder de Kiev, de forma a poder impactar o espectro etno-nacionalista interno e externo em larga escala, disseminando-o ao ritmo da expansão da própria União Europeia, da própria NATO!

O que se exprime na Ucrânia como russofobia, tornou-se num expediente institucional-legal que aliás foi aproveitado duma forma ou de outra por toda a Europa e por todos os veículos dominantes de comunicação global, dos “media” de feição multiplicados às suas caixas de ressonância onde quer que seja!

Essa é a razão da impossibilidade da Ucrânia aceitar os acordos de Minsk e da utilização do batalhão Azov contra as Repúblicas Populares da Nova Rússia, tornando-as em forças especiais, “providenciais” unidades da linha da frente que ocupam o território das Oblasts de Donetsk e Lugansk que urge extirpar da região!

É do território das Oblasts com o mesmo nome que os ukronazis abrem fogo contra tudo o que meche nas Repúblicas Populares, os “bebés gémeos” segundo o apurado sentido geoestratégico carregado de humor de pepe Escobar!

Explorando esse perverso filão, esmagar as Repúblicas Populares quaisquer que fossem os danos sofridos pelas suas populações, passou a ser obsessão!

As Repúblicas Populares que agora constituem a Nova Rússia só estão a ser exercidas em 1/3 do território enunciado por suas Constituições!

A “expansão” propicia a formatação e a formatação propicia a nova cepa fascista, nazi e neocolonial, sob um efeito em cascata que tem tudo a ver com as ossaturas “ultramarinas” do Pentágono que servem de indexação, de ingerência, de subreptício apoio “inteligente” e de intervenção sempre que necessário!

Há inúmeras pistas da “globalização” desse processo inquinado e subversivo que encaixa tão bem na eclosão das “guerras híbridas”, mas há dois exemplos que é sensível abordar tendo em conta a história comum que desse modo o “hegemon” unipolar pretende irrevogavelmente aproveitar:

Enquanto em Portugal se regista o surgimento do Chega, a nova cepa nazi-fascista “retornada” que se propõe a ocupar o espaço da velha emanação fascista protagonizada pelo CDS (finalmente “queimada” pelo próprio “Le Cercle” em tempo de Papa Francisco), em Angola é lançado o presidente português da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, num expediente que tem tudo a ver com as inteligências do “hegemon” unipolar em cascata, a fim de fazê-lo candidatar-se, ou preparar o terreno para a candidatura de feição à Presidência da República Angolana e na preparação duma “nova” Constituição que reflita os etno-nacionalismos que advêm desde os tempos da “africanização da guerra”!

Esse neocolonialismo puro e duro, prende como uma âncora a formatação das oligarquias e das elites portuguesas e angolanas, ainda que em Angola tenha falhado a primeira tentativa de gestação da burguesia nacional, esvaída em crónica corrupção, de tal ordem que levou ao fim do exercício do Presidente José Eduardo dos Santos!

Em pleno século XXI nada no mundo ocorre por acaso e tudo tem uma explicação… “em cascata”!

Martinho Júnior, 23 de fevereiro de 2022

Imagem: As Repúblicas Populares do Donbass são um categórico BASTA contra o coração neo fascista, neonazi e neocolonial da Europa, inerente à expansão da UE e da NATO para leste!

Do relacionado imediatamente anterior (MJ):

. Entró en primera erupción el volcán global. – https://frenteantiimperialista.org/entro-en-primera-erupcion-el-volcan-global-martinho-junior/;

. Europa y el mundo en una constante pesadilla. – https://frenteantiimperialista.org/europa-y-el-mundo-en-constante-pesadilla-martinho-junior/

. Escarnio sobre la cuna de la humanidad. – https://frenteantiimperialista.org/escarnio-sobre-la-cuna-de-la-humanidad-martinho-junior/;

. De mano en mano, siempre con un neocolonial. – https://frenteantiimperialista.org/de-mano-en-mano-siempre-con-un-neocolonial-martinho-junior/;  

 . A Europa está ocupada militarmente pelo império desde a II guerra mundial – https://paginaglobal.blogspot.com/2022/02/a-europa-esta-ocupada-militarmente-pelo.html.

Nota necessária:

Todos os textos foram publicados pelo Página Global mas por causa do Facebook o ter banido só faço referência ao último como publicado no Página Global por que tenciono colocar os links no Facebook, aguardando que ele seja também publicado pela Frente Anti Imperialista Internacionalista em relação ao último!

Texto em destaque (Pepe Escobar):

The Birth of the Baby Twins: Russia’s Strategic Swing Drives NATOstan Nuts – https://www.strategic-culture.org/news/2022/02/22/the-birth-of-the-baby-twins-russias-strategic-swing-drives-natostan-nuts/; O nascimento dos bebés gémeos:
A guinada estratégica da Rússia enlouquece o NATOstão – https://resistir.info/p_escobar/gemeos_22fev22.html

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