O Peru das Florestas era muito respeitado por toda a bicharada porque um dia a sua mãe proclamou-o Príncipe do Fogo. As suas grandes asas permitiam-lhe voos soberbos entre as ilhas do Kwanza e chegava a voar desde o Dondo à Kissama, ida e volta.
Os outros pássaros tinham medo de se aproximar do Príncipe do Fogo porque o seu bico lançava chamas rutilantes que tudo queimavam à sua volta. As grandes queimadas que devastavam as matas do vale do Kwanza eram provocadas pelo seu bico enorme, que soltava línguas de fogo e rapidamente abrasavam a floresta.
Ninguém queria ser vizinho do Peru das Florestas e ele também começou a fugir do convívio dos outros animais. Dormia no alto das mafumeiras e poucos o viam baixo da ramagem da ovilemba, que fazia autênticas galerias vegetais nas margens pujantes do rio.
Um dia, o Príncipe do Fogo voou desde Massangano até à Kissama e no fim da viagem estava tão cansado, ficou com tanto sono, que adormeceu empoleirado no tronco carcomido de uma velha mwanza, derrubada pelos camponeses para deixar passar o sol que transformava os bagos do café dos morcegos em cerejas rubras.
O Peru das Florestas dormia a sono solto e os outros animais fugiram para longe, não fosse o seu bico lançar chamas sobre o capim seco. Nem os ratos ficaram por perto.
O Leão estava de sentinela no alto de um morro quando viu a bicharada fugindo desvairada, como se tivesse pressentido um caçador. Desceu para o vale e encontrou a pachorrenta Paka, correndo assustada.
- Está à vista algum caçador? – Perguntou o Leão.
E a Paka respondeu:
- Antes fossem os caçadores. Mas é muito pior. O Peru das Florestas adormeceu num tronco derrubado de muwanza e a qualquer momento pode sair fogo do seu bico e incendiar a mata!
O Leão correu na direcção apontada pela Paka e encontrou o Peru da Floresta, dormindo profundamente. Ele há muito que queria saber se era verdade que tinha fogo no bico e era capaz de fazer queimadas. Quem tem tanto poder é rei da terra e dos ares! O reinado do Leão estava condenado desde que nasceu o Príncipe do Fogo.
Qualquer dia a sua coroa passava para o Peru das Florestas que, além de voar, era dono das chamas. Um ser vivo que domina os ares e é capaz de lançar fogo pelo bico, só pode ser o rei de todos os animais.
O Leão, curioso, aproximou-se do seu rival e pegou num capim seco, encostando-o ao bico. E o capim não ardeu. Encheu-se de coragem e encostou a pata ao bico do Peru das Florestas. Não se queimou!
Afinal podia ficar descansado, o
seu reinado não estava
Esta história foi-me contada por Mamã Lemba e no original reza assim:
Eteke limwe pwãyi, Pumumu osungila yu wapekela p’osi, kwendje naho Hosi walinga eti:
- Etalihandi ndûtala, nda k’omela kuli ondalu yotjili. Ongula yapa okalunelenge, okapako, hã kakapi, lakamwe. Yu wakwata eye mwele k’omela, kapile!
Pumumu, o afamado Príncipe do Fogo, dormia como criança saciada. Tinha asas, como todos os pássaros, mas não lançava chamas. Era apenas senhor do seu voo. O que é tanto ou mais do que ser o rei das florestas.
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