segunda-feira, 4 de abril de 2022

A PAZ BALOFA E A VITÓRIA DOS PERDIDOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Na véspera do grande Dia da Paz aconteceu um culto ecuménico no estádio da Cidadela e o arcebispo Filomeno Vieira Dias teve uma intervenção notabilíssima. Sem alardes nem sirenes de aviso, alertou para o perigo de cairmos na paz balofa. 

Digo eu: A paz que é apenas a ausência de guerra. A paz dos cemitérios. A paz do silêncio entre um e outro crime contra a democracia. A paz sem o suporte das condições que dão dimensão humana à Justiça e Liberdade, educação para todos, cuidados de saúde para todos, trabalho com salários dignos e direitos para todos. Habitação digna. Pão na mesa. 

O reverendo Luís Nguimbi não perdeu a oportunidade de, mais uma vez, exigir moderação aos belicistas unidos, esquinados ou escondidos por trás do engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior. Não é porque estarmos na véspera do Grande Dia da Paz que esquecemos o passado criminoso da UNITA e da maioria dos seus dirigentes, criminosos de guerra amnistiados. Assassinos cruéis que queimaram nas fogueiras da Jamba as elites femininas do Galo Negro. Enterraram viva a Senhora Savimbi. Mataram à paulada o general Bock. E tantas, tantas outras vítimas. Sem falar nas centenas de milhares de vítimas civis que eles fizeram disparando contra o Povo Angolano, ao lado dos colonialistas portugueses e dos racistas sul-africanos.

Os políticos têm especial dever de promover a paz e a reconciliação nacional. Por isso, ontem o Presidente João Lourenço lembrou que na sua qualidade de Chefe de Estado “abriu o caminho que levou à exumação, transladação e enterro definitivo, na sua terra natal, do ex-líder do maior Partido da oposição angolana. Foi igualmente dentro desse mesmo espírito que foi criada a Comissão do Perdão pelas Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) ocorridos entre a data da Independência Nacional e o 04 de Abril de 2002, data da assinatura do acordo de paz e reconciliação nacional”. Também falou nas ossadas “um processo complexo e demorado”

E garantiu: “O Estado assegura que vamos continuar engajados os anos que forem necessários para confortar o maior número possível de famílias, ansiosas por terem de volta seus entes queridos para lhes dar um funeral condigno, como mandam as tradições africanas e a nossa cultura cristã”. 

Esta parte da “cultura cristã” é capaz de não caber exactamente no fabuloso mosaico cultural angolano. Mas os funerais condignos devem ser para todos. A UNITA já entregou ossadas das mulheres e crianças queimadas vivas na Jamba? Já entregou as ossadas dos dirigentes do partido, assassinados pior Savimbi? Já entregou as ossadas de milhares de angolanas e angolanos assassinados cruelmente quando colocou as suas armas ao serviço do colonialismo português e do regime de apartheid de Pretória? 

A resposta é não. Eu acrescento: Nunca! As seitas vivem mergulhadas no fanatismo e matam em nome dos seus deuses. Um exemplo: A Reconquista Cristã na Península Ibérica foi um gigantesco genocídio que se abateu sobre os muçulmanos. Nunca se esqueçam dos crimes dos Cruzados e a sua guerra santa! O nazismo é uma seita. Nunca esqueçam os crimes dos colonialistas (uma mistura de cruzados, nazis e fascistas). Nunca esqueçam os crimes do regime de apartheid em Angola e dos seus ajudantes da UNITA. À mínima distracção eles voltam a matar e destruir.

A situação na Ucrânia é a morte em directo do Jornalismo e de princípios que suportam os conteúdos comunicacionais, como o rigor e a imparcialidade. Tudo destruído com os mísseis da propaganda acéfala, do paleio irresponsável, da mentira despudorada. Já todos sabemos que desde o último quartel do século XX os jornalistas são uma espécie em vias de extinção. Os usurpadores da profissão ficam baratinhos aos donos. Este caminho de decadência não tem retorno. 

A União Europeia está igualmente a ser assassinada em directo nas televisões, pelas vozes de Úrsula von der Leyen, Charles Michel e Roberta Metsola. Receberam ordens de Washington para imitarem as e os falsos jornalistas que estão na Ucrânia ou países vizinhos. A Federação Russa anunciou que ia retirar as suas tropas da região de Kiev. E assim fez. As e os assassinos do jornalismo em directo, dizem que as tropas ucranianas libertaram as áreas abandonadas pelas tropas russas! 

Ursula, Roberta e Charles falam em crimes de guerra na Ucrânia por parte das tropas russas, assumindo a propaganda dos EUA e dos seus actores ucranianos. A Human Rights Watch é mais comedida e fala em “aparentes” crimes de guerra. A União Europeia decretou censura total aos Media da Federação Russa. Percebe-se agora porquê. Assim dizem e mostram as aldrabices que servem à sua propaganda, sem contraditório.

O problema é que apesar da censura, todos temos acesso a informação do “outro lado”. Desde os primeiros dias da operação militar especial na Ucrânia, que são denunciados crimes graves das hordas nazis e das autoridades ucranianas contra todas e todos os que se manifestam a favor dos russos. Nunca esquecer que o presidente Zelensky decretou e prolongou a Lei Marcial. Um negociador ucraniano foi morto, acusado de traição. Os nazis das várias organizações armadas da Ucrânia andam desde 2014 a cometer um autêntico genocídio do Donbass. Assim rezam os relatórios da agência da ONU para os Direitos Humanos.

Os jornalistas não podem afirmar que aconteceu o que não viram. Não podem misturar propaganda e publicidade com informação. Não podem revelar factos como sendo do seu conhecimento quando lhes foram transmitidos por terceiros que não merecem credibilidade por serem parte interessada. Se o fizerem, são obrigados a informar os destinatários que a informação não foi confirmada por todas as partes envolvidas. 

Os angolanos têm muita sorte porque em Angola ainda há jornalistas que cumprem o dever de cuidado, respeitando os critérios que suportam os conteúdos comunicacionais, sobretudo o princípio da verdade dos factos. A UNITA e seus companheiros de esquina bem queriam o massacre mediático que vai por esse mundo, a propósito da situação na Ucrânia. Não conseguem e espero que nunca consigam.

Na União Europeia e particularmente Portugal, governantes, jornalistas, militares e académicos, de cócoras perante o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), falsificam despudoradamente a informação sobre o que se passa na Ucrânia. É a civilização ocidental no seu melhor. Sempre falsários, sempre mentirosos e vigaristas de cordel.

* Jornalista

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