Artur Queiroz*, Luanda
Hoje é o dia da ira. Estou encolerizado, abespinhado, impróprio para falinhas mansas. Nem imaginam o que me aconteceu. Estava posto em sossego, colhendo doce fruto por nada fazer, quando recebi um telefonema desafiante: Kitó! Vamos ao boteco do costume, chegaram umas meninas novas, eslavas, mais loiras do que a Marilyn Monroe e boazonas de verdade! Nunca disse não a um amigo, salvo ao poeta Álvaro Novais que prisioneiro de sucessivos acessos de asma me pediu para matá-lo. Obriguei-o a viver mais uns anos.
Vesti um casaco grená de abas brilhantes, calcei sapatos de bico fino, calças justas e boina preta. Quando entrámos no antro sagrado, pressenti uns risinhos de escárnio mas fui superior a essas aleivosias. Sentámo-nos e instantaneamente fomos assediados por duas loiras esbeltas e altas como as colunas da porta de Rodes. Agitavam a cabeça em gestos suaves e a cabeleira loiríssima ondulava. Pela forma como pronunciavam os erres percebi que eram ucranianas.
Eu e o meu amigo somos repórteres há tanto tempo, como anos tem Adalberto da Costa Júnior. Em meia dúzia de perguntas obtivemos os fragmentos de informação necessários para a construção da mensagem informativa. Ambas tinham chegado naqueles aviões que o Zé das Moedas e o Marcelo foram esperar ao aeroporto. As colegas de trabalho foram da Ucrânia para Portugal naqueles carrinhas que até levavam uma repórter da CNN Portugal. Tráfico de seres humanos, prostituição em alta escala, mas tudo oficial e sem custos para as máfias.
Minto. À Judite de Sousa tiveram de arranjar um coronel brasileiro alto e espadaúdo. As outras meninas, coitadas, contentaram-se com uns cossacos façanhudos padecentes de ejaculações precoces. A minha saudosa amiga Helena de Tróia dizia-me com alguma graça: Detesto esses gajos que eu começo a dizer ai é tão bom e logo a seguir tenho de perguntar: não foi? (Não comecem já a dizer que estou a ser ordinário).As 300 crianças ucranianas que chegaram a Portugal sem os pais ou representantes legais, também foram incluídas nessas viagens mágicas e abençoadas pelo poder do torrão lusitano. Parece que o Zelensky facturar uns trocos com o tráfico de seres humanos. Mas não tenho a certeza.
As duas loiríssimas ucranianas já tinham cartão de residente estrangeiro, número de contribuinte e número da segurança social. Uma delas só sabia dizer tu e eu tive de repreendê-la: Tu não, senhor Kitó, diga no plural! Ela continuou tu, tu, tu, e a fumar como uma desalmada. Nota negativa. No fim da nossa incursão ao boteco de meninas ucranianas pagámos a conta com cartões do multibanco também chamados de débito. O que eu fui fazer. Oiçam agora esta história de rachar corações.
A Milita, que foi minha companheira, deixou um filho, o Carlinhos, que acaba de fazer 11 anos. Desde que faleceu a mãe, ele chora, chora e quer à viva força ver a irmã mais velha que estuda em Portugal sob minha tutela. O pai do Carlinhos fugiu à paternidade e nunca aceitou registar a criança. Por isso, a mana é agora única família directa que tem. Decidi (com a irmã do Carlinhos) trazê-lo para Portugal, por algum tempo. Precisava de passaporte para viajar. Uma equipa de amigos e camaradas conseguiu obter o precioso documento de viagem. Agora o visto. A Tia Núria, que toma conta do Carlinhos, foi saber o que era preciso para obter o carimbo no passaporte.
Acreditem! O Consulado-Geral de Portugal em Luanda quer que eu envie um termo de responsabilidade e “convite”. Facílimo. Facturas da água, luz e telecomunicações. Mais fácil ainda. Mas querem o extracto da minha conta bancária! E agora? Vão saber que andei metido com refugiadas ucranianas num boteco de meninas. Que vergonha!
Senhor cônsul-geral de Portugal em Luanda, também pede as facturas da água, luz e telecomunicações aos Carlinhos que viajam desde os EUA? Ou do Reino Unido? Ou do Canadá? Ou de outro qualquer destino fora do Espaço Shengen? Eu tenho aqui a lista dos 26 países que fazem parte desse bloco e não encontro nenhum dos que citei. Mas tenho a certeza de que estado-unidenses, canadianos ou britânicos não têm que provar se nas suas contas bancárias está alguma despesa com as meninas que Zelensky mandou para os EUA ou a União Europeia falida. Esteja descansado, eu mando o extracto bancário. O Carlinhos tem de ver a irmã para melhor fazer o luto da Milita. Mas estou indignado, aviso já.
Agora o alarido sobre a guerra da Ucrânia. Já toda a gente sabe que a dita começou com um golpe de estado das forças nazis em 2014. Até 23 de Fevereiro passado, os nazis de Kiev mantiveram uma guerra civil sangrenta no Leste do país e mataram mais de 15.000 civis ucranianos com laivos de genocídio, segundo a agência dos Direitos Humanos da ONU. Então por que só agora falam em mortes de civis e refugiados? A resposta é muito simples.
Porque a Ucrânia está a fazer, desde 2014, uma guerra por procuração do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) mais da OTAN (ou NATO) e quando os amos pensavam que iam dar o golpe final, foram surpreendidos com a “operação especial” da Federação Russa. Estão a levar uma tremenda tareia militar e correm o risco de ficar prostrados, de joelhos, ante um dos países que decidiu fazer tudo para criar um mundo multipolar e sem a ditadura do dólar.
A verdade é que desde as bombas nucleares sobre Hiroshima e Nakasaki, nunca os EUA estiveram tão perto de provar a sua debilidade bélica. Foram corridos do Afeganistão pelos talibãs e agora estão a ver os seus peões esmagados na Ucrânia. O laboratório de armas biológicas em Mariupol foi à vida e agora vão ter de explicar muito bem o que estavam a fazer os cientistas norte-americanos no oitavo andar na profundidade, naquele antro controlado pelos nazis do Batalhão de Azov.
Resumindo e concluindo: Está a chegar ao fim esse abuso inqualificável dos europeus exigirem o extracto bancário de um cidadão, para darem um visto aos Carlinhos deste mundo, que lhes permita entrar nos 26 países do Espaço Shengen.
Quem critica também aplaude. O senhor arcebispo de Saurimo e presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), José Manuel Imbamba, desmentiu informações segundo as quais a Igreja Católica, em Angola, está de costas viradas para o Governo. Apelou aos políticos para desenvolverem acções que ajudem os cidadãos, em período eleitoral, a escolherem conscientemente os seus representantes na Assembleia Nacional e eleger o Presidente da República. Este sim é o papel da Igreja.
* Jornalista
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