domingo, 8 de maio de 2022

OS INSULTOS DE BLIKEN E WENDY A ANGOLA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A pena de morte é praticada em países como a Arábia Saudita, EUA, Japão ou Iraque, todos aliados do estado terrorista mais perigoso do mundo. Quando a Guiné Equatorial pediu a adesão à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a intelectualidade lusa corrupta e ignorante (ligada à UNITA) levantou a voz contra, porque naquele país africano existe a pena de morte. 

A Ucrânia aboliu a pena capital no ano 2000, para aderir ao Conselho da Europa. Após o triunfo do golpe nazi de 2014, o regime ressuscitou-a e desde então, os adversários políticos passaram a ser executados. A União Europeia quer a adesão do país rapidamente, antes que sejam reveladas as centenas de execuções, só este ano, antes do início da operação russa. 

O problema é que o senhor Antony Blinken, secretário do Departamento de Estado, e a senhora Wendy Sherman, subsecretária, publicaram o relatório anual dos direitos humanos no mundo e lá está escrito isto: “Na Ucrânia há execuções extrajudiciais e tortura (...) tratamento cruel de detidos por agentes da ordem, condições prisionais duras e ameaçadoras, detenções arbitrárias e problemas graves com a independência do Poder Judicial (...) Existe violência com base no género ou orientação sexual, antissemitismo, e contra pessoas com deficiência ou de grupos étnicos minoritários, bem como as piores formas de trabalho infantil (...) O Governo não tomou medidas adequadas para perseguir ou punir a maioria dos funcionários que cometeram abusos, resultando num clima de impunidade”.

O relatório do estado terrorista mais perigoso do mundo, como sempre, também contempla Angola com os seus mimos. O documento foi apresentado por Blinken, em Abril. Leiam o que diz sobre Angola: “O país registou execuções arbitrárias, desaparecimentos, restrições graves à liberdade de expressão e à imprensa, corrupção e violência baseada no género, casos de tratamento ou punição cruel, desumana ou degradante por parte das forças de segurança governamentais, condições duras e ameaçadoras das prisões, detenção arbitrária, prisioneiros políticos, restrições graves à liberdade de expressão e de imprensa, incluindo violência, ameaças de violência ou detenções injustificadas contra jornalistas”.

A vasta lista inclui ainda “a interferência na liberdade de reunião pacífica, actos graves de corrupção, falta de investigação e responsabilização pela violência baseada no género e crimes envolvendo violência ou ameaças de violência contra lésbicas, homossexuais, bissexuais, transexuais e intersexuais”. Tudo isto acontece porque, segundo Antony Blinken e Wendy Sherman “a responsabilização pelos abusos dos direitos humanos foi limitada devido à falta de controlos e equilíbrios, falta de capacidade institucional, uma cultura de impunidade e a corrupção governamental”.

Uma das autoras deste rol de acusações é Wendy Sherman, que esteve entre nós estes dias. A TPA estendeu-lhe uma passadeira de veludo e os seus pseudojornalistas arrojaram-se a seus pés. Estenderam-lhe o microfone, filmaram-na e ela deu o recado. Não vou envolver-vos naquele paleio para boi dormir. Apenas resumo o que a excelsa senhora disse: Seus pretos! Se não tiverem juízo levam com a UNITA em cima e ressuscitamos o regime de apartheid.

Com a TPA foi assim. Mas o Jornal de Angola fez mil vezes pior. Num editorial da direcção, eles rastejam ante a ameaçadora Wendy. Bajulam a mulher como se fosse o Biden em pessoa. Recordam simpaticamente que “mais de vinte anos depois, as relações entre Angola e os Estados Unidos pautam-se pelo aprofundamento, pelo reconhecimento mútuo da importância estratégia que ambos os países atribuem aos laços e pelo aumento da cooperação económica, comercial e cultural. Depois da assinatura do Acordo de Parceria Estratégica, existente desde 2010, os vínculos que ligam os dois países têm vindo a crescer e numa altura em que Angola procura diversificar a economia, de um lado, e em que grande parte das potências, incluindo os Estados Unidos auguram por uma espécie de ‘segurança energética’,  podemos dizer que há ainda maior expectativa quanto ao crescimento destas relações”.

Querem que vos traduza o rastejar da direcção do Jornal de Angola? Vou traduzir em poucas palavras: Levem o petróleo de borla como fazem noutros países. Nós somos bons pretos. Não se esqueçam de nós quando distribuírem as esmolas”. A direcção do Jornal de Angola, que obriga e responsabiliza todas e todos os jornalistas da casa mais os patrões, remata com esta: “A vinda da número dois do Departamento de Estado a Angola é sinónimo de que, ao contrário do que alguns sectores insinuam, com alegações sobre um suposto distanciamento entre Washington e Luanda, as relações estão no bom caminho”. Claro, estamos de joelhos ante o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA).

Sobre as graves acusações a Angola no relatório da autoria do senhor Antony Blinken e da senhora Wendy Sherman, o editorial do jornal, que pertence ao sectorial empresarial do Estado, nem uma palavra. E eles são atingidos! Leiam o que escrevem os dois terroristas a soldo de Biden: “Em Angola há restrições graves à liberdade de expressão e de imprensa, incluindo violência, ameaças de violência ou detenções injustificadas contra jornalistas.”

O livro A Cia Contra Angola, do oficial da CIA John Stokwell, nunca existiu. O atentado da CIA contra Lúcio Lara, no Bairro Popular, em Outubro de 1974, nunca existiu. A greve dos camionistas, na mesma data, nunca aconteceu. Se não fosse a intervenção do engenheiro Fernando Falcão e do capitão Fonseca de Almeida mais a mão firme do almirante Rosa Coutinho, hoje Angola era um bantustão da África do Sul racista. Os EUA nunca apoiaram financeira e militarmente os racistas de Pretória. O presidente Reagan nunca deu ao criminoso de guerra Jonas Savimbi os mísseis Stinger. A administração da Cabinda Gulf nunca se entregou aos bandidos da FLEC.  Nunca sabotaram as instalações petrolíferas no dia em que começou a Grande Batalha do Ntó.

Há angolanos que têm uma prática curiosa. Pensam que Angola só existe desde que eles foram acomodados num qualquer tacho por terem bons padrinhos na cozinha. A direcção do Jornal de Angola pensa que os EUA só conhecem Angola há 20 anos! Estão ligeiramente enganados. Washington apoiou activamente a criminosa guerra colonial dos fascistas de Lisboa, desde o primeiro dia. Forneceram dinheiro, armamento e apoio político. O senhor ministro da tutela tem de ver o que se passa. Para rastejarem aos pés da senhora Wendy Sherman de mão estendida à esmola, é porque já se passaram para o outro lado. Um dia destes vendem o jornal ao engenheiro à civil Adalberto. Um director que passou por lá, até vendeu o prédio da Rainha Jinga e as verbas da publicidade. Voltou depois de 2017 como se nada tivesse acontecido.

*Jornalista

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