terça-feira, 19 de julho de 2022

A REVOLUÇÃO CULTURAL RUSSA NA BASE DE SUA PRÓPRIA SOBREVIVÊNCIA

Martinho Júnior, Luanda

DA SOBREVIVÊNCIA, À EMERGÊNCIA E DA EMERGÊNCIA AO MULTILATERALISMO

01- É no húmus histórico da implosão da União Soviética que a Federação Russa começou a sua revolução cultural apontada ao século XXI.

Se o tandem Gorbatchov-Ieltsin protagonizou o colapso soviético e a sua devassa, é o tandem Putin-Medvedev que protagoniza a revolução cultural essencial para viabilizar a sobrevivência de um ente responsável, composto por mais de 300 identidades distintas, mas capazes de se unirem perante os maiores desafios, entre eles o da sua própria sobrevivência coesa e integrada!

Desde as guerras da Chechénia que a Federação Russa se empenhou sempre a fundo em questões de defesa e segurança entre as prioridades da revolução cultural integrada e integradora sob o ponto de vista emergente e multilateral…

A Rússia passou sempre a dedicar uma fatia das suas capacidades a actividades operativas ao redor de suas fronteiras no quadro da segurança vital comum e é por isso que os custos da libertação na Ucrânia, nas suas variáveis, são sequência de custos anteriores que conduziram à contínua valorização tecnológica de sua força militar e de inteligência ao mesmo tempo que põem a nu os desequilíbrios criados pelo exercício do poder da hegemonia unipolar.

O “ocidente natificado” esconde o conhecimento disso dos seus próprios povos e tenta também impedir que esse fenómeno seja conhecido em todo o Sul Global, mas os sinais vão-se acumulando através de índices que vão desde a enorme capacidade agrícola que se tem vindo a implementar no imenso espaço físico-geográfico da “mãe” Rússia, (os maiores produtores mundiais de alimentos são a China, os Estados Unidos, o Brasil, a Índia e a Rússia, quatro deles pertencem ao grupo BRICS), como nas tecnologias de ponta descobertas e aplicadas em função de capacidades científicas que se traduzem nas incomparáveis capacidades militares que se vão pouco a pouco tornando visíveis na Ucrânia em fase de libertação dos ukronazis.

A questão alimentar começa a estar num grau tão elevado de preocupações, em parte também provocadas por causa do aquecimento global, que os BRICS estão em vias de integrar a Argentina e o Irão, qualquer deles com possibilidades enormes de produção de alimentos!

De todos eles a Federação Russa é dos que possui as maiores reservas de água e de terras virgens que com o aquecimento global ficarão disponíveis para aproveitar em termos de desenvolvimento sustentável!...


02- A 8 de Julho de 2022 o mesquinho “ocidente” fez “vista-grossa” ao acontecimento da entrega à Frota Naval Russa do cruzador nuclear submarino com o nome de Belgorod, ocorrido nos maiores estaleiros russos localizados nas costas do Mar Branco (estaleiros Sevmah, em Severodvinsk).

O Mar Branco é uma reentrância do Oceano Glacial Ártico, cada vez menos glacial, ou seja uma imensa área totalmente russa protegida por um dos maiores concentrados da capacidade militar geoestratégica da Rússia.

Ao invés de se decidirem por mais um submarino armado de mísseis balísticos intercontinentais, os russos acabaram a construção do Belgorod, adaptando nele multifunções decorrentes de suas tecnologias de ponta:

. O Belgorod é o primeiro portador de drones submarinos movidos a energia nuclear conhecidos por Poseidon;

. É ainda capaz de semear sensores subaquáticos de alta-fidelidade para detecção de movimentos em amplos espaços marítimos contíguos ou não às suas costas, algo indispensável para as zonas mais remotas e sem população, mas abarcadas pelos espectros de segurança vital comum, desde a passagem de rotas nas zonas económicas exclusivas ou para além delas, até questões como as que se prendem especificamente à definitiva integração de Taiwan na República Popular da China…

… O Belgorod terá sido já mobilizado para a Frota do Pacífico num momento extremamente sensível, que ocorreu quando o Chefe da NATO, motivado pela reunião de cúpula realizada em Madrid, declarou que o Báltico, com a admissão da Suécia e da Finlândia, se havia transformado num “mare nostrum”, tal como o Mar Adriático e para compensar a vulnerabilidade no Mar Negro!...

Basta um Poseidon com uma central de sensores subaquáticos de ponta, para colocar a grandes profundidades uma sentinela em redor da entrada do Báltico e no Mar do Norte, para o pendor da informação sobre todos os movimentos marítimos começarem a estar a favor do conhecimento imprescindível à segurança vital russa à espera de se tornar numa segurança comum!

Se adicionarmos a isso as potencialidades de ataque dos Poseidon, pode-se perceber quão também o domínio dos mares começa a pender para a multilateralidade… como prova desse balanço, em Agosto deste ano está previsto um Exercício Naval entre a Rússia, a China e o Irão no Mar das Caraíbas, onde a China, se quiser demonstrar as suas capacidades, pode mobilizar até um dos seus novos porta-aviões!

03- Se começassem a estudar sob o ponto de vista de valorização das profundas alterações nos conceitos geoestratégicos, as capacidades das novas tecnologias de inteligência e militares que estão a começar a ser aplicadas pela Rússia no âmbito de sua revolução cultural, ao invés de fazerem declarações típicas de mentalidade colonial, o “ocidente natificado” teria utilizado muito melhor o seu tempo e poderia começar a perceber que a entrada da União Europeia num relacionamento emergente e multilateral era para ontem, para o antes da “revolução colorida” da Euro Maidan, inibindo à nascença qualquer tentação para a repescagem das redes stay behind do espectro de Stepan Bandera e outras associadas!

Não o fizeram mesmo quando o Reino Unido, por via dum malparado Brexit, se afastou da União Europeia, tal o grau de vassalagem e cumplicidade das oligarquias europeias para com a hegemonia unipolar anglo-saxónica, mas quanto mais tempo perderem na arteriosclerose ideológica que conduz a Europa de novo ao fascismo e ao território mental dos nazis, mais dolorosa se pode tornar a libertação não só na Ucrânia (um ente que está à beira de deixar existir), como na própria Europa, enquanto campo de cada vez mais insolúveis contradições internas e externas e ela própria à beira de divisões entre o oeste e o leste! 

À beira do 5º mês da libertação do Donbass e face ao envio de novas armas “ocidentais” para alimentar as frentes ukronazis, as últimas declarações russas vão no sentido de se acelerar a catadupa de missões operacionais sem que isso leve ao aumento de efectivos, ou seja: vão ser introduzidas novas tecnologias militares capazes de supremacia sobre as armas, conceitos e tecnologias “otanizadas”, à medida que se vai aproximar o outono e o inverno.

A Federação Russa e as Repúblicas Populares do Donbass estão a temporizar a sua operacionalidade, tornando-a cada vez mais tensa da primavera à entrada do inverno, na espectativa que os êxitos acumulados se traduzam em fórmulas capazes de exercícios multilaterais visando segurança vital comum na Ucrânia e na Europa, o cantinho ocidental do supercontinente Asiático!

A “operação especial” sendo hostilizada pelo “ocidente” está além do mais carregada de sugestões no sentido das novas opções em aberto que as oligarquias europeias parece não quererem sequer ver tal o frenesim de russofobia e de “apartheid global” de que estão impregnadas!

Mesmo as opções para se reabastecer de petróleo ou de gás abrem precedentes contraditórios, pois os negócios acabam por ser com países aptos para o multilateralismo (Azerbeijão, componente do Cáspio, ou Argélia no Mediterrâneo), pelo que a rejeição caprichosa de fazer negócios com a Rússia aplicando sanções vai-se esvaziando irremediavelmente

A União Europeia continua a demonstrar-se evasiva à possibilidade real de mudar de paradigma na direcção da emergência multilateral, pelo que cabe aos seus povos, sujeitos a todo o tipo de compressões e argumentos no vazio, a assumir-se em direcção a elas, alterando o ambiente sociopolítico onde se encontram fechados, fugindo ao estigma de mais uma vez estarem a ser preparados para “carne para canhão”!

Círculo 4F, Martinho Júnior,19 de Julho de 2022

Duas imagens recolhidas de “Arma absoluta: que vantagem o submarino Belgorod com o sistema Poseidon dará às forças estratégicas da federação Russa” – https://russian.rt.com/russia/article/1024086-rossiya-flot-belgorod-poseidon. 

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