segunda-feira, 25 de julho de 2022

Angola | APARENTEMENTE FOI TUDO VERDADEIRAMENTE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Deus existe. E para reatarmos relações vou ser baptizado pela minha amiga Concha de Mascarenhas. A partir de hoje existem todos:  Suku, Nzambi, Alá, Jeová. Todos mesmo. Mas se Deus disser que Jonas Savimbi é um herói nacional e lutou pela independência de Angola nunca mais existe e cortamos relações até ao último nascer do sol. Acabam todos os deuses, menos Artemisa, a minha eterna deusa. Ela nunca cedeu ao amor nem à sedução dos homens. Com esta divindade nunca terei a mínima maka. O que é uma vantagem para o meu coração a falhar por todos os poros.

Se ouvir alguém dizer que é do MPLA mas vai votar no Adalberto, tenho a certeza certíssima de que está louco ou louca. Mesmo que me apresente papéis dizendo que está no seu juízo perfeito. Loucas e loucos varridos. Sigam o meu exemplo. 

Já me fizeram desfeitas terríveis. Insultaram-me. Agrediram-me. Não pagaram o meu trabalho honesto. Ocuparam a minha casa, muito minha, comprada com o meu dinheiro. Administradores da empresa onde trabalhava, nomeados pelo MPLA, roubaram o meu contrato de trabalho e deram-no ao Raúl Danda para exibi-lo na Assembleia Nacional. Nem um deputado condenou esta violação da minha vida pessoal. E o parlamento está repleto de juristas. Apesar de tudo, mesmo que muitíssimo zangado com alguns dirigentes do MPLA, nem morto votaria no Adalberto e na UNITA.

Nesta altura do texto já estão a murmurar: Este gajo não diz coisa com coisa. É bipolar. Não tem a mínima coerência. Um dia escreve que o Presidente José Eduardo dos Santos jamais votaria ou aconselharia, fosse quem fosse, a votar no Adalberto ou na UNITA. Muito menos uma filha. Sou coerente, reafirmo tudo o que escrevi. Juras para mim não valem nada. Trejuras ainda menos. Quando era miúdo a malta estava sempre a exclamar: Juro mesmo, sangue de Cristo! Estavam a mentir com a boca toda, inclusive o céu e os dentes. 

O Estado Angolano não pode mobilizar as suas instituições e muto menos altas figuras que o servem, para entrarem em maka com uma mulher que acaba de perder o pai. Poder pode, mas perdem todos. A diferença é que a senhora órfã não tem mais nada a perder e pode dar-se ao luxo de dizer que Jonas Savimbi é um herói nacional e Adalberto o salvador da pátria. O Estado não pode comportar-se como um desmiolado ou um catavento enlouquecido pelo vento que muda de direcção, segundo a segundo. Só um leproso moral ataca a parte mais fraca. 

A campanha eleitoral está aí e cada hora que passa, mostra de uma forma exuberante o que vem aí se o MPLA continuar a vender ossadas e memoriais. Uma amostra das fogueiras da Jamba chegou ontem às ruas de Luanda. As fogueiras vão alastrar a todo o país.

Em Portugal existe uma coisa chamada Correio da Manhã que é uma espécie de montra viva do jornalismo sem ética, do lixo mediático na sua versão mais fedorenta, de criadagem faminta que vive de cócoras e mão estendida às gorjetas por cada frete aos donos e seus clientes. Aquilo tem igualmente um canal de televisão (CMTV) que mostra, segundo a segundo, que a miséria moral afogou os portugueses. Hoje exibiram um “documentário” sobre o Presidente José Eduardo dos Santos. 

Coisa mais nojenta era impossível. Quem encomendou e pagou aquilo só pode ser inimigo de Angola e dos angolanos. Aquele nojo foi construído com imagens de arquivo e suportado por declarações de uns pobres diabos que nem sequer têm estatuto de cultores do banditismo mediático. De Angola sabem tanto como eu de otorrinolaringologia. Mas que interessa isso? O leite gordo de boca torta e o ganhão totó estavam ali para chafurdar, sujar, insinuar, despejar mentiras. Um deles disse que o Presidente José Eduardo dos Santos tem uma fortuna de 18 mil milhões de euros. Mas rapidamente disse baixinho: “não sei, é o que se diz”. Um jornalista faz afirmações com base no diz que disse. Coisa mais repugnante só é possível no Correio da Manhã e na CMTV. 

O mesmo bandalho (um tal Filipe) disse, para justificar a alegada apetência da família presidencial para uma vida de grandeza, que “José Eduardo dos Santos e os filhos viveram 38 anos no Palácio da Cidade Alta”. Mentiroso. Durante anos o palácio estava inabitável. Este nunca ouvir falar no Futungo de Belas. Sobre a fortuna da empresária Isabel dos Santos afirmou que ela comprou acções do BCP. Mentira. Quem adquiriu acções do BCP foi a Sonangol. Tudo aldrabices, faltas de rigor, distorções, intrigas e afirmações insultuosas.

Hoje o canal da CIA (CNN Portugal) dedicou largos minutos ao criado de banquete Carlos Rosado de Carvalho. O que ele disse! Quem o levou para Angola e lhe meteu nas mãos jornais que ele usava como brinquedos, que diga por que razão andou a estoirar dinheiro dos cofres púbicos para alimentar semelhante alimária. Quem o sentou à mesa dos que facturaram à custa do banquete na TPA, que mostre quanto lhe pagaram.

O Carlos Rosado de Carvalho, falso jornalista, falso angolano e verdadeiro retornado (é da mesma extracção do Agualusa) comentou os desmandos causados por motoqueiros ao serviço da UNITA, nas ruas de Luanda, nestes termos:  

“O que aconteceu verdadeiramente é que aparentemente foi falta de pagamento. Os 14 000 motoqueiros foram contratados pelo MPLA e depois não lhes pagaram dez mi kwanzas combinados. Isto de contratar motoqueiros é uma técnica do MPLA para dar a ideia de que tem apoio popular.”

Atenção! Leprosos morais como o Carlos Rosado de Carvalho são pagos com dinheiro dos cofres do Estado! Portanto, temos aqui uma grande mudança desde 2017. Até às eleições passadas, muita gente abastecia-se nos cofres públicos mas não mordia a mão de quem lhes pagava. Agora os condecorados, os criados do banquete e outros leprosos morais recebem dos cofres públicos e mordem violentamente as mãos de quem lhes paga. Sucesso inegável! 

Para reparar este fracasso há que vender mais ossadas e mostrar umas quantas maquetes de memoriais. É tiro e queda. Entretanto não se esqueçam de mandar apagar o fogo em Benguela. Quem te avisa, teu amigo é.

O MPLA tem que ganhar as próximas eleições com pelo menos 70 por cento dos votos. Mas convém que ninguém do partido aposte na vitória da UNITA. Isso pode prejudicar a mobilização, causar confusão e refletir-se na votação final.

*Jornalista

Sem comentários:

Mais lidas da semana