Angola | CAMPANHA ASSASSINA CONTRA A LIBERDADE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O mundo está virado ao contrário e Angola contribui muito para a viragem. Entre nós existe uma competição absolutamente inesperada. Uns dizem que somos governados por incompetentes. Cada qual tem direito à opinião, seja justa ou injusta. O problema é que essas e esses querem mão-de-obra mil vezes pior. O Miala é muito mau. Mas o Chivukuvuku é um milhão de vezes pior. Por uma questão de higiene, não dou mais exemplos mas a escala não muda. O que temos é infinitamente melhor do que os aspirantes ao poder. 

Se querem a demência senil do Justino Pinto de Andrade votem no Adalberto. Se querem apaziguar a ira vingativa e a desmedida ambição do Filomeno Vieira Lopes, votem no Adalberto. Se querem encher os bolsos de dinheiro ao filho do Gentil Viana, um farsante de colarinho branco, que nunca fez nada na vida a não ser extorsões com falinhas mansas, votem no Adalberto. Se todos forem bem-sucedidos, entra em campo a UNITA e passa-vos a factura à porrada, a tiro, nas fogueiras, à paulada. Eu contento-me com o que tenho. Esperando que os cinco anos do próximo mandato, sejam melhores do que os anteriores.

Mas o mundo está mesmo virado do avesso. Então em Angola nem se fala. Três senadores norte-americanos decidiram ingerir grosseiramente nos assuntos internos de Angola, um Estado Soberano. A TPA pôs a sua “correspondente” em Washington a desmentir a verdade. Uma vigarice sem nome. A azougada menina falou com os três gabirus e concluiu: “Estão a ver? É uma falsa notícia!” E o senador falante de espanhol (será um gusano?)confirmou a ingerência.  Nunca se viu nada igual. Mas na TPA tudo é possível, inclusive acontecer televisão.

Cidadãos angolanos viraram o mundo ao contrário umas mil vezes e deixaram tudo tão embrulhado que o movimento de rotação da Terra acabou e o de translacção está em vias de parar. A Terra deixou de girar. Querem mandar para a cadeia o titular do Poder Executivo, que é o cabeça de lista do MPLA, os conselhos de administração dos Media públicos e os membros da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Cadeia e multas pecuniárias! 

Os accionistas intitulam-se “sociedade civil” e sendo assim, estão desculpados. Mas pelo que veio a público, devemos estar todos assustados, preocupados, borrados de medo. Um dos subscritores da acção chama-se Luaty Beirão. Luso angolano mais para o luso também chamado Brigadeiro Mata Frakus e Ikonoclasta. Brigadeiro Mata Fraskus, cuidado! Olha que a basquetebolista norte-americana Britney Griner levou nove anos de prisão em Moscovo por ser maconheira. Tu levavas 90. Em Angola és sociedade civil. Comilão de dinheiro fácil e revolucionário de zuela. Socorro, os revus vão avançar com barricadas nas ruas, pneus a arder e mortes selectivas!

Outro acionista é o luso lAgualusa. A minha professora da escola primária, Dona Cândida, inventou uma escala de avaliação terrível. Bom mais e bom menos. Suficiente mais e suficiente menos. Medíocre mais e medíocre menos. Mau mais e mau menos. O Sebastião Africano era um barra na aritmética, tirava sempre bom mais e eu mau menos. Mas eu era bom mais em gramática, redacção e ditado. Como estávamos sentados na mesma carteira, eu copiava dele as contas e ele copiava de mim os verbos, as conjunções as preposições e as redacções. Éramos os maiores!

O Agualusa, com a professora Cândida, jamais passaria do mau mais nas redacções da quarta classe. A UNITA fez dele escritor. Quem não tem cão, caça com gato tinhoso. Mas o mundo está mesmo virado ao contrário. 

O escritor e jornalista José Luís Mendonça sentou-se na mesma carteira do Agualusa e avançaram com uma acção popular contra tudo e contra todos que cheirem a MPLA. Radicais! Zé Luís, queres mesmo meter na cadeia a administração da Empresa Edições Novembro? Tem calma, camarada. Pelo que fizeram ao jornal Cultura, se calhar merecem um castigo, mas olha que não foram estes. Foi o teu amigo Victor Silva que só não assinou a acção popular porque ainda não sabe assinar. Não sejas assim. As coisas vão melhorar.

Outro assinante da acção popular, um lídimo representante da sociedade civil, foi o Orlando Sérgio. Aquilo é um sinédrio de maconheiros! Orlando, tem calma, o dinheiro vai e volta. Espera um nadinha e vais ver que não precisas do Adalberto para nada. Anão ser que queiras ser morto à paulada como o general Bock. Depois não digas que nunca te dei uma mão na hora da desgraça. Tenho dito.

Uma proponente de meter na cadeia o cabeça de lista do MPLA mais os membros dos conselhos de administração dos Media do sector empresarial do Estado é a socióloga Cesaltina Abreu. Desisto, Vou suicidar-me. Adeus, mundo cruel! A minha amiga Cesaltina era estudante de Agronomia no Huambo, quando a conheci. Uma militante destacadíssima do MPLA. Ficámos amigos para a vida. 

Mais tarde encontrei-a, já engenheira agrónoma, a trabalhar no gabinete do primeiro-ministro França Van-Dúnem. Uma mulher inteligente, competente e dinâmica só podia chegar onde chegou. Agora é socióloga, coisa que deixei de ser há muitos anos, porque é um título mal frequentado. Até repórter deixei de ser, pela mesma razão. Boa sorte, Cesaltina. Mas olha que tu é que vais presa se o Adalberto ganhar. Não te deixes enganar. E se precisares de asilo político quando a UNITA entrar em campo, já sabes, tens a minha cabana à disposição. 

O mundo está mesmo sem movimento de rotação e translacção. O eixo da Terra pifou. A noite virou noche nochera como vaticinou Federico Garcia Lorca. As árvores têm as raízes ao sol e as folhas nas catacumbas profundas como avisou Brecht. Um accionista da Sociedade Civil é o médico pediatra Luís Bernardino. Se for aquele que eu penso, adeus, vou disparar no coração um tiro de canhão. Não contem mais comigo. 

Se é quem eu penso, este Luís Bernardino é irmão do médico David Bernardino, assassinado na cidade do Huambo pelos sicários da UNITA. Um dos assassinos (autor moral) é Adalberto da Costa Júnior. E Luís Bernardino está preocupado como tempo de antena dos assassinos do irmão, património eterno do Povo Angolano, David Bernardino. 

Entre os subscritores estão também Carlos Rosado de Carvalho (já acabou o dinheiro que recebeu pelo Banquete na TPA) e o padre nazi Jacinto Pio Wacussanga. Este faz falta à UNITA. As mulheres que mandarem para as fogueiras, antes são abençoadas por ele. E também vai benzer os buracos onde forem enterradas mulheres vivas, além das mocas com que vão desfazer as cabeças dos peticionários da acção popular e outros sócios da lucrativa Sociedade Civil.

O mundo está mesmo virado ao contrário. Tenho uma péssima notícia para os accionistas da Sociedade Civil mas também para o outro lado. A campanha eleitoral do MPLA, numa escala de zero a cinco vale zero menos. A TPA, no que diz respeito a audiências, vale zero mais. Competência vale zero menos, menos. Nível técnico, zero menos, menos, menos. Na campanha eleitoral prejudica gravemente o MPLA. Se os peticionários da acção popular quiserem, posso explicar-lhes que o canal público de televisão até agora, tem sido a arma secreta da UNITA. E todos os dias rouba votos ao MPLA. A sorte é que aquele xarope intragável chega a pouca gente e a perda de votos também é pequena. 

A Rádio Nacional é só chinfrim e ruído. Pelos vistos ninguém sabe criar edifícios sonoros e todos ignoram que a informação no audiovisual tem uma dimensão estética e plástica. Na campanha eleitoral não aquece nem arrefece. Mas tem uma vantagem. Não rouba votos ao MPLA. Nem aos outros concorrentes. Indiferente. Tanto faz.

O Jornal de Angola é outra conversa. Tem peso na campanha mas está tão equilibrado, que até faz inveja. A página de Opinião parece o jornal de parede de um infantário. Nos restantes conteúdos impera o equilíbrio. Isso prejudica o MPLA e muito. Porque não se trata de forma igual o que é muito diferente. 

O que se há-de fazer? O mundo está mesmo virado ao contrário. Mas no dia 24 de Agosto a UNITA e seus sicários vão mesmo para o lixo. Os accionistas da Sociedade Civil no dia seguinte acordam, lavam os dentes, matabicham e a vida continua.  

*Jornalista