sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Angola | CASACAS VIRADAS VOTOS A VOAR -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os vira-casacas valem pouco ou nada. Quando muito estão ao nível dos vira-lata ou dos vira-cu. Mas em democracia valem tanto como quem nunca mudou de opinião em função dos seus interesses grandiosos ou mesquinhos. A democracia é assim. O Paulo Lukamba Gato, assassino por conta do criminoso de guerra Jonas Savimbi, quando for votar no dia 24, o voto dele vale tanto como os votos dos que salvaram Angola e os angolanos dos belicistas da UNITA, os que assassinaram o meu amigo Vakulukuta, Wilson dos Santos, família Chingunji, Ana Isabel Paulino e tantas mártires das elites femininas da UNITA. 

O voto do assassino terrorista Abel Chivukuvulu vale tanto como o voto de quem nunca matou, nunca aterrorizou, nunca escorraçou milhões de angolanas e angolanos das suas terras de origem. O voto de Adalberto da Costa Júnior, traficante dos diamantes de sangue, vale tanto como o voto de cidadãos valorosos como Quintino Moreira, Manuel Fernandes, Dinho Chingunji, Bela Malaquias, Benedito Daniel, Nimi Ya Nsimbi ou João Lourenço. O voto de Justino Pinto de Andrade, um leproso moral a cair aos pedaços, vale tanto como o voto do mais activo intelectual angolano, vote ele em que partido ou coligação votar. 

Quem são os vira-casacas? Não sei. O amigo que me enviou uma mensagem, indignado, por Marcolino Moco ter aparecido no tempo de antena da UNITA onde anunciou o voto no Galo Negro, está enganado. O antigo primeiro-ministro e secretário-geral do MPLA não é um vira-casaca. Ele e Lopo do Nascimento foram empurrados para fora do MPLA num congresso de triste memória, que levou para o comité central uma enxurrada de oportunistas. Esses, sim, eram vira-casacas. 

Moco foi perseguido, humilhado e maltratado por membros do seu partido. Anunciou o voto na UNITA e isso entristeceu-me muito porque sou amigo dele há muitos anos. Tenho um amigo que vota na UNITA. Paciência. A amizade está acima dos votos. 

Não contem comigo para imolar familiares do Presidente José Eduardo dos Santos que estão contra a direcção do MPLA e do seu cabeça de lista, João Lourenço. Preferia que essa maka nunca tivesse existido. Mas ela existe, está aí e quem a alimenta que se responsabilize. Mas não façam dessa falta de senso, dessa inabilidade confrangedora, uma questão de vida ou de morte, uma questão de Estado, uma questão do MPLA. Não é. E nesta loucura há muitas culpas em muitos cartórios. 

Sendo eu um rapaz a cair da tripeça, já perdi meu Pai e minha Mamã há muito tempo. Tinham mais de 90 anos quando faleceram. Ainda hoje não me recompus da perda. Aos familiares, sem excepção, do Presidente José Eduardo dos Santos só tenho para dar respeito e solidariedade, apoio nesta hora de dor e tristeza. Claro que fico desiludido quando vejo uma das suas filhas fazer propaganda pela UNITA. Mas não tenho nada que me manifestar sobre as suas opções. 

Chegado a este ponto, tenho uma má noticia para os indignados com as posições políticas de Marcolino Moco ou Welwitschia dos Santos. Duvido que eles levem alguém a votar na UNITA. Pelo contrário, acho que até vão roubar muitos votos ao Galo Negro. O MPLA salvou o Povo Angolano dos belicistas capitaneados pelo criminoso de guerra Jonas Savimbi. 

Se alguém que deve ao MPLA tudo o que tem e tudo o que é, decide colocar-se do lado dos derrotados, até tem o seu quê de romântico, uma espécie de suicídio das baleias ou a síndroma de Copenhaga, quando as vítimas se apaixonam pelos seus algozes. Quem somos nós para condenar os nossos que assumem a diferença ou segue outros caminhos? Ninguém!

Na próxima quarta-feira, o eleitorado vai falar alto. A esmagadora maioria vota em Agostinho Neto. Vota nos Heróis da Luta Armada der Libertação Nacional, os combatentes do 4 de Fevereiro, os guerrilheiros da Ferente Norte e da Frente Leste. Nos militantes clandestinos nas zonas urbanas que penaram no Missombo, no Tarrafal ou em São Nicolau. Nos que foram deportados para Portugal, como o cónego Manuel das Neves ou os padres Vicente Rafael, Joaquim Pinto de Andrade, Alexandre do Nascimento, Manuel Franklim, Lino Guimarães ou Osório. Vamos votar por Angola e derrotar os que querem destruir a Nação Angolana, os mentores da UNITA, sejam eles quem forem.

O eleitorado vota nos Heróis da Guerra de Transição, entre 25 de Abril de 1974 e 11 de Novembro de 1975. Vota em José Eduardo dos Santos e nos Heróis que se bateram na Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial. Vota em todas e todos os construtores da Angola que temos. Vota no MPLA e no seu cabeça de lista, João Lourenço. Que ninguém tenha dúvidas. Que ninguém fique em casa. 

Sobretudo, que ninguém se esqueça do cortejo de crimes horrendos da UNITA e da sua direcção. Que ninguém se esqueça dos que viraram as armas contra a Independência Nacional, colocando-se ao lado das armas dos colonialistas, a UNITA. Que ninguém se esqueça do biombo e dos ajudantes do regime racista de Pretória na sua agressão a Angola e ao Povo Angolano, a UNITA. Que ninguém se esqueça que a UNITA de hoje é a mais perigosa de sempre, porque se tornou no covil de tudo quanto é banditismo e marginalidade.

A UNITA quer fazer do Cuanza Norte uma “plataforma logística”. O cabeça de lista, Adalberto, já sabe que a província tem água, tem barragens e terras agrícolas de qualidade. E quem quiser ir a Luanda ou para Sul tem de passar pelo Cuanza Norte. Faltou à lição das outras vias, que o meu pai usava para fugir dos Morros de Ndlatando. Quem vem do Norte pode fazer a rota que eu fazia na camioneta do meu pai quando ele ia vender café a Luanda: Negage, Kitexe,  Ambuíla (Encoge), Dembos (Quibaxe), Piri, Caxito, Barra do Dande e armazéns do Bungo, na capital. Isto se não estivesse um navio na baía do Ambriz à espera do café. 

O líder do um partido angolano que vai concorrer às eleições e não conhece Angola, é um impostor. Um falso angolano. Um estrangeiro ignorante. Quem do Norte quer ir para Luanda ou para o Sul não tem de passar pelo Cuanza Norte. E no tempo em que a estrada não tinha asfalto, todos fugiam dos Morros de Ndalatando. Lá morreram muitos camionistas e ficaram muitas toneladas de café no fundo das ribanceiras. Adalberto vai ter uma derrota abismal!

*Jornalista

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