TERRORISMO EM MOÇAMBIQUE
As opiniões dos deslocados de
Cabo Delgado divergem. Há quem se sinta bem por estar a reconstruir a vida
Os ataques terroristas em alguns distritos do norte de Cabo Delgado continuam a fazer deslocados internos, que procuram abrigo, a cada dia, em zonas seguras.
Nampula é uma das províncias que mais recebe deslocados, contando atualmente com mais de 65 mil. Ainda assim, o governador de Nampula, Manuel Rodrigues, quer que os já acolhidos fixem definitivamente as suas residências na província, embora admita as dificuldades que os mesmos passam.
"Nós não queremos que regressem a Cabo Delgado, porque já estamos habituados como irmãos e nossos pais para estarem aqui connosco e viverem aqui; esta terra também é vossa. Fiquem aqui connosco, não voltem", disse.
Manuel Rodrigues garantiu, entretanto, que o Governo está e continuará a fazer de tudo para assegurar a assistência dos deslocados, acolhidos na província de Nampula.
As opiniões dos deslocados dividem-se, uns aceitam, outros não. Bernardo Juma, de 38 anos, pai de quatro filhos e antigo pescador, abandonou o distrito de Mocímboa da Praia, a sua terra natal, em 2019. Bernardo escolheu Nampula para se abrigar, mas diz que aqui não consegue prosperar e prefere voltar à terra de origem.
"Sinto-me mal ao continuar aqui na cidade, eu prefiro voltar para a minha terra mesmo que esse conflito [ataques terroristas] ainda exista. Aqui na cidade não me sinto bem. Às vezes a gente não recebe aquele apoio [e se recebe não é] suficiente. Alimentarmo-nos aqui é um problema sério. O Governo promete, mas não chega a cumprir. Por isso, preciso mesmo de voltar para a [minha] terra", explicou.
"Aqui já não ouvimos o barulho das armas"
Já Maimuna Abdala, deslocada do
distrito de Macomia, residente no distrito de Rapale, a
"Eu e a minha família estamos bem em Nampula e sentimo-nos melhor. Aqui já não ouvimos o barulho das armas e não sofremos aquela agressão que passávamos lá. Já temos aqui as nossas machambas, pequenos negócios e um pouco de tudo, então preferimos ficar aqui", disse.
Entretanto, até à semana passada, pelo menos 100 mil pessoas abandonaram os centros de acolhimento, instalados na província de Cabo Delgado, e regressaram às suas terras de origem, segundo o governador da província nortenha, Valigy Tauabo.
"Algumas pessoas, que estão nos diferentes centros de acomodação, estão a regressar às suas aldeias. Isso está a precipitar o regresso prematuro do Governo, porque o Governo ainda está a instalar os serviços básicos. O Governo não tem outra forma e nem pode devolvê-los".
Palma, Quissanga e Mocímboa da Praia são alguns dos distritos severamente afetados pelos terroristas.
Segundo o governador Valigy Tauabo, grande parte da população já regressou às suas casas, motivada pelo abrandamento dos ataques terroristas.
Sitoi Lutxeque (Nampula) | Deutsche Welle
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