Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião
A curta reunião do Presidente da
República com o primeiro-ministro, no dia da posse dos secretários de Estado,
substituindo a reunião de quinta-feira que não houve, deixou
É certo que o verão está a acabar
e o outono, avisou-nos já o Banco Central Europeu, não vai trazer boas
notícias. As projeções macroeconómicas estão sempre a ser alteradas e as que o
governo vai apresentar como base para o Orçamento do Estado é muito provável
que já estejam desatualizadas quando o OE entrar
Marcelo, nesse mesmo dia, lembrou que "é nestas situações imprevisíveis que é fundamental não nos afastarmos da certeza nos princípios, lucidez na análise e perspicácia na decisão", essenciais para "enfrentar esta situação crítica".
O abrandamento do crescimento económico, com o BCE a falar de uma estagnação ou mesmo recessão nos próximos trimestres, a recessão em 2023 na Europa, por causa da crise energética e dos efeitos da política monetária do banco central para travar a inflação, não surpreendem ninguém. Como não é novidade nenhuma que a inflação muito acima dos desejáveis 2% vai durar muito tempo, ficará nos 8% este ano na Europa e não virá para baixo de 5% em 2023, mesmo com o BCE obrigado a continuar a subir fortemente as suas taxas diretoras.
Se os mais altos dirigentes da Nação estivessem sempre a falar verdade com os contribuintes, sem mascarar as más notícias, os portugueses estariam mais capacitados para tomar as melhores decisões, quer a nível de consumo, quer a nível de poupança. A verdade que Marcelo pede não é sequer para ajudar os cidadãos a tomar as melhores decisões financeiras. Parece estar mais interessado em justificar decisões impopulares do governo e a preparar a resposta aos tempos de luta que se aproximam na Administração Pública.
Talvez não fosse preciso estar a antecipar cenários, se Costa e Marcelo não fossem demasiadas vezes o Senhor Feliz e o Senhor Contente, a anunciar subidas históricas das pensões, que Bruxelas nunca deixaria acontecer. É claro que a vida vai ficar mais difícil, com a crise energética, com a inflação a comer o poder de compra e a prestação da casa a atingir níveis insuportáveis para muitas famílias. É a Europa que não nos permite entrar novamente em aventuras, mas a culpa do Estado não poder ter uma resposta mais robusta para ajudar os que mais precisam não é da Europa. Manter as contas certas, aí Marcelo tem razão, tem de manter-se uma "realidade perfilhada pela sociedade portuguesa". Os próximos meses serão politicamente muito difíceis para o governo, seguro pela maioria absoluta que o sustenta na Assembleia da República, mas em vias de perder a rua.
*Jornalista
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