quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

O MUNDO CÃO ENLOUQUECEU -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

No princípio era o verbo e eu pensei que em 2017 o MPLA ficou virado do avesso. De então para cá muita água correu no Bengo, no Seke do Bindo e no Canuango do Negage. E não é que afinal o mundo é que está virado ao contrário? O partido de Agostinho Neto é apenas um ponto no in finito. Mas como magoa o tal pontinho!

Uma desgraçada disfarçada de jornalista e com tiques de agente gringa veio a Luanda entrevistar o Presidente João Lourenço para a TPA. Fiquem sabendo que a prata da casa chegava e sobrava para titubear as perguntas que foram previamente escritas. E em Angola ainda há uns restos de jornalistas. Nos EUA isso acabou. 

Desde que a CIA e outras instituições criminosas do estado terrorista mais perigoso do mundo tomaram conta dos grandes jornais, das estações de rádio e dos canais de televisão, o jornalismo morreu. E os jornalistas são todos aparentados com funcionários dos serviços de propaganda. O que fizeram a monumentos como o Washington Post e o New York Times é um crime contra a liberdade de imprensa que não tem perdão. 

Por razões de higiene mas também de pudor não vou comentar as respostas do Presidente João Lourenço. Digo que achei imensa graça à sua pose de Biden. E tenho de afirmar também que nestas coisas prefiro sempre os originais às imitações. O chefe do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) tem muito mais graça do que o nosso aspirante a ditador da Canata. Um aparte. Aquele estilo de patife com toga exibido pelo Procurador-Geral da República, não ajuda nada à credibilidade no combate contra a corrupção. Por aqui me fico.

O mundo está virado do avesso. O Ministério das Relações Exteriores organizou um colóquio internacional na Academia Venâncio de Moura, onde foi analisada a maka da guerra que a Ucrânia está a fazer à Federação Russa por procuração da OTAN. União Europeia e EUA. Convidaram uma flausina da Universidade do Minho que, entrevistada pela TPA disse muito despachada: a União Europeia e a NATO já estão a tratar da segurança no mundo. Só faltou ouvirem um bandoleiro da UNITA dizer que o Savimbi andou a combater russos e cubanos. Mas pelo caminho que a política leva, isso vai acontecer muito rapidamente.

Palpita-me que o mundo começou a andar às avessas em Angola, no ditoso ano de 2017. A coisa está mesmo grave. O general Abreu Muengo Kamorteiro é um patriota, um homem da paz e da reconciliação nacional. Teve a coragem de cortar com a seita satânica dos criminosos de guerra da UNITA. Faleceu e sucederam-se as homenagens em forma de comunicados. O mais surpreendente foi assinado pelo ministro da Defesa, general Ernesto dos Santos (Liberdade). Sua excelência diz que o falecido combateu no seio da UNITA contra o colonialismo português.

Grande equívoco. Só possível porque o mundo gira ao contrário pelo menos desde as eleições de 2017.O defunto, quando Savimbi assinou um “cessar-fogo” com o chefe das informações militares da Zona Militar Leste, em Junho de 1974, tinha apenas 15 anos. E a UNITA, em 1967 (tinha ele oito anos) já era uma unidade especial das forças armadas portuguesas que combatia as forças do MPLA. O general Ernesto dos Santos (Liberdade) era um dos heroicos guerrilheiros do movimento.

Impossível não conhecer as cartas que Savimbi escreveu ao comandante da Zona Militar Leste, general Bettencourt Rodrigues, e ao comandante da Região Militar de Angola, general Luz Cunha, apoiando os esforços de guerra dos colonialistas e colocando-se ao seu dispor. O ditador Marcelo Caetano, no seu livro “O Meu Depoimento” diz que Savimbi ”era um bom rapaz, cá dos nossos”. O pior é o livro do capitão de artilharia Benjamim de Almeida (O Conflito na Frente Leste). Ele comandava uma companhia do Exército Português aquartelada em Cangumbe. Corria o ano de 1973, pouco antes da queda do regime colonialista.

O autor divulga no seu livro várias cartas que trocou com Jonas Savimbi. Numa delas, o chefe do Galo Negro pedia-lhe para convencer os seus superiores a desencadearem uma acção militar forte porque o MPLA estava dividido e seria derrotado. Noutra, o criminoso de guerra pedia ao capitão português um bom creme para os pés e umas botas de cano alto. Tremendo guerrilheiro.

Por estas e por outras tanto ou mais graves, a UNITA não era reconhecida como movimento de libertação pela ONU e pela OUA (hoje União Africana). O ministro da Defesa do Executivo Angolano desmente essas instituições e diz que sim, combateu contra o colonialismo. 

Um guerrilheiro do MPLA que combateu de armas na mão na Frente Leste oferece à UNITA um estatuto que nunca teve. Um combatente que sofreu na pele as acções armadas da UNITA/Flechas da PIDE diz que afinal os sipaios do colonialismo combateram os patrões. O mundo está girando ao contrário a uma velocidade estonteante.

O secretário-geral da OTAN (ou NATO), Jens Stoltenberg, teve um raro momento de lucidez e fugiu-lhe a boca para a verdade nua e crua. Disse ele: “Estamos a apoiar a Ucrânia a um nível sem precedentes”. O bloco militar, agressivo e reaccionário, apoia um país que não pertence à organização, como nunca apoiou ninguém e “enquanto for preciso”.  O prazo foi definido: Até à derrota da Federação Russa! 

O mundo está virado ao contrário e estes artistas andam a beber mais do que os camelos do Catar. Até o rapaz Cravinho, a quem o pai arranjou o tacho de ministro dos negócios com estrangeiros, diz que o apoio de Portugal à Ucrânia é ilimitado. Organizem-se. Porque há três dias, o senhor primeiro-ministro António Costa fez esta declaração: “A União Europeia não tem condições para receber mais estados-membros. Por isso, não criem falsas expectativas à Ucrânia”. Tudo virado do avesso.

Os jovens portugueses exigem a demissão do ministro Costa e Silva. Este malandro é ainda mais aldrabão do que os sicários da UNITA. Mais fabulador. Mais bandoleiro politicamente falando. A fim de fazer parte do governo, meteu no currículo que foi preso e torturado em Angola. Este nem tem dimensão para bandido golpista do 27 de Maio de 1977. 

O primeiro-ministro António Costa, em vez de despachar o traste, demitiu o secretário de Estado da Economia e a secretária de Estado do Turismo, por terem manifestado sérias divergências com o burlão da política à portuguesa. O mundo está mesmo transtornado e desandou ao contrário, a alta velocidade.

*jornalista

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