Martinho Júnior, Luanda
O vírus do capitalismo é o pior
que alguma vez a humanidade sofreu, é um autêntico cancro e por isso é o modo
bárbaro que se opõe à ampla necessidade do homem se ter de reger cada vez mais
por lógica com sentido de vida, sob pena de desaparecimento da própria espécie
da face da Terra!
A disfunção capitalista na Rússia
e nos países criados a partir da URSS, injectada a partir da sua implosão e do
fim do socialismo na Europa, está intimamente associada às crescentes tensões
nas placas tectónicas socioculturais da EurÁsia e é o fluido cancerígeno onde
se movem os protagonistas-alvo de contínuos expedientes de desestabilização
do “hegemon”, a começar pela própria Federação Russa.
Alinhar piamente no capitalismo
já está a sair demasiado caro a todos eles e não é com ilusões que se podem
melhor equacionar e defender no concerto das nações e dos povos por que de
facto estão à mercê do génio da barbaridade!
Num concerto dessa natureza é a
China que vai arcar com os quesitos geoestratégicos de estabilidade e
segurança, por que além do mais o grau de equívocos é, pelo seu desencantamento
histórico e antropológico, muito menor…
01- De todos os emergentes do
imenso continente EurÁsia, apenas a República Popular da China indicia estar
vacinada de algum modo contra o vírus do capitalismo selvagem, ainda que
segundo o filtro das regras de “um estado, dois sistemas”!
Para a China seria impossível o
salto que se deu em benefício do seu povo em desagravo colonial e o surgimento
de sua imensa classe média, sem a absorção de tecnologias na escala em que foi
feita, acompanhada pelos investimentos industriais e de serviços de toda a
ordem que surgiram desde o exterior, atraídos por mão-de-obra na altura barata
e por um imenso “mercado em expansão”.
Agora que a China pode já
caminhar por si e assumir-se no relacionamento pacífico para com os outros, os
mecanismos reguladores vão ter de responder mais incisivamente a quem impõe o
capitalismo selvagem que corresponde à própria génese e “diktat” omnipresente
do “hegemon” unipolar, o que se faz sentir também no “mercado” interno
na mão de privados, particularmente quando eles procuram não cumprir com as
regras que o determinam, colocando-se contra as capacidades colectivas.
A capacidade do Partido Comunista
Chinês vai ao ponto de, com base em endógenas culturas milenares que são
filosoficamente respeitadas pelo seu imenso saber acumulado, conseguir reger
soberanamente o “mercado” que não pode ser o capitalismo neoliberal
selvagem que na China o “hegemon” pretendia que fosse.
A absorção de Macau e Hong Kong
inscrevem-se nesses pressupostos e, se Macau foi um assunto relativamente
pacífico, Hong Kong reflecte os poderosos vínculos, agora mais evidentes nos
sistemas financeiros, com cujo eixo mental é todavia ainda próxima daquela do
poder que os britânicos detinham na China, quando desencadearam as duas “guerras
do ópio”.
Neutralizar a bolha de tendência
neoliberal que dá pelo nome de Hong Kong é determinante para que a RPC não caia
na tentação do canto neoliberal selvagem e consiga encontrar formas de dominar
os monstros (eles fluentemente usam a imagem de dragões)!
O “mercado” nestes
termos não é filosofia alguma para além do utilitarismo do “savoir faire” e
por isso não vincula o carácter das instituições, nem modela a ideologia
corrente, aberta à colectividade e ao imenso respeito que o colectivo merece
por razões de identidade, de princípio, de antropologia e de história.
Na China o campo socialista
constrói-se a pulso durante décadas sobre as ruínas coloniais sofridas pelo
povo chinês e o capitalismo tem sido apenas uma alavanca para se acelerar o
processo e para melhor facilitar as acções de relacionamentos com os outros
estados e povos, até por que os relacionamentos comerciais de longa distância
são parte integrante das milenares culturas chinesas!