Artur Cassiano | Diário
de Notícias
Os portugueses elegem hoje, pela
17ª. vez, os deputados na Nação. Onde se vota mais e menos? Que círculos mais
deputados colocam no parlamento? Quanto vale um voto? Qual é o perfil-tipo dos
eleitos e quanto tempo ficam no parlamento? Somos mesmo um país de
abstencionistas ou as contas estão mal feitas? As respostas no DN, no dia de
(quase) todas as decisões.
Para que país devemos olhar,
quando olhamos para a abstenção? Para o do território nacional que teve 45,5%
de não votantes ou para o que inclui os emigrantes e que faz subir a abstenção
[a mais alta de sempre em legislativas] para os 51,43%?
Faz sentido analisar o
comportamento eleitoral como um todo - "o comportamento cívico dos
portugueses" - quando, por exemplo, em 2019 só 10,79% [percentagem que
desde 2009 poucas alterações sofreu] dos emigrantes votou?
Para que país devemos olhar
quando mais de um milhão de "eleitores-fantasma" distorcem a
abstenção em 10%, para a abstenção que fica nos 35,5% do território nacional ou
para os 41,43% com os emigrantes?
Paula do Espírito Santo,
professora auxiliar, no ISCSP, com agregação nas áreas de sociologia política,
sociedade civil e cultura política e métodos de investigação, defende que se
deve "olhar para os valores da abstenção tendo em conta o contexto
demográfico, territorial e cultural da sociedade Portuguesa, um país de
emigração, de diáspora e transculturalmente unido. Ou seja, quando se focam os
valores da abstenção, estes devem ser lidos, não apenas, em termos globais, mas
tendo em conta (também) a territorialidade, sabendo-se que uma parte
significativa da população eleitora portuguesa está no estrangeiro (em torno de
um milhão e meio de eleitores) e que desta parte de eleitores (os emigrantes
portugueses) apenas uma parte residual vota (ex. nas eleições legislativas de
2015 e 2019, com valores de participação eleitoral em torno dos 10%, mesmo
quando se multiplicou este numero de inscritos de 242852 inscritos, em 2015,
para 1468754 inscritos).
A investigadora do ISCSP, avisa,
por isso, que "quando se focam os valores da abstenção eleitoral, as
leituras interpretativas quanto a causas da mesma devem ser mais contidas ao
encontrarem-se respostas na falta de interesse pelo voto por parte dos
eleitores portugueses. A suposta 'falta de interesse' no voto não explica a
abstenção".
"As causas da
abstenção", explica, "devem ser encontradas nos mecanismos de acesso
ao voto por parte da fatia de eleitores que precisamente mais se abstém (e de
que forma se abstém, se considerarmos cerca de 90% de abstenção nas eleições
legislativas de 2015 e 2019)".
Ou seja, considera Paula do
Espírito Santo, "o voto tem dimensões de territorialidade que o explicam e
tornam desigual, e que vistas em valores globais, pode ser falimente mal
interpretada com respostas e causas que encontram na desmobilização dos
eleitores, como um todo, a resposta mais imediata e aparente. Ora, isto é
errado: as explicações superficiais sobre a relação entre desmobilização e
abstenção continuarão a promover a incapacidade de se resolver este problema,
simplesmente porque o problema da abstenção eleitoral que afeta a nossa
democracia está mal diagnosticado".
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