terça-feira, 21 de junho de 2022

Angola | IGUALDADE MORTA E ENTERRADA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os cemitérios em Angola eram espaços para brancos, mestiços e negros assimilados (nem todos…) a maioria negra era enterrada fora dos “campos santos”. Os sobas da minha região tinham direito a monumentos tumulares muito elaborados e os corpos eram quase sempre enterrados na margem dos caminhos em locais muito belos, frescos, arborizados, com passarinhos por todo o lado. No Cacimbo, os túmulos eram envoltos em nuvens de poeira quando as carrinhas passavam nas picadas, carregadas de mabuba. 

No Negage, o cemitério oficial ficava no alto de uma colina, estrada para Camabatela, perto da missão dos padres capuchinhos. É justo dizer que os franciscanos faziam questão de enterrar lá quem era baptizado, fosse qual fosse o tom da pele. Uma revolução num tempo em que os negros só tinham o direito de ser escravizados nas tongas de café e nas granjas do chefe de posto. Era assim há 70 anos, não há séculos. 

O grande cemitério de Luanda ficava entre as traseiras da igreja do Carmo e o largo da Mutamba. Quando esgotou o espaço, o Senado da Câmara decidiu fazer um novo no Alto das Cruzes, nessa época bem fora do casco urbano. Entre o último quartel do Século XIX e 1961, também este cemitério ficou esgotado. A Câmara Municipal de Luanda abriu então o Cemitério de Sant’Ana, mais conhecido por Cemitério Novo.

No Alto das Cruzes ficou o túmulo dos jornalistas Pedro da Paixão Franco, José de Fontes Pereira ou Alfredo Troni. Desde a abertura do Cemitério Novo, no velho só era sepultado quem tinha dinheiro. Depois da Independência Nacional eram lá sepultados os dirigentes. Foi assim em 1977. Os comandantes e altos servidores do Estado assassinados durante o golpe de estado militar, foram sepultados num talhão próprio, ainda que em campa rasa. O regime revolucionário não admitia ostentações nem tiques de novos-ricos.

Um dia recebi em minha casa o sobrinho do comandante Eurico, um dos assassinados a mando, segundo Nito Alves, de José Van-Dúnem e Sita Vales. Veio passar uns dias a Luanda, a cidade onde nasceu ele, seu pai (o meu amigo Komba) e a mãe (minha amiga Teresa Batalha). Ele pediu que o levasse ao Cemitério do Alto das Cruzes para se recolher ante o túmulo do tio. Tivemos um tremendo choque. O talhão das vítimas dos golpistas de 1977 estava desmazelado, descuidado, praticamente abandonado. O lixo cobria as placas dos nomes.

Quando acabámos a visita contactei o meu amigo e camarada António José Maria (General Zé Maria) e ele também ficou chocado. Mas tomou logo medidas. Falou com o General Kopelipa e logo ficou decidido que uma equipa da Casa Militar do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, passava a cuidar dos túmulos dos Heróis assassinados pelos golpistas. 

Alguns anos depois, voltei ao Cemitério do Alto das Cruzes, com o inigualável repórter Pereira Dinis, para procurarmos o túmulo do comandante Arguelles. Ninguém sabia que íamos lá, mas estava florido, limpo, impecável. Os túmulos dos nossos heróis, igualmente. Impecáveis. 

O General Zé Maria ia, sempre que podia, ia ao Alto das Cruzes ver se os túmulos da nossa gente, onde se incluíam os de sua Mãe e irmão, estavam cuidados e limpos, com flores frescas. Angola deve muito a este Herói Nacional. Na primeira fase da Grande Batalha de Luanda foi ele que no Largo do Cazenga, acabou com a resistência das tropas zairenses e da FNLA instaladas na fábrica de borracha. No meio de um tiroteio infernal, quando as coisas estavam difíceis, Zé Maria e outro combatente montaram um morteiro no meio da praça, expostos ao fogo inimigo e depois de três morteiradas, tudo acabou. Estava lá Avelino Soares, mais tarde chefe do estado-maior da Marinha de Guerra. Jornalistas estava um italiano do jornal L’UNITÀ, fundado por António Gramsci, e eu. Devemos a vida ao General Zé Maria.

Mais tarde encontrei-o a comandar as FAPLA na Quibala, pronto a enfrentar o avanço dos invasores sul-africanos. No golpe de estado militar de 27 de Maio de 1977, Onambwe, Kianda, Zé Maria, Higino Carneiro e outros Generais da Liberdade derrotaram os golpistas. Quando a UNITA regressou à guerra, depois do anúncio dos resultados eleitorais, o General Zé Maria teve um papel fundamental na derrota dos novos golpistas que queriam matar a democracia no ovo. Não conseguiram mas mataram centenas de Luandenses.  

No dia seguinte ao funeral, com honras militares, dos assassinos do golpe militar do 27 de Maio, o General Zé Maria foi ao Cemitério do Alto das Cruzes. E constactou que o Governo Provincial de Luanda mandou pintar os lancis dos passeios, os troncos das árvores, limparam bem as veredas e as campas vizinhas ao local onde foram sepultados. Os assassinos tiveram direito a toneladas de flores. No talhão daqueles que eles mandaram matar, tudo sujo, nada de pinturas, nada de limpezas. 

O General Zé Maria chama a Francisco Queiroz o ministro da Injustiça e dos Atentados aos Direitos Humanos. Eu não faria melhor. E diz que a sua comissão perdeu uma oportunidade de ouro, para provar que quer mesmo o perdão e a reconciliação. Os ministros das duas confissões religiosas que participaram nas cerimónias fúnebres, os familiares dos enterrados, o ministro, os generais e demais figuras públicas, depois da cerimónia iam às campas rasas dos comandantes e altos servidores do Estado assassinados, depositavam lá coroas de flores, rezavam, pediam desculpa e perdão. O Governo Provincial antes desta parte, tinha mandado pintar tudo, limpar tudo, embelezar tudo. Nada

Para o ministro da Injustiça e dos Atentados aos Direitos Humanos, heróis são os assassinos. Pedido de desculpas por terem sido derrotados, é só para eles. Pedidos de perdão, só eles têm direito. Os comandantes assassinados estavam do lado dos maus. O ministro das Finanças do Governo da República Popular de Angola estava do lado dos maus. O diplomata Garcia Neto estava do lado dos maus. Hélder Neto, um nacionalista da primeira hora, que respondeu no Processo dos 50, estava do lado dos maus. Todas e todos os que foram assassinados pelos golpistas estavam do lado dos maus. E os seus túmulos estão de novo desprezados e abandonados. 

O ministro da Injustiça e dos Atentados aos Direitos Humanos está-se nas tintas para o perdão e a reconciliação. Para os abraços fraternos. O negócio dele é ossadas e funerais. Espero que estas aventuras não tenham resultados nefastos. Dizem-me que Francisco Queiroz faz o que lhe mandam fazer. Se é verdade, a coisa fica ainda mais feia. Não passa pela cabeça de ninguém entregar uma pasta ministerial a um kaxiko desmiolado.

*Jornalista

Os preparativos do CEM do Reino Unido para combater uma guerra na Europa

#Traduzido em português do Brasil

AndrewKorybko* | One World

A declaração política do chefe do exército britânico (CEM - Chefe do Estado.Maior) de que seu estado insular deve se preparar para lutar uma guerra na Europa visa pré-condicionar as forças armadas e a população que as financia a esperar um destacamento militar sustentado na Europa Central e Oriental. Isso não significa que eles estão destinados a entrar em hostilidades com a Rússia, mas apenas que o objetivo de sua implantação seria funcionar como a cunha geoestratégica que foi explicada, especialmente no cenário dos “Três Grandes” convencendo Kiev a aceitar um cessar-fogo.

O novo chefe do Estado-Maior Britânico, Patrick Sanders , teria afirmado que “Nós somos a geração que deve preparar o Exército para lutar na Europa mais uma vez”, que segue o início da campanha coordenada de gerenciamento de percepção do primeiro-ministro Boris Johnson com o secretário-geral da OTAN Jens Stoltenberg para reunir o Ocidente para apoiar Kiev nos próximos anos. A declaração deste oficial militar é reveladora, pois mostra que o estado insular planeja permanecer uma força anti-russa intrometida a ser reconhecida na Europa Central e Oriental (CEE). Já está em uma nova aliança trilateral com a Polônia e a Ucrânia que Johnson teria proposto expandir no final do mês passado para incluir também os Estados Bálticos.

A dinâmica emergente é que a metade júnior do Eixo Anglo-Americano foi encarregada por seus superiores de dividir e governar a Rússia e a UE, explorando a raivosa russofobia dos membros do leste do bloco para criar uma cunha entre seus “Três Grandes”. – França, Alemanha e Itália – e Moscou para evitar qualquer possível reaproximação futura entre eles. Essas três grandes potências da Europa Ocidental acabaram de despachar seus primeiros-ministros para Kiev na semana passada, período durante o qual se especulou que eles lançaram uma proposta de cessar-fogo . Seus interesses, ao contrário de seus pares da CEE e do Reino Unido, residem em diminuir a escalada do conflito ucraniano o mais rápido possível para colonizar economicamente esse país.

Para explicar, eles se inspiraram na proposta que Zelensky compartilhou durante a Cúpula de Davos do mês passado “para assumir o patrocínio de uma determinada região da Ucrânia, cidade, comunidade ou indústria”, o que seria muito perigoso e com risco de perda enquanto os combates continuou. É por isso que eles estão trabalhando duro para pressioná-lo a ceder território à Rússia, para que possam começar imediatamente a trabalhar nas partes mais lucrativas de seu país. Por outro lado, a região da CEE liderada pela Polônia e seu novo aliado britânico querem perpetuar indefinidamente a guerra por procuração da OTAN contra a Rússia através da Ucrânia , enquanto os tomadores de decisão americanos parecem estar em dúvida sobre qual resultado é mais vantajoso para eles.

Por um lado, uma guerra perpétua por procuração poderia atrofiar os recursos russos e sustentar a hegemonia unipolar recentemente restaurada dos EUA sobre a Europa em uma base anti-Rússia, mas também poderia sair pela culatra ao colapsar as economias de seus procuradores, ampliando as já emergentes divisões entre eles. o conflito (por exemplo, os "Três Grandes" vs. Reino Unido-CEE) e confundir o Ocidente liderado pelos EUA na Europa, em vez de se concentrar mais em "conter" a China na Ásia. Um possível “compromisso” entre essas grandes visões estratégicas é que os EUA apoiem a redução gradual do conflito ucraniano à luz da impossibilidade cada vez mais óbvia da vitória de Kiev, mas garantam que o Reino Unido continue alimentando as tensões UE-Rússia indefinidamente.

Na prática, isso poderia assumir a forma de apoio à convergência entre a “ Iniciativa dos Três Mares ” liderada pela Polônia (3SI, com seu núcleo sendo o “ Triângulo de Lublin ” que compreende a recém- de facto Confederação Polonesa - Ucraniana e Lituânia) e o Reino Unido planos de aliança regional como uma cunha estrutural entre a Rússia e os “Três Grandes” (França, Alemanha e Itália). Isso poderia, por sua vez, manter algumas diferenças intransponíveis entre eles (ou seja, geopolíticas, geoeconômicas e militares), de modo a evitar perpetuamente qualquer reaproximação significativa no futuro que poderia erodir a hegemonia recentemente restaurada dos EUA sobre o bloco.

Com isso em mente, a declaração de política do chefe do exército britânico de que seu estado insular deve se preparar para lutar uma guerra na Europa faz mais sentido, pois visa pré-condicionar as forças armadas e a população que os financia a esperar uma implantação militar sustentada na CEE. Isso não significa que eles estão destinados a entrar em hostilidades com a Rússia, mas apenas que o objetivo de sua implantação seria funcionar como a cunha geoestratégica que foi explicada, especialmente no cenário dos “Três Grandes” convencendo Kiev a aceitar um cessar-fogo. Caso isso aconteça, os EUA encarregariam o Reino Unido de dividir a Europa Ocidental e a Rússia via CEE, para que os EUA pudessem se concentrar novamente em “conter” a China.

*Andrew Korybko -- analista político americano

ASSIM VAI A GUERRA NA UCRÂNIA…

Rússia está a provocar uma "destruição catastrófica" em Lysychansk. Mais de 1.500 civis detidos em prisões russas, denuncia Kiev

Os combates intensificam-se na região de Lugansk, com a vice-ministra da Defesa ucraniana a admitir que a situação "é extremamente difícil". O presidente da Ucrânia voltou a pedir aos países do Ocidente mais armas para repelir ofensiva russa. "É uma questão de vida ou morte", reiterou.

As forças russas estão a provocar uma "destruição catastrófica" em Lysychansk, a oeste de Severodonetsk, no leste da Ucrânia, afirmou esta terça-feira o governador da região de Lugansk, Serguei Gaiday.

"Há combates na zona industrial de Severodonetsk e uma destruição catastrófica em Lysychansk", afirmou Gaiday numa mensagem divulgada pela rede social Telegram.

"As últimas 24 horas foram difíceis" para as forças ucranianas, acrescentou.

"Os russos querem conquistar totalmente a região de Lugansk até 26 de junho", disse o governador, referindo que as forças de Moscovo não vão conseguir atingir o objetivo em apenas cinco dias.

AFP

Moscovo deverá convocar embaixador da UE

Em causa está o bloqueio parcial da Lituânia ao trânsito de mercadorias para Kaliningrado. A Rússia exige o "levantamento imediato destas restrições", fez saber o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo numa declaração citada pela agência espanhola EFE.

As autoridades lituanas restringiram, desde sábado, o trânsito ferroviário através do seu território para Kaliningrado no âmbito das sanções impostas pela UE à Rússia.

Kremlin disse que a decisão da Lituânia é ilegal e ameaçou responder com medidas em defesa dos "interesses nacionais".

Perante esta situação, Moscovo deverá convocar esta terça-feira o embaixador da UE, Markus Ederer, informou o governador de Kaliningrado, Anton Alikhanov.

Mais de 1.500 civis ucranianos estão detidos em prisões russas, denuncia Kiev

A vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, afirmou na segunda-feira que "mais de 1.500 civis ucranianos encontram-se detidos em prisões russas" nas regiões de Rostov e Kursk, de acordo com o The Guardian.

Aos jornalistas, a vice-primeira-ministra detalhou que estes civis "estão detidos como prisioneiros de guerra, embora não o sejam".

"Devem ser libertados", declarou durante a conferência de imprensa.

Canais russos de televisão chegam a Kherson, diz exército russo

O exército russo anunciou esta terça-feira que toda a região de Kherson, atualmente controlada pela Rússia no sul da Ucrânia, tem já acesso "gratuito" a canais de televisão russos.

"Especialistas das unidades de transmissão das Forças Armadas russas ligaram e reconfiguraram, para transmitir canais russos, o último dos sete transmissores de televisão na região de Kherson", disse o Ministério da Defesa russo em comunicado.

O comunicado referiu que cerca de um milhão de habitantes da região têm agora acesso "gratuito" aos principais canais russos, em particular os do grupo público VGTRK, cujas notícias refletem de forma fiel a visão do Kremlin.

Lusa

Rússia quer controlar toda a região de Lugansk até domingo, diz Kiev

A vice-ministra da Defesa ucraniana afirmou que o Kremlin ordenou aos militares russos que conquistassem toda a região de Lugansk, no leste da Ucrânia, até domingo.

Em comentários transmitidos pela televisão ucraniana, Hanna Maliar disse que, "sem exagero, batalhas decisivas estão a ocorrer" na região, onde as forças da Ucrânia estão a tentar evitar serem cercadas, apesar de as tropas russas a controlarem cerca de 95% de Lugansk, foco da ofensiva russa nas últimas semanas.

"Devemos entender que o inimigo tem uma vantagem em termos de pessoal e de armas. Então a situação é extremamente difícil. E neste exato momento essas batalhas decisivas estão em andamento na intensidade máxima", acrescentou.

Por seu lado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, voltou a pedir mais armas aos países ocidentais para repelir o ataque russo.

"Precisamos de apoio, precisamos de armamento, armas que tenham melhores capacidades do que as armas russas", disse, numa intervenção, por videoconferência, num fórum organizado pelo grupo de reflexão geopolítica ISPI, em Milão.

"Esta é uma questão de vida ou morte", reiterou.

O governador de Lugansk, Sergey Gaidai, disse à agência Associated Press (AP) que os combates mais ferozes decorrem em aldeias nos arredores de Severodonetsk e Lysychansk, duas cidades da região que ainda não foram capturadas pelos russos.

Também os bombardeamentos e ataques aéreos russos nas zonas industriais em redor de Severodonetsk se intensificaram, disse.

Gaidai disse que a situação em Severodonetsk era "muito difícil", com as forças ucranianas a manter o controle sobre apenas uma área: o complexo químico de Azot, onde vários combatentes ucranianos, juntamente com cerca de 500 civis, estão abrigados.

Os russos continuam a enviar tropas e equipamentos adicionais para área, disse.

"É um inferno lá. Tudo está envolto em fogo, os bombardeamentos não param nem por uma hora", disse Gaidai.

Lusa

Susete Henriques | Diário de Notícias | Imagem: © EPA/SERGEY KOZLOV

EUA | De Watergate a Trump e Biden, 50 anos recitando liberdade e democracia

#Traduzido em português do Brasil

Biden é alvo de ansiedade, revolta e revolta causadas pelo desemprego de 8,6%, mas sobretudo pelos altos preços, principalmente dos alimentos.

Aram Aharonian*  | Rebelión

O assalto ao Capitólio dos EUA perpetrado em 6 de janeiro de 2021 por uma multidão incitada pelo ex-presidente Donald Trump foi o culminar de uma tentativa de golpe no centro da qual o magnata estava, com o fim da eleição presidencial. Um golpe semelhante a qualquer outro ocorrido na América Latina nas últimas décadas; eles foram programados da Casa Branca.

Uma estratégia para subverter a eleição levou a outra que culminou em um violento ataque à democracia, disse o presidente do comitê da Câmara dos EUA, Bennie Thompson. Mas esse declínio começou há pelo menos cinco décadas.

Os Estados Unidos comemoram o 50º aniversário da invasão de Watergate em 17 de junho. O escândalo que tomou a nação de assalto e forçou a renúncia de um presidente é ensinado nas escolas como um capítulo sombrio da história. No entanto, é mais do que isso. Seus legados ignominiosos moldaram a conduta política e as atitudes públicas em relação ao governo desde então. 

A lacuna nos registros oficiais das sete horas de comunicação do presidente Trump em 6 de janeiro de 2021, dia do ataque ao Capitólio, e que deve ser mantida por lei, lembra a famosa lacuna nas fitas de gravação das conversas telefônicas presidenciais em o caso Watergate, que terminou com a queda de Richard Nixon.

Watergate, juntamente com a Guerra do Vietnã, marcou uma linha divisória entre o velho e o novo, inaugurando uma mudança no cenário da política e da vida pública: de um período em que os americanos confiavam em seu governo a um período em que essa confiança foi quebrada e nunca realmente restaurado. .

Quase um ano e meio depois do que foi considerado o maior ataque à democracia na história recente dos Estados Unidos, um dos aspectos mais preocupantes é que até hoje o Partido Republicano continua cerrando fileiras quase por unanimidade, senão para apoiar o ocorrido, sim para garantir que o ex-presidente, seus assessores e cúmplices mais próximos permaneçam em completa impunidade, apesar de todas as evidências de que Trump é o principal responsável pelo que aconteceu.

Ele construiu e sustentou por meses uma narrativa de fraude eleitoral desprovida de qualquer evidência, e depois incitou seus seguidores a irem a Washington no dia em que o procedimento deveria ser concluído para certificar a vitória de Joe Biden nas urnas. E como corolário, ele se recusou a enviar a Guarda Nacional para controlar a turba quando ela já estava fora de controle. 

Enquanto isso, o fanatismo das armas continuou a crescer. O porte de armas é o conceito de liberdade de quem sofre de uma paranóia que não lhe permite ser livre e a impõe aos outros em nome da liberdade com consequências trágicas, diz Jorge Majfud. Quarenta mil pessoas morrem a cada ano devido à violência armada. 

Não é por acaso que os assassinatos costumam ser motivados contra “raças inferiores”, já que essa obsessão está no DNA da história deste país, acrescenta. É que negros, asiáticos ou "hispânicos" não massacram brancos por ódio.  A escravidão se expandiu em nome da Lei, Ordem e Liberdade. A terceira estrofe do hino nacional escrito em 1814 por Francis Scott Key proclama: "Nenhum abrigo pode salvar o mercenário e o escravo do terror da fuga, da sombra da sepultura". Um homem.

O otimismo econômico  acabou

O otimismo econômico acabou. Acabou , diz Kevin Dugan, colunista econômico do  suplemento Intelligencer , alarmado com o fato de que na última sexta-feira os Estados Unidos entraram em choque, quando o Departamento do Trabalho divulgou a taxa de inflação de maio, a mais alta desde 1981, enquanto sabia que o consumidor a confiança despencou no início de junho, destacando a ameaça de estagflação.

Até mesmo o mercado de títulos dos EUA está passando por seu pior ano desde 1977. Uma onda de aversão ao risco atingiu os mercados financeiros globais em meados de junho, em meio a crescentes temores de uma recessão econômica nos EUA e de um banco central mais restritivo para atacar a inflação.

Como a secretária do Tesouro Yanet Yellen e o presidente do Federal Reserve (Banco Central) Jerome Powell podem estar tão errados, pergunta o analista James Surowiecki no  The Atlantic . 

Para analistas, o problema não está tanto nos planos de estímulo pós-pandemia implementados pelas principais potências do planeta em 2021, seguindo as recomendações do Fundo Monetário Internacional (FMI), que foram acompanhadas da exigência de austeridade no caso dos países subdesenvolvidos. 

Em vez disso, a causa seria o que a especialista Tsvetana Paraskova chamou em Oil Price, o principal site de informações sobre energia, "a maior reorganização dos fluxos de petróleo desde a década de 1970".

A questão que também é abordada pela influente revista  Foreign Affairs,  com a pena de dois pesos pesados ​​da área, o atual reitor da  Columbia Climate School  e ex-assessor do presidente Obama, Jason Bordoff, juntamente com o chefe da Energy Geopolitics em Harvard Kennedy School e ex-assessora de Bush Jr., Meghan O'Sullivan, e aborda as principais mudanças no mercado mundial devido à guerra na Ucrânia e diagnostica a intervenção decisiva dos Estados no setor energético. 

Janet Yellen, fez algo inusitado em Washington: ela admitiu que havia cometido um erro: em entrevista à CNN ela falou sobre suas previsões no ano passado de que os preços permaneceriam sob controle: “Eu estava errada então sobre o caminho que a inflação tomaria” .

Quando os críticos apontaram em março do ano passado que o plano de estímulo de US$ 1,9 trilhão financiado pela dívida do governo Biden iria superaquecer a economia, Yellen chamou o risco de inflação de "pequeno" e "administrável". "Não, não prevejo que a inflação será um problema." Powell também acreditava que a inflação seria transitória e, quando ultrapassasse 6%, o Fed mantinha as taxas de juros próximas de zero (até março de 2022).

Mas eis que a inflação em maio foi de 8,6%, talvez o maior problema enfrentado pelo governo Biden: os preços altos superam praticamente tudo o mais sobre a economia dos EUA. A taxa de desemprego é baixa (3,6%) e o Departamento do Trabalho anunciou que havia acrescentado mais 390 mil empregos no mês passado. 

Yellen e Powell, sem surpresa, enfrentaram uma enxurrada de críticas por sua incapacidade de manter a inflação sob controle. Eles estavam errados? A verdade é que estavam a travar a última guerra, a Grande Recessão Económica de 2008-2009 e após esses dois anos um crescimento muito lento da economia: de 2009 a 2016, o crescimento do PIB foi em média de dois por cento ao ano e o desemprego, que atingiu o pico de 11% em outubro de 2009, ainda estava acima de 7% quatro anos depois.

Os salários médios aumentaram muito lentamente nesse período, o que significava isso. dezenas de milhões de americanos viveram – pelo menos – cinco anos miseráveis. Os democratas aprovaram um plano de estímulo de US$ 787 bilhões, então o maior pacote já promulgado, e o banco central cortou as taxas de juros para quase zero, quando Ben Bernanke comandava o Fed.

As medidas impediram que a Grande Recessão se transformasse em outra Grande Depressão, mas foi somente em 2016 que a economia realmente decolou. Quando Biden assumiu o cargo em janeiro de 2021, o desemprego estava em 6,3% e a economia perdeu empregos, aumentando os temores de uma repetição da recuperação pós-2009, com milhões desempregados nos anos seguintes.

Para os analistas, a afirmação de que o pacote de estímulo foi maior do que o necessário, ou pelo menos poderia ter sido mais bem direcionado, parece indiscutível, mas igualmente verdade que provavelmente representa apenas uma fração da taxa atual de inflação. Afinal, a Europa fez muito menos estímulo fiscal do que os EUA, mas a inflação dentro da União Européia agora está alta.

Segundo dados oficiais, a economia dos EUA criou cerca de nove milhões de empregos desde janeiro de 2021. Mas Biden é alvo de ansiedade, raiva e revolta causadas pelo desemprego de 8,6%, mas sobretudo pelos altos preços, especialmente dos alimentos.

Crianças de Gaza estão sofrendo: a vergonha de Trudeau é a vergonha do Canadá

#Traduzido em português do Brasil

Enquanto o bloqueio brutal em Gaza completa 15 anos, o primeiro-ministro do Canadá ainda se recusa a cumprir sua promessa de ajudar crianças palestinas necessitadas

AndréMitrovica* | Al Jazeera

Renegar a promessa de ajudar crianças que precisam de ajuda é uma mancha duradoura no nome e no caráter de qualquer pessoa – qualquer que seja sua denominação ou posição.

Foi isso que o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, fez com as crianças danificadas de Gaza – vítimas das incessantes perversões israelenses, invasões e um longo e esmagador bloqueio que, este mês, completa 15 anos.

Trudeau abandonou uma promessa que fez por escrito há vários anos – se esse primeiro-ministro fraudulento ainda se lembra de ter escrito – de apoiar e saudar os canadenses que queriam ajudar a curar as crianças feridas de Gaza no Canadá.

Pior, ele traiu os hospitais, médicos, enfermeiros e outros canadenses gentis que se ofereceram para se juntar ao candidato canadense/palestino ao Prêmio Nobel da Paz, Dr Izzeldin Abuelaish, em sua tentativa de levar apenas 100 crianças palestinas feridas e traumatizadas ao Canadá para os cuidados eles precisam.

A necessidade ainda urgente desse cuidado ainda necessário ficou clara em um relatório de prisão divulgado no início desta semana pelo grupo de defesa Save the Children, que descobriu que quatro em cada cinco crianças em Gaza estão assediadas por pânico, ansiedade e pavor.

Eles não podem dormir. Eles não podem se concentrar. Eles são dominados pela tristeza e tristeza. Eles se preocupam, esperam, observam e ouvem um estado de apartheid fazer o que inevitavelmente faz: lançar mais bombas, disparar mais balas, liberar mais drones, invadir mais casas, destruir e desfigurar mais vidas enquanto usa força, medo e ameaças para barrar crianças, mulheres e homens e as coisas da vida de entrar ou sair de Gaza.

O relatório diz que quase todas as 800.000 crianças que dormem em Gaza fazem xixi na cama. Pesadelos revisitando casas, escolas e entes queridos desaparecidos em um instante são igualmente comuns. Mais da metade sofre do que é conhecido como “mutismo reativo”: quando o choque e o trauma se traduzem em abstinência, uma dormência e silêncio em branco.

Outras crianças sofrem feridas graves não apenas na mente e no espírito, mas também no corpo. Rostos e figuras marcadas. Membros perdidos. Olhos perdidos. Perdeu a independência. Esperança perdida.

É uma história antiga e desumana que a Save the Children diz que continua piorando ano após ano, invasão após invasão. Infelizmente, o relatório não perfurou a consciência repentinamente igualitária dos editores de notícias ocidentais que, previsivelmente, permanecem fixados no destino e no futuro dos ucranianos. Veja, as crianças palestinas são “enterradas” de várias maneiras.

Implacável, o Dr. Abuelaish está determinado a aliviar as crianças palestinas de sua perda, dor e fardos cruéis porque ele e seus filhos conhecem e viveram a mesma perda, dor e fardos cruéis.

Seu horror aconteceu em 16 de janeiro de 2009.

Angola | SOMBRAS E AMEAÇAS À FESTA DAS ELEIÇÕES – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A festa das eleições já começou e os eleitores mostram a sua alegria por, mais uma vez, poderem escolher quem vai dirigir os destinos de Angola nos próximos cinco anos. A festa tem luz, colorido, muita imaginação e o brilho único, inapagável do fabuloso Mosaico Cultural Angolano. Em Camacupa até as Mais Velhas rufam o tambor. Em Luanda é a dança trepidante em honra da obra feita e em saudação ao muito que ainda falta fazer. Em Cabinda é o colorido que envolve o mundo em ondas de vida que se libertam do Maiombe. Em Benguela é o ritimo do vento nas casuarinas da Praia Morena. No Cuando Cubango a altivez de quem foi capaz de destruir o regime racista da África do Sul. No Lucala a vida envolvida em magia. No Dundo o brilho da tradição. Aí está a festa. A nossa festa da democracia.

Ninguém tem mais vontade de entrar na festa do que os militantes e votantes no MPLA. A festa só existe porque o MPLA pegou na batuta e regeu a orquestra da luta de libertação, desde os anos 50, até hoje. O maestro é nosso. Os instrumentos foram criados e construídos por nós. A música foi composta por nós. A dança é nossa. A alegria é de todos, mesmo os que não querem entrar na festa ou detestam a alegria do Povo Angolano, os êxitos do Povo Angolano, as conquitas do Povo Angolano, sob a bandeira do MPLA.

Onofre Martins dos Santos é meu Mais Velho do Liceu Salvador Correia. Quando estava no segundo ciclo ele era finalista. Depois foi para o Puto e de lá voltou com o curso de Direito. Ao contrário de outros, que nunca mais regressaram e tanta falta nos faziam. Depois do 25 de Abril aderiu à FNLA. Foi colaborador muito próximo de Holden Roberto. Desencantou-se com a política e fez a sua vida. Todos sabem que a ele se deve o êxito das primeiras eleições multipartidárias, em 1992. Especializou-se nas técnicas eleitorais e hoje é uma autoridade mundial na matéria. É público que foi juiz do Tribunal Constitucional onde se jubilou. Quase todas e todos sabem que é escritor. Um grande escritor. Quando me sair o euromilhões vou publicar a sua obra completa e distribuí-la grátis pelas escolas angolanas. Fica a promessa!

Ele entrou na festa das eleições à sua maneira, com inteligência, dedicação, partilha, espírito solidário, patriotismo. Onofre Martins dos Santos é do tempo em que éramos patriotas e servíamos a Pátria sem apresentarmos a factura ou esperarmos pagamentos, por cima ou por baixo da mesa. Deu uma entrevista ao Novo Jornal notabilíssima, que devia ser profusamente distribuída em todo o país, mas particularmente entre os mentores da Frente Podre da UNITA (FPU). O sistema eleitoral em Angola é bom? Resposta do perito na matéria, Onofre Martins dos Santos: 

“Comporta riscos muito inferiores aos da antiga recolha e tratamentos manuais”. Mas também garante “toda a informação pertinente aos eleitores, tanto à sua inscrição nos cadernos eleitorais, como no apuramento dos votos. Hoje, por exemplo, todos usamos o telefone portátil de última geração e já não aceitaríamos comunicar de outro modo. Em alguns países com menos recursos do que Angola ainda se faz o recenseamento manual dos eleitores e publicam-se as listas com os nomes nas paredes”.

A festa da democracia é nossa, tem de ser bonita, não pode ser ensombrada com ataques traiçoeiros, falsos, mentirosos. A verdade está  nas nossas mãos, no voto que depositamos nas urnas. Por isso, diz Onofre Martins dos Santos: “Angola já usa processos avançados de registo e de comunicação rápida desde 1992, sendo dos países que despendem verbas altíssimas para garantir essa qualidade do processo eleitoral (…) Hoje ninguém pode dispensar os meios electrónicos na execução do processo eleitoral. Mas como tudo se aprende, é preciso explicar muito bem aos actores políticos e aos líderes sociais o funcionamento dessas inovações que são introduzidas para melhorar a eficácia e a eficiência dos processos eleitorais e não para enganar, como muitas vezes somos induzidos a pensar”.

Por favor, ofereçam o texto integral desta entrevista aos mentores da Frente Podre da UNITA (FPU). Pode ser que o seu conteúdo ilumine aqueles espíritos fechados que sendo fraudes humanas, pensam que tudo é uma fraude. Mas Angola não é uma fraude. Custou o sangue e as vidas de milhões de angolanas e angolanos, para ganharmos o direito à grande festa da democracia. O que leva políticos que deviam ser verdadeiros, honestos e responsáveis, a recorrerem ao falso argumento da fraude eleitoral? Responde Onofre Martins dos Santos, uma autoridade mundial em questões eleitorais: 

“Eu insisto sempre na importância dos delegados de lista não porque espere que eles detectem irregularidades e fraudes nos actos eleitorais, mas para que as pessoas tenham boas razões para acreditar que não será fácil cometer actos proibidos no processo eleitoral. Se pensarmos nisto, compreenderemos que todas as dúvidas que se levantam contra o material eleitoral e a solução tecnológica de apuramento de votos se desvanecem. Se numa mesa de voto estiver um delegado de lista, ele vai poder verificar, desde a abertura das urnas, que elas estão vazias, vai poder conferir os maços de boletins de voto que vão ser utilizados, pode inspeccionar as cabines de voto e verificar como cada eleitor exerce livremente o seu direito de voto. Vai ainda poder controlar o encerramento da votação, o fecho das urnas, assistir à retirada dos boletins de dentro das urnas e à sua contagem, bem como à elaboração da respectiva acta das operações eleitorais, podendo apresentar reclamações a qualquer momento de todo esse processo. É ainda preciso esclarecer que o delegado de lista da mesa n.º 1 de qualquer assembleia de voto com mais de uma mesa, deve poder acompanhar e verificar a elaboração da respectiva acta-síntese que englobará os dados de todas as mesas de voto de uma assembleia de voto, devendo assiná-la em sinal de concordância com o seu conteúdo e ficando com uma cópia para o seu partido ou coligação”.

Na nossa festa não há fraude! Mas não podemos calar os políticos que são uma fraude. A democracia obriga-nos a conviver com eles. Além desse convívio obrigatório em nome do regime democrático também podemos enviar-lhes esta declaração de Onofre Martins dos Santos:

“O ideal seria que os partidos políticos tivessem um delegado de lista em cada mesa de voto ou, pelo menos, em cada mesa n.º 1 de cada assembleia de voto cujo presidente tem a função de elaborar a acta-síntese dos resultados de todas as mesas de uma assembleia de voto. É aqui que o controlo dos partidos políticos tem todo o seu significado e não junto do Centro de Apuramento Nacional, que é um trabalho electrónico de soma dos resultados de todas as actas-síntese, por círculo provincial e pelo círculo nacional, onde os representantes dos partidos não têm nem podem ter qualquer interferência. Se o apuramento nacional é feito com base nas actas das assembleias de voto, é no conteúdo destas actas que os partidos políticos se devem concentrar.”

Como se resolve esse problema? Onofre Martins dos Santos responde mas faz um alerta: “O recrutamento e a formação de todo este pessoal é sempre muito complexo e custoso e talvez por isso se deixa para a última hora, como se não fosse uma das mais importantes de todo o processo. Não só porque só eles podem reclamar de qualquer irregularidade, como são, no final, portadores da cópia da acta de cada assembleia de voto que vai ser uma parcela dos resultados a processar no Centro Nacional de Apuramento dos Votos”.

Perceberam agora? Os delegados de cada partido são o selo de garantia, a chancela, de todo o processo eleitoral. E se existirem irregularidades, só os delegados devidamente formados e credenciados podem denunciar. Cada delegado fica com a cópia da actas da assembleia de voto. Devidamente assinada. E essa assinatura significa que está tudo certo, tudo legal, tudo confirme as regras. Os dirigentes partidários não podem nem devem interferir. Ainda que façam dessa interferência ilegítima, a essência da sua intervenção política. Onofre Martins dos Santos não deixa passar em branco este aspecto: 

“A experiência de não-aceitação de resultados teve réplicas em 2008, 2012 e 2017. Não tenho a menor dúvida de que se vai repetir em 2022, felizmente sem as consequências dramáticas de 1992 porque as circunstâncias são outras desde os Acordos de Paz. Infelizmente a paz e a estabilidade nunca estão garantidas quando se denunciam fraudes eleitorais desacompanhadas de qualquer prova material, unicamente apoiadas na férrea convicção de que os resultados foram manipulados. Essa convicção pode ser contagiosa e incendiária, razão pela qual todas as dúvidas dos partidos políticos sobre o material eleitoral e a as respectivas soluções logísticas devem ficar esclarecidas pela CNE e com a mais ampla divulgação. Também seria muito conveniente que fosse assumido pelos partidos políticos concorrentes, como princípio basilar de conduta, o compromisso de só denunciar uma fraude eleitoral desde que seja apresentada a respectiva prova material e o comprovativo da reclamação do Delegado de Lista que a tenha verificado”.

É isso mesmo. Mas não está a acontecer nem vai acontecer. A Frente Podre da UNITA (FPU) já começou a ventilar porcaria para cima da festa. A tirar o brilho à nossa alegria, ao nosso compromisso com a democracia. Mas tomem nota desta declaração de Onofre Martins dos Santos:

“Para bem preparar estas eleições de Agosto, o maior desafio continua a ser o recrutamento e a formação do pessoal eleitoral”. A Oposição nada fez. Absolutamente nada. Só lhe interessa a fraude.

A entrevista de Onofre Martins dos Santos ao Novo Jornal devia ter sido publicada no Jornal de Angola, o som emitido pela Rádio Nacional e as imagens mostradas na TPA. Nada disso aconteceu. As pressões sobre os Media públicos funcionam! E tiram brilho à nossa festa.

*Jornalista 

Angola | A CONSTANTE NARRATIVA DA FRAUDE ANTECIPADA

Cândido Bessa* | Jornal de Angola | opinião

A medida que o dia 24 de Agosto se aproxima, intensifica-se a estratégia da vitimização e a narrativa da fraude antecipada. A postura não é nova.

O país encaminha-se para as quintas eleições da história e os discursos políticos da oposição repetem-se. O que já era rotina, desde que foi anunciado o dia das eleições, atingiu o pico na semana passada, com os líderes de cinco partidos a chamarem a imprensa (nacional e estrangeira) para dizer, entre outras coisas, que "Angola vive uma grave crise de legitimidade, credibilidade e confiança social…”. Dá para acreditar? Muitos órgãos de comunicação repetiram a frase. Televisões passaram imagens de quatro elementos, por sinal líderes políticos bem conhecidos, perfilados a ouvirem um quinto a repetir proposições do género.

Durante vários minutos, reclamaram de tudo, até da imprensa que cobria o evento. De propostas necessárias para tornar Angola num país melhor para se viver, nem uma linha. Declarações do género vão em contramão com o reconhecimento de várias entidades mundiais.

Um dia depois da exposição, o país foi aceite para integrar a Iniciativa de Transparência das Indústrias Extractivas (EITI), organismo responsável pela promoção de uma gestão transparente dos recursos de petróleo, gás e outros minerais. Num comunicado, a própria presidente da EITI refere: "ao aderir à iniciativa, Angola compromete-se em nada esconder no que se refere à divulgação de informações ao longo da cadeia de valor da indústria extractiva, desde como os direitos de extracção são concedidos, até como as receitas passam pelo Governo e beneficiam a população”.

Helen Clark destacou que Angola juntou-se à EITI numa conjuntura crítica e que a pandemia da Covid-19, a volatilidade contínua dos preços do petróleo e as preocupações com a segurança energética significam que a governança e a transparência precisam estar no centro das políticas energéticas do país.

Como segundo maior produtor em África e com uma economia fortemente dependente da produção de petróleo e gás, a decisão das autoridades angolanas de se juntar à Iniciativa de Transparência das Indústrias Extractivas, além de corajosa, mostra bem o compromisso assumido desde 2017, quando o actual Governo tomou posse.

Depois de vários anos de estagnação, a economia angolana começa a retomar o caminho do crescimento. Entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM), as agências de rating estimam um crescimento de 3 por cento, pouco acima das previsões do Governo.

O que o país mais precisa é de estabilidade para continuar a crescer. Seja quem for que vença as eleições de 24 de Agosto vai, certamente, encontrar um país mais bem preparado, para continuar a caminhada rumo ao desenvolvimento. Por isso, é preciso preservar a estabilidade alcançada. Todo o esforço deve centrar-se na elevação das nossas conquistas.

A economia depende de investimento nacional e privado e o investidor vive de expectativas sobre o que vai acontecer no futuro. É a lei do mercado. Angola não pode estar à margem, principalmente num momento crucial, que precisa, desesperadamente, atrair investimentos para gerar poupança interna e melhorar a vida da população.

A competição política não nos pode fazer esquecer que somos, primeiramente, angolanos. O político que não sabe ser primeiramente um cidadão não é para levar a sério. E para quem tem dúvidas em se situar no momento de escolher o político sério, o Nobel de Economia Paul Krugman dá uma dica interessante: "a melhor maneira de ajuizar o carácter de um candidato é olhar para o que ele realmente fez e para as medidas que propõe”.

*Director Adjunto

Angola | Carta Fechada a um Militante Desvairado – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Francisco Viana faz-me lembrar o meu avilo Fubu, de Malanje. Conheci-o em 1975 e disparava a sua “AKM” até de costas. Quando nasceu já manejava a arma com mestria. Nunca andou na escola mas também nasceu com a quarta classe, era um intelectual do gatilho. Este empresário de sucesso escreveu uma carta aberta ao presidente do MPLA e assina como revolucionário. Aqui temos uma maka. Porque se é verdade que revolucionário rima com empresário, na economia de mercado, empresário vive do lucro, alimenta-se do sangue, do suor e das lágrimas dos trabalhadores que são explorados, em nome do sucesso do sistema.

O empresário de sucesso, na sua carta, faz afirmações que não são correctas. Outras nem sequer são mentiras, apenas delírios de quem usa e abusa dos paraísos artificiais. Antes que comece a disparar as flechas envenenadas, vou dar uma informação que me parece necessária. Eu sou militante do MPLA, adormecido. A ressonar. Quando entrei na organização, aprendi que os assuntos são tratados dentro do movimento. Jamais na praça pública. O individual submete-se ao colectivo. Portanto, eu nunca escreveria uma carta aberta ao líder do MPLA, mesmo estando em estado catatónico. Mas Francisco Viana é mesmo especial.

Aderiu ao MPLA em finais dos anos 60, na cidade de Argel, tinha apenas oito anos. Uma espécie de Fubu da militância. Meu ex-camarada Francisco Viana, o comandante Hoji ya Henda faleceu no dia 14 de Abril de 1968, em Caripande, Moxico, Leste de Angola. Não foi em Argel. Mas temos uma coisa em comum. José de Carvalho, antes de ser Hoji ya Henda, era um ginasta espantoso. O Dr. Daniel Leite, nosso professor de ginástica, adorava-o. Um dia fui ver os exercícios dos mais velhos no plinto. Fiquei tão entusiasmado que também tentei saltar. Estendi-me ao comprido. José de Carvalho ajudou a levantar-me e pacientemente ensinou-me as técnicas de saltar. Pouco tempo depois juntou-se à guerrilha do MPLA. Francisco, somos almas gémeas!

Francisco Viana, com 16 anos, acabou o curso de comandos das FA PLA. O bêbado da valeta, ainda menor também já era jornalista. Temos em Angola fenómenos assim. Muito precoces, muito prendados, muito anormais.

O empresário de sucesso que agora se desvinculou do MPLA diz que seu Pai, Gentil Viana (Afrique), esteve preso “nas masmorras do MPA”.  Senhor Francisco não quer mudar esta parte? Pela fé de quem sou lhe digo que nunca vi masmorras nas instalações do MPLA, em todo o país. A UNITA esquinada é que tinha masmorras no acampamento militar da Jamba, criado pelos racistas da África do Sul. Em 1975, os nossos militantes capturavam vários elementos dos esquadrões da morte, em combate. Eram levados para o Comando Operacional de Luanda, uma vivenda na Vila Alice. Nada de masmorras.

Caro ex-camarada Francisco Viana. Na sua carta aberta (que devia ser frechada e entregue no seu comité) diz que Gentil Viana, seu Pai, foi torturado e por via das torturas ficou cego. Vou dar-lhe um a informação. Quando contactei o senhor seu Pai, em Lisboa, para me inteirar das suas necessidades financeiras mensais, ele disse-me que sofria de glaucoma ainda nos tempos da República Popular da China. E a doença tinha-se agravado nos últimos anos. O glaucoma é uma doença ocular que leva a uma perda progressiva do campo visual e da visão. 

O meu camarada Arménio Ferreira, médico cardiologista e líder do Órgão Coordenador do MPLA para a Europa arranjou-lhe um dos melhores oftalmologistas de Lisboa. Que o assistiu sempre, sempre, sem descanso. Ordens do chefe Arménio eram para cumprir. Quando abriu a Embaixada de Angola em Lisboa, a estrutura do MPLA foi dissolvida e todos os compromissos assumidos passaram a depender do Embaixador Adriano Sebastião. Que tomou a peito o pedido de Agostinho Neto, para apoiar o camarada Afrique (Gentil Viana). É preciso mentir, ex-camarada? Não use a arma da UNITA, fica-lhe mal. Ainda agora saiu do nosso “EME” e já está a cantar à galo. Aka!

Francisco Viana diz que a Revolta Activa exigia “mais transparência na gestão dos meios do MPLA”. Senhor Francisco Viana, não bebe mais hoje! Não sei por onde andava quando em 1974 foi tornado público o manifesto dessa facção do MPLA, liderada pelo senhor seu Pai. Mas digo-lhe que nessa altura o MPLA tinha menos meios do que eu, que vivia do meu salário de repórter e bebia-o quase todo logo na primeira semana depois do pagamento. 

Um dia, Manuel Pedro Pacavira foi a Brazzaville pedir fundos para a nossa luta em Luanda, agora à luz do dia porque tinha acontecido a Revolução em Portugal. Quando ele voltou a Luanda trazia um saco de pano com 980 escudos em moedas. Os nossos camaradas do “bureau” cotizaram-se. Nos cofres, nem poeira!

Senhor empresário de sucesso, o MPLA nessa atura só geria os seus militantes. Em Luanda, devo dizer-lhe que todos pagávamos ao movimento e não era pouco. Eu fiz muita cobrança. Também fizemos recuperações de fundos lá onde eles existiam em quantidade. Entregávamos tudo ao camarada Rita que tinha unhas-de-fome. Vocês queriam gerir as moedinhas? A comida que só dava para uma refeição diária? As armas sem munições? As poucas viaturas paradas, porque não havia dinheiro para o combustível? Tenha pena de nós. Alguns arriscaram a vida na recuperação de fundos. Um pouco mais de respeito, por favor.

Francisco Viana exige que o Presidente João Lourenço peça perdão e desculpa às e aos membros da Revolta Activa como pediu aos assassinos do 27 de Maio de 1977. Meu ex-camarada borrou a pintura toda. Não ponha essas e esses camaradas ao nível de vadios, oportunistas e assassinos.

O empresário de sucesso também queria que o MPLA participasse no seu negócio chamado Congresso da Nação. Ainda bem que não participou. Se o fizesse, o ambiente político em Angola ficava nivelado pelo banditismo e o oportunismo. Alternância Democrática não é sermos todos bandidos, oportunistas e chulos. 

*Jornalista

Angola | A LISTA DO FACEBOOK

Tribuna de Angola | opinião

Depois da agitação FPU (que se vê agora bem que foi um engano de marketing) o partido da oposição surge com as suas verdadeiras listas.

São as listas da derrota. Anularam a Unita real e criaram um remendo composto por activistas virtuais histéricos e vira-casacas.

Comprova- se o que sempre dissemos. A falsa sociedade civil não era mais do que uma camuflagem da oposição.

As listas do partido da oposição demonstram duas fragilidades fulcrais. Não têm quadros nem pessoas para governar, só arruaceiros e vira-casacas.

Além disso incorporam gente que se destaca nos apelos à sublevação violenta e insultos gratuitos ao PR.

Com esta lista, o partido da oposição atravessou o rio da constitucionalidade e tornou- se um grupo insurrecional.

Agora sabemos com o que contamos. Não é alternativa, é golpismo.

Leia em Tribuna de Angola:

Salada explosiva 

 Sobre os vira-casacas…

UNITA aponta crime após divulgação de documentos de viagem de Costa Júnior

UNITA acusa as autoridades angolanas de crime após a divulgação, nas redes sociais, de documentos pessoais do seu líder Adalberto Costa Júnior, que viajou para o Dubai. Partido cobra uma investigação por parte da PGR.

A UNITA mostrou-se hoje indignada com a divulgação, nas redes sociais, de documentos pessoais e de viagem do presidente do partido, Adalberto da Costa Júnior, acusando agentes dos Serviços de Emigração ou funcionários do protocolo do Estado de "cumplicidade".

Os documentos -- uma passagem para o Dubai e o passaporte do líder da UNITA -- foram divulgados após terem sido cumpridas as formalidades aeroportuárias, aquando do embarque de Adalberto da Costa Júnior, para uma viagem ao exterior do país, no domingo.

Numa nota do Secretariado Executivo do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA, o maior partido da oposição manifesta, aos angolanos e à comunidade internacional, a sua indignação e mostra-se convicto que o crime "só foi possível com a cumplicidade de agentes dos Serviços de Emigração ou de funcionários do protocolo do Estado, que tiveram acesso aos seus documentos pessoais no Aeroporto 4 de Fevereiro".

Partido cobra punição

Invocando o direito à identidade, à privacidade e à intimidade, garantidos pela Constituição angolana, a UNITA salienta ainda que a legislação angolana diz que a divulgação e o acesso, não autorizados, de dados pessoais transmitidos são punidos com pena de prisão.

A nota salientou que tal constitui crime público cuja queixa não depende do lesado, e a UNITA pede às instituições, sobretudo a Procuradoria-Geral da República que "aja no estrito cumprimento da Lei, exerça o seu papel de titular da ação penal e apresente, no mais curto espaço de tempo, os culpados pela prática deste crime".

Deutsche Welle | Lusa

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