António José Gouveia* | Jornal de Notícias | opinião
Os seis grandes bancos portugueses quase duplicaram os lucros para dois mil milhões de euros nos primeiros nove meses do ano passado e vão bater recordes quando todos fecharem as contas de 2022.
Este dado é, em princípio, positivo tanto para as instituições financeiras quanto para a economia. É que os lucros de hoje são os investimentos potenciais de amanhã, e estes favorecem o emprego.
As perdas desastrosas da crise financeira, com desfecho mais do que conhecido para o BPN, BES, CGD e Banif ficaram para trás, mas com feridas que ainda estamos e estaremos a pagar durante muitos anos. Claro está que a injeção pública custou caro aos portugueses e, sem dúvida, foi a favor das instituições financeiras.
O tema dos lucros dos bancos, batalhas ideológicas à parte, interessa mais quando envolve um ónus excessivo para os clientes e a forma como esses lucros são aplicados. Vamos centrar a discussão no retorno dos lucros. Está única e exclusivamente ao serviço da remuneração dos acionistas e de seus altos executivos, ou é diversificado de forma inteligente e equitativa? Na maioria das vezes, metade desses volumosos lucros vão parar aos bolsos dos acionistas quando podiam ser utilizados para elevar o patamar de solvabilidade, um bem necessário para dias de tempestade semelhantes aos que aconteceram nos anos negros do resgate do país. A banca portuguesa, embora cumpra acima do que lhe é exigido, segundo dados do BCE, não é da mais sólida da Europa.
Por isso, há que questionar a situação abusiva da aplicação das taxas de juro elevadas aos créditos da casa, consumo e empresarial quando a remuneração dos depósitos são um verdadeiro assalto ao cliente, numa altura em que há uma escalada das taxas de juro diretoras. Já para não falar das comissões cobradas. Foram vários os altos responsáveis a chamarem a atenção para este desequilíbrio e poucos ou nenhuns bancários a focarem-se no tema. Se se está a confundir as dificuldades das famílias em pagarem os empréstimos com jantares fora à sexta-feira, está tudo dito. É incluir uns pozinhos de ganância em vez de um lucro responsável e legítimo.
*Editor-Executivo
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