Cristina Figueiredo, editora de política da SIC | Expresso (curto)
Viva. Antes do mais venho
pedir-lhe uma ajuda: aqui no Expresso queremos perceber onde ainda lhe falhamos
e no que podemos melhorar. Se puder, entre por aqui e responda-nos a estas perguntas. Não demora mais
de dois minutos. Obrigada.
Lembro-me como se fosse ontem: estava um dia de sol e, coisa rara, a equipa
inteira da editoria Política do Expresso foi até ao Parlamento ver, ao vivo e a
cores, História a ser feita. Nessa terça-feira, 10 de novembro de 2015, PCP,
PEV e BE juntavam-se ao PS - numa aliança inédita e tão improvável que tivemos
mesmo de ver para crer - e votavam favoravelmente a moção de rejeição ao
programa de Governo de Pedro Passos Coelho. Era o primeiro e decisivo passo que
levaria António Costa, secretário geral do PS - partido que ficara em segundo
lugar nas legislativas de 4 de outubro -, à chefia do Governo. Hoje, exatos
oito anos menos um dia depois, fecha-se simbolicamente esse ciclo, quando Marcelo
Rebelo de Sousa se dirigir ao país, após a reunião do Conselho de Estado (com
início previsto para as 15h00), para anunciar a sua decisão sobre o futuro do
país, agora que Costa se demitiu do cargo de primeiro-ministro.
Apesar de ser prudente aguardar para confirmar, já ontem a meio da tarde era
notícia em todo o lado que a preferência do Presidente da República vai
para a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições antecipadas (para o final de
fevereiro ou o início de março), assim correspondendo à vontade da maioria dos
partidos ouvidos
Isto tudo acontece, é importante não esquecer, porque há uma mega investigação
(que hoje já se sabe ter o nome de Operação Influencer) a decorrer, com
vários arguidos (entre eles o ex-ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, e
o ainda ministro das Infraestruturas, João Galamba) e cinco detidos por suspeitas
de corrupção e tráfico de influências (entre eles o chefe de gabinete do
primeiro-ministro, Vítor Escária, e o melhor amigo de Costa e consultor do
Governo, Diogo Lacerda Machado) que só hoje começarão a ser ouvidos no Tribunal
Central de Instrução Criminal. Ontem à noite a SIC avançou que nas buscas ao
gabinete de Escária foram apreendidos 75.800 euros em numerário. O jornal Observador, por sua
vez, deu conta de mais de 20 escutas telefónicas envolvendo o primeiro-ministro que
foram validadas e se encontram no processo. De que suspeita, afinal, o
Ministério Público? Pode ler um resumo aqui. Já quanto ao processo autónomo que recai
exclusivamente sobre o primeiro-ministro, os socialistas aguardam mais explicações da Procuradora Geral
da República, cujo comportamento criticam… ma non troppo. Até porque,
além de ter acabado com o Governo, a investigação de contornos ainda muito
pouco conhecidos já pôs fim ao sonho europeu de António Costa.
OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO…
A crise política é só areia temporariamente nos olhos de um país com
muitos outros problemas sérios: quase dois terços das famílias que pagam
empréstimo ou renda da casa estão a sentir dificuldades em suportar essas
despesas. E 12% consideram mesmo estar em risco de perder a casa onde vivem,
revela um barómetro sobre habitação da Fundação Francisco Manuel dos
Santos, divulgado esta quinta-feira.
Promete dar que falar esta frase de Pedro Passos Coelho: “O Chega não
é um partido anti-democrático”, afirmou o antigo primeiro-ministro, em resposta a uma aluna
da escola secundária Luís Freitas Branco, em Paço de Arcos, onde foi participar
numa sessão sobre democracia.
Cristiano Ronaldo já é oficialmente um dos proprietários do Correio da
Manhã. A conclusão do negócio foi comunicada esta quarta-feira
à CMVM. O grupo Cofina vai passar a chamar-se Expressão Livre.
“Noite terrível” (escreve a Lídia Paralta Gomes) para o Benfica, que
está fora da Liga de Campeões após ter perdido por 3-1 com o Real Sociedad, na
quarta derrota em quatro jogos. “Merecemos estar fora”, reconheceu o treinador Roger Schmidt.
O Sporting de Braga também perdeu (para o Real Madrid, por 3-0) mas mantém-se em jogo na Liga dos Campeões, ao preservar o
terceiro lugar no grupo C da competição.
…E LÁ FORA
Quase nem demos pela (triste) efeméride, surpreendidos que fomos nesse mesmo
dia pela demissão de António Costa, mas já passou um mês desde que se
reacendeu, e com que violência, o conflito no Médio Oriente. Nas últimas do conflito, Israel assegura que o Hamas
“perdeu o controle” do norte da Faixa de Gaza e o Presidente do Conselho
Europeu, Charles Michel, propõe uma conferência de paz, promovida pela UE,
defendendo a solução de dois Estados. E a propósito, saiba aqui quantos países já reconhecem o Estado da
Palestina e quantos ainda não o fizeram.
Noutra guerra que mesmo antes da nossa crise política interna já tinha passado
para segundo plano, a Rússia está a enviar prisioneiros de guerra ucranianos para as
linhas da frente no seu país, para lutarem ao lado das forças russas
na guerra contra a Ucrânia.
Três entrevistas que vale a pena ler: esta à escritora russa Lyudmila Ulitskaya -
com quem o Expresso se encontrou no festival literário Utopia, em Braga -, que
se refugiou em Berlim após a invasão da Ucrânia; esta ao ex-juiz do Tribunal Constitucional
espanhol Joaquin Urias sobre a politização da justiça - o tema, que
está de regresso em Portugal, há muito que não sai da mesa em Espanha; e esta à escritora italiana (estreante e com apenas 28
anos) Beatrice Salvioni que adverte que “o fascismo não acabou,
está em hibernação”.
FRASES
“Pede-se aos mais altos responsáveis do PS que tudo façam para que haja um
entendimento em torno de uma candidatura à liderança do partido”
Francisco Assis, em tempos
candidato à liderança do PS, em declaração enviada à Lusa após ter almoçado com
Pedro Nuno Santos, mais que provável futuro candidato à sucessão de António
Costa
“Do nosso ponto de vista, e essa é a solução preferencial, é possível no atual
quadro parlamentar prosseguir a experiência governativa”
Carlos César, presidente do PSD, à saída da audiência com Marcelo Rebelo de
Sousa
“[É preciso] cortar o mal pela raiz, iniciar um novo ciclo”
Luís Montenegro, líder do PSD, à saída da audiência com o Presidente da
República
“Em qualquer circunstância, independentemente das exigências que o senhor
Presidente venha a fazer à direita em matéria de Governo, da nossa parte haverá
uma atitude proativa e positiva na construção dessa alternativa”
André Ventura, líder do Chega, à saída da audiência com o Presidente da
República
“As declarações do presidente do Supremo Tribunal de Justiça são declarações de
tasca ou de café”
Manuel Magalhães e Silva, advogado de Diogo Lacerda Machado, sobre o facto de
Henrique Araújo ter afirmado que “a corrupção está instalada em Portugal”
PODCASTS A NÃO PERDER
Fim inesperado para a etapa de Costa. A Comissão Política do Expresso (com moderação de Eunice
Lourenço e os comentários de David Dinis, Vítor Matos e Liliana
Valente) analisou, ainda na terça-feira, a demissão do primeiro-ministro,
que apanhou todo o país de surpresa
Quais são os negócios que levaram à crise política? O que está em causa na
investigação? Perguntas a que o último episódio de Economia dia a dia se propõe responder. Teresa Amaro
Ribeiro fala-nos do hidrogénio, do lítio e do centro de dados
Confessa
O QUE ANDO A LER
“Pátrias - uma história pessoal da Europa” (Temas e Debates), de Timothy
Garton Ash, o professor de Estudos Europeus da Universidade de Oxford e
colunista do diário britânico The Guardian. Originalmente, o autor parte das
suas memórias pessoais (diários, apontamentos, leituras, encontros, viagens)
para escrever não uma autobiografia, mas uma história da Europa (o seu objeto
de estudo de eleição - e de paixão) a partir de 1945 (do fim da II Guerra
Mundial) até aos nossos dias (e à guerra na Ucrânia). Uma boa ajuda para
compreendermos um pouco melhor este continente em que vivemos e este projeto
(que parece cada vez mais utópico) de sermos uma sociedade comum.
Este Curto fica por aqui, 100 anos depois de Adolf Hitler e vários elementos do
Partido Nacional Socialista terem tentado um golpe de Estado para conquistar o
poder na Baviera, no que ficou conhecido como o Putsch de Munique. E 34
anos depois da queda do muro de Berlim. Assim se faz a História: de recuos
que hão-de permitir avanços; de avanços que acabarão por conduzir a novos
recuos. Amanhã (hoje ainda, a partir das 23h00, para os assinantes digitais) há
Expresso nas bancas. A qualquer hora encontra-o aqui. Tenha um dia bom.
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