quarta-feira, 5 de junho de 2024

Angola | Custos da Guerra e Escudos Invisíveis – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As guerras custam muito dinheiro. Tanto, que atiram os povos envolvidos em conflitos armados para a fome e a miséria. Os angolanos sabem isto melhor do que ninguém. Ainda hoje estão a pagar os malefícios da Guerra Colonial (1961-1974), Guerra da Transição (1974-1975), Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial (1976-1988) e a rebelião armada do criminoso de guerra Jonas Savimbi, entre 1992 e 2002. Os Presidentes Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos conseguiram aliviar o Povo Angolano durante as guerras que enfrentou. Só por isso merecem uma estátua que vá da Terra à Lua.

A coligação mais agressiva e reaccionária que alguma vez se formou no planeta submeteu o Povo Angolano a guerras particularmente destrutivas, entre 4 de Fevereiro de 1961 e 22 de Fevereiro de 2002. Milhares de milhões foram gastos para enfrentar as tropas de ocupação, os mercenários, as tropas portuguesas que se opunham à Revolução dos Cravos, os oficiais da CIA, as tropas de Mobutu, as forças de defesa e segurança do regime racista de Pretória. Uma catástrofe humanitária e económica. Os políticos do apartheid sul-africanos sabiam que para submeterem o Povo Angolano, tinham que arrasar a economia angolana. 

No dia 21 de Maio de 1985, o quarto Regimento de Reconhecimento das SADF sul-africanas realizou um ataque contra as instalações petrolíferas da Cabinda Gulf na baía de Malongo. Pela primeira vez o poder naval da África do Sul racista foi derrotado. 

O mito da invencibilidade da máquina de guerra do regime de Pretória foi destruído em Angola. Na Batalha do Cuito Cuanavale, entre Julho de 1987 e Março de 1988, vieram as forças de artilharia, com os canhões de longo alcance “G-5” e “G-6”, e foram rechaçadas. Depois, veio a artilharia auto propulsada, com a introdução dos tanques “Oliphant”, durante as operações “Modular”, “Hooper”, “Packer” e “Displace”. Foi aniquilada no Triângulo do Tumpo.  Na “Operação Reindeer”, que levou ao massacre de Cassinga, em 1978, Pretória introduziu a sua Força Aérea e os paraquedistas. A Força Aérea acabou, em 1988, no Calueque. Na “Operação Argon”, em Cabinda, foi a vez da Marinha provar também o sabor da derrota.

A operação “Argon”, para destruir as fontes de financiamento da guerra, começou com uma operação de reconhecimento, a “Marimba”. Foi a primeira vez que um submarino sul-africano desembarcou operacionais das Forças Especiais a norte do Rio Congo, revelam os relatórios secretos do regime de apartheid. 

O comandante da “Argon” foi o coronel Hannes Venter. O capitão Wynand du Toit comandava a missão de ataque. O capitão Krubert Nel era o seu adjunto. Os outros membros do grupo de ataque eram o sargento Amílcar Queiroz, sargento Adams, os cabos Michael Hough, Gert Engelbrecht, Toby Tablai, Rowland Liebenberg e Louis van Breda. Os grupos de combate indicados para a operação foram compostos pelos sargentos John Haynes, Viljoen e pelos cabos Philip Herbst e J. Pedrito. Os distraídos dizem que nesta época Angola estava em guerra civil. Os karkamanos afinal eram angolanos!

Inicialmente, a operação “Argon”, para destruir as fontes de financiamento da guerra contra os invasores estrangeiros, esteve prevista para Fevereiro de 1985, mas foi adiada para Maio, entre 18 e 22. A marinha sul-africana encarregou o comandante Steve Stead, do navio “Johanna van der Merwe” e o comandante Fred Koetje, do navio “Jim Fouche”, para apoiarem o quarto Regimento de Reconhecimento, com o qual já tinham antes realizado acções de combate. Uma segunda operação foi planificada coincidindo com a “Argon”, para destruir depósitos de combustível no Porto do Lobito, reconstruídos com a ajuda do Governo italiano. Em 1980 foram destruídos durante a “Operação Amazon”. 

O objectivo desta segunda operação, a “Benix”, era “exercer pressão sobre as linhas logísticas militares que apoiavam a guerra no Sul, desviar as atenções da Operação Argon e dar ainda mais credibilidade à UNITA”, está escrito no relatório secreto das forças do regime de Pretória. O quarto Regimento de Reconhecimento foi também o responsável pela condução desta operação “Benix”. 

A autorização para a operação em Cabinda foi dada a 12 de Maio de 1985, pelo governo racista da África do Sul. A 18 de Maio, o navio “Johanna van der Merwe” fez-se à ponta de Malembo, em Cabinda. Aproximou-se do terminal de Tacula, ponto de desembarque para os invasores.

A posição escolhida para o lançamento foi semelhante àquilo que foi planificado durante o reconhecimento, na “Operação Marimba”. Na noite do dia 19 de Maio, um submarino lançou dois barcos insufláveis, às 19h15 de Angola. O grupo de dois homens, constituído pelos sargentos Queiroz e Adam, desembarcou e começou a avançar. Às 22h50, os homens voltaram e relataram que se tinham movido livremente. Estava tudo bem, para eles.

Na noite do dia 20 de Maio, foi realizado o desembarque. O grupo comandado pelo capitão Wynand Du Toit fez a aproximação ao Malongo. O capitão Nel, que comandava o posto de observação, viu  que estava numa situação “difícil”. Havia uma base das FAPLA escondida, a cerca de um quilómetro, e os seus movimentos podiam ser  facilmente identificados. 

Os combates entre os operacionais das SADF e os combatentes das FAPLA começaram às 16h30 do dia 21 de Maio. Os combatentes das FAPLA atingiram o capitão Du Toit com duas balas, uma fracturou o seu braço esquerdo. A outra atingiu-o no ombro direito. “Graças à sua declaração sussurrante, de que era um soldado sul-africano e não um mercenário, e graças à intervenção magnânima do tenente Salvador, comandante da unidade das FAPLA, a vida do capitão Du Toit foi salva”, referem os documentos sul-africanos da “Operação Argon”. 

Com a morte de alguns soldados sul-africanos e a captura do capitão Wynand Du Toit estava infringida mais uma derrota ao regime de apartheid em Angola. No dia seguinte, 22 de Maio de 1985, há 39 anos, o Ministério da Defesa de Angola emitiu um comunicado a declarar que as FAPLA detectaram um “comando” sul-africano que tentava sabotar a instalação de petróleo em Malongo, pertencente à Cabinda Gulf, uma empresa americana.

O petróleo e os diamantes pagaram as guerras. E não chegou. O Povo Angolano foi ajudado por Cuba, URSS (Federação Russa), Jugoslávia, Argélia, vários países africanos e países do Leste da Europa. Nunca nos faltaram combatentes nem armas porque a República Popular de Angola era a trincheira firme da Revolução em África. E nunca nos faltou o apoio de combatentes cubanos no terreno. Mas os nossos inimigos não podem dizer o mesmo.

Os colonialistas portugueses tinham o apoio da OTAN (ou NATO), dos EUA e das grandes potências europeias. Pagaram a guerra com o petróleo de Cabinda e outras riquezas dos angolanos. No início, o serviço militar obrigatório garantia os soldados necessários. Portugal era um país onde grassava o analfabetismo, a miséria e a fome. Os mobilizados aforravam dinheiro durante os dois anos de comissão em Angola. Mas quando em vez do dinheirinho da comissão os soldados começaram a chegar em caixões, tudo mudou. Os jovens portugueses não iam “dar o nome” para a tropa. Fugiam para os países da emigração portuguesa. O 25 de Abril de 18974 era inevitável. As deserções aumentavam de ano para ano.

A Guerra na Ucrânia fica caríssima. Milhares de milhões são enviados aos nazis de Kiev para “sangrarem os russos”. No início não faltavam os combatentes. Milhares de mercenários de várias nacionalidades foram atraídos pelo dinheiro. Os jovens ucranianos também se apresentavam nos postos de recrutamento. Hoje fogem. Os que não fugiram são prisioneiros ou estrão mortos. A Ucrânia quer armas mas não tem militares que as usem. E tantos milhões depois, tantas baixas registadas, os russos não estão sangrados. O ocidente alargado também não destruiu as fontes de financiamento da guerra nem a economia russa. E agora?

Macron quer atacar a Federação Russa. Sholtz quer e não quer. Sunak quer e ataca. O reino Unido está na primeira linha de ataque ao território russo. Polónia e países Bálticos querem a guerra imediatamente. A Finlândia acaba de “autorizar” os nazis de Kiev a usarem as suas armas contra território russo. O Canadá também alinha.

Com as armas e as tropas ocidentais, a rede russa de radares para detecção de ataques nucleares está a ser atacada. Já causaram danos em alguns equipamentos. Os “veículos” que atingiram uma estação de radares foram manejados por britânicos e são fabricados em Portugal, país fundador da OTAN (ou NATO), que tem uma taxa de risco de pobreza elevadíssima, mais de 42 por cento da população. Mesmo assim, o governo português despachou 129 milhões de euros para a Ucrânia. E o ministro da Defesa, um nazi domesticado, diz que as armas do ocidente devem atacar solo russo. 

Eles querem mandar tropas para a Ucrânia, porque acreditam que o desemprego lhes vai garantir mão-de-obra barata. Durante a guerra colonial as famílias portuguesas ainda recebiam os jovens que morriam em Angola nos caixões e mais ou menos compostos. Mas na Ucrânia, muitos que morrem nem a alma lhes fica. Nem dinheiro nem restos. Nada. É para isto que o sistema quer ter sempre em prontidão um exército de pobres e desempregados. 

E se rebentar a guerra nuclear que eles tanto desejam, às tantas só morrem os pobres. Eles devem ter encomendado a Nossa Senhora de Fátima um escudo invisível que os protege das explosões nucleares. Vou converter-me. Amanhã mesmo. Também quero o escudo invisível. Juro emendar-me e nunca mais voltar a pecar. 

Tomem nota. O regime nazi de Israel acabou com o massacre de refugiados numa “zona humanitária” em Rafah. Nem o estado terrorista mais perigoso do mundo lhe vale.

* Jornalista

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