Artur Queiroz*, Luanda
A má-fé de pelo menos dois signatários do Acordo de Alvor, FNLA e UNITA, só se tornou evidente após a tomada de posse do Governo de Transição e do Colégio Presidencial, no dia 31 de Janeiro, 1975. Vamos dar o benefício da dúvida à parte portuguesa. Agiu de boa-fé quase sempre. O alto-comissário que substituiu Silva Cardoso, Almirante Leonel Cardoso, e o comandante das tropas portuguesas, Coronel paraquedista Heitor Almendra, tiveram um comportamento exemplar.
No final de 1974, em Lisboa já era evidente uma clivagem no seio do Movimento das Forças Armadas que culminou com o golpe de estado do 25 de Novembro, 1975. Os Otelistas, sim, agiram sempre de boa-fé. Os Gonçalvistas, igualmente. Mas o Grupo dos Nove, vitorioso, oscilava entre o bom branco Mário Soares e os spinolistas. Uma tragédia que só agora começa a mostrar a verdadeira dimensão.
Uma evidência da má-fé da FNLA e
UNITA está na “Operação Savanah”, desencadeada pelo regime racista de Pretória
A retirada das tropas invasores para a Namíbia começou em 22 de Janeiro de 1976, faz daqui a um ano, meio século. Só terminou a 27 de Março. A invasão silenciosa do Norte, entre Maio de 1974 e Novembro de 1975 levou muitos rurais para Luanda onde impuseram hábitos rústicos que tanto desagradam ao jurista Manuel Rui. A invasão ruidosa no sul pelos racistas de Pretória também enxotou para Luanda muitos rurais. Que horror!
No dia 27 de Março, 1976, Angola ficou livre dos invasores algum tempo. Para a libertação da Pátria concorreram milhares de angolanos em armas: Civis, políticos e militares. Jovens e idosos. Mulheres e adolescentes. Ntó, Kifangondo, Luena e Ebo foram palcos do heroísmo do Povo Angolano.
Antes do arranque da “Operação Savanah” os racistas de Pretória começaram a dar armas e a fornecer instrutores à UNITA, FNLA e ao “Esquadrão Chipenda”. Mas o apoio popular ao MPLA era imenso. Nunca na História Universal uma organização política chegou ao poder com tão grande apoio popular. Em meados de Setembro de 1975 o MPLA controlava todas as principais cidades do país. A África do Sul decidiu tomar “medidas drásticas” e começou a instalar o comando da operação.
O objectivo era impedir que o MPLA chegasse às “áreas de influência” da UNITA (Planalto Central) e FNLA (Norte). O primeiro choque entre os tanques “Panhard” sul-africanos e as FAPLA ocorreu no dia 5 de Outubro de 1975, na cidade do Huambo. A invasão sul-africana deixou de ser secreta e o mundo ficou a saber que um regime pária, submetido a severas sanções pela comunidade internacional, estava a ocupar militarmente Angola. A tal má-fé da UNITA e FNLA quando assinaram o Acordo de Bicesse.
Os portugueses chegaram à foz do
Rio Zaire, Reino do Congo, de boa-fé. Depois descambaram para o esclavagismo, o
colonialismo e o latrocínio. Foi aqui que começou a ocupação de África. Em 1974
e
No Sahel começou o segundo movimento de libertação de África. O primeiro foi nos anos 40 e terminou gloriosamente com a Batalha do Cuito Cuanavele, Dia da Libertação da África Austral. Hoje começou em Paris o segundo ciclo do colonialismo. Pelo seu contributo, João Lourenço foi distinguido com a maior condecoração francesa. O Corredor do Lobito ganha todas as corridas em que participa.
O estado terrorista mais perigoso do mundo avança imparável para a queda. Já tem incêndios na Califórnia ao nível do Terceiro Mundo. A partir do dia 20 de Janeiro é governado por oligarcas, os mais ricos dos ricos, segundo Biden. São tão sanguinários como Hitler, digo eu. Qualquer dia o dólar está ao nível do Franco CFA, zero.
Mais de um ano fui refém israelita. Mais de um ano fui palestino bombardeado. Agora os nazis da Casa dos Brancos e de Telavive brincam comigo, com os meus mortos, os meus companheiros de prisão nas catacumbas. Jamais confundirei os ocupantes com os ocupados. Os resistentes com os nazis genocidas. As vítimas com os carrascos. Mas a Humanidade já não recupera do genocídio em Gaza, que admitiu e apoiou com o seu silêncio conivente.
Quando os portugueses estavam em Angola, durante o colonialismo, a mortandade ia das crianças aos velhos. Aldeias inteiras eram destruídas pelas tropas de ocupação e os seus habitantes torturados e assassinados. A soldadesca decapitava as suas vítimas. Os aviões portugueses ou emprestados pela Rodésia (Zimbabwe) e África do Sul lançavam napalm sobre as populações e bombas de desfolhantes matavam as lavras. Os simpatizantes de jornalismo hoje estrebucham feridos de morte, pela Independência Nacional. Têm saudades do regime salazarista e do seu circo de horrores nas antigas colónias.
Antes da saída dos portugueses de Angola a fome, a miséria e o analfabetismo eram as grandes bandeiras dos ocupantes. A vida dos angolanos valia menos do que as vidas dos animais de estimação dos colonos. As crianças nasciam pobres. E o máximo que conseguiam era crescer na miséria. Mas a esmagadora maioria, morria antes da adolescência.
Os sobreviventes estavam destinados a heróis. Foram eles que derrotaram os colonialistas e derrubaram o império português, para sempre. Hoje hordas fascistas imitam em Lisboa os colonialistas que em Angola assassinaram, torturaram, prenderam em campos de concentração, roubaram a dignidade e a liberdade a um povo que os recebeu de braços abertos. Estão na Assembleia da República aos magotes. No Governo. Nas forças de segurança. Mãos ao ar e encosta à parede!
As hordas fascistas portuguesas regurgitam ódio e peçonha sobre Angola e as suas instituições democráticas. Fingem que em Angola não existe um poder legitimado pelo voto popular. Alinham a voz pelos que, internamente, estiveram sempre contra a Independência Nacional e a Liberdade. Assentaram praça nas fileiras dos nazis de Pretória e integrados nas suas tropas, invadiram o Sul de Angola. Lá permaneceram mais de seis anos. Saíram a correr quando no Triângulo do Tumpo sofreram uma pesada derrota. A Batalha do Cuito Cuanavale mudou a África Austral e o Mundo.
Angola só ficou definitivamente livre e independente no dia 22 de Fevereiro de 2002. Vai fazer 23 anos. Antes foi a guerra dos que assinaram, de má-fé, o Acordo de Alvor. Papagaios da Casa dos Brancos, dos colonialistas de Bruxelas e Lisboa, tomem nota. Os países que dominam a União Europeia levaram séculos a criar. Os EUA já levam 250 anos. Angola vai fazer 50 anos e desses, metade do tempo foi em guerra pela soberania nacional e a integridade territorial.
Angola em 1975 não tinha quadros para gerir Luanda. Ao longo dos anos de guerra, muitos foram embora. Outros morreram. Os jovens foram mobilizados para as forças armadas. Ao longo de três décadas o país só formou militares. Excelentes militares. Por isso ganhámos a guerra. Em 23 anos é impossível criar uma massa crítica. É impossível instalar estruturas para investigação científica. Impossível refazer os circuitos de produção e distribuição. É impossível reconstruir todas as estruturas que foram destruídas.
A reconstrução do país tem exigido um gigantesco esforço financeiro e de recursos humanos. Angola até 2002 era um país destruído pela guerra. Hoje já ostenta marcas muito visíveis da reconstrução. Houve avanços indesmentíveis no campo social e económico. Milhões de crianças têm hoje escola e cuidados de saúde. São a maior riqueza de um país que foi desmantelado durante décadas. Ainda está destruído. A má-fé triunfou.
* Jornalista
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