quinta-feira, 3 de abril de 2025

Angola | Paz Incondicional da Capoeira – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

Abril é o mês da Juventude, da Paz mas também da Reconciliação Nacional. A UNITA aproveita para submeter à Assembleia Nacional, um “projecto de resolução” para exigir “o fim imediato e incondicional, das hostilidades militares em Cabinda, o início imediato das negociações de paz entre o Governo de Angola e os movimentos independentistas”. O anúncio foi feito em conferência de imprensa pelo líder da bancada parlamentar do Galo Negro, Liberty Chiyaka.

 Para Liberty Chiyaka “há um problema político e histórico em Cabinda”. Por isso os deputados da UNITA querem “o fim imediato e incondicional, das hostilidades militares em Cabinda”. O deputado é ao mesmo tempo líder dos parlamentares do Galo Negro e porta-voz dos terroristas da FLEC, hoje braço armado da UNITA.

Este Chiyaka está sentado em duas cadeiras ao mesmo tempo. Donde chove mais dinheiro? Seguramente do lado petrolífero. A UNITA, pela voz do seu presidente do Grupo Parlamentar também constactou que  “os cidadãos de Cabinda são maltratados por estrangeiros”. Deve estar a referir-se ao congolês de Ponta Negra, Raul Tati. Ou aos karkamanos do Galo Negro que juraram fidelidade à sinistra Irmandade Africâner de inspiração nazi.

Antes que seja tarde, há que repor a verdade dos factos. Em Cabinda não há problemas históricos e militares. Essa teoria caiu por terra com o Acordo de Alvor. Os delegados de Mobutu e da Casa dos Brancos, FNLA e UNITA, tentaram que a descolonização de Cabinda fosse à parte da descolonização de Angola. Falharam o golpe. A potência colonial (Portugal) deixou claro que o território sempre foi parte da colónia de Angola. Primeiro uma intendência. Depois da extinção do Congo Português um distrito, como todos os outros ainda que na prática fosse propriedade privada de uma “empresa majestática”, a Companhia de Cabinda. Tal como a Lunda era propriedade da Diamang.

Um cheirinho de História. Em 1722 os ingleses ocuparam Cabinda e o rei D. João V reclamou. Como os ocupantes fingiram que não ouviram, ordenou ao capitão general de Angola, José Semedo Maia, que usasse a força para a expulsão dos invasores. Em 1783 o governo de Lisboa iniciou a construção da Fortaleza de Santa Maria de Cabinda. Ainda em construção, a fortificação foi atacada por tropas francesas sob o comando de Bernarde Marigny. Mais protestos do rei de Portugal. O diferendo acabou com a assinatura da Convenção de 30 de Janeiro de 1786, mediante a qual França reconheceu oficialmente  a soberania portuguesa sobre a costa de Cabinda até Ponta Negra. 

A UNITA tem um primeiro-ministro do seu “governo sombra”. É ele Raul Tati, padre excomungado e alto beneficiário dos negócios feitos à boleia da FLEC. O assombrado chefe da governança galinácea exige uma "reparação moral de Portugal ao povo de Cabinda pelos danos causados com a descolonização”. Também diz que “falta abertura de Luanda ao diálogo para resolver o conflito político no enclave”. 

O primeiro-ministro da UNITA não reconhece a soberania de Angola na província de Cabinda. Chama aos angolanos que ali vivem “povo de Cabinda”. Onde isto chegou. Jonas Savimbi lutou ao lado dos colonialistas portugueses contra a Independência Nacional. Para pagamento prometeram-lhe o lugar de governador do distrito do Moxico. Ele queria governar o Bié ou o Huambo. Ficou a coisa no ar. Após o 25 de Abril 1974, na balcanização de Angola, a UNITA ficava a governar um novo país a sul do rio Cuanza, mas na esfera do regime racista de Pretória. Depois do 11 de Novembro 1975 já bastavam a Savimbi a as províncias do Huambo, Bié e Moxico. Agora a UNITA contenta-se com a província de Cabinda! 

Quem é o padre excomungado Raul Tati, além de primeiro-ministro da UNITA e beneficiário dos negócios da FLEC? O administrador apostólico da diocese de Cabinda, D. Eugénio Dal Corso, bispo de Saurimo, demitiu-o do cargo de vigário-geral, por não querer aceitar como prelado D. Filomeno Vieira Dias. 

D. Eugénio Dal Corso foi agredido em Cabinda por jagunços dos padres da FLEC. Nomeou para o lugar de Raul Tati o sacerdote Alberto Gamboa, ligado à missão de Lândana. O núncio apostólico em Luanda, D. Ângelo Baccio, afirmou que a nomeação de um bispo (D. Filomeno Vieira Dias, não deve ser recusada pelos católicos, mas em Cabinda os anseios autonomistas parecem levar a melhor sobre o que é determinado pelo Papa ou pela Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST). 

A contestação à nomeação de D. Filomeno Vieira Dias atingiu o ponto mais grave quando o então administrador apostólico da diocese, D. Damião Franklin, arcebispo de Luanda e presidente da CEAST, foi vaiado durante a celebração da missa na Sé Catedral de Cabinda. O padre Raul Tati foi o grande impulsionador desta acção. O Vaticano, por decreto papal, proibiu o exercício clerical aos padres Jorge Casimiro Congo, Raul Taty e Alexandre Pambo. Foram afastados de todas as celebrações eucarísticas e a administração de sacramentos segundo os costumes da Igreja Católica Apostólica Romana. Excomungados!

Os padres Raul Tati, Jorge Congo e Alexandre Pambo usaram a sotaina e o altar para fins políticos e ganharem muito dinheiro! O petróleo deles é a FLEC. Ganham mais nas igrejas e capelas do que a Cabinda Golf factura em petróleo. Raul Tati, enquanto vigário geral da diocese de Cabinda, foi acusado de conluio com políticos independentistas e o padre Jorge Casimiro Congo agrediu o bispo D. Eugénio dal Corso, na Paróquia da Imaculada Conceição. 

As autoridades prenderam Raul Tati por crimes contra a segurança do Estado. Tem um excelente currículo para ser o primeiro-ministro do governo sombra da UNITA. Melhor só ressuscitando o Jonas Savimbi. Ma felizmente não há milagres.

O comandante da FLEC Lelo Congo abandonou a organização e foi viver para Cabinda, em paz. No dia 24 de Maio 2012 disse ao Jornal de Angola: “Chegam-me apelos à guerra por parte de intelectuais que enriquecem à custa do sangue dos guerrilheiros que se bateram nas matas. Em Cabinda quem manda é o dinheiro, não é a FLEC Estado do Nzita e a FLEC Enclave do Alexandre Tati”.

E fala assim de Belchior Tati, sócio do padre excomungado Raul Tati: “Ele é professor na Universidade 11 de Novembro. Dono de uma padaria, dono de uma empresa de madeira no Ncuto. É ele que cobra muito dinheiro aos madeireiros da região. Dizem que o dinheiro é para alimentar a guerrilha da FLEC mas nós nunca vimos o dinheiro. Os guerrilheiros passam fome e vivem em grande sofrimento”.

Outro sócio de Raul Tati, Ivo Macaia, é visto assim pelo comandante Lelo Congo: “Este está implicado em acções terroristas contra a população civil. Com dinheiro extorquido pelos padres ao povo, adquiriu explosivos e armamento para fazer um atentado no aeroporto de Cabinda. Ele e o seu grupo recomendam ataques contra mestiços e brancos”

E os padres excomungados comandante Lelo Congo?

Lelo Congo responde: “Os padres excomungados são os maiores violadores dos direitos humanos na província de Cabinda. As organizações que dizem defender os direitos humanos nunca falaram comigo. Aqui lhes deixo um desafio. Venham falar comigo que eu dou-lhes provas irrefutáveis de que Raul Tati e os seus amigos violam gravemente os direito humanos. O padre Raul Tati defende que é preciso mobilizar o povo para a guerra. Ele está a ganhar muito dinheiro. Nos três últimos anos teve o prémio de melhor cliente do banco BAI em Cabinda”. 

Donde vem esse dinheiro?

“Resulta de peditórios dos grupos de oração nas capelas dos bairros. Raul Tati impôs dízimos aos fiéis e eles entregam o dinheiro que os catequistas exigem. Depois depositam milhões na conta do padre excomungado. A contestação a D. Filomeno Vieira Dias foi um truque. Raul Tati e os seus apoiantes há muito que queriam impor na igreja de Cabinda um dízimo arbitrário. Mas nunca conseguiram porque o bispo se opôs. Raul Tati fundou a Lubundunu (União) para sacar dinheiro ao povo sem limites e sem ter de dar satisfações ao bispo! Os catequistas revelaram que todo o dinheiro angariado pela Lubundunu ia para a conta no BAI do padre excomungado Raul Tati. 

O comandante Lelo Congo atirou mais esta bomba: “O padre Raul Tati casou com a médica Maria Carlota, que tirou o curso em Cuba com uma bolsa do Governo. O Raul Tati confessa que perdeu a cabeça e antes de ser excomungado já namorava com a doutora do Hospital de Cabinda. Por isso o catequista Jorge Simba, da capela do Bairro Chiweca, já o abandonou e regressou ao seio da Igreja. 

Este artista, agora com batina de primeiro ministro do Galo Negro, e o grupo parlamentar da UNITA querem “o fim imediato e incondicional, das hostilidades militares em Cabinda”. Incondicional! Eles é que mandam. Pensam que por terem vendido a província de Cabinda a troco de um punhado de votos já põem, dispõem e ordenam. O Savimbi também pensava assim e acabou no Lucusse como um marginal que chocou de frente com o longo braço da Lei.

* Jornalista

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