EL - Lusa
Luanda, 28 jan (Lusa) - As manifestações antigovernamentais em Angola vão continuar, mas a oposição ao regime vai também passar a ser feita em conferências de organização interna, disse hoje à Lusa um dos organizadores do 1º Encontro Provincial da Juventude de Luanda.
"Não vamos descartar as manifestações, mas deixarão de ser só a única ferramenta. Achamos que as manifestações não estavam a dar os frutos que nós pensávamos que poderiam dar", disse Luaty Beirão.
Protagonistas de várias manifestações nas ruas de Luanda, que tiveram como resposta prisões e repressão policial, os organizadores do 1º Encontro Provincial da Juventude de Luanda esperavam maior adesão nos protestos de rua.
"Esperávamos que a população aderisse mais, pelo menos. Ficou a faltar alguma coisa e achamos que devíamos começar a entrar por outros caminhos, fazer coisas que é mais difícil proibir, mais difícil conotar como sendo o regresso a guerra e achamos que sendo este ano de eleições é um ano em que tem de haver consciencialização da juventude", acrescentou Luaty Beirão.
Também conhecido como "Brigadeiro Matafrakus" ou como "Iconoclasta", pela sua atividade como "rapper", Luaty Beirão disse que 2012, ano de eleições gerais em Angola, vai ser "um ano quente".
"Eu gostaria de acreditar que as coisas vão correr bem, mas com os testemunhamos todos no ano passado, a gente acredita mas a realidade mostra outra coisa. Vai ser um ano quente. Já começaram a trabalhar nos bastidores e a proibir certas coisas. Ele estão a fechar tudo o que tenha a ver e que seja reconhecido como crítico, abertamente crítico e que mostre os podres do regime", frisou.
Mais de 100 jovens participaram ao longo de dois dias no 1º Encontro, em que sob o lema "A Juventude e o seu papel na construção da cidadania", foram debatidos temas sobre "a relação entre a Justiça, Constituição e Democracia" e o que foi feito nos 32 anos que o Presidente angolano José Eduardo dos Santos tem estado no poder.
A eleição do Presidente da República por via indireta, a relação entre o movimento contestatário juvenil em Angola e os movimentos do Norte de África, e o papel da juventude angolana "na construção de uma sociedade verdadeiramente democrática", bem como sugestões sobre formas de organização cívica, foram outros temas debatidos.
As conclusões e recomendações aprovadas apontam para a continuidade de manifestações antigovernamentais e reforço dos esforços de consciencialização da juventude na fiscalização dos atos Governo.
No último dia de trabalhos, Filomeno Vieira Dias, secretário-geral do Bloco Democrático (BD), incentivou os participantes ao "envolvimento social e político, sempre à lusa da Constituição da República".
No final, em declarações à Lusa, Filomeno Vieira Dias considerou que iniciativas como a do 1º Encontro "reforça a corrente democrática no país".
"Reforça este combate que se tem feito para que haja um verdadeiro Estado de Direito em Angola, para que o regime estabelecido não continue com práticas monopartidaristas e se possa rejuvenescer a sociedade com maiores níveis de liberdade e de democracia", considerou.
O secretário-geral do BD adiantou que são iniciativas como o 1º Encontro que contribuem para que, face à "estratégia de confronto" que imputa ao regime, "o movimento social vai reagir muito duramente contra uma fraude eleitoral".
O 1º Encontro decorreu num espaço cedido à última hora pelo jornalista William Tonet, face à recusa dos proprietários do local originalmente considerado terem invocado "prejuízos políticos e económicos" para recusarem a cedência.
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