quinta-feira, 18 de julho de 2013

APAGANDO OS SINAIS



Martinho Júnior, Luanda

…“Na maior parte dos casos ficaram votados ao esquecimento pela circunstância de este relatório ter sido asfixiado pelos atentados de 2001. Digamos que esses atentados e o Sr. Bin Laden não só mataram inocentes, não só tornaram o mundo menos saudável - hoje há uma fobia securitária que limita a liberdade dos cidadãos, como também aniquilaram o meu relatório. Ele também foi vítima dos atentados. [Risos.]”… – Entrevista de Joana Azevedo Viana ao Eurodeputado Carlos Coelho, sobre o ECHELON-NSA (publicado no jornal I e no Página Global – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/carlos-coelho-caso-morales-prejudicou.html

1 – Tive o cuidado de evocar as Operações Condor e Gladio, bem como as redes “stay behind” que foram sendo semeadas Europa fora, quando Paulo Portas optou pelas “razões técnicas” que impediram ao avião do Presidente Evo Morales de aterrar ou atravessar território português por denúncia que se verificou totalmente infundada de que o avião presidencial boliviano transportava Edward Snowden a bordo, no seu voo que partiu de Moscovo de regresso a La Paz.

Dizia eu que Paulo Portas indiciava um comportamento típico dum elemento “stay behind”, pois a sua decisão nada tinha a ver com os interesses e a soberania de Portugal, mas sim com a arrogância, os interesses e a soberania dos Estados Unidos da América ao serviço da hegemonia unilateral!

Uma das âncoras para as redes “stay behind” na Europa é a OTAN e tudo o que ela repercute noutras instituições, inclusive em amplos sectores sócio-políticos para dentro em especial de partidos do espectro à direita.

2 – Efectivamente é sobretudo em partidos à direita que tal fenómeno indicia ser mais frequente, mas também, em função da tipologia social-democrata, há elementos com esse carácter em alguns Partidos Socialistas nos mais diversos países europeus.

Efectivamente “por razões técnicas” o avião Presidencial do Presidente Evo Morales não pôde aterrar nem atravessar o espaço aéreo sucessivamente da Itália, da França, da Espanha e de Portugal, numa altura em que o sol e o bom tempo se espalhavam a rodos por todo o sul da Europa…

O governo chefiado por François Hollande, o governo de turno em França, um dos que evocou “razões técnicas” é “de esquerda” e não deixou de prestar vassalagem ao “diktat” da hegemonia e do império, corroborando aliás seu comportamento neo colonial em África e no Ocidente da Ásia!...

3 – Conforme a entrevista a Carlos Coelho, o comportamento típico de quem está dentro das supremas instituições sócio-políticas da União Europeia, mas efectivamente está ao serviço da hegemonia, está explícito e disseminado de tal modo que denuncia que a proliferação de agentes e fantoches é decisiva no afã de, entre outras coisas, “apagar e fazer esquecer os sinais”… em prejuízo da própria União Europeia!

Ao se “esquecer” o que foi conhecido em 2001 por via do UKUSA-ECHELON-NSA, significa dizer que a União Europeia passou mais doze anos de portas escancaradas para a espionagem anglo-saxónica e para os processos evidentes da hegemonia unilateral do império, o que implicou prejuízos incalculáveis e sem possibilidades de contabilização!

O Eurodeputado português, indiciando ser mais um “guardião do templo”, parece ter esquecido que Ben Laden foi a seu tempo, desde pelo menos o início de sua actividade de guerra no Afeganistão, um agente da CIA e toda a sua trajectória após o final da Guerra Fria se inscrever, pela contradição, nos interesses geo estratégicos da gestão da hegemonia e do império!?

…Parece esquecer também que as famílias Bush e Ben Ladem foram associadas no Carlyle Group!?...

Provavelmente espera que outros doze anos passem para que em 2025 ele volte a repetir a mesma coisa, propondo mais uma comissão sobre as escitas… nessa altura duvido que eu esteja vivo, tal como duvido que ele seja ainda Eurodeputado!...

4 – A trajectória de Ben Laden no quadro dos interesses da hegemonia unilateral, “excelente” enquanto “amigo”, mas “providencial” enquanto “inimigo”, tal como são providenciais todos os braços da Al Qaeda, indicia que de outra forma seria muito difícil cumprir com o “Tratado de Quincy”, defender as monarquias arábicas e… continuar a obter petróleo barato!

O PRISM justifica-se, de acordo com o que se propõe a hegemonia e quando, de acordo com sua óptica, tudo isso se impõe… justificando também desse modo a espionagem sobre os próprios aliados da OTAN, ao nível da espionagem disseminada com todos os sentidos colocados nos “terroristas amigos”, quanto nos “terroristas inimigos”!

A justificação de ter sido a terrível e sanguinária acção de Ben Laden o que motivou a União Europeia, por solidariedade para com os Estados Unidos, o motivo para se esquecer os agravos da espionagem do UKUSA-ECHELON-NSA em 2001 relativamente à União Europeia, seria no mínimo anedótico… se não houvessem as redes “stay behind”, um assunto sério em matéria de domínio das “democracias representativas” de acordo com o “modelo europeu”!...

“Apagar os sinais” do grau de espionagem que foi detectada em 2001, era muito importante para os interesses da aristocracia financeira mundial, para os 1% que controlam o processo de domínio da hegemonia unilateral, pelo que doze anos depois, ao despoletar de novo o fenómeno pela via surpreendente das revelações do Wikileaks, de Edward Snowden e de outros, é preciso lembrar que são precisamente aqueles que em pleno Parlamento Europeu deixaram deliberadamente arrefecer o tema na União Europeia… que hoje voltam a ele, na expectativa decerto de “apagar” de novo e de novo “fazer esquecer”!

5 – Neste momento: será que outro atentado similar ou ao nível daquele perpetrado em 11 de Setembro de 2001, vai eclodir para que haja outra onda de “solidariedade”?

Qual é o verdadeiro preço sócio-político e institucional da “solidariedade” dos agentes e dos fantoches ao serviço dos 1%, não só para com a União Europeia, mas também para com os próprios Estados Unidos da América?

A CONSULTAR:
- Os erros de apreciação estratégica pagam-se caro – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao.html
- Os erros de apreciação estratégica pagam-se caro – II – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao_25.html
- Os erros de apreciação estratégica pagam-se caro – III – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao_28.html
- Dez anos depois, um domínio ainda mais avassalador – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/dez-anos-depois-um-dominio-ainda-mais.html
- PE deve criar comissão para investigar espionagem, diz Carlos Coelho – http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=3297107
- Eurodeputado Carlos Coelho diz que "informação de que os Estados Unidos espiam a Europa não é nada de novo" – http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=3297091&page=-

Sem comentários:

Mais lidas da semana