sexta-feira, 4 de maio de 2018

Os crimes da Volkswagen denunciados na Alemanha

Lúcio Bellentani, um dos operários da Volkswagen torturado depois de delatado pela empresa ao DOPS

Acionistas críticos acabam de revelar, em assembleia da corporação: diretoria sabia da tortura de operários sob a ditadura — mas colaborou com ela e a acobertou

Christian Russau | Outras Palavras

Amigas e amigos no Brasil, que estão interessados no caso Volkswagen e a colaboração com a ditadura militar pós-1964: hoje fui à assembleia anual dos acionistas da empresa, que teve lugar aqui em Berlim, e lhes dou um rápido relato daí.

Acusei à Volkswagen de que a tese deles — segundo a qual a colaboração deles com a ditadura e o fornecimento de informações aos agentes de repressão — teria sido um ato unilateral do chefe de segurança Adhemar Rudge, é tentativa de enganar o público. Tanto o relatório de Christopher Kopper quanto o relatório de Guaracy Mingardi falam claramente que a diretoria de Volkswagen sabia dos fatos. Por isso, tornou-se cúmplice no procedimento de entregar supostos militantes à tortura.

O fato um diretor da Volkswagen do Brasil ir para a casa da esposa de Heinrich Plagge (supervisor de qualidade da empresa e membro do PCB) no dia que ele foi preso no trabalho e levado àos porões do DOPS; e de dizer a ela que o marido teve de viajar de urgência em nome da empresa e por isso não teve tempo de avisá-la representa a tentativa de ocultar e encobrir os crimes de sequestro político.

Acrescentei que, segundo o relatório de Christian Kopper, tanto o público no Brasil e na Alemanha sabia que no Brasil os agentes de repressão torturavam. Um então diretor de Volkswagen no Brasil, Werner Paul Schmidt, foi citado no jornal Süddeutsche Zeitung(16.2.1973) com as palavras: “É certo que a polícia e os militares no Brasil torturam para conseguir informações importantes. É certo que nos casos dos subversivos políticos não se celebra um processo judicial, mas um jornalismo objetivo sempre deveria mencionar também, que sem mão dura não se avança. E [atualmente] está avançando”. Conclusão óbvia: os diretores alemães da Volkswagen do Brasil sabiam que os trabalhadores da empresa (sobre os quais a segurança interna informava aos agentes de repressão do DOPS) iriam ser torturados. Isso configura o crime de co-autoria voluntária, informada e ativa para a tortura.

Como os diretores da Volkswagen do Brasil na época eram alemães, sendo contratados e pagos na Alemanha, eles eram representantes legais e diretos da sede em Wolfsburg (fato jurídico importante, porque segundos nossos advogados isso introduz a responsabilidade jurídica da Alemanha). Portanto, a diretoria da Volkswagen mundial era co-responsável diretamante pelos crimes acima mencionados.

Exigimos da Volkswagen que assuma sua responsabilidade histórica, que peça publicamente perdão aos trabalhadores e que entre imediatamente em negociações por meio do Ministério Público e com os trabalhadores para pagar logo indenizações adequadas.

As respostas da Volkswagen:

“Nós fomos os primeiros no Brasil a assumir responsabilidade histórica sobre as questões no que concerne à atuação de empresas entre 1964 até 1985. Encomendamos o estudo do professor Christopher Kopper, e publicamos, em dezembro do ano passado, o relatório final dele em São Paulo. Como gesto e compromisso com a democracia no Brasil e para o fortalecimento da atuação da sociedade civil brasileira a Volkswagen do Brasil acabou de se comprometer à financiar atividades e ações de entidades de direitos humanos. Outras possíveis implicações futuras serão discutidos e no momento apropriado serão decididos.“

Se eles argumentam assim, temos que aumentar a pressão…

Abraço à todas e todos que contribuiram para a nossa luta contra a Volkswagen. A luta continua!

PS: Minha fala (tudo em alemão, infelizmente não temos capacidades de traduzi-la para o português) está aqui: https://www.kooperation-brasilien.org/…/vw-und-die-militaer…

UMA COMUNIDADE SACRIFICADA PELA ORGIA NEOLIBERAL III - (Continuação)


Martinho Júnior | Luanda 

5- A estrutura do quadro de oficiais operativos, na sua funcionalidade em tempo de guerra sustentava-se nos seguintes níveis e compatibilidades sigilosas ou clandestinas, obrigadas a juramento de fidelidade à pátria:

- Oficiais operativos que eram Directores Nacionais – não patenteados pelas FAPLA (FAA), que estiveram à frente de Direcções Nacionais ou de Direcções Provinciais, com responsabilidades operativas ou de apoio em termos de organização, disciplina, funcionalidade, rigor, fidelidade e cumprindo com obrigações de sigilo ou de clandestinidade; com o tempo tornou-se num restrito grupo de entidades sénior com responsabilidades que invariavelmente chegavam ao nível de questões consideradas de ordem estratégica;

- Oficiais operativos de escalão “A” – cumprindo com funcionalidades operativas ou de apoio enquanto Chefes de Departamento com âmbito e orientações específicas, sujeitos aos mesmos deveres e obrigações; são também considerados de oficiais sénior por vezes com responsabilidades também ao nível de questões de ordem estratégica, detendo um vasto manancial de informação secreta e capacidade de análise correspondente;

- Oficiais operativos de escalão “B” – cumprindo com funcionalidades ao nível de Chefes de Sector, tinham orientações operativas de carácter mais estrito, táctico e num nível considerado intermédio de toda a estrutura; este grupo era o mais versátil de todos e muitos oficiais deste nível preencheram lacunas de toda a ordem onde quer que fosse que elas temporariamente subsistissem no aparelho de estado (e não só no aparelho dos instrumentos de poder de estado);

- Oficiais operativos de escalão “C” – composto pelos oficiais operativos júnior, de mobilização e recrutamento recente, com escola de formação especializada, que preenchiam os detalhes das funcionalidades estruturais consideradas de base até ao nível de Secção, com especial relevância para o atendimento de pessoas de confiança e agentes secretos dos aparelhos de contra inteligência, inteligência, operações, missões e expedientes especiais pontuais, assim como os respectivos sistemas de apoio.


6- O escalonamento obrigava a, à medida que os oficiais operativos garantiam experiência e uma melhoria das capacidades práticas de actuação (medida quantas vezes através dos resultados das missões em que participavam), uma subida no escalão das funcionalidades passando muitas vezes do nível táctico para o estratégico, ainda que transitassem duma área para a outra (como por exemplo o caso frequente de trânsito entre a Contra Inteligência, as Operações, as Forças Especiais de Luta Contra Bandidos e a Informação e Análise).

Na esmagadora maioria dos casos o estado angolano à partida propiciava cursos de especialidade, dentro e fora do território nacional, com custos elevados de transporte, estadia (em regime de internamento) e de introdução aos conhecimentos que se exigiam para desafios desta natureza, na continuação dos cursos no exterior que haviam começado em 1974 em Cuba e noutros países socialistas, incluindo na URSS.

Esses custos além do mais devem ser tomados em linha de conta para a actual definição do quadro de oficiais operativos apontados à reforma e à reinserção social, pois o abandono a que muitos têm sido votados, é um desperdício de lesa pátria propiciado por aqueles que afinal durante décadas têm demonstrado ser incapazes de encontrar as soluções mais aferidas às obrigações para com o estado angolano (fiel depositário dos interesses de todo o povo angolano), nos termos dos seus próprios recursos humanos e materiais.

Esses cursos por seu turno, podiam fornecer dados importantes sobre o carácter e a sensibilidade de cada quadro (também algo de carácter pessoal e sigiloso), tanto quanto o introduziam no universo de quesitos dum aparelho tão especializado como o de segurança e inteligência do estado, básico para a gestação e apuramento duma ampla cultura de inteligência cujas primeiras obrigações e deveres eram defender intransigentemente a independência, a soberania e a identidade nacional, ela própria também em gestação, em reforço das orientações do líder, integrando os instrumentos do poder de estado.

Assim sendo os oficiais operativos tiveram espaços e longevidades distintas uns dos outros, marcando curriculuns distintos uns dos outros e marcados por vezes com situações de afectação extrema para as suas vidas pessoais e familiares, pelo que necessário se torna, em termos de enquadramento com vista à reinserção social e à reforma, detalhar o percurso de cada um, caso a caso, até por que há instituições distintas para as reformas (Instituto Nacional de Segurança Social e Caixa de Protecção Social do MININT) prontas para acolher as decisões a tomar.

Os oficiais operativos cumpriam funcionalidades em tempo de guerra em organismos tão distintos como Inteligência Externa, Contra Inteligência Geral (e uma panóplia muito grande de Departamentos especializados), Informação e Análise, Operações, Técnica Operativa Secreta (também com um aparato importante de Departamentos, Sectores e Secções apetrechados de meios secretos e classificados), Unidades Especiais, Transportes, Logística, Pessoal e Quadros, etc.

O exemplo do Unidade Especial que preenchia quesitos de ordem geoestratégica foi o das Forças Especiais de Luta Contra Bandidos do Bié, criadas em 1976, que actuavam na medula da geoestratégica região central das grandes nascentes para fazer face a uma subversão que tinha sido criada pelo colonialismo português precisamente a partir dela, com os conhecimentos adequados a garantir a sua máxima longevidade, conforme aliás se veio a registar.

Na altura da sua criação era Governador Provincial do Bié o camarada Faustino Muteka, ele próprio um quadro proveniente dos organismos de segurança e inteligência.

Os impulsionadores dessa iniciativa foram os camaradas Iko Carreira e Ludy Kissassunda, os primeiros (comandantes de coluna) a assinarem a proclamação das FAPLA e dois dos principais alvos das inteligências que a todo o custo tiveram o núcleo duro do MPLA, por tabela do estado angolano, em tempo de guerrilha como depois da independência, como referência prioritária para procurar minar, dividir, subverter e manipular.

Extinguir essa Unidade Especial no âmbito do Acordo de Bicesse, só não custou mais caro a Angola por que mesmo marginalizados e votados ao ostracismo, foi uma parte dos seus membros que garantiu com unhas e dentes a defesa e a inviolabilidade da cidade do Kuito, capital do Bié, quando das ofensivas de Savimbi durante a “guerra dos diamantes de sangue”, participando em muitas batalhas e na Operação Restauro da retomada do Andulo.

Hoje muitos dirigentes com pompa e circunstância visitam o Cemitério Museu onde repousam muitos combatentes da longa batalha do Kuito, mas continuam a votar ao ostracismo esses combatentes, que se encontram instalados em cooperativas agrícolas que é necessário melhor impulsionar, sobretudo no Kuito, na Chipeta e em Catabola.

(Continua)

Martinho Júnior - Luanda, 1 de Maio de 2018

Fotos de reportagem:
Assembleia de membros da ASPAR, no dia 20 de Julho de 2011, em Benfguela;
Assembleia de membros da ASPAR no Kuito (Bié), no dia 15 de Junho de 2011;
Assembleia de associados da ASPAR no Huambo, a 17 de Junho de 2011;
Visita à Cooperativa do Colango, a 18 de Junho de 2011;
Orientação para os trabalhos da Cooperativa do Colango a 21 de Julho de 2011.

Anteriores:
UMA COMUNIDADE SACRIFICADA PELA ORGIA NEOLIBERAL – I – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/05/uma-comunidade-sacrificada-pela-orgia.html
UMA COMUNIDADE SACRIFICADA PELA ORGIA NEOLIBERAL – II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/05/uma-comunidade-sacrificada-pela-orgia_2.html

ANGOLA | Massacre de Cassinga


Jornal de Angola | editorial

Faz hoje 40 anos desde o início de uma série de ataques perpetrados por soldados sul-africanos ao campo de refugiados de Cassinga e à delegação da SWAPO, a 260 quilómetros no interior de Angola, naquele que ficou conhecido como o Massacre de Cassinga.

Durante seis dias, forças do regime racista do apartheid descarregaram várias toneladas de explosivos contra o campo. Fala-se em 700 mil vidas humanas perdidas. Mas acredita-se que o número possa ser maior. Hoje, a data reveste-se de um grande simbolismo, não apenas para Angola e para a Namíbia, mas para o continente. Além de um hino à resistência contra o regime segregacionista do apartheid, o dia 4 de Maio entrou para a história da África Austral pela solidariedade entre os povos. 

Assim se explica, também, a visita do Presidente João Lourenço à Namíbia, onde hoje vai depositar uma coroa de flores no Memorial dos Heróis, além de discursar nas cerimónias do 40º aniversário do Massacre de Cassinga, na presença de entidades cubanas. 

O dia reserva ainda o descerrar da placa do busto do primeiro Presidente da República Popular de Angola, Agostinho Neto, no largo com o mesmo nome. Trata-se de um reconhecimento à bravura do povo namibiano na luta para a independência do país, que se fez a partir do território angolano. 

O lançamento da primeira pedra para a construção do Memorial de Cassinga é, certamente, o reconhecimento do feito daqueles homens que tudo fizeram para a libertação do seu território. Neste momento, vale a pena recordar a máxima do Fundador da Nação angolana, Agostinho Neto, segundo a qual “na Namíbia, no Zimbabwe e na África do Sul está a continuação da nossa luta.

É com este pensamento que os dois países marcam hoje passos para o futuro, sem se esquecer do passado comum. Ao partilhar uma fronteira terrestre de 1.376 quilómetros, Angola e Namíbia apresentam-se cada vez mais unidos, com acções conjuntas em vários sectores, para o bem dos seus cidadãos.

Timor-Leste/Eleições: Urnas e boletins de voto começam a ser distribuídos


O material eleitoral, incluindo listas, marcadores de tinta e boletins de voto, para as legislativas antecipadas de 12 de maio em Timor-Leste, começou hoje a ser distribuído sob escolta policial pelo país e pelos centros de votação na diáspora.

Responsáveis dos órgãos eleitorais, representantes dos partidos políticos e coligações e observadores nacionais e internacionais acompanharam a cerimónia que marcou o arranque da distribuição.

Cada um dos centros de votação, incluindo os que estarão operacionais na diáspora, vão receber um conjunto de material sensível e não sensível que inclui posters informativos, os cadernos eleitorais, as atas, os pregos e canetas para o voto e a tinta indelével para marcar os dedos dos votantes.

Seguem ainda os documentos mais importantes, nomeadamente os livros com boletins de voto que foram impressos numa quantidade definida pela lei: o número de eleitores recenseados mais 10 por cento.

No total foram impressos 17.481 livros de 50 boletins de voto cada, o que equivale a exatamente 874.050 boletins que foram separados em montes com o nome de cada município ou, no caso da diáspora, dos países onde há centros de votação.

Recorde-se que oito partidos e coligações apresentaram-se às eleições para as quais estão recenseados 787.761 eleitores, mais 22.903 do que os que estavam habilitados a votar nas eleições legislativas de 22 de julho do ano passado, o que representa um aumento de cerca de 3%.

No que se refere aos centros de votação, a nível nacional vão ser instalados um total de 1.151 estações de voto dividas por 876 centros de votação que, por sua vez, vão ser instalados nos 452 sucos (equivalente a freguesias) do país.

Fora do país haverá três centros de votação na Austrália - Darwin, Melbourne e Sydney -, um em Seul na Coreia do Sul, dois em Portugal (Lisboa e Porto) e três no Reino Unido: Dungannon, Londres e Oxford.

Jaime Correia, responsável da Gráfica Nacional, entregou simbolicamente os boletins de voto ao diretor-geral do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE), Acilino Manuel Branco que, depois os distribuiu aos responsáveis municipais.

Em declarações à Lusa, Branco explicou que todo o material, incluindo os boletins de voto vai ser agora transportado para os municípios e para a Região Autónoma Especial de Oecusse-Ambeno e ainda para os centros na diáspora.

"Para o Reino Unido e para Portugal segue ainda hoje com diplomatas e funcionários do STAE e da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Para a Austrália e para a Coreia do Sul sai amanhã", explicou.

"Agora entregamos a competência para as entidades municipais e para os diplomatas e funcionários que vão levar toda a documentação que é essencial para assim garantir o êxito este processo, respondendo ao que são as expectativas de todo o povo", frisou.

Acilino Branco disse que o STAE se mantém otimista com todo o processo, relembrando a experiência anterior do organismo e referindo que todos os prazos e todas as questões legais estão a ser cumpridas.

"Cumpriremos todas as nossas responsabilidades e preparativos para garantir que os timorenses podem votar com total confiança no dia 12 de maio", disse.

"Pedimos agora a colaboração e a contribuição de todas as partes, dos órgãos eleitorais, da Polícia Nacional de Timor-Leste, dos partidos e coligações e dos eleitores, para que participarem todos neste ato eleitoral", sublinhou.

Na cerimónia de hoje, o responsável do STAE agradeceu o trabalho da gráfica e das equipas do STAE, explicando que todo o transporte vai agora ser acompanhado pela PNTL, para garantir a segurança máxima do material.

Os partidos políticos poderão, através dos seus fiscais, acompanhar todo o processo, para garantir assim a credibilidade e transparência de todos os momentos da eleição.

Henrique da Costa, superintendente e comandante operacional da PNTL para este processo, destacou o facto de todo o processo eleitoral ter decorrido sem incidentes graves.

"Agradecemos o contributo de todos para este processo que tem decorrido normalmente. Precisamos que todos continuem a atuar da mesma forma. A PNTL garante a segurança durante o processo do voto", disse.

"O material estará sempre controlado a todos os momentos e os efetivos continuarão a atuar com responsabilidade", disse.

Já José Anuno, vice-ministro da Administração Estatal, destacou que o êxito do processo "é o êxito de todos e do povo de Timor".

"Este é um processo muito importante para a nação. Apelo a todos para que vão votar", frisou.

Lusa | em SAPO TL

MOÇAMBIQUE | Um Presidente desnorteado


@Verdade | Editorial

Ultimamente, o Presidente da República, Filipe Nyusi, tem mostrado a versão às críticas que lhe são feitas, a propósito dos seus posicionamentos nada recomendável. Aliás, o Chefe de Estado decidiu, nos últimos dias, esporadicamente responder os seus críticos, mas na verdade não passa de um especialista na arte de vender peixe podre. Há sensivelmente um ano e meio do fim do seu mandato, Nyusi quer convencer aos moçambicanos de que está preocupado com a precaridade de vida que a população leva, resultante de má governação que ele e os seus títeres impõem. Na vã tentativa de aldrabar os eleitores e renovar o seu mandato, ele tem vindo a apresentar soluções paliativas.

A título de exemplo, depois da sua turma anunciar o insultuoso aumento salarial no valor de 260 meticais, o Presidente da República, durante a visita à província de Maputo, em jeito de resposta às críticas, encheu a boca para dizer que aquela quantia não é pouca, pois hoje é possível comprar uma galinha com 50 meticais. Esse comentário absurdo e que demonstra o total desconhecimento da realidade de um país que ele supostamente governa não só representa a degradação da moral do próprio Chefe de Estado, mas também o nível exacerbado de demagogia que o Governo da Frelimo tem vindo a difundir desde a Independência Nacional.

Outro apsecto é que, inesperadamente, Nyusi sentiu compaixão pelo desporto e veio a terreiro afirmar que o Moçambola é uma actividade do povo moçambicano, e por isso o seu Governo fará de tudo para que o campeonato nacional de futebol de 2018 chegue ao fim. O mais intrigante é que todos os dias assiste-se a milhões de crianças em estado de desnutrição crónica, a falta de carteira escolares, falta de escolas e hospitais, mas Nyusi e a sua turma não consegue disponibilizar fundos para resolver essa situação que é urgente do que o Moçambola.

Os moçambicanos menos atentos e sem nenhuma emoção crítica devem ter achado a iniciativa louvável, quando, na verdade, o Presidente da República e a sua corja estão a tentar distrair a população dos reais problemas do país. Ao longo do seu mandato, Filipe Nyusi pouco ou quase nada fez em prol dos moçambicanos, ou seja, não chegou a cumprir metade das suas promessas eleitorais.

Portanto, os moçambicanos não se devem deixar impressionar por futebóis deprimentes, devem, na verdade, exigir a prestação de conta e não embarcarem na ladainha sem nenhum impacto na vida dos cidadãos de quem passou sensivelmente três anos numa profunda sonolência.

MOÇAMBIQUE | Corpo de Afonso Dhlakama já está na Beira


Restos mortais de Afonso Dhlakama chegaram à morgue do Hospital da Cidade da Beira durante a madrugada, informou o secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo. Ainda não há data marcada para o funeral.

"Perdermos o nosso pai, o nosso mestre, a pessoa que é a luz da maioria dos moçambicanos", referiu o dirigente do partido em declarações à Televisão de Moçambique (TVM).

"Não tenho elementos substanciais sobre aquilo que vai acontecer a partir de amanhã [sábado]", acrescentou Manuel Bissopo, referindo que os membros do partido vão "juntar-se com a família" para decidir sobre a sequência dos acontecimentos.

"Em princípio, o funeral vai ser feito na terra natal", em Mangunde, distrito de Chibabava, na província de Sofala, de que a cidade da Beira é capital, referiu Bissopo. Ainda não há data marcada para o funeral, acrescentou.

líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) morreu na quinta-feira (03.05), aos 65 anos, devido a complicações de saúde. Dhlakama vivia refugiado na serra da Gorongosa, no centro do país, desde 2016, como havia feito noutras ocasiões, quando se reacendiam os confrontos entre a RENAMO e as forças de defesa e segurança de Moçambique. 

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, disse que foram feitas tentativas para transferir Afonso Dhlakama por via aérea para receber assistência médica no estrangeiro, mas sem sucesso.

Chissano espera que processo continue

O antigo Presidente Joaquim Chissano exprimiu hoje "uma grande mágoa" pela morte de Afonso Dhlakama, mas referiu que "não é com a morte de uma pessoa que se perde tudo", numa alusão ao processo de paz no país. "É uma grande mágoa porque eu trabalhei com Dhlakama para trazer a paz a Moçambique e depois continuei a contactar com ele", referiu o antigo chefe de Estado à Lusa, a partir de Paris. 

Joaquim Chissano era Presidente da República quando a 4 de outubro de 1992 assinou com Afonso Dhlakama, em Roma, o Acordo Geral de Paz que pôs fim à guerra civil moçambicana. 

"Todos nós sobreviventes vamos continuar a trabalhar para o bem de Moçambique. Oxalá que o espírito que [Dhlakama] ultimamente tinha abraçado continue a inspirar os que vêm a seguir", sublinhou, destacando que as conversações com Nyusi corriam bem. 

Depois do luto, Chissano considera importante que "todos os moçambicanos sigam o exemplo do que o Presidente Nyusi fez com o presidente da Renamo: aceitar a diferença, olhar para o bem da nação e completar o processo para que nunca mais haja guerra em Moçambique". O antigo presidente espera que se consiga ir mais além, "que haja realmente uma colaboração para o desenvolvimento, para se ganhar todo o tempo perdido".

"Consequências imprevisíveis"

O Nobel da Paz e ex-Presidente timorense José Ramos-Horta considera que as consequências da morte do líder da RENAMO para o processo de paz em Moçambique são imprevisíveis, cabendo aos moçambicanos saber como aproveitar esta ocasião.

"A sua ausência pode acelerar o processo de paz ou pode dificultar. Os irmãos moçambicanos melhor do que eu, do que nós, saberão como aproveitar esta ocasião difícil para muitos moçambicanos e tudo fazer para que a paz e a democracia sejam consolidadas em Moçambique", disse o atual ministro de Estado timorense. 

Considerando a morte de Dhlakama uma "perda importante" para a RENAMO, Ramos-Horta disse que "independentemente de, no seu passado, ter dirigido uma das maiores carnificinas em guerra civil em Moçambique, também foi um dos coautores, ou co-arquitetos, do Acordo de Paz de Roma que pôs fim àquela guerra civil". 

Incerteza

A imprensa internacional que está a noticiar a morte de Afonso Dhlakama destaca a morte de um dos mais antigos "guerrilheiros" em África e salienta que Moçambique poderá viver tempos de incerteza no futuro próximo. 

"O anúncio da morte deste monumento da história moçambicana colocou o país em incerteza, apesar de as conversações de paz terem feito grandes progressos nos últimos meses", escreve o jornal francês Le Monde na sua edição eletrónica, que segue de perto o texto da agência de notícias francesa AFP. 

Para o britânico The Guardian, Afonso Dhlakama foi "um líder rebelde veterano que misturou a guerrilha com a oposição política".

Agência Lusa, Leonel Matias (Maputo) | em Deutsche Welle

OPERAÇÃO FIZZ | As reuniões com Sá e Cunha, a mesada e o ouro encontrado no cofre

No segundo dia em que esteve a depor, a irmã do ex-procurador Orlando Figueira revelou ter tido várias reuniões com o advogado Paulo Sá e Cunha e falou da promessa de trabalho que foi feita ao irmão caso se mantivesse em silêncio

A irmã do ex-procurador do DCIAP acusado de ser corrompido por Manuel Vicente continuou ontem a ser ouvida em tribunal, tendo revelado que o advogado Paulo Sá e Cunha (que defendeu o antigo magistrado numa fase inicial ) lhe garantiu que se Orlando Figueira continuasse a omitir os nomes do banqueiro Carlos Silva e do advogado Daniel Proença de Carvalho teria um trabalho à sua espera em Angola. Em causa está um alegado acordo de cavalheiros que Orlando Figueira diz ter feito com Proença de Carvalho que o terá privado de contar a verdade nos primeiros interrogatórios – ou seja, que foi contratado pelo banqueiro Carlos Silva.

A promessa alegadamente feita por Sá e Cunha na última de três reuniões, segundo contou ao coletivo Maria Figueira, aconteceu numa altura em que o antigo procurador já estava em prisão domiciliária. Pouco tempo depois – e muito por pressão da irmã – o antigo magistrado decidiu deixar de ser representado por Sá e Cunha. O arguido conta agora que o seu ex-advogado estava a ser pago por Carlos Silva.

“Os meus atritos com o dr. Paulo Sá e Cunha é que eu achava que o dr. Paulo Sá e Cunha tratava o meu irmão como um burrinho, acenando-lhe com a cenoura. O meu irmão andava sempre à espera e eu em sofrimento”, disse Maria Figueira.

“Na última reunião com Paulo Sá e Cunha foi-me dito que se Orlando Figueira ficasse calado teria um bom trabalho em Angola”, recordou a testemunha, explicando que o advogado terá ainda justificado com questões culturais o atraso do banqueiro Carlos Silva em vir assumir em público que tinha sido ele a contratar Orlando Figueira e não o ex-presidente de Angola Manuel Vicente.

“Disse-me: ‘Os angolanos são lentos, têm outro ritmo que não o nosso”, referiu.

A irmã do antigo procurador contou ainda que logo após ser detido e levado para a prisão de Évora, Sá e Cunha levou ao seu irmão “um papel que o dr. Proença de Carvalho tinha mandado levar para que ele assinasse”. Maria Figueira contou perante os juízes que ao menos nesse momento o antigo procurador não foi ingénuo: “Teve esse discernimento e não aceitou assinar”. Mas não sabe ainda hoje que papel era, dado que quando mais tarde o irmão pediu para ter acesso ao mesmo tal lhe foi negado.

Admitindo que desde que foi detido que Orlando Figueira vive às suas custas – com uma mensalidade de dois mil euros por mês – Maria Figueira garantiu ser seu todo o ouro e pérolas que foram encontrados no seu cofre, tendo reconhecido peça a peça.
Quanto aos envelopes que estavam no mesmo cofre com a inscrição “Mano”, diz que se tratava de dinheiro que o irmão lhe tinha devolvido, na sequência dos empréstimos que lhe fazia.

Por entre alguns momentos de maior emoção, nomeadamente quando se falou no momento da detenção, a testemunha disse que o irmão nunca aceitaria ser corrompido.

Para a próxima semana está marcada a audição do banqueiro luso-angolano Carlos Silva.

jornal i

CINEMA | Poder e pobreza no Alentejo rural dos anos 1950 no filme 'Raiva'

O realizador Sérgio Tréfaut estreia no domingo, no encerramento do IndieLisboa, a longa-metragem "Raiva", um filme sobre poder e pobreza, que recua ao Alentejo nos anos 1950, a partir de um romance de Manuel da Fonseca.

um filme completamente fora de moda. Porque hoje em dia o assunto social relacionado com justiça social, ou com pobreza e com o abuso de poder por parte de quem tem dinheiro, está completamente fora de moda", afirmou Sérgio Tréfaut à agência Lusa.

No entender do realizador, atualmente predomina o interesse por questões identitárias, raciais, sexuais, mas "a questão social e a pobreza não interessa a ninguém", mesmo que subsistam.

"Raiva" é uma adaptação do romance "Seara de vento", que Manuel da Fonseca publicou em 1958 - inspirado numa tragédia ocorrida nos anos 1930 no Alentejo - e que esteve interdito pelo Estado Novo até 1974.

Considerado uma das obras mais importantes da literatura neorrealista portuguesa, o livro constrói-se nessa luta entre ricos e pobres, entre quem possui terra e quem a trabalha, e centra-se no drama de uma família atingida pela pobreza e pela injustiça.

Sérgio Tréfaut chegou ao romance porque queria entender melhor o que foi o Alentejo, quando estava a preparar o documentário "Alentejo Alentejo" (2014).

Manuel da Fonseca "escreveu um romance que, sendo bastante seco também é épico e é um retrato da sua paixão por 'westerns'. Não acredita no herói individual, mas dentro de um universo neorrealista e comunista tinha como moral 'vota PCP'", afirmou o realizador.

Para o filme, Tréfaut interessou-se sobretudo pelas questões de pobreza e injustiça social que se repetem sistematicamente. "Esses problemas existem e terão sempre de ser resolvidos, independentemente de alguém vir e dizer que a solução está encontrada".

Conhecido sobretudo pelo trabalho em documentário, Sérgio Tréfaut assina aqui a segunda longa-metragem de ficção, depois de "Viagem a Portugal" (2011), e para o elenco convocou Hugo Bentes, Isabel Ruth, Leonor Silveira, Rita Cabaço, Kaio César, Adriano Luz, Lia Gama, entre outros.

"Raiva", uma coprodução entre Portugal, Brasil e França, só deverá estrear-se nos cinemas no final deste ano. Em abril foi distinguido no Festival de Cinema de Moscovo com o prémio da Federação de Cineclubes da Rússia e com o prémio do jornal Kommersant.

Sérgio Tréfaut volta ao festival IndieLisboa, onde foi distinguido em 2014 com "Alentejo, Alentejo" e em 2004 com "Lisboetas", ambos documentários.

Lusa | Notícias ao Minuto

A CLARIFICAÇÃO DEVIDA - a opinião de José Sócrates


José Sócrates* | Jornal de Notícias

1. Começo pelo princípio: sou amigo de Manuel Pinho, pessoa que considero e estimo. Segundo: tenho ouvido o que se diz sobre a sua relação com o Banco Espírito Santo durante o período em que foi ministro do meu Governo e sobre isso tenho a dizer que a minha primeira exigência é que o Ministério Público prove o que diz. Não, não pactuo com a operação em curso de inverter o ónus da prova como, de forma geral, os jornalistas e os ativistas disfarçados de comentadores têm feito: o primeiro dever de um Estado decente é provar as gravíssimas alegações que faz seja contra quem for, ainda que estas tenham sido, como habitualmente, feitas através da Comunicação Social. Só para recordar o que devia ser óbvio: não é o próprio que tem de se defender ou de provar que é honesto ou inocente; é quem acusa que tem o dever de provar o que diz. Estranhos tempos estes em que lembrar o princípio estrutural do Direito moderno, a presunção de inocência, se confunde com a defesa seja de quem for.

Em terceiro lugar, desejo afirmar que tenho Manuel Pinho por um homem honesto e incapaz de uma coisa dessas, tal como é descrita - receber um vencimento privado enquanto exercia funções públicas. Por essa razão recuso-me sequer a discutir hipóteses que para mim são inadmissíveis, sem que o Estado, que o afirma, prove o que está a dizer. Compreendo e partilho o desejo dos seus amigos e colegas de Governo de que Manuel Pinho negue imediatamente as alegações. Não me parece que ele ignore as responsabilidades que também tem connosco. Todavia, não sobreponho o meu desejo de esclarecimento imediato ao seu direito de se defender de tão graves imputações quando achar que o deve fazer. Por mais que isto custe a quem é seu amigo e foi seu colega, é isto que a decência impõe.

Um último ponto para me defender da ignóbil intrujice que acompanha a notícia: a ideia de que o nome de Manuel Pinho para fazer parte do Governo me terá sido sugerido pelo dr. Ricardo Salgado. Esta mentira tem sido há muito tempo disseminada pelo Ministério Público e convenientemente divulgada por jornalistas, que nenhum esforço fazem para verificar a sua veracidade. Desde logo, posso afirmar que a primeira vez que me encontrei com o dr. Ricardo Salgado desde que fui eleito líder do PS foi no dia 13 outubro de 2006, conforme registado na secretaria da Residência Oficial do Primeiro-Ministro. A verdade é que nunca fiz parte do seu grupo de amigos nem dos seus círculos sociais. A história da proximidade com o dr. Ricardo Salgado é, portanto, falsa e disparatada.

Depois, há mais: a escolha que fiz de Manuel Pinho como porta-voz do PS para a área da economia, e mais tarde para o Governo, aconteceu naturalmente na decorrência da colaboração que este há muito prestava, na condição de independente, ao PS, como conselheiro económico do então líder Ferro Rodrigues. Foi aí, nessa condição de membro do chamado grupo económico da Lapa (por reunir regularmente no Hotel da Lapa), que o conheci e que desenvolvemos um trabalho comum que viria a culminar no convite que lhe fiz. Muitas pessoas dentro e fora do PS conhecem esta história, que desmente por completo a ficção da indicação por outros, com quem não tinha nenhum contacto.

2 - P.S. Já depois de escrever este artigo, ouvi Carlos César. Durante quatro anos defendi-me das acusações falsas e absurdas que me foram feitas: a falsidade da propriedade do dinheiro da Suíça, a falsidade sobre a propriedade do apartamento em Paris, a falsidade sobre a PT, a falsidade sobre a Parque Escolar, a falsidade sobre o TGV, a falsidade sobre a relação de proximidade a Ricardo Salgado. Durante quatro anos suportei todos os abusos: a encenação televisiva da detenção para interrogatório; a prisão para investigar; os prazos de inquérito violados sucessivamente como se estes não representassem um direito subjetivo que não está à disposição do Estado; a campanha de difamação urdida pelas próprias autoridades com sistemáticas violações do segredo de justiça; o juiz expondo na televisão a sua parcialidade com alusões velhacas; a divulgação na televisão de interrogatórios judiciais com a cumplicidade dos responsáveis do inquérito.

Na verdade, durante estes quatro anos não ouvi por parte da Direção do PS uma palavra de condenação destes abusos, mas sou agora forçado a ouvir o que não posso deixar de interpretar como uma espécie de condenação sem julgamento. Desde sempre, como seu líder, e agora nos momentos mais difíceis, encontrei nos militantes do PS um apoio e um companheirismo que não esquecerei. Mas a injustiça que agora a Direção do PS comete comigo, juntando-se à Direita política na tentativa de criminalizar uma governação, ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político. Considero, por isso, ter chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo. Enderecei hoje uma carta ao Partido Socialista pedindo a minha desfiliação do Partido. Pronto, a decisão está tomada. Bem vistas as coisas, este post scriptum é congruente com o que acima escrevi.

Lisboa, 3 de maio de 2018

*Ex-primeiro-ministro

A JUSTIÇA LESMA DA GALINHA DOS OVOS DE OURO, O PS, E O CASO SÓCRATES


José Sócrates já está condenado em julgamento popular, nisso foi preponderante os orgãos de comunicação social, com destaque para o Correio da Manha e para os que decerto têm vendido informação da matéria judicial ao respetivo jornal manhoso. 

Também o Partido Socialista condenou Sócrates. Curiosamente a justiça portuguesa ainda não o condenou, apesar de mostrar toda a vontade em o fazer, sem conseguir. Há anos, demasiados, que assim acontece. Até um juiz, pomposamente chamado de 'super-juiz' que arrecadou Sócrates por 9 meses na prisão de Évora. Não tarda faz 9 anos que no setor da justiça andam para condenar José Sócrates sem conseguir reunir as provas que o poderão condenar. Logo, por enquanto é suspeito de... Mas presumível inocente. Que não para muitos portugueses manipulados por jornalistas(?) e órgãos da comunicação social e também que não pelos altos dirigentes do atual Partido Socialista.

Caiu o pano conveniente com o caso de Manuel Pinho para se consumar a largada de Sócrates na tal tábua ensebada. E aí foi ele, para longe da sede do PS no Largo do Rato, Lisboa. Claro que, como esperado, Sócrates demitiu-se do PS. Mas não foi condenado pela justiça, é inocente enquanto essa mesma justiça não fizer prova da culpabilidade daquilo de que o acusam. Mas foi condenado por "amigos" e "companheiros" do PS. Principalmente por altos responsáveis daquele partido político. Partido dito republicano, socialista, humanista... E então faz uma destas?

Já sabemos muito bem que o PS de socialista já quase nada tem, cada vez menos, mas... E então os direitos humanos? Mas, e então os princípios republicanos (que vai dar no mesmo)? E então a democracia? E então a decência? E então o Estado de Direito?

Mas que grande vergonha pelo que está a acontecer no PS. Isso, sim. Disso devem ter muita vergonha. Condenar, assim, em praça pública, como tantos outros da direita ressabiada, um "companheiro", um "amigo", um ex-secretário-geral que está a ser julgado há imensos anos sem que a justiça faça prova para o condenar.

Disso sim. O PS deve sentir-se envergonhado. Pelo exercício anti-democrático, anti-socialista, anti-republicano, anti-direitos humanos...

Que existe uma máfia criminosa que prejudica Portugal e os portugueses não devemos ter dúvidas, que nesse "rebanho" existem ou existiram ovelhas negras de partidos políticos, de ex-governos e etc. sabemos. Vimos. Alguns foram já condenados. Mas José Socrates ainda não foi condenado. Provavelmente nem será e o setor da justiça, com o seu super-juiz de rastos, não vão conseguir condená-lo. Portanto será inocente do que o acusam. E então, depois, daqui talvez por mais 10 anos(?), quando o tiverem de declarar inocente, como se vão sentir os milhares de "juízes" deste julgamento em praça pública? E os "jornalistas"? E os da tal justiça que venderam as informações? E o Partido Socialista? E o super-juiz?

Sabemos que a mole imensa, ignorante, manipulada, de ADN salazarista, está ululante e exasperante do momento da carniça. Isso já está a acontecer progressivamente, mas o que se exige é que seja a PGR, o super-juiz, a justiça, que prove e condene o então culpado José Sócrates.  Em vez disso, devido à sua incapacidade (impossibilidade?) e injustiça, traz o caso em "banho-maria" há imensos anos. Claro que alguém na dita justiça está a ganhar com esta hedionda "novela", vendendo informação à comunicação social e, provavelmente, a outros interesses político-partidários (é de admitir)... E então vamos lá mantendo saudável essa galinha dos ovos de ouro deixando "escapar" ciclicamente informações e violar o Direito.

Bom dia, se conseguirem. É que estamos em tempos que até parecem de Salazar, da ditadura. Foi aí que vimos tantos inocentes serem injustamente culpabilizados, caírem em masmorras e de lá saírem na vertical. Mortos. Vamos ver o que acontece a Sócrates. Se de facto for provada a sua culpabilidade cá estaremos para também o condenar com justa causa. Para já, as lesmas do setor da justiça são quem merece condenação e fazem de Portugal um Estado em que o Direito é uma falácia, até prova em contrário. Mexam-se, despachem-se. Acabem com isto. De uma vez por todas: dignifiquem a Justiça! (MM | PG) 

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Desonra, Vergonha e Traição

Valdemar Cruz | Expresso

Gloriosos dias estes vividos com Shakespeare a inspirar o vocabulário político português. José Sócrates bate com a porta, escreve um artigo de opinião no JN, e entrega o cartão de militante do PS, António Costa fala no Canadá de “desonra para a democracia”, Carlos César ou João Galamba lançam palavras tão agudas como punhais e quem fala é Macbeth, Coriolano, ou Hamlet. Ou, se não eles, o espetro do seu imaginário traduzido em vocábulos ou sentimentos tão pesados como traição, desonra, vergonha ou até vingança. Ontem, na SIC Notícias, Adolfo Mesquita Nunes, do CDS, perguntava o que se terá passado para de repente o PS ter mudado o discurso em relação a Sócrates. A resposta está aí e ainda não seria conhecida de Manuel Alegre quando dizia, citado pelo Público, que o PS “abriu a caixa de Pandora” ao trazer agora, de “uma forma avulsa”, o nome de José Sócrates para o debate político.

Os próximos tempos não serão exatamente os dos Glory Dayscantados por Bruce Springsteen, com o PS a ter de agarrar pelos cornos uma discussão que tentou olhar apenas de esguelha. Serão mais de ajuste de contas e não deixarão de evocar “A Tempestade”, a última peça do bardo inglês, com as suas maquinações, conspirações, juras de amor e atos de oportunismo. Sócrates não suportou a viragem de agulha e esta “espécie de condenação sem julgamento”. Por isso, escreve, “é chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo”. Logo se verá de quem é maior o embaraço.

E Manuel Pinho? Vai agora passar por entre os pingos da chuva, face ao estrondo do bater de porta de Sócrates? Não se ouve Manuel Pinho, mas escutam-se os clamores pelo seu silêncio face às acusações de se manter como assalariado do BES enquanto Ministro de Sócrates. E, então, tudo se cruza. Lê-se a carta de despedida do antigo Primeiro-ministro, acompanha-se a sua defesa da honra de Pinho e, salvaguardadas as distâncias, o discurso de Marco António na defesa de César.

Neste emaranhado de máscaras não podia faltar Macbeth com o seu imponderável cruzamento entre aparência e substância. Sendo que a aparência é resumir a indignação ao choque face às alegadas avenças e promessas de reformas milionárias de Ricardo Salgado a Pinho a partir dos 55 anos. Apesar de ser Ministro? Ou para ser Ministro, já que por ser Ministro – na verdadeira aceção da palavra – não seria?

A substância será perceber e tentar descodificar o contexto político em que sucedem estes casos. Então, Pinho poderá ser apenas uma peça de algo muito mais vasto, num ambiente de promiscuidade entre poder político e poder económico, com a utilização do Estado em benefício de interesses privados. E aí pode ser crucial o âmbito da Comissão de Inquéritojá proposta pelo Bloco de Esquerda, para se perceber, ao longo dos anos, a dimensão do despautério e conhecer as múltiplas responsabilidades em toda a sua dimensão.

Se Macbeth, condicionado pela fraqueza da sua condição humana, navegava num destino cujo desfecho só poderia ser materializado em tragédia, os Pinhos desta vida não passam, afinal de personagens tolhidas pela fraqueza de quem naufraga num arrivismo de perniciosas ambições.

E aí está Shakespeare de novo, agora com o seu Soneto 129, na tradução da poeta Ana Luísa Amaral para a “Relógio d’Água”:

“Desperdiçar o espírito ao esbanjar a vergonha
É luxúria em ação; até lá, a luxúria
É perjura, culpada, assassina, cruel,
Excessiva, selvagem, desleal, traiçoeira…”

OUTRAS NOTÍCIAS

Fernando negrão, líder parlamentar do PSD, enviou uma carta ao seu homólogo do BE, a garantir que o o seu partido concorda com o objetivo da Comissão Parlamentar de Inquérito às rendas de energia proposta pelos bloquistas. O PSD não abdica, porém, de tirar a limpo a "teia de pagamentos privados a decisores políticos em funções", numa alusão às acusações a Manuel Pinho.

Está em curso uma greve de 24 horas de trabalhadores não docentes da rede pública. Exigem o fim da precariedade e a integração de todos os trabalhadores precários, a alteração da nova portaria de rácios, a dotação dos mapas de pessoal com número de trabalhadores efetivamente necessário que garanta a criação da carreira especial e o fim da municipalização.

Os benefícios fiscais aos senhorias vão ficar dependentes do valor da renda cobrada. O governo admite que as rendas de longa duração paguem um máximo de 14% de IRS, embora com um valor limitado e o regresso aos cinco anos de pré-aviso para a denúncia de contratos sem termo.

Aqui está uma notícia singular: "Aumento do salário médio da economia deve ser parcialmente compensado por uma forte criação de emprego nos salários abaixo da média", diz a CE. Portugal vai continuar a ser uma economia relativamente barata do ponto de vista da mão-de-obra e com isso, dizem, criará mais empregos e fará descer o desemprego, embora mais devagar.

Em destaque, aqui fica uma sugestão de leitura ancorada numa notícia agradável para todos nós. Raquel Moleiro, jornalista do Expresso, viu o seu trabalho “Escravos do Rio”, com fotos de Luís Barra, publicado na revista E do Expresso no final do ano passado, distinguido na 20ª edição do Prémio AMI – Jornalismo Contra a Indiferença. Fala-nos de uma realidade cruel. “São mais de mil. Todos os dias apanham no Tejo toneladas de ameijoas japonesas, contaminadas mas que geram milhões. Não para eles. Tailandeses e romenos são controlados por redes que começam no estuário e terminam na Galiza. Pelo caminho há agressões, armas, furtos, falsificações, fraude fiscal, atentados á saúde pública, exploração laboral e suspeitas de tráfico humano”.

Primeiras Páginas

Críticas levam Sócrates a abandonar o PS - JN

Regras nos subsídios de viagens dos deputados vão mudar – Público

Habitação Benefícios fiscais a senhorois vão depender do valor da renda – DN

“Há 600 mil famílias em risco de perder a habitação” – I

Banca perdoa 94,5 milhões ao Sporting – Correio da Manhã

Todos os países do euro vão ter défice abaixo dos 3% - Negócios

Rui Vitória Convite das Arábias – A Bola

“Não vou dar a Meirim a alegria de me castigar outra vez” (Bruno de Carvalho) – Record

“FC Porto é quase uma equipa nossa” (Hugo Sánchez ex-goleador do Real Madrid e da seleção do México) – O Jogo

LÁ FORA

É o fim. A ETA anunciou o seu desmantelamento enquanto organização e o final da sua trajetória e atividade política. Bastou um comunicado, publicado nas publicações bascas Gara e Berriapara colocar um ponto final no que fora um pesadelo. Ao fim de 59 anos de existência, a ETA, anuncia o El País, “é a última organização terrorista a extinguir-se na Europa”.

Morreu ontem o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, vítima de doença. O dirigente do maior partido da oposição moçambicana terá perdido a vida a bordo de um helicópteroquando era transportado da Serra da Gorongosa para tratamento médico urgente. Dhlakama, de 65 anos, sofria de diabetes e vivia na Serra da Gorongosa desde a eclosão do conflito militar em 2014. Entre finais de 2016 e princípios do ano passado o líder da Renamo acordou com o Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, uma trégua por tempo indeterminado. De nome completo Afonso Macacho Marceta Dhlakama, o líder da Renamo nasceu a 1 de Janeiro de 1953, em Mangunde, distrito de Chibabava em Sofala. Era filho de um líder tradicional, o régulo Mangunde

Tardou, mas lá chegaram. Só a partir da tarde de ontem o Dicionário Biográfico Electrónico, da espanhola Real Academia de História, qualifica Francisco Franco como ditador. A edição em papel, publicada há sete anos, gerou grande controvérsia por evitar aquela definição e optar por o considerar apenas autoritário, além de assumir um tom geral favorável ao lado franquista. A nova entrada começa assim: "Franco Bahamonde, Francisco.Ferrol (La Coruña), 4.XII.1892—Madrid, 20.XI.1975. Jefe del Estado y dictador. [...] Anticomunista y conservador…”.

Afinal os carros a gasóleo estão para durar. A fazer fé num trabalho do jornal suíço Le Temps, a alemã Bosch tem um programa destinado a salvar aquele tipo de automóveis. Claro que ao mesmo tempo o jornal pergunta se esta será uma solução durável ou apenas uma forma de ganhar tempo após o escândalo da Volkswagen há três anos.

Se estivesse fisicamente vivo, Karl Marx celebraria amanhã, sábado, 200 anos. O jornal mexicano La Jornada assegura que o filósofo continua cada vez mais presente, como se vê pela quantidade de congressos internacionais, exposições debates, mesas redondas, conferências à volta do pensamento de Marx que se realizarão um pouco por todo o mundo ao longo dos próximos dias. Segundo o jornal, Marx está vivo graças aos jovens, que têm vindo a recuperar o pensamento do autor do Manifesto do Partido Comunista na sequência da crise que afetou inclusive as economias mais fortes do planeta.

FRASES

“A injustiça que agora a direção do PS comete comigo, juntando-se à Direita política na tentativa de criminalizar uma governação, ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político”. José Sócrates, ex-Primeiro-minsitro no JN

“Estes acordos são muito comuns entre celebridades e pessoas ricas”. Donald Trump, presidente dos EUA ao reconhecer que pagou para silenciar a atriz de filmes Porno Stormy Davis

O QUE ANDO A LER E A VER

Dois livros grandes livros povoaram o meu quotidiano nos últimos tempos. Ambos tomam como referência, ou ponto de partida, o mundo literário. Se sobre eles apenas poderei escrever de uma forma muito breve, isso em nada diminui a grandeza de cada um deles.

Começo por “Alma de Viajante – 25 autores que conheci”, de Mário Cláudio no exato momento em que aparece nas bancas o seu novo romance, “Memórias Secretas”. Num país de rara prosa de escritores sobre outros escritores, esta investida de Cláudio, através de crónicas marcadas por uma ironia certeira na composição de retratos de encontros, às vezes breves, outras apenas percebidos, resulta na composição de duas personagens inexistentes uma sem a outra: a do observador e a do observado. Nisso, Mário Cláudio não tem par nas letras portuguesas. A serenidade do olhar esconde a construção cáustica de pequenas narrativas sobre o contacto com escritores famosos, como Ferreira de Castro, que vagamente conheceu no Hotel das Caldas das Taipas no final da adolescência, Jorge de Sena, que o apoiou em início de carreira, a acidez de Virgílio Ferreira, Ilse Losa, Pedro Homem de Melo, David Mourão Ferreira, Vasco Graça Moura, Urbano Tavares Rodrigues, ou José Saramago, a quem arrebatou o Grande Prémio de Romance e Novela com “Amadeo” no mesmo ano em que o depois Nobel concorria com “O Ano da Morte de Ricardo Reis”. Só o relato das peripécias e dos ciúmes gerados pela vitória, a que Saramago era alheio, vale a incursão neste mundo complexo. O autor, nada brando nos seus juízos se a isso a realidade o obriga, tem consciência dos perigos que corre, como assinala ao falar de Natália Correia, porque, diz, “implicará enfrentar o olhar de soslaio da corte que a tinha por imperatriz, a qual se compunha de uma maioria de irrelevantes mentais”.

Outro romance imperdível é “A Febre das almas sensíveis”, de Isabel Rio Novo. É uma descida aos infernos da tuberculose no século XIX português proporcionada por uma das personagens do livro que coleciona histórias de poetas e escritores de vida breve, ceifada pela tísica pulmonar. A tuberculose foi uma doença muito presente na obra de inúmeros artistas românticos e chegou a ser, até as primeiras décadas do século XX, uma das principais causas de morte em Portugal. Uma das miragens de cura passava pelos bons ares da serra, como acontece em “A Montanha Mágica”, que Thomas Mann situa num sanatório dos Alpes suíços. Por cá, ganhou fama o sanatório construído na serra do Caramulo, para onde Isabel transporta este retrato sociológico de um país vítima da sua própria miséria. A par de contactos breves com Cesário Verde, Júlio Dinis, Soares dos Passos, António Nobre e outros, temos, sobretudo, um fresco construído à volta de uma tragédia familiar com tuberculose em fundo.

Se está a Norte do país e puder deslocar-se ao Porto, não perca o festival Dias da Dança, com o que há de melhor na dança contemporânea, nacional e internacional. Se está a Sul, e puder passar pelo Centro Cultural de Cascais, vá lá descobrir e espantar-se com a obra nunca antes apresentada em Portugal de Lita Cabellut, uma artista que enquanto criança viveu nas ruas de Barcelona, foi adotada, descobriu o Prado, tornou-se pintora e agora, com estúdio em haia, na Holanda, é muito cotada internacionalmente.

Tenha um bom fim de semana.

BOMBA PINHO | José Sócrates sai do PS para acabar com “embaraço mútuo”


Numa carta endereçada ao partido, que o Jornal de Notícias publica nesta sexta-feira, o antigo primeiro-ministro queixa-se de “uma espécie de condenação sem julgamento” por parte de agora ex-camaradas de partido. O primeiro-ministro António Costa, o líder parlamentar Carlos César e o porta-voz socialista João Galamba falaram em “vergonha” e “desonra” caso se confirmem as suspeitas de corrupção por membros do Governo de Sócrates.

José Sócrates enviou esta quinta-feira uma carta ao PS, entregando o seu cartão de militante e queixando-se de “uma espécie de condenação sem julgamento”. A informação é avançada na edição desta sexta-feira do Jornal de Notícias e surge na sequência das críticas recentes de figuras destacadas do partido, incluindo o líder parlamentar, Carlos César, o porta-voz socialista, João Galamba, e até o primeiro-ministro, António Costa.

Na carta que o JN publica, o antigo primeiro-ministro e ex-secretário-geral socialista escreve que “a injustiça que a direção do PS comete” consigo “ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político”. “É chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo”, justifica.

António Costa afirmou na quinta-feira que em Portugal ninguém está acima da lei e que, “a confirmarem-se” as suspeitas de corrupção por membros do Governo de José Sócrates, será “uma desonra para a democracia”. No mesmo dia, questionado sobre se se sentia “envergonhado” tal como Carlos César, João Galamba respondeu: “Acho que é o sentimento de qualquer socialista, quando vê ex-dirigentes, no caso um ex-primeiro-ministro e secretário-geral do PS acusado de corrupção e branqueamento de capitais. Obviamente, envergonha qualquer socialista, sobretudo se as matérias de que é acusado vierem a confirmar-se.”

Na quarta-feira, Carlos César havia assumido que o partido sente “vergonha” das suspeitas de corrupção que recaem sobre o antigo ministro Manuel Pinho e que esta vergonha “ainda é maior” no caso de José Sócrates por se tratar de um ex-primeiro-ministro. “Penalizamo-nos muito, ficamos entristecidos e até enraivecidos com isto, com as pessoas que se aproveitam dos partidos políticos, e nomeadamente do nosso, e que tenham comportamentos desta natureza e dimensão”, acrescentou o líder parlamentar e presidente do PS.

Hélder Gomes | Expresso

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