William Tonet - Folha 8, 14
fevereiro 2014
Vista de Portugal,
a presença do MPLA na Internacional Socialista não surpreende especialmente.
Desde que se iniciou em Angola a extracção petrolífera em larga escala que a
família política internacional do partido do governo não cessou de alargar-se.
No congresso do
MPLA, em 2009, discursou como convidado um dirigente de topo do Partido Comunista
Português, que deu detalhes sobre “o alargamento de uma frente anti-imperialista
que inverta o actual curso das relações internacionais”. A proximidade com o
PCP vêm dos tempos do heróico combate pela independência, quando o movimento
angolano era uma referência para todas as forças da luta anti-colonial.
Mas há muito que o
MPLA se transformou num poder pró-imperialista e pró-capitalista, pouco
interessado na inversão do “actual curso das relações internacionais”. É
assim que a amizade com o PCP se vai tornando cada vez mais incómoda, tanto
mais que o regime angolano se tornou dono de muitos bens privatizados em Portugal,
da banca à energia e às telecomunicações. Aliás, naquele mesmo congresso, o
enviado comunista teve de partilhar os holofotes com Nuno Morais Sarmento, um
ex-ministro do Partido Social Democrata, de direita, com responsabilidades na
privatização da Galp a favor dos interesses da oligarquia angolana.
Esta amplitude das
relações políticas do MPLA não é de hoje. O PSD já chegara aos palcos do MPLA
em Setembro de 1991, quando Cavaco Silva, então de visita ao país como
primeiro-ministro, aproveitou para participar num comício partidário na cidade
de Luena.
Não surpreende por
isso que também os socialistas portugueses se encontrem em irmandade política
com a cúpula do MPLA no seio da Internacional Socialista.
É que, não só foram
governos do Partido Socialista que abriram ao regime de Angola o acesso à
propriedade de grandes grupos económicos portugueses, como também são do PS
muitos dos ex-governantes portugueses nomeados para cargos de topo em
empresas de direito angolano.
TRÁFICO DE
INFLUÊNCIA DO MPLA CORROMPE POLÍTICOS PORTUGUESES
Estão nessa
situação 27 membros de governos portugueses, onze dos quais do PS, segundo o
estudo que publicámos no livro “Os Donos Angolanos de Portugal”. Estas são
empresas de capitais angolanos (Finertec, banco Atlântico, BAI), de maioria
angolana (Multitel) ou filiais angolanas de empresas portuguesas (Millenium,
Mota Engil) ou brasileiras (Camargo Correa), que incluem no seu capital
“parceiros locais” angolanos.
Esta proximidade do
PS português com o poder angolano é a mesma que outras formações da Internacional
Socialista foram mantendo, ao longo dos anos, com regimes políticos que nada
tinham de comum com os princípios políticos proclamados pela Internacional
Socialista. Ilustres membros da IS foram também, no passado, os ditadores
tunisino Ben Ali ou o egípcio Hosni Mubarak.
Mário Soares,
histórico socialista e ex-presidente da República de Portugal, refere-se criticamente
ao fenómeno: “ditaduras [como a da Tunísia] não devem poder entrar na Internacional
Socialista, mas é a mesma razão pela qual o MPLA também faz parte: é o partido
único de José Eduardo dos Santos, ditador que confunde o seu gozo próprio com o
orçamento” (entrevista a Joaquim Vieira, 2013).
Pelo seu lado, o
presidente do Parlamento Europeu, o também socialista Martin Schultz, confrontado
com as vultuosas aplicações financeiras do poder angolano em Portugal, declarou
em Fevereiro de 2012 que “este tipo de pedidos [de investimento, feitos pelo
governo português ao regime angolano] condena Portugal ao declínio.
Lisboa deve
perceber que só tem hipóteses no quadro da União Europeia, onde há um modelo
democrático estável que pode ser conjugado com uma estabilidade económica”.
As palavras de
Schultz valem pouco: assim como as suas críticas a Luanda convivem bem com a
presença do secretário-geral do MPLA na vice-presidência da IS, o líder do SPD
alemão aceita pactuar com o partido de Angela Merkel, a mesma direita que
ameaça a União Europeia a golpes de empobrecimento sobre países como Portugal.
Mas mais significativa que a presença de vozes críticas no campo da Internacional
Socialista, é a falta de ouvidos para as escutar. O autoritarismo e o modelo de
acumulação de riqueza pelo regime angolano não põe em causa o seu papel naquela
organização.
Ora, nada demonstra
melhor a força da influência de Luanda entre os dirigentes políticos dos
partidos socialistas, desde logo portugueses. Vendo o MPLA sentado sobre a
riqueza nacional angolana, logo se prestam a atribuir-lhe todos os
cartões-de-visita e credenciais de esquerda que a Internacional Socialista tem
para dar.
(*) Membro da
Comissão Política do Bloco de Esquerda
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