Lisboa, 24 mar
(Lusa) - O número de portugueses que não conseguem pagar a renda, comer uma
refeição de carne e peixe ou aquecer a casa, cresceu no ano passado em relação
a 2012, atingindo 10,9 por cento da população, revela o INE.
Segundo o Inquérito
às Condições de Vida e Rendimento do Instituto Nacional de Estatística (INE),
feito em 2013 com base nos rendimentos de 2012, a população portuguesa que
vivia em situação de privação material severa passou de 8,6 por cento em 2012
para 10,9 por cento no ano passado.
Considera-se
privação material severa quando um agregado não tem acesso a pelo menos quatro
de uma lista de nove itens relacionados com necessidades económicas e bens
duráveis.
Na lista incluem
itens como atrasos no pagamento de rendas, empréstimos ou despesas correntes da
casa, não conseguir comer uma refeição de carne e peixe de dois em dois dias,
não ter carro, televisão ou máquina de lavar roupa ou não conseguir fazer face
ao pagamento de uma despesa inesperada, entre outros.
No mesmo período,
25,5 por cento (21,8 por cento em 2012) dos portugueses vivia em privação
material, ou seja, sem condições financeiras para responder a três das nove
necessidades da lista.
Destes, 59,8 por
cento não tinha capacidade para pagar uma semana de férias por ano fora de
casa, 43,2 por cento não conseguiam assegurar o pagamento imediato de uma
despesa inesperada próxima de 400 euros e 28,0 por cento não conseguia manter a
casa adequadamente aquecida.
O INE analisou
ainda o risco de pobreza ou exclusão social em agregados de intensidade laboral
per capita muito reduzida - menos de 20 por cento do tempo de trabalho possível
- ou em privatização material severa, adiantando que em 2013 este atingia 27,4
por cento da população, mais dois pontos percentuais do que no período homólogo
anterior.
A privação material
foi ainda em 2013 o tema do módulo de recolha de dados sobre as condições de
vida constante do inquérito, repetindo um tema já analisado em 2009.
Os dados revelam
que 20,5 por cento da população com mais de 15 anos não teve em 2013
possibilidade de substituir a roupa usada por alguma roupa nova por causa das
dificuldades económicas, valor que aumentou face a 2009, quando 17,2 por cento
das pessoas não o podiam fazer.
As dificuldades
económicas foram também indicadas por 15,3 por cento das pessoas para não se
encontrarem com amigos ou familiares para uma bebida ou refeição pelo menos uma
vez por mês, por 21,0 por cento para não participarem regularmente numa
atividade de lazer e por 18,9 por cento para não gastarem semanalmente uma
pequena quantia de dinheiro consigo próprias.
Ainda assim, nestes
três aspetos o INE regista melhorias relativamente a 2009.
O módulo recolheu
também informação sobre a impossibilidade de satisfazer as necessidades básicas
educativas e de lazer das crianças (01 aos 15 anos), registando uma melhoria
das condições das crianças relativamente a 2009.
Ainda assim, 24 por
cento das crianças não tinham atividades extracurriculares regulares (27,3 em
2009), 14,3 por cento não podia substituir a roupa usada por nova (14,1 em
2009), 13, 1 por cento não podiam convidar de vez em quando amigos para
brincarem ou comerem juntos (20 por cento em 2009) e 12,1 por cento não podiam
participar em viagens e eventos escolares não gratuitos (13 por cento em 2009).
Considerando
simultaneamente 18 itens de privação que afetam as crianças, os dados do INE
revelam que a falta de pelo menos três itens afetava 45,7 por cento das
crianças e a falta de cinco atingia 27,3 por cento.
CFF // SO - Lusa
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