segunda-feira, 9 de junho de 2014

ERA UMA VEZ AS REPÚBLICAS BANANAS!



 Martinho Júnior, Luanda

1 – A América Central e as Caraíbas merecem uma apreciação exclusiva, já que estou a dar a volta ao mundo em minhas apreciações sobre as conjunturas do momento, global e região a região… com todos os riscos que isso implica para um “fresco” dessas dimensões!

Os sinais na América Central e Caraíbas evidenciam hoje as duas linhas que se vão radicalizando à escala global e ali se espelham de forma tão dramática, tão radical, tão por dentro das frágeis sociedades de cada uma das suas nações subdesenvolvidas!

Essa radicalização vem de há largas décadas e atravessou mesmo todo o período convencionado de“Guerra Fria”, não passando despercebido particularmente aos latino-americanos, tendo o tema sido imortalizado por exemplo ao nível dum imprescindível como foi e é Pablo Neruda (“United Fruit Cº”)…

Quanta guerrilha implicou a resistência ao domínio sem escrúpulos por parte da hegemonia unipolar nos processos impostos no México, em El Salvador, na Nicarágua… e quantos movimentos sociais libertários, emancipadores e democráticos tudo isso não foi implicando?...

Para todos eles e para muitos mais, a revolução cubana, bloqueada, sufocada pelo poder do império e tantas vezes sabotada, foi um farol e uma prova, de há mais de 5 décadas, que a resistência era possível e as alternativas segundo a lógica com sentido de vida eram mais que uma esperança, mais que uma utopia!... eram, afinal, algo que, à medida que o tempo passava, se tornava realizável muito para além da ilha bloqueada de Cuba e fazia parte das profundas raízes da América!
  
2 – A resistência e a resposta àqueles que conduzem o processo hegemónico unipolar fluem por dentro dos processos sócio-políticos na América Central e nas Caraíbas, em cada uma das nações que a compõem, com todo o vigor que as instituições permitem e com cada vez maiores mobilizações populares, que sabem avaliar e distinguir em alguns substratos das próprias oligarquias, os agenciamentos que o império vai tecendo, procurando não conceder oportunidade a melhores soluções!

As Honduras têm vivido essa contradição experimentada no tecido da sua textura sócio-política e por via do golpe que sofreu, um golpe que marca quão o império, ao contrário do que sua propaganda apregoa, tem sido nocivo e perverso em relação aos parâmetros da própria democracia representativa!

Por isso na América Central e nas Caraíbas tem-se aberto mais que nunca o espaço para a democracia participativa, aprofundando o processo democrático com o fortalecimento das organizações populares, um processo inspirado pelo exemplo da revolução cubana em nome da dignidade e das mais legítimas aspirações de toda a humanidade!

Se em condições tão adversas a resistência nas Honduras não se desvanece, noutros lugares como em El Salvador, renascem as espectativas e as esperanças libertárias!

O mapa de suas exportações provavelmente de há largas décadas que não se altera, porém as “repúblicas bananas” fizeram avanços incomensuráveis nos seus respectivos processos sócio-políticos internos… fazendo voar o condor do império para cada vez mais longínquas paragens!
  
3 – Uma das fontes de que o império se nutre para estabelecer vínculos na América Central, é aquela que procura fomentar poderosos grupos de traficantes de droga, que se vão aproximando dos mecanismos ao serviço dos poderes fantoches, a fim de fortalecê-los e com isso se oporem à ascensão da consciência e das capacidades populares: a droga reforça a alienação!

O fulcro desse expediente na região tem sido a experiência colombiana, como na Ásia é a experiência afegã: cocaína na América, ópio na Ásia e os consumidores a que se destinam são os mesmos, na América como na Europa… e até algumas das principais vias são as mesmas: as forças armadas norte-americanas!…

O processo de tão viciado que tem sido, socorre-se das drogas, como da alienação, como da mentira continuada, como da manipulação, como das ditaduras, (das oficiais agora menos, por que só se tornou possível com as disfarçadas!...).

As bases norte americanas na região indiciam esses nexos, que contribuem para pagar a sua manutenção e sustentar os agenciamentos em alguns sectores das oligarquias locais e dos perversos sistemas de“inteligência” afins: entrou-se num beco sem saída de tal ordem que agora, até as oligarquias locais poderosas são obrigadas, pela força da participação popular, a procurar outras formas de se manter seu poder, já que não se podem permitir a sustentar vícios “ad eternum”!...
  
4 – Qual é afinal a densidade histórica e antropológica dessa energia popular emergente, visível a olho nu por dentro dos processos sócio-políticos das tão causticadas que foram “repúblicas bananas” da América Central e das Caraíbas, essa força telúrica da mais fina cintura entre dois imensos oceanos, essa força “espanta condor”?

Qual o peso da ética e da moral, dos princípios e das convicções dos exilados da Terra, quando transformados em resistência e aplicados a processos sócio-políticos de amplo espectro?

Os sintomas também são cada vez mais evidentes: as“repúblicas bananas” estão em fase de migração levadas pelas “asas do condor”, poderosas asas que podem cobrir até o mais recôndito lugar da Terra, mas que se vão desvanecendo no seu contínuo esforço impossível de alcançar todos os lugares ao mesmo tempo, para produzir os mesmos resultados e os mesmos efeitos nocivos e abjectos de sempre!...

E não é que o projecto das “repúblicas bananas” está a migrar para a Europa? 

Mapa de exportações da América Central e Caraíbas

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