Martinho
Júnior, Luanda
1 – A América
Central e as Caraíbas merecem uma apreciação exclusiva, já que estou a dar a
volta ao mundo em minhas apreciações sobre as conjunturas do momento, global e
região a região… com todos os riscos que isso implica para
um “fresco” dessas dimensões!
Os sinais na
América Central e Caraíbas evidenciam hoje as duas linhas que se vão
radicalizando à escala global e ali se espelham de forma tão dramática, tão
radical, tão por dentro das frágeis sociedades de cada uma das suas nações
subdesenvolvidas!
Essa radicalização
vem de há largas décadas e atravessou mesmo todo o período convencionado
de“Guerra Fria”, não passando despercebido particularmente aos
latino-americanos, tendo o tema sido imortalizado por exemplo ao nível dum
imprescindível como foi e é Pablo Neruda (“United Fruit Cº”)…
Quanta guerrilha
implicou a resistência ao domínio sem escrúpulos por parte da hegemonia
unipolar nos processos impostos no México, em El Salvador , na Nicarágua…
e quantos movimentos sociais libertários, emancipadores e democráticos tudo
isso não foi implicando?...
Para todos eles e
para muitos mais, a revolução cubana, bloqueada, sufocada pelo poder do império
e tantas vezes sabotada, foi um farol e uma prova, de há mais de 5 décadas, que
a resistência era possível e as alternativas segundo a lógica com sentido de
vida eram mais que uma esperança, mais que uma utopia!... eram, afinal, algo
que, à medida que o tempo passava, se tornava realizável muito para além da
ilha bloqueada de Cuba e fazia parte das profundas raízes da América!
2 – A resistência e
a resposta àqueles que conduzem o processo hegemónico unipolar fluem por dentro
dos processos sócio-políticos na América Central e nas Caraíbas, em cada uma
das nações que a compõem, com todo o vigor que as instituições permitem e com
cada vez maiores mobilizações populares, que sabem avaliar e distinguir em
alguns substratos das próprias oligarquias, os agenciamentos que o império vai
tecendo, procurando não conceder oportunidade a melhores soluções!
As Honduras têm
vivido essa contradição experimentada no tecido da sua textura sócio-política e
por via do golpe que sofreu, um golpe que marca quão o império, ao contrário do
que sua propaganda apregoa, tem sido nocivo e perverso em relação aos
parâmetros da própria democracia representativa!
Por isso na América
Central e nas Caraíbas tem-se aberto mais que nunca o espaço para a democracia
participativa, aprofundando o processo democrático com o fortalecimento das
organizações populares, um processo inspirado pelo exemplo da revolução cubana
em nome da dignidade e das mais legítimas aspirações de toda a humanidade!
Se em condições tão
adversas a resistência nas Honduras não se desvanece, noutros lugares como em El Salvador , renascem
as espectativas e as esperanças libertárias!
O mapa de suas
exportações provavelmente de há largas décadas que não se altera, porém
as “repúblicas bananas” fizeram avanços incomensuráveis nos seus
respectivos processos sócio-políticos internos… fazendo voar o condor do
império para cada vez mais longínquas paragens!
3 – Uma das fontes
de que o império se nutre para estabelecer vínculos na América Central, é
aquela que procura fomentar poderosos grupos de traficantes de droga, que se
vão aproximando dos mecanismos ao serviço dos poderes fantoches, a fim de
fortalecê-los e com isso se oporem à ascensão da consciência e das capacidades
populares: a droga reforça a alienação!
O fulcro desse
expediente na região tem sido a experiência colombiana, como na Ásia é a
experiência afegã: cocaína na América, ópio na Ásia e os consumidores a que se
destinam são os mesmos, na América como na Europa… e até algumas das principais
vias são as mesmas: as forças armadas norte-americanas!…
O processo de tão
viciado que tem sido, socorre-se das drogas, como da alienação, como da mentira
continuada, como da manipulação, como das ditaduras, (das oficiais agora menos,
por que só se tornou possível com as disfarçadas!...).
As bases norte americanas
na região indiciam esses nexos, que contribuem para pagar a sua manutenção e
sustentar os agenciamentos em alguns sectores das oligarquias locais e dos
perversos sistemas de“inteligência” afins: entrou-se num beco sem saída de
tal ordem que agora, até as oligarquias locais poderosas são obrigadas, pela
força da participação popular, a procurar outras formas de se manter seu poder,
já que não se podem permitir a sustentar vícios “ad eternum”!...
4 – Qual é afinal a
densidade histórica e antropológica dessa energia popular emergente, visível a
olho nu por dentro dos processos sócio-políticos das tão causticadas que
foram “repúblicas bananas” da América Central e das Caraíbas, essa
força telúrica da mais fina cintura entre dois imensos oceanos, essa
força “espanta condor”?
Qual o peso da
ética e da moral, dos princípios e das convicções dos exilados da Terra, quando
transformados em resistência e aplicados a processos sócio-políticos de amplo
espectro?
Os sintomas também
são cada vez mais evidentes: as“repúblicas bananas” estão em fase de
migração levadas pelas “asas do condor”, poderosas asas que podem cobrir
até o mais recôndito lugar da Terra, mas que se vão desvanecendo no seu
contínuo esforço impossível de alcançar todos os lugares ao mesmo tempo, para
produzir os mesmos resultados e os mesmos efeitos nocivos e abjectos de
sempre!...
E não é que o
projecto das “repúblicas bananas” está a migrar para a Europa?
Mapa de exportações
da América Central e Caraíbas
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