Paulo
Baldaia – Diário de Notícias, opinião
Nunca
sabemos o que verdadeiramente se passa no mundo financeiro que controla a nossa
vida a nível global. Instituições altamente respeitadas caem como castelos de
cartas, bastando para isso que a pressão de tanta coisa mal feita liberte uma
pequena notícia. Como é possível que, até ao primeiro furo, se consiga esconder
toda a lixeira debaixo do tapete?
Isto
é assim por aqui e em qualquer parte do mundo. A primeira notícia funciona como
uma espécie de furo no insuflável, que vai esvaziando e soltando rios de
informação que não deveria ser possível esconder. O que agora se passa na
finança do grupo Espírito Santo não é na verdade o que agora se passa, é pior.
É o que só agora se sabe.
Sabendo-se,
aliás, de forma quase diária alguma coisa sobre o que aconteceu lá atrás, nós
passamos por tudo isto sem questionar como foi possível fazer sem ninguém ser
capaz de ver. Vivemos conformados porque nos dizem que é inevitável que as
coisas se passem assim. Como se as coisas, todas as coisas, tivessem vida
própria.
Desta
vez há até grandes elogios ao Banco de Portugal, como se a instituição tivesse
evitado uma tragédia, mas a verdade é que não evitou. A tragédia está
consumada, podia ser de maiores dimensões se Carlos Costa não tivesse agido
como agiu mas também poderia ter consequências bem menores se o sistema de
vigilância funcionasse eficazmente. Nesta história, o Banco de Portugal terá
evitado males maiores para o BES, obrigando a separar o trigo do joio. E é
claro que comparando a governação de Carlos Costa com a de Vítor Constâncio, a actual
oferece-nos muito maior segurança, mas o problema é que os bancos centrais
continuam sem capacidade de evitar que muitas coisas aconteçam,
"limitando-se" a deixar-nos ver que aconteceram.
Nós
nunca sabemos porque nunca queremos saber como foi possível acontecer sem
ninguém ver, nem como será possível evitar que volte a acontecer. Damos muito
mais valor à guerra mediática, à novela dos nomes ou ao envolvimento de uma
família de banqueiros, numa história que atinge o clímax por envolver alguém a
quem reconhecíamos um poder quase monárquico.
Quando
aconteceu o que aconteceu com alguns bancos nacionais no meio de uma grave
crise do sistema financeiro global e se seguiram testes de stress feitos
pelas "inatacáveis e insuspeitas" instituições europeias, nós
pensámos que podíamos dormir descansados e, afinal, não podemos, porque a
ignorância nunca é um bom remédio. Eles só mostram o que querem mostrar, nós
nunca sabemos o que está a acontecer. De vez em quando, deixam-nos espreitar
uma breve síntese do que já aconteceu, ficando a ilusão de que a vigilância
funciona. Mesmo quando nos chamam a pagar, nunca nos contam a história toda.
*Por
decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
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