O
maior partido da oposição moçambicana ameaça dividir o país se o Governo não
aceitar a paridade nas forças de defesa e segurança. Mas analista não acredita
nessa possibilidade.
Depois
da retomada dos confrontos em Moçambique agora a RENAMO ameaça dividir o país,
caso o Governo não aceite a sua proposta de paridade na composição das forças
de defesa e segurança.
O
secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo justificou que "não podemos
deixar que os moçambicanos entrem em confronto, sendo que esse Moçambique é
grande e cada um pode ocupar o seu espaço". Face ao endurecimento de
posições a DW África entrevistou Albino Forquilha, ex-militar e especialista
para a promoção da paz na FOMICRES, uma ONG que trabalha na área do combate à
proliferação de armas.
DW
África: A RENAMO tem capacidade para dividir Moçambique ou não?
Albino
Forquilha (AF): Eu diria que a RENAMO não teria capacidade para fazer uma
divisão do país em termos militares. Mas, entretanto, também temos de ter em
conta que o estilo de guerra que a RENAMO usa é mesmo guerrilha e a divisão do
país poderá não ser de forma física. Mas psicologicamente, pode passar para um
conjunto de moçambicanos um sentimento de uma deslocação, praticamente inibida.
De que não possam circular, que todos os dias não possam usar os seus veículos
do norte para o centro ou o sul e vice-versa. Desta maneira, poderá, se calhar,
perceber-se uma divisão do país. Mas o país que nós temos é uno
constitucionalmente e não acredito, no sentido de ter um novo Estado, que a
RENAMO possa conseguir lograr este propósito.
DW
África: A RENAMO tem um grande apoio no centro do país que é o seu bastião.
Acha que este partido pode fazer um aproveitamento étnico para realmente
efetivar os seus objetivos?
AF: A
guerra da RENAMO foi em parte étnica mas também devemos dizer que ao longo do
tempo esta questão de etnicidade deixou de ter um certo valor, se formos
analisar os resultados das eleições. Ao longo dos últimos quinze, vinte anos, a
RENAMO perdeu essa capacidade. Todavia, aquilo que está a acontecer neste
momento… Eles aparecem à beira da estrada, disparam e voltam a esconder-se. Mas
em volta tem aldeias, tem pessoas que lá vivem… Agora se se pode fazer uma
ligação entre este assunto e questões de etnias… talvez, sim. Mas, por outro
lado iria puxar o aspecto do medo que as populações teem. As pessoas sabem o
que é bom e o que é mau. As pessoas não querem a guerra. Podem apoiar a RENAMO
como partido político mas não os ataques. Mas podem ter o receio de denunciar e
entre as comunidades haver também traições (…) e depois há represálias.”
DW
África: A RENAMO decretou há cerca de um mês o cessar- fogo unilateral e esta
semana derrubou-o. E, nos últimos dias, o número de vítimas aumentou
consideravelmente. Como vê o extremar de posições no seio da RENAMO neste
momento?
AF: É
difícil de facto colocar a RENAMO numa mesa e nos permitir alguma análise
íntegra. A RENAMO habituou-nos a dizer uma coisa hoje e amanhã poder mudar…
Parece-nos, numa análise mais calma, que a RENAMO tem receio de que indo de
facto às eleições, como os outros partidos, teme poder ficar sem os resultados
que tem no Parlamento. Pode ficar em terceiro ou quarto lugar, porque hoje está
em segundo lugar, após a FRELIMO, e prefere ganhar esta posição ou o seu
poderio político na mesa de negociações através das armas que tem. Penso que a
RENAMO está a procurar, como alguns dizem, fazer o que se chama um golpe de
Estado. [O que a RENAMO diria, segundo Adelino Forquilha] Sentamos à mesa, e se
voces não aceitam matamos o povo.
DW
África: Numa entrevista o porta-voz da RENAMO, António Muchanga, disse que os
homens da RENAMO agora vão enfrentar o exército por uma questão de
sobrevivencia e que, por isso, a palavra do líder Afonso Dhlakama já não vale.
Ontem [03.06.14] o secretério geral da RENAMO Manuel Bissopo, veio fazer a
ameaça de dividir o país. Com tudo isto considera que existe sinais de que o
poder está dividido na RENAMO, uma vez que são estas duas figuras que aparecem
a fazer as ameaças?
AF: Eu
não excluiria esta possibilidade, de que a RENAMO está, ou estaria já, de forma
clara dividida há muito tempo. Primeiro porque nós temos o próprio senhor
Bissopo que é um deputado na Assembleia da República. Nós temos a RENAMO que
está no Parlamento moçambicano, que não tem estado a aparecer muito, a falar
sobre este tipo de assunto. Estes demonstram claramente que estão interessados
nos procedimentos do processo democrático e a lutarem pelos desígnios do seu
partido por via política. Temos o outro grupo, esse que está no mato e que tem
estado associado, às vezes, ao Bissopo, talvez por causa da poisição que tem,
que é o de secretário geral, e estão lá a disparar. Agora, a coisa mais
admirável é que mesmo os que estão no Parlamento, não podem comentar muito
contrariando os militares, porque, provavelmente, eles acham que a sua
manutenção no Parlamento vai depender dos resultado dessas hostilidades. Mas o
outro pode ser o facto de que eles mesmo contrariando os homens armados possam
sofrer. Porque a RENAMO mata. A RENAMO está a disparar.
Na
foto: Tropas moçambicanas em Maringué, no centro do país em outubro de 2013
Deutsche Welle - Autoria Nádia
Issufo - Edição Carla
Fernandes / António Rocha
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