Jacarta,
29 ago (Lusa) - O ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia, Marty
Natalegawa, considera que a "história positiva" de cooperação entre a
Indonésia e Timor-Leste, após 24 anos de ocupação marcados por várias violações
de direitos humanos, deve servir de exemplo.
"Desafio
quem quiser que me indique outra situação noutra parte do mundo que tenha sido
inicialmente marcada por tamanha tristeza, conflito, miséria e perda de vidas
humanas (...) e, ainda assim, por mudanças tão transformadoras de forma tão
rápida", desafiou o chefe da diplomacia indonésia, em declarações à Lusa
em Jacarta.
Timor-Leste
celebra sábado o 15.º aniversário do dia do referendo em que mais de 98 por
cento dos timorenses votaram na consulta -- termo imposto pela Indonésia,
potência ocupante -- sobre o estatuto de Timor-Leste. O resultado em massa a
favor de um futuro Estado independente abriu caminho à independência do
território, a 20 de maio de 2002.
Marty
Natalegawa referiu que todos os seus homólogos que visitam a Indonésia e
Timor-Leste dizem que "a transformação na relação [entre os dois países] é
uma história que deve ser contada ao resto do mundo".
Em
jeito de comparação, o ministro falou num país africano que surgiu de uma
divisão e que, segundo as Nações Unidas, está à beira de um colapso.
Três
anos após a declaração da independência, o atual conflito no Sudão do Sul já
fez 1,5 milhões de desalojados e dezenas de milhar de mortos.
O
governante destacou que agora "o povo da Indonésia abraça o povo de
Timor-Leste" e "há boa vontade em relação à Indonésia" entre os
timorenses.
Após
a celebração da independência de Timor-Leste, a Indonésia teve presente que,
como "a comunidade internacional iria virar-se para outro lado",
"seria deixada para trás, como vizinha", recordou o ministro,
justificando a cooperação com Timor-Leste.
OS
dois países têm cooperado em várias áreas, desde formação da administração
pública, pescas e desenvolvimento regional integrado a educação, existindo
cerca de 10.000 timorenses a estudar na Indonésia que pagam propinas como se
fossem cidadãos nacionais.
Grande
parte dos produtos que circulam em Timor-Leste chegam do único país com o qual
a antiga colónia portuguesa tem fronteiras terrestres e o 'bahasa' indonésio é
ainda hoje uma língua de trabalho no país, a par do inglês, apesar de as
línguas oficiais serem o tétum e o português.
Os
governos de Jacarta e Díli resistiram à pressão internacional para a criação de
um tribunal internacional para julgar os crimes cometidos em Timor-Leste,
preferindo retirar lições em conjunto e superar o passado.
Em
2005, criaram a Comissão da Verdade e Amizade (CVA) para estabelecer uma
verdade conclusiva sobre os atos de violência ocorridos antes e depois do
referendo de 30 de agosto de 1999, que culminou com a independência de
Timor-Leste a 20 de maio de 2002.
A
15 de julho de 2008, a
CVA concluiu que os militares indonésios foram responsáveis por violações dos
direitos humanos em 1999.
Durante
cerca de um mês depois do anúncio dos resultados da consulta popular, mais de
mil pessoas foram mortas e centenas de milhar obrigadas a viajar para a
Indonésia.
"É
claro que há problemas que devem ser resolvidos. Todas as recomendações da CVA
para fazer a reconciliação e promover a amizade têm tido seguimento",
destacou o governante, quando questionado sobre as pessoas que continuam
desaparecidas.
Dos
504 casos transmitidos relativamente a Timor-Leste entre 1980 e 2014, o Grupo
de Trabalho das Nações Unidas sobre os Desaparecimentos Forçados ou
Involuntários (WGEID) conseguiu resolver 58 a partir de informações de fontes
governamentais e 18 com base em dados de outras fontes.
Segundo
o relatório sobre direitos humanos de 2010 da Missão Integrada da ONU em
Timor-Leste, cujo mandato terminou a 31 de dezembro de 2012, em junho de 2010,
"dos 391 indivíduos acusados de crimes graves associados ao período de
1999 continuavam à solta 303".
AYN
// EL - Lusa
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