sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Indonésia diz que a "história positiva" com Timor-Leste deve servir de exemplo




Jacarta, 29 ago (Lusa) - O ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia, Marty Natalegawa, considera que a "história positiva" de cooperação entre a Indonésia e Timor-Leste, após 24 anos de ocupação marcados por várias violações de direitos humanos, deve servir de exemplo.

"Desafio quem quiser que me indique outra situação noutra parte do mundo que tenha sido inicialmente marcada por tamanha tristeza, conflito, miséria e perda de vidas humanas (...) e, ainda assim, por mudanças tão transformadoras de forma tão rápida", desafiou o chefe da diplomacia indonésia, em declarações à Lusa em Jacarta.

Timor-Leste celebra sábado o 15.º aniversário do dia do referendo em que mais de 98 por cento dos timorenses votaram na consulta -- termo imposto pela Indonésia, potência ocupante -- sobre o estatuto de Timor-Leste. O resultado em massa a favor de um futuro Estado independente abriu caminho à independência do território, a 20 de maio de 2002.

Marty Natalegawa referiu que todos os seus homólogos que visitam a Indonésia e Timor-Leste dizem que "a transformação na relação [entre os dois países] é uma história que deve ser contada ao resto do mundo".

Em jeito de comparação, o ministro falou num país africano que surgiu de uma divisão e que, segundo as Nações Unidas, está à beira de um colapso.

Três anos após a declaração da independência, o atual conflito no Sudão do Sul já fez 1,5 milhões de desalojados e dezenas de milhar de mortos.

O governante destacou que agora "o povo da Indonésia abraça o povo de Timor-Leste" e "há boa vontade em relação à Indonésia" entre os timorenses.

Após a celebração da independência de Timor-Leste, a Indonésia teve presente que, como "a comunidade internacional iria virar-se para outro lado", "seria deixada para trás, como vizinha", recordou o ministro, justificando a cooperação com Timor-Leste.

OS dois países têm cooperado em várias áreas, desde formação da administração pública, pescas e desenvolvimento regional integrado a educação, existindo cerca de 10.000 timorenses a estudar na Indonésia que pagam propinas como se fossem cidadãos nacionais.

Grande parte dos produtos que circulam em Timor-Leste chegam do único país com o qual a antiga colónia portuguesa tem fronteiras terrestres e o 'bahasa' indonésio é ainda hoje uma língua de trabalho no país, a par do inglês, apesar de as línguas oficiais serem o tétum e o português.

Os governos de Jacarta e Díli resistiram à pressão internacional para a criação de um tribunal internacional para julgar os crimes cometidos em Timor-Leste, preferindo retirar lições em conjunto e superar o passado.

Em 2005, criaram a Comissão da Verdade e Amizade (CVA) para estabelecer uma verdade conclusiva sobre os atos de violência ocorridos antes e depois do referendo de 30 de agosto de 1999, que culminou com a independência de Timor-Leste a 20 de maio de 2002.

A 15 de julho de 2008, a CVA concluiu que os militares indonésios foram responsáveis por violações dos direitos humanos em 1999.

Durante cerca de um mês depois do anúncio dos resultados da consulta popular, mais de mil pessoas foram mortas e centenas de milhar obrigadas a viajar para a Indonésia.

"É claro que há problemas que devem ser resolvidos. Todas as recomendações da CVA para fazer a reconciliação e promover a amizade têm tido seguimento", destacou o governante, quando questionado sobre as pessoas que continuam desaparecidas.

Dos 504 casos transmitidos relativamente a Timor-Leste entre 1980 e 2014, o Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre os Desaparecimentos Forçados ou Involuntários (WGEID) conseguiu resolver 58 a partir de informações de fontes governamentais e 18 com base em dados de outras fontes.

Segundo o relatório sobre direitos humanos de 2010 da Missão Integrada da ONU em Timor-Leste, cujo mandato terminou a 31 de dezembro de 2012, em junho de 2010, "dos 391 indivíduos acusados de crimes graves associados ao período de 1999 continuavam à solta 303".

AYN // EL - Lusa

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