Jacarta,
18 set (Lusa) - Portugal e a Indonésia têm a "obrigação moral" de
"salvar Timor-Leste da possível maldição dos recursos naturais", sob
pena de a pobreza aumentar no país, disse à Lusa o investigador indonésio
Kristio Wahyono.
"É
uma obrigação moral" para os dois países "salvar Timor-Leste da
possível 'maldição dos recursos naturais', dado que a economia timorense é uma
das mais profundamente dependentes do petróleo no mundo. Caso contrário, mais
pessoas deste país ficarão abaixo da linha da pobreza", alertou.
Kristio
Wahyono espera que o tema seja discutido hoje, na visita a Portugal do
Presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono.
O
também antigo representante da Indonésia na Administração Transitória das
Nações Unidas em Timor
Leste (UNTAET), entre 2000 e 2003, defendeu que os dois
países devem apoiar o governo timorense no Plano Estratégico de Desenvolvimento
2011-2030 e investir no país.
Apesar
de discordar dos especialistas que alertam para o risco de o país se tornar num
Estado falhado, o docente de Estudos de Timor-Leste considera que a Indonésia
tem a "obrigação moral" de prevenir que tal aconteça, depois de ter
invadido o país em 1975 e de ali ter cometido violações de direitos humanos
durante 25 anos.
"O
próximo governo da Indonésia não deve cometer um segundo erro, aproveitando a
oportunidade económica ou envolvendo-se na exploração de petróleo no Mar de
Timor, a menos que obtenha o consentimento de Timor-Leste e da Austrália",
respondeu.
Kathleen
Rustici, diretora-adjunta do departamento do Sudeste Asiático do Centro para
Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), entende que a
Indonésia vê Timor-Leste como um "parceiro", até porque partilha uma
ilha com o país vizinho, logo, "o desenvolvimento e a estabilidade
[timorenses] são bons" para ambos.
A
Indonésia tem apoiado Timor-Leste em várias áreas, como o desenvolvimento
regional, as pescas e a educação, sendo que boa parte dos produtos disponíveis
na antiga colónia portuguesa partem do mercado indonésio.
Para
Kristio Wahyono, Portugal e a Indonésia devem "incentivar e dar toda a
assistência possível a Timor-Leste" através da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP) e da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN),
respetivamente.
Timor-Leste
é o único país do Sudeste Asiático que ainda não foi admitido na Associação das
Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e o único da região que faz parte da CPLP.
A
viagem a Portugal, bem como a visita a Timor-Leste em agosto, deve-se à
intenção de Susilo Bambang Yudhoyono de encerrar o capítulo da ocupação
indonésia da antiga colónia portuguesa, segundo declarações do ministro dos
Negócios Estrangeiros da Indonésia, Marty Natalegawa, proferidas à agência Lusa
em agosto.
Segundo
a imprensa indonésia, o antigo general indonésio Agum Gumelar disse, na semana
passada, que foi incumbido pelo governo de criar uma equipa para procurar o
local da morte de Nicolau Lobato, líder da Resistência Timorense, que terá sido
morto durante um combate contra os militares indonésios em 1978.
Na
interpretação de Kristio Wahyono, apesar de as autoridades timorenses terem
sacrificado a procura da justiça em prol da paz, Susilo Bambang Yudhoyono quer
evitar que este "legado de violações de direitos humanos" seja um
"peso" para o seu sucessor, Joko Widodo, que assumirá funções a 20 de
outubro.
Nas
recentes eleições presidenciais, o Partido Democrático, de Susilo Bambang
Yudhoyono, apoiou o candidato derrotado, Prabowo Subianto, que, segundo alguns
relatórios, liderava a unidade que terá assassinado Nicolau Lobato e cujo nome
tem sido associado a outras violações de direitos humanos na Indonésia.
Kathleen
Rustici considera que o Presidente indonésio tem "um desempenho misto
quando se trata de abordar direitos humanos", mas reconhece que a
Indonésia tem evoluído nesse aspecto e destaca que as relações com Timor-Leste
"melhoraram consideravelmente", durante os dez anos da presidência de
Susilo Bambang Yudhoyono.
A
última visita oficial de um chefe de Estado indonésio a Portugal ocorreu em
1960. Os dois países estiveram de relações diplomáticas cortadas durante o
período da ocupação indonésia, que culminou com a declaração da independência
de Timor-Leste em 2002.
AYN
// PJA - Lusa
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