sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Portugal e Indonésia têm a "obrigação" de "salvar Timor-Leste", diz investigador




Jacarta, 18 set (Lusa) - Portugal e a Indonésia têm a "obrigação moral" de "salvar Timor-Leste da possível maldição dos recursos naturais", sob pena de a pobreza aumentar no país, disse à Lusa o investigador indonésio Kristio Wahyono.

"É uma obrigação moral" para os dois países "salvar Timor-Leste da possível 'maldição dos recursos naturais', dado que a economia timorense é uma das mais profundamente dependentes do petróleo no mundo. Caso contrário, mais pessoas deste país ficarão abaixo da linha da pobreza", alertou.

Kristio Wahyono espera que o tema seja discutido hoje, na visita a Portugal do Presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono.

O também antigo representante da Indonésia na Administração Transitória das Nações Unidas em Timor Leste (UNTAET), entre 2000 e 2003, defendeu que os dois países devem apoiar o governo timorense no Plano Estratégico de Desenvolvimento 2011-2030 e investir no país.

Apesar de discordar dos especialistas que alertam para o risco de o país se tornar num Estado falhado, o docente de Estudos de Timor-Leste considera que a Indonésia tem a "obrigação moral" de prevenir que tal aconteça, depois de ter invadido o país em 1975 e de ali ter cometido violações de direitos humanos durante 25 anos.

"O próximo governo da Indonésia não deve cometer um segundo erro, aproveitando a oportunidade económica ou envolvendo-se na exploração de petróleo no Mar de Timor, a menos que obtenha o consentimento de Timor-Leste e da Austrália", respondeu.

Kathleen Rustici, diretora-adjunta do departamento do Sudeste Asiático do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês), entende que a Indonésia vê Timor-Leste como um "parceiro", até porque partilha uma ilha com o país vizinho, logo, "o desenvolvimento e a estabilidade [timorenses] são bons" para ambos.

A Indonésia tem apoiado Timor-Leste em várias áreas, como o desenvolvimento regional, as pescas e a educação, sendo que boa parte dos produtos disponíveis na antiga colónia portuguesa partem do mercado indonésio.

Para Kristio Wahyono, Portugal e a Indonésia devem "incentivar e dar toda a assistência possível a Timor-Leste" através da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), respetivamente.

Timor-Leste é o único país do Sudeste Asiático que ainda não foi admitido na Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e o único da região que faz parte da CPLP.

A viagem a Portugal, bem como a visita a Timor-Leste em agosto, deve-se à intenção de Susilo Bambang Yudhoyono de encerrar o capítulo da ocupação indonésia da antiga colónia portuguesa, segundo declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros da Indonésia, Marty Natalegawa, proferidas à agência Lusa em agosto.

Segundo a imprensa indonésia, o antigo general indonésio Agum Gumelar disse, na semana passada, que foi incumbido pelo governo de criar uma equipa para procurar o local da morte de Nicolau Lobato, líder da Resistência Timorense, que terá sido morto durante um combate contra os militares indonésios em 1978.

Na interpretação de Kristio Wahyono, apesar de as autoridades timorenses terem sacrificado a procura da justiça em prol da paz, Susilo Bambang Yudhoyono quer evitar que este "legado de violações de direitos humanos" seja um "peso" para o seu sucessor, Joko Widodo, que assumirá funções a 20 de outubro.

Nas recentes eleições presidenciais, o Partido Democrático, de Susilo Bambang Yudhoyono, apoiou o candidato derrotado, Prabowo Subianto, que, segundo alguns relatórios, liderava a unidade que terá assassinado Nicolau Lobato e cujo nome tem sido associado a outras violações de direitos humanos na Indonésia.

Kathleen Rustici considera que o Presidente indonésio tem "um desempenho misto quando se trata de abordar direitos humanos", mas reconhece que a Indonésia tem evoluído nesse aspecto e destaca que as relações com Timor-Leste "melhoraram consideravelmente", durante os dez anos da presidência de Susilo Bambang Yudhoyono.

A última visita oficial de um chefe de Estado indonésio a Portugal ocorreu em 1960. Os dois países estiveram de relações diplomáticas cortadas durante o período da ocupação indonésia, que culminou com a declaração da independência de Timor-Leste em 2002.

AYN // PJA - Lusa

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