segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Portugal: PS MAIS PARTIDO QUE NUNCA



Rita Tavares – jornal i

Apoiantes de Seguro sublinham que "partido está profundamente dividido". Costistas reclamam vitória

A maioria das federações do PS (10 em 19) está, desde sábado, do lado de António Costa, com o candidato às primárias a conseguir virar o cenário que até aqui pendia a favor de António José Seguro, que tinha apoiantes seus nos presidentes de várias federações. Mas a vitória de Costa esteve longe do K.O., naquele que é tido como o primeiro round das primárias para o candidato do PS a primeiro-ministro.

A batalha tem uma representação reduzida naquele que é o universo eleitoral previsto - descontando eventuais abstenções - para as primárias de 28 de Setembro (ver texto ao lado), ainda assim deixa claro o estado do PS pelo país a 20 dias da grande guerra: completamente dividido. Do total de 19 federações distritais, António Costa viu apoiantes seus conquistarem 10 presidências de federação e os de António José Seguro a liderarem nove. Mas os números de votos divulgados pelo PS, ontem ao fim da tarde, davam conta que a frente-Seguro teve, no final das contas, mais cerca de 1200 votos que a frente-Costa.

Mas entre os apoiantes do autarca de Lisboa, o resultado de Seguro é visto como uma "derrota óbvia". Ontem à tarde, na sua página no facebook, Duarte Cordeiro acusava mesmo Seguro de estar a tentar "disfarçar" esta derrota: "Foi ele que marcou as eleições das Federações para esta semana porque achava que ia conservar o apoio da maioria dos presidentes de Federação. PERDEU nos seus termos." Já do lado de Seguro, Eurico Brilhante Dias fez a sua síntese do resultado nas federações, em declarações ao i: "É evidente que a base eleitoral para as primárias dentro do partido está profundamente dividida."

À vantagem que teve em número absoluto de votos, a candidatura de António José Seguro aponta ainda a magra vantagem de Costa em federações como Braga (onde foram cerca de 500 os votos que separaram os dois candidatos, um apoiante de Costa e outro de Seguro) ou Leiria (onde José Miguel Medeiros derrotou António Sales por apenas sete votos). E foi precisamente aqui que Seguro virou uma contagem a seu favor: nestas eleições, os militantes do PS elegeram também os delegados ao congresso federativo e aí foram 10 federações onde venceram listas afectas a Seguro e nove a Costa. O curtíssimo diferencial em Leiria desequilibrou para outro lado, neste ponto.

AFINAL De parte-a-parte reclama-se vitória, até porque o combate maior ainda está para vir. Na noite de sábado e na manhã de ontem, as informações prestadas por ambas as candidaturas já afinavam argumentos. O mais curioso prende-se com a leitura global dos resultados, com ambos os lados a entrarem em ruptura com o que defenderam mais recentemente. Se Costa desvalorizou sempre a vantagem de Seguro na batalha distrital, depois da maioria das federações conquistadas, fonte da sua candidatura dizia: "Devemos lembrar que sempre enfatizámos a autonomia das federações e recusámos extrapolações [para as primárias], mas a fazer-se, então...". Já o lado afecto a António José Seguro sempre reclamou - desde que o desafio à liderança foi colocado - ter consigo o partido, acenando com os presidentes de federação que contava entre as suas espingardas - começaram até por ser decisivos para evitar a convocação de um congresso extraordinário, antes ainda de a Comissão Nacional de Jurisdição ter vindo declarar a sua impossibilidade. Mas ontem, no rescaldo das eleições, Eurico Brilhante Dias sublinhava ao i que "nas primárias os presidentes de federação têm um voto como os outros".

Mas Duarte Cordeiro avisa que "António José Seguro já não pode dizer que tem a maioria dos dirigentes do partido com ele", elencando: "A maioria dos presidentes de Federação apoia António Costa. A maioria dos presidentes de Concelhia apoia António Costa. A maioria dos presidentes de câmara apoia António Costa. A maioria dos deputados apoia António Costa." Mas a maioria que pode vir a decidir o resultado do dia 28 não está dentro do partido: os mais de 55 mil (até agora) simpatizantes incritos nas primárias para eleger o candidato do PS a primeiro-ministro.

Foto: Rodrigo Cabrita

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