Philipp Bilsky (pv) –
Deutsche Welle, opinião
Dezenas
de milhares protestam contra a reforma eleitoral e exigem participação real nas
eleições. Mas em questões de princípio, Pequim não vai recuar, acredita o
articulista da DW Philipp Bilsky.
Imagens
com tal grau de violência nunca foram vistas em Hong Kong. Confrontos
entre manifestantes e policiais no coração da cidade. São dezenas de milhares
de manifestantes nas ruas com óculos de natação, capas de plástico e banners.
Já a polícia usa bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e cassetetes.
Este é o tumulto mais grave desde que a ex-colônia britânica voltou ao domínio
chinês, em 1997.
O
estopim: a anunciada reforma eleitoral para 2017. Ela prevê eleições diretas,
mas apenas com uma seleção de candidatos que tenham sido previamente
estabelecidos por Pequim. Ou seja: nenhum vestígio de democracia verdadeira. A
candidatura de críticos do governo é, com essas regras, praticamente
impossível. Portanto, a demanda dos manifestantes é clara: eleição que merece
receber o nome de eleição.
Na
semana passada, organizações estudantis deram ainda um passo adiante: em um
manifesto, exigiram um pedido de desculpas aos cidadãos de Hong Kong. E, caso
suas exigências não fossem atendidas, a renúncia da liderança de Hong Kong.
Dada
a ferocidade dos protestos, a liderança de Hong Kong reagiu no domingo e
declarou estar aberta ao diálogo. Disseram que o governo pretende em breve
fazer uma nova consulta sobre a reforma eleitoral. Entretanto, detalhes ou
datas específicas não foram divulgados.
Acima
de tudo, porém, os sinais de Pequim são dissonantes. Os manifestantes seriam
"extremistas" e "radicais" e representam apenas uma
minoria. O Ministério do Exterior chinês advertiu contra qualquer interferência
internacional.
O
jornal pró-governo Global Times escreveu que os manifestantes sabiam
muito bem que a decisão do Comitê Permanente no Congresso Nacional do Povo
sobre o plano de reforma para Hong Kong não poderia ser alterado. Nas redes
sociais, notícias sobre Hong Kong são suprimidas.
O
que está certo, portanto, é que apenas mudanças de detalhes são realistas. Foi
discutido com antecedência, por exemplo, sobre a composição do comitê que deve
escolher os candidatos: sobre o tamanho dele ou se ao menos uma parte de seus
membros poderiam ser eleitos diretamente. No entanto, também é claro que, em
questões de princípio, Pequim não vai recuar um milímetro – não importa quantas
pessoas vão às ruas de Hong Kong exigir seu direito de eleições genuínas.
E
isso por duas razões principais: Pequim tem medo de perder o controle sobre
Hong Kong. O pesadelo de Pequim é que Hong Kong tenha um chefe independente de
governo que queira se isolar da China continental. Alguém que coloque o
monopólio do Partido Comunista em
questão. E alguém que – a longo prazo – poderia aspirar
inclusive uma independência completa da República Popular.
A
segunda razão é que Pequim teme que o "modelo de Hong Kong" poderia
fazer escola em outras partes da China. Que pessoas no país se deixem inspirar
pelos manifestantes de Hong Kong e tentem, através de protestos, impor mais
direitos democráticos. Portanto, uma democracia verdadeira – assim é o temor –
não vai existir em Hong Kong
em um futuro próximo.
Leia
mais sobre Hong Kong e Macau no Página Global em ÁSIA
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