Verdade
(mz) - Editorial
Mal
nos curámos da tensão político-militar recém-terminada, e já a situação
política moçambicana está a tornar-se difícil, com sinais de sair do controlo.
Estamos prestes a ficar por um fio e mais receosos de que o pior possa
acontecer a qualquer altura.
O
decurso do nosso estado político é caracterizado por lamúrias e gritaria de um
só lado. Nem Armando Guebuza, presidente da Frelimo, nem Filipe Nyusi, na
qualidade de Presidente da República, dão ouvidos a Afonso Dhlakama, cuja
propensão para o radicalismo e extremismo parece até certo ponto doentio. E cá
temos as nossas dúvidas em relação a um possível encontro entre estas duas
figuras com o líder da Renamo, principalmente nos moldes em que este exige tal
frente a frente.
Guebuza,
por exemplo, é um homem que precisa de ser bastante friccionado para ceder a um
encontro com Dhlakama. Vimos isso há meses. Ele é outro que gosta de ver as
coisas a atingirem um estágio de impaciência, para além de ter também um pendor
de provocação. Há dias ele disse, referindo-se à Renano, que o seu partido
obteve "uma vitória estrondosa" nas últimas eleições gerais e
derrotou "os profetas da desgraça".
Sobre
Nyusi há, por enquanto, muito pouca coisa há por dizer. Na sequência de várias
reivindicações inerentes ao último processo eleitoral e ameaças que levaram a
não tomada de posse pelos membros da Renamo, na semana passada, Afonso Dhlakama
determinou sete dias para o Governo atender à sua exigência de se formar um
governo de gestão porque, caso contrário, o partido de que é líder iria
transformar o país numa situação de ingovernabilidade.
No
domingo, Dhlakama, que a todo o custo procura estar na boca das pessoas e nos média
nacionais e internacionais, manteve a pele e mudou o disco: “Já estamos a
abandonar a possibilidade de constituirmos um governo de gestão". Estas
são ameaças que se equiparam a brincadeiras no fio da navalha.
E
depois de passar dias a choramingar por alegar que não reconhecia Filipe Nyusi
como Presidente da República nem a legitimidade da máquina administrativa por
ele formada, Dhlakama caiu em si e admitiu que, uma vez formado o Executivo, já
não faz sentido o refrão: “gestão, gestão, gestão”.
Para
evitar que se pense que ele esgotou os argumentos das suas exigências, Dhlakama
defende, agora, que Sofala, Manica Tete, Nampula, Zambézia e Niassa vão
perfazer uma região autónoma da qual ele será dirigente. Esta política que a
Renamo faz é, por um lado, cansativa e enjoa. Por outro, não passa de
brincadeiras no fio da navalha. O receio do povo de acordar num país novamente
coberto de guerra cimenta-se em cada pronunciamento da Renamo.
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