Sim.
Cistac continua vivo. O facto de terem assassinado Gilles Cistac numa rua de
Maputo através de morte encomendada, como é crença dos moçambicanos, está a
gerar ondas de indignação e de exigência a que o novo presidente da República,
Filipe Nyusi, não pode ficar alheio e algo vai ter de fazer no combate aos
assassinatos de índole política e de delito comum. Muita coisa tem de mudar em Moçambique.
O tempo é de luta por
Moçambique, pelos moçambicanos, pela liberdade e democracia, pela justiça, pela
independência de facto. A morte criminosa de Gilles Cistac veio acordar os
moçambicanos. Por isso Cistac está vivo e assim vai continuar até que se
cumpram os requisitos de nação digna, pacífica e orgulhosa das suas instituições.
Cistac está vivo. Compete aos moçambicanos preservarem este seu modo de estar
vivo em cada um dos maputenses e em todos os moçambicanos.
Leandro
Vasconcelos, Maputo – Redação PG
Analista "Assassínio
de Cistac é a pior vergonha que podemos ter como moçambicanos"
O
politólogo moçambicano João Pereira considerou hoje que o assassínio do
constitucionalista Gilles Cistac é a pior vergonha que podia haver para o país
e vai agravar o atual clima de tensão política.
"O
assassínio do professor Cistac é a pior vergonha que nós podemos ter como
moçambicanos", disse à Lusa o professor de Ciência Política da
Universidade Eduardo Mondlane (UEM), da qual Cistac era também docente, à
margem de uma marcha de homenagem ao académico assassinado na terça-feira por
desconhecidos no centro de Maputo.
De
acordo com o politólogo, a ser provado que o académico franco-moçambicano foi
assassinado devido aos seus argumentos jurídicos desfavoráveis ao partido no
poder, o homicídio revela uma cultura de "intolerância política muito
forte" no país.
"Já
estávamos num momento crítico, agora, com este acontecimento, a situação
agravou-se", afirmou João Pereira, referindo-se à atual crise política
entre o partido maioritário, Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e a
Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), apesar da recente aproximação entre
o Presidente da República e o líder do maior partido de oposição.
"Filipe
Nyusi tentou criar uma abertura para o diálogo, que não existia. Criou um certo
balão de oxigénio, mas, neste momento, esse balão evaporou e estão criadas
condições para uma instabilidade muito mais forte", afirmou João Pereira.
A
Renamo contesta os resultados das eleições gerais de 15 de outubro, alegando
que foram fraudulentos, e propõe-se governar, através da criação de regiões
autónomas, nas províncias em que oficialmente ganhou.
Após
dois encontros com Nyusi, Dhlakama anunciou que vai submeter ao parlamento o
projeto de regiões autónomas, mas já admitiu abdicar deste passo e tomar o
poder pela força, quando a Frelimo começou a dar sinais de que não tenciona
viabilizar a proposta.
Gilles
Cistac era um dos principais especialistas em assuntos constitucionais de
Moçambique e, em entrevistas recentes, considerou que não há impedimentos
jurídicos à pretensão da Renamo, contrariando declarações opostas de quadros do
partido do poder.
O
analista João Pereira previa que seriam precisos seis meses para resolver a
crise política, mas a eliminação de Cistac deverá precipitar os acontecimentos.
"Teremos
menos de três meses para resolver, de uma vez por todas, a tensão política no
país. O problema é complexo, o líder da Renamo diz agora que já nem precisa
submeter a proposta ao parlamento. O que isto representa para o processo da
estabilidade política e económica do país?", questionou o politólogo.
João
Pereira apelou aos atores políticos moçambicanos para um diálogo permanente e
espera que os dirigentes do país coloquem os interesses do povo acima dos
partidários.
O
assassínio de Cistac "significa matar a capacidade crítica da sociedade e,
ao matar essa capacidade, infelizmente, mata-se também o desenvolvimento do
próprio país", disse João Pereira, lembrando que o desenvolvimento
socioeconómico resulta da crítica.
A
marcha, promovida por organizações da sociedade civil e pelo Núcleo de
Estudantes da Faculdade de Direito da UEM, começou no local onde o académico
foi assassinado e prosseguiu pelo centro da capital, até ser interrompida por
uma força policial de elite, altamente armada e munida de equipamento
antimotim, alegando falta de autorização para o percurso final da manifestação.
Na
semana anterior ao crime, o académico anunciou que ia processar um homem que,
através do Facebook e com o pseudónimo Calado Kalashnikov, acusou Chistac de
ser um espião francês que obteve a nacionalidade moçambicana de forma
fraudulenta.
A
Renamo implicou diretamente "radicais da Frelimo" no homicídio de
Cistac, mas o partido no poder já negou o envolvimento num crime que continua
por esclarecer.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
Moçambique Ex-diretor
da PIC duvida que assassinos de Cistac sejam capturados
O
ex-diretor da Polícia de Investigação Criminal (PIC) moçambicana António
Frangoulis disse hoje à Lusa duvidar que os autores do assassínio do
constitucionalista Gilles Cistac sejam capturados, embora haja todas as
condições para esclarecer o caso.
"Penso
que há todas as condições para se chegar aos autores, se imperar a boa vontade.
Mas, tal como estamos habituados - e a sensação não é só minha, é de milhões de
moçambicanos -, nada vai acontecer. Se acontecer, melhor ainda, vai ser a
primeira vez", declarou António Frangoulis, à margem de uma marcha
realizada hoje em Maputo em memória do académico, assassinado na terça-feira
por desconhecidos no centro da capital moçambicana.
O
criminalista recebeu a notícia do homicídio do antigo colega na Faculdade de
Direito da Universidade Eduardo Mondlane com "dor e consternação",
considerando que se tratou de "um golpe duro para democracia e para a
civilização" e até uma "regressão" nos progressos alcançados nos
direitos humanos e cívicos.
"Nem
parecemos um povo que já deu passos gigantescos desde a Constituição de 1990
para cá", comentou António Frangoulis, ex-deputado da Frelimo (Frente de
Libertação de Moçambique, partido no poder) e candidato não eleito pelo MDM
(Movimento Democrático de Moçambique, segunda maior força de oposição) nas
últimas legislativas.
O
constitucionalista moçambicano de origem francesa Gilles Cistac foi assassinado
a tiro por desconhecidos na terça-feira no centro de Maputo.
O
académico era um dos principais especialistas em assuntos constitucionais de
Moçambique e, em várias ocasiões, manifestou opiniões jurídicas contrárias aos
interesses do Governo e da Frelimo.
Em
entrevistas recentes, Cistac considerou que não há impedimentos jurídicos à
pretensão da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) de criar regiões
autónomas no país, contrariando declarações opostas de quadros da Frelimo.
Na
semana anterior ao assassínio, o académico anunciara que ia apresentar uma
queixa contra um homem que se identificava no Facebook pelo pseudónimo de
Calado Kalashnikov e que acusou Cistac de ser um espião francês e de ter obtido
a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta.
"Lamentavelmente
o senhor Calado e a sua turma decidiram que tinham de calar", comentou
hoje António Muchanga, porta-voz da Renamo, no início da marcha em memória de
Cistac, acrescentando que esta "é uma manifestação necessária e que
dignifica o povo moçambicano".
"Ninguém
se deve calar", disse por sua vez, no mesmo local, Lutero Simango, líder
parlamentar do MDM, que espera ver "toda esta dor e tristeza transformada
numa fonte de energia" e que "todos continuem a sua luta".
Não
era visível hoje nenhum dirigente da Frelimo na marcha convocada pelo Núcleo de
Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane e por
organizações da sociedade civil, embora o partido no poder tenha condenado
publicamente o crime e negado qualquer envolvimento, como fora sugerido pelo
líder da Renamo, Afonso Dhlakama, e por um semanário local.
Ao
fim de mais de duas horas, a marcha de centenas de pessoas foi interrompida por
uma força policial de elite, altamente armada e munida de equipamento
antimotim, alegando falta de autorização para o percurso final da manifestação.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
Líder
parlamentar da Renamo sugere que Frelimo evite o pior em Moçambique
A
líder parlamentar da Renamo, principal partido de oposição em Moçambique,
sugeriu hoje à bancada maioritária da Frelimo na Assembleia da República que aprove
o projeto da criação de regiões autónomas, como forma de evitar o pior no país.
"Essa
é uma forma clara de evitar o pior", declarou à Lusa Ivone Soares,
considerando que se a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) "quiser
que em Moçambique haja realmente estabilidade, vai aprovar a proposta da Renamo
[Resistência Nacional Moçambicana]".
O
presidente do maior partido de oposição, Afonso Dhlakama, admitiu, num comício
na semana passada no norte do país, abdicar da aprovação das regiões autónomas
no parlamento e impô-las pela força, avisando que tem meios para o conseguir.
Dhlakama
envolveu também "radicais da Frelimo" no assassínio do
constitucionalista moçambicano de origem francesa Gilles Cistac, na terça-feira
no centro de Maputo, e cujas posições jurídicas estavam a ser usadas pela
Renamo na sua exigência de criação de regiões autónomas no centro e norte do
país.
"O
presidente da Renamo entende que, se a Frelimo continuar a intimidar o povo,
assassinando pessoas de bem e que acham que pela via legal há cobertura legal
para a Renamo criar regiões autónomas, podemos até ignorar a submissão do
projeto na Assembleia da República e tomarmos o poder à força", afirmou
hoje Ivone Soares, à margem de uma marcha em memória de Cistac e que acabou por
ser interrompida por uma força policial de elite.
A
líder parlamentar da Renamo ressalvou que o seu partido continua a trabalhar no
projeto para se encontrar "uma solução pela via pacífica", não se
comprometendo com uma data para a apresentação do documento na Assembleia,
embora garanta que será em breve.
A
Renamo contesta os resultados das eleições gerais de 15 de outubro, alegando
que foram fraudulentos, e propõe-se governar, através da criação de regiões
autónomas, nas províncias em que oficialmente ganhou.
O
novo Presidente da República, Filipe Nyusi, avistou-se duas vezes com Dhlakama
para discutir a proposta, convidando a Renamo a submetê-la ao parlamento,
dominado pela Frelimo, que já sinalizou um provável chumbo do documento.
"Não
podemos continuar a colocar as populações do centro e norte reféns das decisões
políticas de meia dúzia de dirigentes da Frelimo que vivem no sul",
defendeu hoje Ivone Soares, insistindo que "as instituições do Estado
estão a trabalhar com pessoas não reconhecidas pelo povo, porque não foram
legitimadas através do voto".
Segundo
a líder da bancada da Renamo, "existe uma assimetria regional clara em
Moçambique há 40 anos", em que "o centro e norte produzem e toda
riqueza vem beneficiar meia dúzia de barrigudos do sul do país".
O
homicídio de Cistac "acontece num momento sensível" e "agudizou
o clima de tensão em moçambique", afirmou a deputada, e indica também que
"o pensamento autónomo está ser acorrentado" e que "o crime
domina a posição das instituições".
"Depois
de terem matado [o jornalista] Carlos Cardoso, em 2000, pensávamos que tínhamos
ultrapassado as barreiras contra a liberdade de expressão e de imprensa",
assinalou Ivone Soares, que conclui, 15 anos mais tarde, "existirem ainda
pessoas que acham que matando se silenciam as vozes que lutam e clamam pela
justiça".
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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