Diário
de Notícias, editorial
Cavaco
Silva deu-nos, anteontem, uma não notícia. As eleições legislativas vão
"ter lugar entre 14 de setembro e 14 de outubro". Nada de novo em
relação à doutrina fixada em novembro passado. No plano formal, a posição do
Presidente da República é inatacável e estriba-se na leitura escrupulosa da lei
eleitoral. Sucede, porém, que a questão não é de prazos ou de entorse "à
normalidade democrática" como sugeriu Cavaco Silva na brevíssima
declaração da Lousã. Não consta que encurtar a legislatura em três meses fosse
uma anormalidade por aí além, sobretudo se considerarmos o ciclo que temos pela
frente: Orçamento do Estado a 15 de outubro e eleições presidenciais em janeiro. Cavaco
não tem culpa que , mais empenhados em "jogos político-partidários",
os deputados das principais forças tenham optado por ignorar o seu apelo para
que se mudasse a lei eleitoral e assim lhe dessem pretexto para alterar o
calendário. Mas Cavaco Silva é Presidente da República, e cabe-lhe interpretar
as circunstâncias. Desde logo o facto de o primeiro-ministro ter desistido de
governar no dia em que o Tribunal Constitucional travou novos cortes nas
pensões, dando assim o pontapé de saída para a mais longa campanha eleitoral da
nossa história democrática. Mas também por insistir em não perceber que, ao
contrário do que sempre defendeu, o país não pode entrar em 2016 sem orçamento
aprovado. E o risco de isso acontecer é enorme. Basta que as profecias se
confirmem. Isto é, que os eleitores não deem maioria absoluta a nenhuma força
política. Nem ao PS nem à inevitável coligação PSD-CDS. As sondagens dizem que,
mesmo que a atual maioria vença as legislativas, o resultado não chegará, nem
de perto nem de longe, aos 116 mandatos necessários. A teimosia cavaquista pode
redundar num longo calvário de negociações que terão de esperar pela resolução
das crises internas que, fatalmente, as eleições de setembro ou outubro vão
provocar. Cavaco desperdiçou assim a derradeira oportunidade de concluir em
alta o seu desgastado ciclo político. E, já agora, convém ter memória da
incoerência. Não foi este Presidente quem, em julho de 2013, sugeriu que, a
troco de um pacto de salvação nacional, os partidos aceitassem antecipar o
calendário eleitoral para o verão de 2014? Seria isto "normalidade democrática"?
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