Maria Lopes – Público - ontem
CDU
arranca a campanha eleitoral com grande comício no Coliseu dos Recreios.
Jerónimo de Sousa desenhou o quadro das diferenças entre a coligação de
esquerda e PS, PSD e CDS, acusou serem todos iguais.
As
diferenças entre a CDU, de um lado, e PS, PSD e CDS, de outro, são colossais,
defendeu este domingo Jerónimo de Sousa e, digam o que disserem, “nada pode
apagar a comum responsabilidade [destes três partidos] pelo afundamento
económico do país.
Num
Coliseu dos Recreios muito animado e composto mas não completamente cheio, como
já aconteceu em campanhas anteriores, o líder da Coligação Democrática Unitária
(CDU) esboçou um quadro completo do que a opõe à coligação de direita e ao PS.
Antes, também Heloísa Apolónia, d'Os Verdes, e Corregedor da Fonseca, da
Intervenção Democrática, haviam feito discursos no mesmo sentido.
Heloísa
Apolónia havia catalogado o PS como uma “espécie de genérico: tem o mesmo
princípio activo do PSD e CDS”, ainda que o medicamento que representam seja
contra-indicado para “curar” o país. E acusou os partidos de direita de
"traírem o povo sem qualquer pudor". "Não hesitaram em
massacrar a vida ao povo português e agora vão pedir-lhes o voto?",
questionou admirada.
São
dois lados da barricada: de um está a CDU que fez propostas que os três
partidos chumbaram sucessivamente na Assembleia da República; do outro os que
aumentaram o desemprego, a dívida e a pobreza, implementaram medidas de
austeridade, cortaram salários e pensões, destruíram o Estado social,
depauperaram serviços públicos, como a saúde e a educação, continuam a
submeter-se aos ditames da União Europeia - enumerou Jerónimo de Sousa, entre
outras críticas.
“Sim,
chegámos onde chegámos em resultado das suas opções de política europeia e
nacional, dos seus acordos tácitos, das suas conivências e arranjos, da sua
política de submissão nacional e de restauração monopolista”, apontou o
comunista, criticando a “moral de gato” de socialistas, sociais-democratas e
centristas. “Podem empurrar uns para os outros, dizerem e desdizerem tudo o que
fizeram. Nada pode apagar a sua comum responsabilidade nas feridas sociais que
abriram na sociedade portuguesa.”
Mas
isto não vai ficar por aqui, fez questão de avisar Jerónimo de Sousa. “Aí estão
todos tão empenhados a tentar limpar a folha das suas responsabilidades, a pôr
o conta-quilómetros a zero, a encobrir as suas reais intenções em relação ao
futuro. ” Porque os programas dos três maiores partidos são “projectos de mais
exploração e empobrecimento”.
O
líder do PCP fez uma comparação rápida dos programas da coligação e do PS em
questões fundamentais como Segurança Social - “uns dizem mata, com a proposta
de corte imediato de 600 milhões de euros nas reformas em pagamento, os outros
dizem esfola com a medida de redução da TSU”.
Prosseguiu com o mercado de trabalho, apontando o agravamento da
legislação, precariedade, facilitação de despedimentos, com a saúde e a
educação, ambas com cortes orçamentais. Para concluir que têm um “programa
comum”.
Para
Jerónimo, é por isso que tanto PS como a coligação de direita, sob o pretexto
da estabilidade governativa, pedem a maioria absoluta – para poderem
implementar tal programa sem obstáculos. Um objectivo também pretendido pelo
Presidente. “Tem graça ouvir Cavaco Silva a sacralizar a maioria absoluta”,
ironizou. Ao nome do Chefe de Estado, na plateia ecoou uma valente assobiadela.
Que foi, aliás, o som de fundo de cada vez que se falou em Cavaco e em boa
parte das vezes em que a direita foi mencionada.
O
secretário-geral comunista criticou o ambiente criado na pré-campanha à volta
dos debates entre Costa e Passos, “transformados em duelos decisivos ao
entardecer e amanhecer, de opções falsamente opostas”. E recusou a mistificação
da bipolaridade – “o que eles querem é vender a ideia (…) de escolher entre
dois males”. Mas, reforçou, a “soberania reside no povo e não no que PS, PSD e
CDS têm nos seus programas”.
No
distrito de Lisboa, a CDU elegeu em 2011 cinco deputados em 47 mandatos
possíveis e registou uma votação percentual (9,55%) superior à média global
(7,91%). O líder do PCP fez no Coliseu dos Recreios um apelo insistente ao
voto na CDU, dirigindo-se a dada altura directamente aos indecisos. Falou do
trabalho feito pelos deputados, do capital de seriedade, lealdade e
confiança, e das propostas da coligação.
“O
voto [na CDU é o] que dá segurança e garantia (…) que não acabará em qualquer
uma das vielas da políticas de direita mas que, pelo contrário, esse voto
somará para dar força a uma política patriótica e de esquerda.”
Insistiu:
“Todos nesta batalha são candidatos! Todos nesta batalha são necessários! A
vida não começa nem acaba no dia 4 de Outubro. Mas a prioridade é esta batalha eleitoral.”
Para
os militantes e simpatizantes comunistas e ecologistas que encheram
o Coliseu depois de uma curta mas barulhenta marcha desde a Praça da Figueira,
a prioridade desta tarde foi ouvir Jerónimo mas também a música da Ronda dos
Quatro Caminhos, porque são raros os comícios da CDU sem espaços musicais.
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