Carlos
José Morais – Hoje Macau, editorial
Manifestação
por causa da habitação. Mil pessoas não são vinte mil. A habitação ainda não é
a alcavala dos altos cargos, que tanta gente escandalizou. Mas ainda assim,
para uma cidade tão pequena, não deixa de ser muita gente. E sendo que poderá
transformar-se em muitos mais, o Governo apressou-se a dizer que se preocupa
com a questão e que respeita o sentimento de quem quer uma casa e esbarra com
os preços absurdos que actualmente se praticam (ainda) em Macau.
O que a população da RAEM tem de perceber é que a situação não vai mudar no médio prazo. Todos sabemos que as habitações públicas não satisfazem os padrões mínimos e ninguém lá quer morar. Parece ser mais dinheiro deitado à rua, atravessado por pérolas como o preço dos parques de estacionamento nos prédios das ditas habitações. Se o Governo pensa que resolverá o problema desta maneira, está enganado porque existe uma larga fatia de classe média que não tem dinheiro para uma casa “normal” e não quer viver na economia miserabilista daqueles prédios inomináveis.
Só que, como sabemos, será muito difícil que os interesses por detrás das outras permitam que os preços caiam. Os investimentos em imobiliário constituem uma fatia importante dos portfolios locais e de Hong Kong, o que torna basicamente impossível a descida do preço das casas, mesmo em termos de arrendamento.
Ora
o Governo, se realmente tivesse unhas para tocar esta guitarra, há muito que
tinha colocado algum travão na especulação, sobretudo ao nível do arrendamento,
não permitindo por lei os aumentos selvagens (de 100, 200 e 300% ao ano) que os
senhorios fazem a seu bel-prazer, perturbando de sobremaneira a vida das
famílias.
Quem repara nos discursos de Chui Sai On sabe que ele foge do tema como Maomé do toucinho. E foge porque sabe não ter outra solução senão andar à volta, dizer que vai fazer qualquer coisa (leia-se habitação económica), quando não tenciona mexer numa palha que seja no processo especulativo que assombra Macau.
Há muito que se diz ser a habitação o problema mais sério que afecta a
população da RAEM. Contudo, o Governo continua a enterrar a cabeça na areia e a
pensar que poderá encontrar um caminho em que os especuladores não saiam prejudicados.
Não parece ser fácil e a questão arrisca-se a transformar-se no calcanhar de
Aquiles deste Executivo: uma porta certa para quem o quiser questionar,
incluindo a sua actual legitimidade.
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