quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Ontem foi dia da queda do governo que já era cadáver antes de morrer. Renasceu a esperança



Bom dia. Vem aí a atualidade na ótica de João Vieira Pereira, do Expresso, num Expresso Curto. Claro que o tema de abertura é a queda no chão duro da Assembleia da República do governo de Cavaco-Passos-Portas e dos diretórios da alta finança a que eles são muito chegados e servem. Este Expresso é Curto de nome mas o João espadanou que se fartou e abrange muita matéria da atualidade num número muito jeitoso de laudas. Vá de ler.

Ontem foi dia da queda do governo que já era cadáver antes de morrer oficialmente. No Página Global deixámos tudo para trás e focámo-nos em Portugal. Só em Portugal. Por isso hoje abrimos com o Laboratório Africom, do Martinho Júnior. África sob os olhos e mente perspicaz do Martinho. Os EUA e a sua mania perversa de dominar o mundo. É um império em decadência que de tão cego e insensível nem dá por isso. Vai cair. Todos os impérios caem. Pobres dos norte-americanos que nem percebem que os EUA já são cadáver. Antes foi terra promissora, da liberdade. Foi mais a fama que o proveito. Agora é o carrasco planetário que arrasta todo o mundo para a desgraça que impõe. Bem, mas disso o Martinho Júnior trata. Vão ler, a seguir a este café expresso, bem tirado.

Foi dito há pouco que o governo caiu em Portugal. Pois foi. Caiu no chão duro da AR. Ontem houve quem nos perguntasse no G+ se tinha caído na alcatifa porque não ouviram o barulho da queda no chão. Pois não se ouviu. É que o chão é duro mas os salafrários que caíram só são rijos e fortes com os fracos. Macios e fracos com os fortes. São tipo esponja absorvente que roubam a milhões para entregarem a uns poucos.

O tempo é de espera. Cavaco vai deliberar… Logo depois de acabar de espumar pela boca e restantes orifícios que tem no corpo e mente de arcaísmo atroz viciado nos cifrões. A tal política de “que lixem as pessoas, são carneiros e estúpidas". Pois, não são. Aí está a prova. A este propósito, dos carneiros e estúpidos, vamos trazer aqui no Página Global a opinião de Lurdes Feio para nos ajudar a pensar porque tudo está a acontecer assim em Portugal. Ainda hoje leia no PG, de Lurdes Feio, o título: “O governo caiu! É no que dá tratar os eleitores como carneiros, ainda por cima sem miolos!”

Venham daí para o Expresso Curto. Tenham um bom dia. Felizmente já há esperança. Renasceu. Não falta tudo.

Redação PG / MM

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

João Vieira Pereira - Expresso

A direita já não mora aqui, viva o governo de esquerda

Bom dia

Este é seu o primeiro Expresso Curto sem governo de direita. Caiu ontem, como era esperado, depois de ter sido votada uma das 4 moções de rejeição apresentadas. Eram 17 horas e 16 minutos.

Mas este não é ainda o primeiro Expresso Curto com um governo de esquerda. Reparem que sublinhei o ainda.

Em dia de S. Martinho as atenções vão estar focadas nos mercados e em Belém. A reunião semanal de Passos Coelho com o Presidente da República foi antecipada para hoje. E esta manhã o Wall Street Journal dava grande destaque na sua página na internet à situação política em Portugal e Espanha com o título “Dramas políticos da Europa estão a testar os mercados, outra vez”.

O futuro governo está nas mãos de Cavaco Silva que agora tem duas hipóteses em cima da mesa: convidar António Costa a formar governo ou deixar a decisão para o seu sucessor mantendo estegoverno em gestão. Já se fazem apostas, mas a primeira hipótese parece ser a mais provável. Tão provável que já se discutem os nomes dos ministros e dos secretários de estado.

Mas a decisão pode demorar. Aliás, o Presidente da República tem aparentemente uma visita oficial à Madeira marcada para o início da próxima semana, à semelhança do que fez em 2013 em plena crise política da coligação.

O director do Expresso, Ricardo Costa, explica o que está em jogo e lança uma nova pergunta: Quanto tempo dura um governo do PS?

Ontem, depois de assinados os acordos com o Bloco, o PCP e com o Verdes ficaram a saber-se mais detalhes dos acordos. Para já fica a ideia de que pelo menos o acordo com os comunistas é pouco mais do que um sim a sentarem-se a discutir tudo. E a começar já pelo Orçamento do Estado para o próximo ano. O texto assinado é claro ao afirmar que as “matérias convergentes assinadas” serão objecto de “exame comum quanto à expressão que devem ter no Orçamento do Estado”. O Expresso Diário conta-lhe tudo.

Por exemplo, os acordos assinados nada têm sobre a impossibilidade de apresentação de moções de censura por parte dos partidos subscritores. Ontem, à saída do hemiciclo, António Costa foi claro sobre essa possibilidade. “No dia em que qualquer deles sentir a necessidade de apresentar uma moção de censura, é a mesma coisa que qualquer um de nós meter os papéis do divórcio: nesse dia o casamento acabou, o Governo acabou." Contudo, esse cenário é rejeitado pelo líder do Partido Socialista que diz que considera que o acordo entre PS, BE, PCP e PEV não é um "cheque em branco" mas que resulta de uma base de "seriedade." "Acho que é inequívoco o compromisso de que será rejeitada [uma moção]. Quando os partidos assumem condições para a estabilidade da legislatura, penso que há condições para não haver qualquer moção de censura."

Será suficiente para Cavaco um acordo onde os partidos acordam em tentar chegar a um acordo?

O PS acredita que sim e alguns dos ministeriáveis começaram já a dar entrevistas. É o caso de Mário Centeno que falou com o Financial Times. Para quem acha que os mercados não estão nervosos ou que nem lhes estão a tremer as pernas, para usar as já famosas palavras dePedro Nuno Santos, não se percebe a necessidade de ir a correr avisar os investidores de todo o mundo que “continuaremos no caminho da consolidação orçamental” ou que “não é a direcção que pomos em causa, mas a velocidade da viagem”. Para Centeno a noção de que o seu programa é um “puro e simples estímulo à procura interna” é superficial e errada. “Nós vamos continuar a reduzir o défice e a dívida mas a um ritmo mais lento. E isso vai criar o espaço económico necessário para aliviar as muito graves restrições que as famílias e as empresas enfrentam”, diz o putativo futuro ministro das Finanças.

Centeno afasta qualquer cenário de reestruturação da dívidaafirmando mesmo que “ninguém com bom senso pensa em não pagar as dívidas que contraiu”, (gostava de ter visto a cara de alguns membros do Bloco e do PCP ao lerem esta última frase).

A notícia da queda do governo fez manchete em várias páginas da internet de jornais por todo o mundo. Sempre com a mesma ideia.Portugal rejeita austeridade e demite governo e todos lançam dúvidas de como vão reagir os mercados. Ontem a dívida pública estava a aliviar face à subida de segunda-feira, o Jornal de Negóciosdiz que a especulação de que o BCE vai lançar mais estímulos à economia fez o custo da dívida recuar. Hoje de manha, a dívida a 10 anos negociava em alta. A taxa de juro das obrigações a 10 anos disparou para os 2,8%, mesmo assim abaixo do pico de 2,9% registados na segunda-feira.

Eis como a imprensa internacionial viu a queda do governo:
Le Monde: “Em Portugal, uma aliança de esquerda provoca a queda do governo”
Liberátion: “Portugal: Unida, a esquerda provoca a queda do governo de direita”
Figaro: "Em Portugal, socialistas e esquerda radical unidos fazem cair governo"
The Guardian: "Deputados portugueses obrigam a queda do governo minoritário por causa da austeridade"
The Telegraph: "Portugal em rota de colisão com a EU depois do governo de direita cair"
The New York Times: "Governo português expulso num desafio à austeridade"
Wall Street Journal: "Governo português cai numa atmosfera de raiva contra a austeridade"

Uma última nota nesta primeira parte desse Expresso curto para relembrar Paulo Cunha e Silva. O vereador da cultura da Câmara Municipal do Porto morreu esta madrugada, de morte súbita. Tinha 53 anos e era uma das referências da cultura no nosso país.

OUTRAS NOTÍCIAS

Comemora-se hoje os 40 anos da independência de Angola. Sobre o tema tem de ler o texto de Nicolau Santos – “Angola entre a monarquia e a revolta”, publicado no Expresso Diário.

O parlamento catalão também teve um dia em cheio. Os deputados ultrapassaram uma ‘barreira inédita’ e aprovaram (72 contra 63) uma resolução que proclama o início do processo com vista à independência da Catalunha. Mariano Rajoy está já a preparar umrecurso urgente junto do Tribunal Constitucional para suspender a resolução.

David Cameron enviou ontem a sua lista de 4 grandes exigências de modo a reformar a participação do Reino Unido na União Europeia. Na Europa consideram-se as exigências difíceis de cumprir, mas em terras de sua majestade são vistas como bastante moderadas. A questão mais difícil de ultrapassar, a intenção de limitar o acesso aos apoios do estado britânico por parte de migrantes de outros países membros, poderá cair ou ser minorada pelo próprio governo britânico.

Sara Sampaio, a mais famosa de todas as modelos portuguesas, foi escolhida como um dos 15 anjos para subir à passerelle no desfile anual da Victoria’s Secret que comemora este ano o seu 20º aniversário. De acordo com a Forbes as modelos que desfilaram ontem à noite devem receber mais de 50 milhões de dólares por ano. Se quiser ver o desfile vai ter de esperar até ao dia 8 de Dezembro e sintonizar a CBS, mas pode sempre passar pelo site oficial e espreitar o que por lá se passou.

Snapchat, a rede social que se tornou conhecida pela partilha de fotografias que desapareceram, foi avaliada em 15 mil milhões de dólares em maio passado mas agora um dos seus principais accionistas reviu em baixo o valor. A Fidelity, o único fundo de investimento que apostou na empresa, resolveu cortar no seu balanço o preço das acções de de 30.72 dólares para 22.91%. Uma quebra de 25% que vem colocar novas dúvidas sobre a avaliação feita a algumas empresas de tecnologia.

A Rússia respondeu ao mais alto nível contras as acusações por parte da comissão independente da Agência Mundial Antidoping. A AMA tinha recomendado na segunda-feira a suspensão da Federação Russa de Atletismo, por práticas de doping. Um relatório tornado público pela agência acusa os serviços secretos russos de intimidação e recomenda, igualmente, a suspensão de cinco atletas e cinco treinadores. O Kremlin refutou todas a acusações e diz que “estamos perante um ataque político”.

O Facebook foi avisado que tem até ao fim do dia de hoje para deixar de seguir toda a actividade online dos utilizadores de internet na Bélgica caso estes não tenham conta na rede social. A decisão de um tribunal Belga está a ser vista como mais um duro golpe contra a rede social, que se não cumprir a ordem terá de pagar uma coima diária de 250 mil euros. Isto acontece duas semanas depois da Europa ter chumbado o acordo de transmissão de dados com os Estados Unidos. O Le Figaro entrevistou o responsável da rede social pela política de confidencialidade que afirma que o fosso entre a Europa e os EUA em termos de tecnologia e mercado digital está em risco de se aprofundar.

A três semanas da realização da 21ª conferência mundial sobre o clima, o Le Monde explica em 10 números e com recurso a uma animação bastante simples o que está em causa nas negociações que terão lugar em Paris. Isto num ano em que foram batidos vários recordes (negativos) em relação ao clima. Veja aqui quais.

Morreu Helmut Schmidt. O ex-chanceler era considerado um dos grandes políticos de todos os tempos e o mais unanimemente respeitado no país. A Cristina Peres escreve uma imperdível nota biográfica sobre o sempre bem humorado político alemão. Vale também a pena ler o obituário publicado pelo Financial Times.

Também o mundo da música está de luto com o desaparecimento do músico de Nova Orleães, Allen Toussaint. Morreu ontem, de ataque cardíaco, em Madrid, cidade onde deu um concerto na segunda-feira à noite. Tinha 77 anos e uma carreira musical que se estendeu da produção à escrita, passando pelo piano e pela interpretação vocal.

O QUE DIZEM OS NÚMEROS

170,45 milhões de dólares. Valor pago por um quadro deModigliani por Liu Yiqian, um milionário chinês que, juntamente com a sua mulher, abriu em Xangai dois dos museus privados de arte mais conhecidos, o Long Museum Pudong e o Long Museum West Bund. Liu Yigian deixou a escola aos 16 anos para ajudar a sua mãe num negócio de malas de mão. Mas só até juntar dinheiro para comprar o seu próprio táxi. Hoje tem uma fortuna avaliada em mais de 22 mil milhões de euros.

1 euro. É quanto poderá custar-lhe a dormida em vários hostels distribuídos um pouco por todo o mundo. Para isso basta aderir ànova campanha do Hostelworld, um serviço global de reservas de dormidas em hostels.

2,4 milhões de euros. Valor que o chef português Nuno Mendesprocura obter através da plataforma de crowdfunding Seedrs para reabrir o restaurante ‘O viajante’ em Londres. Pode ser investidor a partir de 14€.

FRASES

“Sabemos que não ganhámos as eleições” António Costa, ontem no parlamento

“Há muito que a sociedade portuguesa está madura para um governo ancorado à esquerda”, Rui Tavares, in Público

“O PR não deve bloquear o caminho de António Costa, para não acentuar a instabilidade e o alarme que diz querer evitar no país. Mas o futuro PM vai para S. Bento apoiado em dois compromissos à sua esquerda que mais parecem listas de compras.” Viriato Soromenho-Marques, in DN

O QUE EU ANDO A LER

Começo com uma sugestão de leitura. Para quem gosta de economia e de geopolítica não pode perder o novo livro do economista José Félix Ribeiro – ‘EUA versus China’. Uma análise fina às forças económicas e políticas pós guerra fria que acabaram por culminar na crise financeira de 2008. Félix Ribeiro analisa a resposta norte-americana à luz de outros acontecimentos que estão a mudar o mundo como o conhecemos. A ascensão da China, a guerra civil no mundo muçulmano e a incapacidade da Europa de se entender como solução.

E acreditem ou não, ando a ler a proposta de Programa de Governo do PS. Mas a ler mesmo, não apenas a passar os olhos pelos resumos. Há quem defenda que é uma perda de tempo já que os programas do governo são apenas um amontoado de ideias que nunca vão ser aplicadas. De facto encontramos frases feitas do género “Importa prosseguir o desenvolvimento de competências do sistema público de afectação de recursos de forma a melhorar a sua eficiência”. Pois sim! Neste ou em qualquer programa de governo. De qualquer cor política.

Mas vale a pena ler para perceber como os políticos usam e abusam de sinónimos do verbo gastar. Assim o uso da expressão gastar o dinheiro dos contribuintes é substituído, neste programa, por:criar (106 vezes), criação (148 vezes), aumentar (43 vezes) eincentivar (29 vezes), em detrimento de eliminar (14 vezes),reduzir 31 (vezes) e cortar (2 vezes). Atenção que esta análise é meramente quantitativa. Estes verbos são muitas vezes usados para se referirem a objectivos que não implicam qualquer tipo de receita ou despesa.

Por isso comecei a ler, com algum custo (todos os programas de governo são no mínimo chatos), o documento do PS e a assinalar a vermelho as medidas que criam despesa ou menos receita fiscal e a azul as que geram receita. Há muitas cujo impacto na despesa, positivo ou negativo, é impossível de saber, nomeadamente quando entram na área dos desejos através de expressões como “desenvolvimento”, “alargamento” ou “avaliação”. Por isso cingi-me àquelas que inequivocamente têm um impacto directo nas contas do Estado.

Não sei se é por este ser um programa de governo negociado com a esquerda radical mas o documento está agora pintado de vermelho. De despesa.

Relembro a pergunta de Vítor Gaspar dirigida supostamente ao seu colega de governo B em pleno conselho de ministros “Não há dinheiro. Qual destas três palavras não percebeu?”

Resta acreditar nas contas de Mário Centeno e esperar que ele faça parte do pequeno número de economistas cujos modelos estão efectivamente certos. Esperar que o consumo interno dispare e com isso aumente a oferta e logo o emprego. No final, os cofres do Estado vão ficar cheios de mais impostos. E tudo isto sem colocar em causa o equilíbrio das contas externas. Só para precaver já comecei a fazer figas. E acreditem que é para que resulte. Caso contrário estaremos em muito maus lençóis.

Uma nota final para o facto de o programa de governo do PS parecer ter sido escrito a dois tempos. O primeiro capítulo é de uma violência enorme contra a política da coligação apresentando-se como uma cartilha de como gastar dinheiro. A partir daí dá lugar a um outro programa escrito por um partido moderado, francamente europeísta.

Por hoje é tudo. Tenha uma excelente quarta-feira. Não abuse das castanhas, nem da água-pé. Amanhã o Expresso Curto regressa pela mão de Martim Silva.

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