quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Portugal. BANCO PORTUGAL



Pedro Ivo Carvalho – Jornal de Notícias, opinião

Os cofres estavam cheios. Vivemos acima das possibilidades. Não há alternativa à austeridade. Apenas um sistema financeiro sólido pode manter uma economia sólida. Ai aguenta, aguenta. Que parte do "já não há dinheiro" é que não perceberam? Ao longo dos últimos anos, serviram-nos estas "frases Nicola" numa travessa a transbordar dramatismo. Acreditamos. Afinal, era a cartilha vigente. No money, no fun. O que, em certa medida, foi verdade. Pelo caminho, porém, houve muitos, demasiados, portugueses arrastados pela torrente da estatística. Empresas no poço, negócios aniquilados, comunidades silenciadas. Despedimentos em barda. Emigração em massa. Impostos em cima de impostos. Pobreza. E uma saída limpa. Mas não necessariamente assética.

O ajustamento foi transversal, mas a varridela foi seletiva. A Banca bateu o pé. Não podia cair. Porque havia um fantasma na sala chamado "risco sistémico". A liquidação de um banco deixaria empresas e depositantes com uma mão à frente e outra atrás. Foi isso, de resto, que disse ontem Mário Centeno no Parlamento, para explicar a opção tomada no Banif. Além do mais, sempre nos garantiram que o encerramento de um banco pode contagiar outras instituições de crédito. E motivar uma nada desejável corrida aos depósitos.

Salvar o BPN? Nem pensar! Mas há o risco sistémico. Salvar o BPP? Outro? Ah, pois é, o risco sistémico. Salvar o BES? Chega, não pode ser! Esperem lá, mas e o risco sistémico? E agora querem salvar o Banif? Digam comigo: o risco sistémico. É a ele, de resto, que os contribuintes devem endossar o cheque de 13 mil milhões de euros de encargos com a Banca. Ninguém diria que a troika esteve cá: metade dos bancos portugueses (força de expressão) foi intervencionada pelo Estado nas barbas do FMI e da Comissão Europeia.

Mas, afinal, de que nos valeu tanto protecionismo? O regulador continua a não regular, o supervisor continua a não supervisionar e o contribuinte, essa entidade abstrata que somos todos, mas não é ninguém, continua a pagar. E a culpa certamente continuará a morrer solteira no mosteiro da moralidade. Ou dissimulada nos compêndios de mais uma longa comissão parlamentar de inquérito.

Podem pintar a realidade de amarelo, de lilás ou de verde, mas não nos atirem ativos tóxicos para os olhos. O Banif não foi uma bolha que rebentou há um mês. De novo, foram os ciclos eleitorais a ditar as regras. Houve muita incompetência estrutural, mas houve muita competência eleitoral. Mas tudo isto só é possível porque o maior e melhor banco de Portugal somos nós. Emprestamos dinheiro que não temos, que não nos pedem e depois não nos devolvem.

Hoje, PS e PSD deverão viabilizar no Parlamento a salvação do Banif. Provando que tudo mudou para ficar tudo na mesma. O arco da governação não tinha acabado?

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